Últimas indefectivações

sábado, 15 de novembro de 2025

Vitória...

Benfica 4 -2 Famalicão

Jogo acidentado, sem golos na 1.ª parte - inclusive com um penalty e golos de baliza aberta desperdiçados -, com duas expulsões nossas (Silvestre e Gugiel), um golo anulado por obra do espírito santo, e com o Benfica não conseguir materializar a superioridade em golos...

Avençados...

❤️ O sonho da Clara!

Sporting, Benfica, FC Porto… os maiores da minha aldeia


"Dos vídeos dos azuis, às ameaças dos encarnados e às declarações dos verdes e brancos, estes grandes são mesmos os maiores da minha aldeia. Porque uma vez lá fora, na Europa, sabem comportar-se…

Ainda só estamos em novembro e mais parece que estamos no final do campeonato. Não pelos melhores motivos, os da competitividade de uma prova disputada até à última jornada, pela emoção dos adeptos à espera dos jogadores a colorirem estradas e estádios, pelo grito de golo decisivo para o título.
Ainda só estamos em novembro e parece que estamos no final do campeonato. Pelos piores motivos, os da gritaria pela falta que não foi, do penálti mal assinalado (às vezes com razão), da expulsão que era ou poderia ter sido (ou talvez não). Enfim, ainda só estamos em novembro e já todos ralham e apontam o dedo às arbitragens.
Os árbitros erram? Sim, talvez ainda em demasia. A arbitragem em Portugal passa por bom momento? Não, não passa. Mas resumir todo o mal do futebol nacional à arbitragem não é justo, não é real mas convém a muitos.
A competição parou para uma jornada que vai dar a qualificação de Portugal para o Campeonato do Mundo de 2026 e fica provado que a maioria de nós está a marimbar-se para a Seleção Nacional, tirando quando as fases finais das grandes provas, Mundiais e Europeus (nem coloco aqui a Liga das Nações da UEFA), arrancam — nesses casos então enchemos o peito de patriotismo tantas vezes bacoco, medindo-o pelo apoio à Seleção em vez de pelos direitos e deveres que temos no dia a dia em sociedade.
Desde sábado à noite quando o Sporting ganhou aos 90+4’ ao Santa Clara, golo de cabeça de Hjulmand na sequência de canto que não era canto, antes pontapé de baliza, que não se fala noutra coisa se não em arbitragem. Mais ainda depois do penálti contra o Benfica e do 2-2 na Luz com o Casa Pia. Como se um canto mal assinalado, ainda que neste caso de forma grosseira, fosse um erro capital e como se o empate dos encarnados fosse culpa exclusiva do árbitro.
Estamos em novembro e só se fala de arbitragem, a culpa de todos os males do futebol português. Discutir os quadros competitivos não interesse para nada, o facto de haver na Liga Portuguesa relvados como o do Santa Clara (que acabou por induzir o assistente em erro e dar indicação de pontapé de canto) também não incomoda ninguém…
Estamos em novembro e só se fala de arbitragem mas estávamos em julho, ainda nem o primeiro jogo da época tinha acontecido, e já o Benfica fazia comunicados sobre o tema…
Estamos em novembro e já todos se queixam, das águias aos dragões, também os guerreiros do Minho e os leões, até está prometido para esta sexta-feira discurso importante de Frederico Varandas na gala dos Rugidos de Leão. Será um rugido de Varandas a rebentar com tudo?
Este rebentar vem a propósito do que disse o diretor-geral do Benfica, Mário Branco, segundo o relatório do árbitro Gustavo Correia no final do jogo de domingo na Luz. Mais um episódio a juntar aos que todos os clubes grandes do futebol português já tiveram, de declarações a atitudes, a mais grave e recente a que Fábio Veríssimo denunciou no balneário do Dragão e que embora há menos de duas semanas parece já ter sido esquecida — tal a velocidade a que se sucedem os casos que nos entretêm…
Dos vídeos dos azuis, às ameaças dos encarnados e às declarações dos verdes e brancos, estes grandes são mesmos os maiores da minha aldeia. Porque uma vez lá fora, na Europa, sabem comportar-se sem coações, ameaças ou gritaria. Porque se o fizerem, ao contrário de cá, acontece-lhes alguma coisa. Será a arbitragem o grande mal do futebol português? Não me parece…"

