"Desde os 6 anos que Bruno de Carvalho pensa como presidente do Sporting. Pinto da Costa só em Agosto completará 31 anos como líder; Carvalho leva quatro de anos e meio de avanço...
O novo presidente do Sporting inaugurou-se em funções em Rio Maior num jogo da II Liga entre as equipas B do Sporting e do Benfica que terminou com a vitoria do histórico rival por 3-1, o que sempre doí.
Para se poder atirar ao árbitro à vontade sem correr riscos de sanções disciplinares pela parte da Liga, como as que no ano passado recaíram sobre um ex-vice-presidente do Benfica, Rui Gomes da Silva, o estreante Bruno de Carvalho recorreu a uma inovadora metáfora de cariz ornitológico, por sinal bem divertida, que causou furor e jamais lhe causará incómodos.
Recorde-se que no princípio da temporada, Rui Gomes da Silva foi castigado, suspenso e multado com violência por ter dito no final do jogo Académica-Benfica, arbitrado por Carlos Xistra, que o Benfica já tinha sido «avisado» do que iria acontecer. O resultado foi um empate a 2-2 e os dois golos da Briosa nasceram de duas curiosas grandes penalidades que resultaram de decisões inabaláveis do árbitro albicastrense.
Os árbitros são humanos, enganam-se.
E temos uma vez mais, um campeonato a penalties.
Queixa-se, por exemplo, o FC Porto das duas grandes penalidades desperdiçadas a seu favor por Jackson Martínez e que, só por si, justificam os correntes 4 pontos de atraso que os campeões nacionais levam do Benfica.
Lamenta-se por sua vez o Benfica da actuação de Xistra em Coimbra que, só por si, lhe terá substraído 2 pontos que somados aos correntes 4 já somavam 6, o que era logo outra coisa.
Concluindo: neste campeonato, o Carlos Xistra é o nosso Jackson Martínez. E nem é caso para se dizer que cada um tem o que merece, longe disso.
Há, no entanto, quem ande a pensar nestas coisas dos árbitros há muitos mais anos do que os que Gomes da Silva levava como dirigente do Benfica quando definiu «um roubo de Vaticano» os dois penalties que o nosso Jackson Martínez particular vislumbrou em Coimbra.
E vem como exemplo Bruno de Carvalho que andou desde os 6 anos, idade em que decidiu querer ser presidente do Sporting, a pensar no que chamar ao primeiro árbitro lampião que lhe aparecesse pela frente. Tendo o presidente do Sporting, actualmente 41 anos de idade, basta fazer as contas para se concluir que andou 35 anos a pensar seriamente no assunto.
E se pensarmos que Pinto da Costa só no próximo mês de Agosto completará uns modestos 31 anos na condução do FC Porto, chegamos facilmente à conclusão de que Bruno de Carvalho, a pensar nestas coisas todas como presidente, leva uns quatro anos e meio de avanço sobre o vetusto presidente dragão.
Muito à frente, portanto.
Viu-se em Rio Maior isto tudo. No fim do derby-B, de zangado que ficou, o presidente do Sporting referiu-se à necessidade de exterminar «um bando de pássaros» e ainda outro bando de 'inúteis» que andam por aí à solta a estragar o futebol português.
Se são pássaros não são humanos e os árbitros são humanos como não se cansam de nos dizer. E se são inúteis é porque não são úteis a ninguém. E se não são úteis a ninguém é porque, sendo pássaros, acresce que nem ninhos sabem fazer.
Inimputável! Chapéu!
A metáfora dos pássaros é o primeiro marco da longa caminhada do presidente eleito do Sporting cumprido o seu sonho de criança. Num futuro mais ou menos longínquo, os que lá chegarem lerão como a História se haverá de referir a este episódio inaugural de Bruno de Carvalho em Rio Maior sabendo-se, por certo, que a dita História é sempre escrita pelos vencedores.
Daí a importância de ganhar Campeonatos, Taças de Portugal, Taças da Liga e até jogos particulares e torneios de verão. De outra maneira, serão os outros, os vencedores, a escrever a nossa História e, quando isso acontece, não é de esperar piedade nem, muito menos, comiseração.
Tudo isto vem a propósito de um livro que estou a ler. Trata-se de Um Diário Russo, escrito pelo escritor estado-unidense John Steinbeck depois de visitar a União Soviética em 1947 no dramático rescaldo da II Guerra Mundial. Há em Lisboa no fundo da Rua de São Bento uma adorável livraria chamada Palavra Viajante, especialista em livros de viagem com uma vasta e muito bem escolhida oferta de títulos, facto deliciosamente surpreendente numa pequena livraria de bairro.