De Amorim a Peixoto: identitários por convicção e convictamente identitários


"Dizem que os resultados são a garantia de estabilidade e continuidade ao serviço de um clube. Mais de continuidade do que estabilidade, sejamos honestos, mas ambos os conceitos acabam por ser indissociáveis.
Mesmo sabendo que ao mais alto nível tudo acaba por apontar ao mesmo objectivo macro (alto rendimento) e ao mesmo objectivo micro (cumprimento de objectivos), defendo e acredito que há sempre algo mais para lá dos resultados a poder segurar, manter e projectar um treinador dentro daquele que é o seu contexto.
Não descurando a importância de uma Direcção capaz de ser escudo e porto de abrigo quando os resultados tardam em aparecer, penso que a peça-chave mais importante desse algo mais é o treinador e a sua equipa técnica.
Pela forma como continuam a acreditar no processo quando as vitórias surgem em menor número do que o desejado. Pela maneira como se mantêm fiéis aos seus ideais e princípios mesmo quando interna e externamente a pressão começa a atingir níveis insuportáveis. Pelo modo como são intelectualmente honestos, para dentro e para fora, a propósito do que está bem e menos bem, do que já evoluiu, do que estagnou ou do que regrediu. Pela convicção de seguir o rumo traçado e o caminho idealizado, mesmo quando tudo parece apontar para o fim da linha.
Surge isto a propósito de Ruben Amorim e César Peixoto. Dois treinadores portuguesas de uma nova geração de líderes que acreditam em si e nos seus, no matter what. Dois treinadores de convicções firmes e fortes, que outrora foram rotulados de flop, mas que souberam manter-se fiéis a si mesmos, acabando agora por colher os frutos de uma sementeira difícil, mas (creio) prazerosa.
Findo um ano terrível em Inglaterra, Amorim foi recentemente agraciado com o prémio de Melhor Treinador do mês de Outubro na Premier League. Um marco na carreira de um homem que até há bem pouco tempo estava bem cotado nas casas de apostas britânicas como um dos potenciais treinador a conhecer a demissão na liga mais espectacular do mundo.
O que mudou no Manchester United nas últimas semanas para que Ruben Amorim e a sua equipa técnica fossem reconhecidos pelos seus pares? À primeira vista, apenas e só os resultados. Os quais foram positivos de forma contínua e consistente, uma raridade nos red devils desde que o treinador luso deixou Alvalade para rumar a Old Trafford.
Essa consistência contínua é o reflexo natural da melhoria individual e coletiva do United. Mas é muito mais a consequência natural da confiança e da fé inabalável de Amorim na sua Ideia e no seu Modelo de Jogo. Nos seus princípios morais e técnico-táticos. Na sua liderança. Na sua inteligência emocional. Na sua comunicação. No estoicismo com que suportou os meses menos vitoriosos da sua carreira.
Quanto mais dúvidas as derrotas do United suscitavam aos adeptos, aos pundits e aos jornalistas de todo o mundo, mais certezas Amorim teve de estar no caminho certo. Sem hesitar e não obstante as derrotas, manteve o barco dentro da rota traçada.
Não alterou o sistema táctico, raiz de todos os males da era Amorim, segundo 99% das pessoas que acompanham o ex-clube de Sir Alex Ferguson. Não abdicou das suas estruturas e sub-estruturas tácticas com e sem bola. Recuperou Casemiro, Maguire, De Ligt e Shaw. Confiou em Bruno Fernandes e Mason Mount. Ainda não aportou onde deseja, mas navega em mares muito mais serenos.
De Inglaterra para Portugal, da Premier League para a Liga Portuguesa, de Ruben Amorim para César Peixoto…
Tal como o homólogo agora em terras de Sua Majestade, também César Peixoto foi coroado Melhor Treinador dos Meses de Setembro e Outubro no principal escalão de futebol em Portugal. Uma distinção rara numa realidade competitiva em que a maioria dos prémios do género são endereçados aos treinadores dos crónicos candidatos ao título. Uma distinção ainda mais rara na curta carreira de Peixoto.
Ao contrário de Amorim, César Peixoto não teve uma ascensão de carreira meteórica enquanto treinador. Nem em termos de títulos e conquistas e muito menos em termos de aceitação pública do seu ADN futebolístico ou do seu discurso.
Quantas vezes não ouvimos dizer que as ideias veiculadas por Peixoto eram de equipa grande, logo, desadequadas aos clubes por onde passou? Quantas vezes a qualidade futebolística apresentada não era superior aos resultados obtidos e mesmo assim acabou convidado a deixar projectos a meio ou pouco depois de os iniciar?
Quantas vezes César não foi criticado pelo discurso incisivo, assertivo, pouco subserviente ao suposto poderio dos adversários? Ou pela coragem de demonstrar desagrado quando não havia perguntas sobre a sua equipa ou só havia interesse em vésperas de jogo com os grandes do nosso futebol? E pela mesma coragem como afirmava estar satisfeito com a exibição da equipa mesmo quando a vitória escapava?
Em todos os clubes por onde passou, o atual timoneiro gilista mostrou tudo aquilo que agora lhe reconhecem. Personalidade, convicção, crença, confiança, ideias proativas de um futebol enleante, envolvente, associativo. Um futebol que valoriza os jogadores em primeira instância para que depois seja o coletivo a ser ainda mais valorizado.
O que mudou em César Peixoto nestes dois últimos meses enquanto treinador do Gil Vicente? À primeira vista, apenas e só os resultados. Os quais foram positivos de forma contínua e consistente, algo pouco visto ainda na carreira do ex-jogador do FC Porto. Porque de resto, tal como Amorim, Peixoto continua igual a si mesmo. Fiel a si mesmo e aos seus. Mais experiente, obviamente, mas ciente de que o caminho que o trouxe até aqui é o mesmo que iniciou há alguns anos."

BF: Mourinho...

5 Minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - Seleção envergonhou?

Terceiro Anel: Irlanda...

Observador: E o Campeão é... - "Portugal deixou uma imagem degradante. Mediocridade atroz”

Observador: Três Toques - Rubiales atacado com ovos

BolaTV: Mais Vale à Tarde que Nunca - Na rua com o GV, e Tuga810

Muito Benfica para apoiar


"A súmula da atividade benfiquista na BNews.

1. Contributos internacionais
Acompanhe o desempenho dos jogadores do Benfica ao serviço das seleções nacionais.

2. O sonho da Clara
Uma iniciativa conjunta do Futebol Feminino e da Fundação Benfica.

3. Sub-23 cedem empate
Os Sub-23 do Benfica empataram 1-1 com a UD Leiria.

4. Jogo do dia
Em futsal, o Benfica recebe o Famalicão na Luz (19h30).

5. Agenda para sábado
Na Luz há clássico de basquetebol entre Benfica e FC Porto (14h30). Às 15h00, os Juniores visitam o Académico de Viseu. A equipa de voleibol do Benfica é anfitriã da AA Espinho às 17h00. Em andebol, a equipa masculina tem deslocação ao reduto do FC Porto às 18h00 e a equipa feminina recebe o CJ Almeida Garrett às 21h00. Em hóquei em patins, o Benfica atua no rinque do CD Póvoa (18h30). No râguebi, o Benfica disputa as meias-finais da Taça de Portugal em Cascais às 12h00.

6. História
Veja a rubrica habitual das manhãs de quinta-feira da BTV."

Lanças...


Central: A Origem da Vénia: Tradição no Benfica!