Foi aí que comprei o livro de Steinbeck ilustrado com fotografias do grande Robert Capa, o fotógrafo de origem húngara que se imortalizou com a sua reportagem sobre a guerra civil em Espanha e que haveria de morrer no palco da guerra da Indochina em 1954.
Os detractores de Bruno de Carvalho poderão dizer que pássaros e ratada não rimam e que foi disparatada a estreia do novo presidente do Sporting no ataque à arbitragem que temos por casa. Mas lendo Steinbeck lembrei-me de Bruno de Carvalho e forçosamente dou razão ao presidente do Sporting. Pássaros e futebol, afinal, podem rimar desde que haja génio para tal.
No seu périplo pela URSS, John Steinbeck visitou Tblissi, a capital da República da Geórgia. Levaram-no logo à bola:
«Da parte da tarde fomos ver um jogo de futebol entre as equipas de Tiblissi e de Kiev. Jogaram bem, depressa e empenhadamente num estádio enorme. Pelo menos 40 mil pessoas estavam a assistir, a multidão foi vibrante porque estes jogos entre equipas de Repúblicas diferentes são sempre emotivos. O jogo terminou empatado 2-2 e assim que acabou foram lançados dois pombos. Antigamente, na Geórgia, em competições de todos os tipos e mesmo em combates, era lançado um pombo branco em sinal de vitória ou um pombo preto em sinal de derrota. E eram esses pombos que levavam a notícia dos resultados para outras cidades sob o céu da Geórgia. Hoje, como o resultado foi um empate, foram lançados dois pombos, um branco e um preto, que voaram por cima do estádio e logo desapareceram.»
Bonito, não é? Futebol e pombos, uma perfeição.
E vendo Bruno de Carvalho aos saltos no final do jogo de Braga lembrei-me outra vez de Steinbeck e do relato da sua viagem à URSS. É que não se cansou o presidente do Sporting de lançar pombos brancos do relvado da Pedreira. Foi um pombal inteiro. Temos personagem. Bem-vindo.
O Benfica manda na arbitragem? Sim! Bastou ver Pedro Proença, o maior benfiquistas de todos os tempos, tão perfilado na plateia da gala da AF Porto para desfazer qualquer tipo de dúvidas sobre o assunto. Proença foi lá meter-lhes medo.
Na mesma ocasião, o presidente do FC Porto foi distinguido com o galardão para o «dirigente do século». Parece-me francamente exagero porque, de uma maneira geral, um século tem 100 anos.
Só se justificaria semelhante distinção se, tal como Bruno Carvalho, Pinto da Costa tivesse começado a pensar como presidente do FC Porto aos 6 anos. Aí sim, já se aproximava do século. Mas, mesmo assim, que exagero.
PABLO MIGLION, guarda-redes do San Lorenzo de Almagro, foi preso à saída de um jogo do campeonato argentino por suspeitas de encobrimento de um crime. O San Lorenzo de Almagro até é o clube confessado do Papa Francisco I mas, neste caso, nem o Papa lhe valeu. Na Argentina é assim. Para e bola não é a mesma coisa do que árbitros e pássaros.
NA próxima jornada, o Moreirense do treinador Inácio vai ao Sporting do director Inácio. É uma situação cómica e nada mais. Faz lembrar aquela velha rábula da grande Ivone Silva, «Olívia Patroa contra Olívia Costureira». Os mais velhos lembram-se.
QUE bem jogou o Benfica com o Rio Ave. Agora segue-se o valoroso Olhanese acossado por uma tormenta financeira que impede os seus jogadores e treinadores de receberem os devidos salários mas não os impede de lutar e de ganhar como aconteceu na última jornada em Aveiro. No meio há o jogo com o Newcastle é a equipa mais francesa da Premier League. Conta com 10 jogadores franceses. Para facilitar a comunicação, o Platini mandou para a Luz um árbitro todo ele também francês. Ai a passarada...
Mas que importa?
Este ano a Liga Europa está para o Benfica como a Taça da Liga está para o FC Porto. Só mesmo se tiver de ser...
P.S. - Também temos Belenenses para o ano. Bem-vindo."
Leonor Pinhão, in A Bola