O que dizem os números do descalabro da seleção em Dublin: demasiados cruzamentos previsíveis e poucas brasas espalhadas no drible


"Contra uma Irlanda a defender-se em bloco baixo, fechada lá atrás e a dar a iniciativa, Portugal redundou-se a tentar chegar à baliza através de cruzamentos, mas sem sucesso: fez 29 e só acertou quatro no meio dos altos centrais adversários. À previsibilidade no jogo com a bola faltou quem ousasse fazer coisas diferentes, mas, em 97 minutos de jogo, a seleção tentou apenas nove dribles

Jake O’Brien é um matulão de 197 centímetros dos pés à cabeça. Nathan Collins mede os seus 1,93 metros. A versão de humildade em altura do trio está nos 188 centímetros de Dara O’Shea. Constatar que os três centrais com que a Irlanda jogou são altos serve como exercício de redundância, um que a seleção nacional replicou durante os 97 minutos do jogo em Dublin em que fez 29 cruzamentos. Colocar a bola na área repleta de corpos foi um o plano que Portugal repetiu, insistiu e tornou cada vez mais previsível com o decorrer da partida, forçado tal devido à pobreza das suas ideias.
Apenas quatro desses cruzamentos chegaram a um jogador português, uma eficácia de 14% segundo os dados da aplicação Sofascore. Os da UEFA são mais simpáticos, indicam que Portugal acertou sete em 23 (30%). Ser alto não equivale a competência no ar, nem o facto de O’Brien, Collins e O’Shea jogarem no Everton, Brentford e Ipwich Town, equipa da Premier League e do Championship ingleses, significa que estivessem habituados ao jogo aéreo ou a lidar com assaltos à área. Mas os clichés são-no por terem fundamento. No miolo de um bloco baixo e compacto na sua área, a terem de cobrir pouco espaço e a atacarem de frente os cruzamentos que quase nunca vieram de um jeito inesperado, os três centrais da Irlanda foram controlando a teimosia de Portugal em abusar da única arma que pareceu ter.
Os centrais irlandeses acabaram o jogo em Dublin, respetivamente, com sete, 10 e oito alívios de bola feitos, que implica tirá-la da zona que defendiam. Juntos, somaram 25 dos 41 conseguidos pela Irlanda, números sem truques de uma estatística básica tal como se mostrou o jogo ofensivo de Portugal. Ao todo, a Irlanda reclamou 21 dos 33 duelos aéreos da partida (64%). “A nós faltou um propósito”, resumiu Roberto Martínez na flash-interview da RTP. Terá pecado por zelo na avaliação: à seleção faltou foi mostrar mais do que só um desígnio na forma de tentar chegar à baliza adversária.
Mais ainda, na maneira com que tirou os cruzamentos: posto à direita, o destro Diogo Dalot cruzou uma vez com o seu pé preferido, dando à bola um efeito de fora para dentro e na direção da baliza; Bernardo Silva, canhoto à esquerda, fez cinco destes cruzamentos com jeito inswing. Francisco Trincão juntou outros dois da direita, quando entrou. Não eram bolas cruzadas de ângulos desafiantes, ao contrário dos cruzamentos que Rúben Dias e Rúben Neves ainda tentaram a partir da esquina da área, no centro-direita, de onde podiam apanhar os defesas em contra-pé e colocar a bola entre as suas costas e o guarda-redes.
A partir da ala, só Nélson Semedo (cinco cruzamentos com ‘efeito banana’ para longe do alvo) e João Cancelo (dois) divergiram um pouco. E este último foi o único capaz, na primeira parte, de encarar adversários no drible, ser descarado no um contra um e causar desequilíbrios sozinho, à largura. Foi substituído ao intervalo por ter um cartão amarelo.
Com uma equipa tão desinspirada no coletivo, sem dinâmicas que sacudissem a coesão do bloco irlandês, ter quem abanasse a organização adversária com um rasgo individual, algum golpe de asa, cedo se demonstrou uma carência gritante. Durante 45 minutos só Cancelo o tentou. Rafael Leão jogou nem meia-hora. Francisco Trincão igual, ambos entraram aos 63’. ‘Chico’ Conceição ficou sentado no banco. A seleção tentou nove dribles em 97 minutos de jogo, cinco deles bem-sucedidos. As brasas não se acenderam, quanto mais serem espalhadas. Atravancada em previsibilidade a gerir a muita bola que teve (acabou o jogo com 77% de posse), à seleção que vive apetrechada de talento faltaram agitadores. Faltou finta, essa comodidade cada vez mais rara no futebol.
Tantos cruzamentos traduziram-se em 38 toques na bola dados por jogadores portugueses dentro da área contrária, pouco mais do que os 29 conseguidos pela Irlanda no reduto de Portugal, mas sem sequer um terço dos passes feitos (164 contra 732) e com metade das chegadas (36 e 70) ao último terço atacante. As abismais diferenças nos dados que refletem a iniciativa de jogo não tiveram correspondência no produto final: os irlandeses remataram 13 vezes dentro do retângulo, a seleção acabou com 14. A muita parra nas estatísticas a refletir a postura irlandesa no encontro - baixar linhas, dar a bola a Portugal, esperar por recuperações para contra-atacar rápido - resultou em pouca uva para Portugal.
Bernardo Silva teve razão quando falou após o jogo, não apenas por “enfrentar uma linha de cinco” defesas ser “das coisas mais difíceis do futebol”. Também pelo que isso implica. A Irlanda teve sempre cinco jogadores na sua última linha, mais quatro numa linha intermédia, às vezes cinco, montada logo à frente. Mantiveram-nas coladas e em torno da área. Foi uma unidade constante de 10 corpos, um bloco organizado e comprimido em 30 metros. Quantos mais jogadores em tão curta zona do campo, menos espaço há por onde o adversário pode jogar com a bola. E Portugal raramente jogou dentro do bloco irlandês.
Há várias formas possíveis de lidar com uma equipa a defender-se tão recuada, com uma linha de cinco jogadores, sem contestar a posse de bola: trocar passes rápidos para obrigar os adversários a correrem, cansando-os; ter jogadores abertos em cada ala, a toda a largura do campo, para forçar a última linha a esticar, alargando os espaços entre os adversários; ter jogadores a fazerem contra-movimentos (um a pedir um passe no pé enquanto outro ataca o espaço) para provocarem a dúvida em quem defende. Para fomentar este tipo de afazeres contra um adversário a dificultar a vida com a sua forma de se fechar, Portugal não se ajudou a si próprio.
Ao intervalo, Martínez tirou Gonçalo Inácio, o defesa central que melhor passa a bola, constrói no início das jogadas e dá coisas diferentes nos primeiros passes, qualidades ainda mais valiosas face à quase omnipresença dos centrais portugueses para lá da linha do meio-campo quando a seleção atacava. Olhando para os seus mapas de calor, que mostram as zonas onde os jogadores mais andam no relvado, ele e Rúben Dias estiveram mais perto da área irlandesa do que da portuguesa. Ambos fizeram mais passes na metade atacante: em 45 minutos, o central canhoto do Sporting registou 33 passes para o último terço ofensivo e, em 97, o colega do Manchester City escalou aos 78.
Muito recuada a defender, dando a iniciativa a Portugal e vendo os dois centrais a jogarem tão longe da própria área, a Irlanda teve as dezenas de metros de espaço que pretendia ver nas costas dos defesas para aproveitar quando recuperava a bola.
O selecionador também substituiu João Cancelo, único driblador nato que a seleção tinha nas alas ao apresentar-se coxa de largura já que, à esquerda, começaram o destro Dalot e João Félix, jamais um extremo e sempre atraído ao centro do campo na procura de tabelas e associações com alguém. “Nunca fomos eficientes na forma como atacámos”, radiografou Bernardo Silva, certeiro a ler as desavenças da seleção - “metemos sempre pouca gente em zonas de finalização”.
Olhando para o mapa de calor de Cristiano Ronaldo, o avançado de referência andou mais pela entrada da área do que no seu interior, para onde Portugal apontou os muitos cruzamentos. Quase nenhuma presença efetiva teve na área, absorto na luta com os defesas e demasiado sozinho a fazê-lo. Após ver o cartão vermelho por tentativa de agressão, aos 61’, sendo expulso pela primeira vez em jogos da seleção (13ª na carreira), Roberto Martínez não se pareceu importar muito com a meia-hora de inferioridade numérica a que o capitão condenou a seleção. “A razão por que recebe o vermelho é pela paixão e frustração quando Portugal não ganha, é isso que queremos de todos os jogadores”, disse o treinador. Cristiano não poderá jogar no Dragão, contra a Arménia, portanto Martínez dispensou-o da seleção. Veremos o que decide a UEFA quanto à suspensão - pode ir até às três partidas.
Pouco depois entraria Rafael Leão em campo para não resolver a questão de falta de presença na área, antes de Gonçalo Ramos, o único ponta de lança de origem entre os convocados que apenas foi lançado aos 76 minutos, ainda a tempo de acertar dois remates na baliza."

Cristiano Ronaldo devia ter vergonha


"Perdeu a cabeça, acontece. Mas tendo 40 anos, e tendo sido ele a criar o clima que viveu, estranha-se que aconteça... E o pior foi a pantominice toda entre a cotovelada e sair

Portugal precisava de vencer na Irlanda para se apurar já para o Mundial e perdeu. Acontece.
Na verdade, em jogos oficiais nunca ganhou em Dublin. E ainda não tinha acontecido com Roberto Martínez em grupos nas qualificações (10 vitórias em 10 jogos no caminho para o Euro 2024; 4 vitórias e 2 empates na Liga das Nações no segundo semestre de 2024; 3 vitórias e 1 empate no apuramento para o Mundial-2026... até ontem), mas ninguém esperaria que o treinador espanhol ganhasse sempre. Afinal, esta foi a quinta derrota em 35 jogos, perde 1 em cada 7, só não tinha acontecido em apuramentos.
Mais alarmante é Portugal jogar tão pouquinho. Não foi só ontem. Os jogos de outubro em Alvalade, para não ir mais para trás, já tinham deixado sinais preocupantes — da dificuldade para vencer em casa a Irlanda à vantagem desperdiçada frente à Hungria na compensação.
Mas preocupante, mesmo preocupante, é ter um selecionador que vê o copo um quinto cheio (tomáramos nós que a discussão fosse se está meio cheio ou meio vazio). Ontem, viu uma boa reação de Portugal às vicissitudes do jogo que mais ninguém viu (a não ser que estivesse a referir-se ao facto de mais ninguém ter perdido a cabeça e agredido um adversário depois de Ronaldo, mas não me parece que fosse isso). Há um mês, depois das pálidas exibições com Hungria e Irlanda, atirou: «Temos uma Seleção que joga muito e bem.» E achar isso é meio caminho andado para nada mudar.
Mas o mais grave de ontem não foi Martínez a dizer das suas, foi Cristiano Ronaldo a fazer das suas. O que o capitão de Portugal fez foi lamentável. E não me refiro só à agressão, porque perder a cabeça num momento de frustração pode, embora não deva, acontecer.
Ronaldo tem 40 anos. Na conferência de imprensa de quarta-feira fez questão de provocar adversários, selecionador irlandês e público. Foi ele quem criou o clima com o qual não conseguiu lidar.
Mas o pior foi a reação, aquela pantominice toda — do choro, como se o irlandês que levou a cotovelada estivesse a fingir, passando pelos gestos de cabeça, como se não percebesse o que estava a acontecer, até aos aplausos ao público, como se fosse por culpa das bancadas, e não dele próprio, que estava a ser expulso.
Ronaldo errou. O mínimo a fazer é pedir desculpa, mas o que devia mesmo era ter vergonha. Mas se até Martínez lhe passa a mão pelo pelo e diz que «não há violência», «tenta afastar» e «teve azar», não tenho grande esperança..."

Do calcanhar ao cotovelo, sempre a descer


"DESCE: Cristiano Ronaldo foi provocado pelo selecionador da Irlanda, antes do jogo. Heimir Hallgrimsson ganhou o duelo, apesar de o capitão da seleção portuguesa ter garantido que sabia o que esperar.

Cristiano Ronaldo é mais do que um (grande) jogador de futebol: é um ícone global, o rosto do futebol português, a referência da seleção nacional, da qual é capitão há quase 20 anos.
E insiste em dizer que não o é apenas pela fama, pelo capital de prestígio acumulado ao longo do tempo, mas sim pelo que ainda faz em campo. «Ninguém é indiscutível, cada jogador merece jogar pelo momento em que está», disse Ronaldo, na véspera do jogo de Dublin. Na mesma altura insistiu na ideia de «os números falam por si» e garantiu «tentar ser uma mais-valia para o grupo».
Ronaldo sabia ao que ia: que ia ser pressionado, vaiado. Garantiu que ia aguentar e portar-se bem («I’ll be a good boy»).
E começou com essa vontade de ajudar, de marcar, de ser decisivo – outra vez: um remate de calcanhar que daria um golo memorável, mas que saiu frouxo e fácil para o guarda-redes irlandês.
Depois, foi sempre a descer. Ou o remate saía torto ou o livre acertava na barreira. Vigiado pelos possantes centrais irlandeses, dificilmente jogava na área e fora dela já havia demasiada gente a dar toques inconsequentes na bola.
A Irlanda. Duas vezes. A frustração cresceu de tom, até porque se percebia que a equipa portuguesa não ia encontrar uma solução para dar a volta ao jogo, nem que jogasse no Aviva até sábado.
A reação intempestiva à agressividade de Dara O’Shea (que estava na conferência de imprensa de lançamento do jogo - pelo lado irlandês - e ouviu bem a provocação lançada pelo islandês Hallgrimsson) pode ser entendida à luz dessa frustração. Mas Ronaldo tem de saber mais do que isso; tem de ser capaz de mais do que isso.
Saiu de campo de forma inglória, debaixo da sarcástica troça dos eufóricos adeptos irlandeses. Sai deste apuramento pela porta pequena.
Não ajudou a equipa, nem vai ajudar tão cedo. Em campo, pelo menos. Resta-lhe, como capitão, ser capaz de encontrar forma de ajudar do lado de fora. Não é coisa de somenos. Até porque o apuramento para o Mundial ainda não está garantido."

Rui Costa: a vitória que acabou num empate


"O Benfica reelegeu o jogador e não o presidente. E quando o apito final soou, a vitória de Rui Costa já tinha o sabor do empate — e do mesmo desconcerto que o clube arrasta há anos

Rui Costa reelegeu-se presidente com mais de 65% dos votos. Poucas horas depois, o Benfica empatou na Luz, diante do Casa Pia, ao 12.º jogo de José Mourinho, ainda incapaz de resolver os problemas que transporta desde o primeiro encontro de Bruno Lage ou do último em que foi orientado por Roger Schmidt.
Como tem sido hábito nos últimos clubes que treinou, o treinador queixou-se do penálti-que-não-foi, com o presidente a mostrar-se também ele previsível ao acrescentar a punch line do «assim se perdem campeonatos». Ainda com as eleições a quente, reagiu rápido depois de ter tantas vezes acusado de não defender o clube. Mas… «assim» como? Sem ter mostrado algo que não tivesse efeito soporífero para o espectador, o Benfica estava a vencer por 2-0, o penálti foi defendido por Trubin antes da rara precipitação de Tomás Araújo trair a todos e a si próprio num alívio desastrado que colocou a vida em risco aos filhotes da coruja, estava-se a 25 minutos dos 90' e houve mais oportunidades e um golo anulado. O 2.º golo dos visitantes resulta de dois erros individuais, primeiro Ríos, depois Trubin, naquela defesa para a frente, espaço proibido, mas também do fracasso coletivo que sobressai em praticamente todos os desafios: dominar de forma inequívoca ou, quando não possível, controlar com bola.
Se Rui Costa estava a falar da arbitragem é desculpa mais que esfarrapada. Se está a falar do acumular de erros próprios, muitos seus, talvez tenha razão. Até se perde mais. Perde-se mentalidade ganhadora, o respeito dos adversários e, se quiser insistir por aí, talvez o clube se vulgarize até perante os homens do apito. Se reduza ao tamanho de um Casa Pia na hora H. Não é que transforme o erro em premeditação, apenas talvez torne o seu caminho mais fácil. A força da liderança também se vê nesses momentos.
O empate de domingo foi sobretudo mais um sintoma de um clube longe de ter adquirido um rumo no dia em que entrou para o Guinness. A mensagem terá chegado, todavia, aos destinatários pretendidos. Os adeptos e os sócios, talvez muitos daqueles que entenderam que, depois de 13 anos de estágio remunerado e quatro no poder, o atual responsável ainda merecia uma mais oportunidade, fizeram eco um pouco por todo o lado daquilo que não é mais do que nova tentativa de vitimização, como tantas antes, e também com outras cores: «Ninguém respeita o Benfica!»
Quem lê habitualmente esta crónica não ficará surpreendido por querer manter a minha opinião sobre Rui Costa e a sua presidência, embora me pareça que agora terá a cumplicidade de mais de 58 mil almas que também decidiram não querer saber, não ler documentos e não estarem informados sobre o que se passa realmente no clube. Todos eles foram um pouco Rui Costa na sua decisão e, como tal, aceitam dividir com este o peso da responsabilidade pelos próximos anos.
Acredito que quem votou na lista G colocou a cruz à frente do jogador, do bom filho retornado a casa, e não no presidente, que foi perdendo quase toda a sua estrutura até inventar uma remodelação, depois de fazer disparar custos e ganhar muito pouco. Terá até, no limite, votado em Mourinho, quiçá marca de água no boletim, que só não será o último erro do atual presidente porque os sócios aumentaram substancialmente a margem de erro e mostraram estar mentalmente preparados para pelo menos mais um mercado que, pelo perfil do técnico, afastará a equipa do desejo de ser dominadora, pelo menos por cá.
O que se passou na Luz diante dos gansos não foi karma, nem resultado de uma má arbitragem. Aquela exibição não poderia estar mais ligada à falta de rumo que começou a penalizar a equipa logo nos segundos seis meses de Schmidt, o último que quis criar uma equipa verdadeiramente dominadora, encontrando soluções em jogadores proscritos e na formação. Já os dois sucessores portugueses, pelo contrário, confiam em poucos e alienam uns quantos. Não foi um acidente, vai repetir-se, e se bem conhecemos já as ideias de Mourinho as eventuais alterações de janeiro ainda afastarão mais a equipa daquilo que precisa para ser sólida nos diversos momentos dos encontros.
Rui Costa ganhou o benefício da dúvida a quem deixou dúvidas. A missão, como a canção, é «fazer o que ainda não foi feito». Ou seja, tudo. Terá uma equipa diretiva nova ao seu lado e o primeiro passo para atingir algum sucesso será carregá-la até 2029 depois do que aconteceu à anterior. Ao mesmo tempo, criar um rumo, defendê-lo nos tempos difíceis, tomar decisões na altura certa, equilibrar contas sem desinvestir num plantel desequilibrado apesar dos 130 milhões em remendos, ganhar com esse plantel milionário, dar força a uma academia que se perde sem linha de meta, revitalizar modalidades importantes e ajudar a empurrar o jogo na direção certa, na questão de centralização dos direitos ou na defesa do produto. Enfim, ser líder. Algo em que se mostrou perfeitamente incapaz até aqui, ao ponto de ser diminuído até nas declarações dos rivais. Será de mim ou tudo isto parece de um campeonato que não o seu? E corre já contra o tempo para provar-nos a todos do contrário. Bastou um empate domingo à noite.

P.S. Não conheço pessoalmente João Noronha Lopes. Ou João Diogo Manteigas. Parecem-me ambos pessoas com interesse genuíno em devolver ao clube o sucesso a que aspira. Se o conseguiriam fazer agora, não sei. E nunca saberemos. Entretanto, do segundo diz-se que será o próximo grande adversário de Rui Costa daqui a quatro anos e, se o for, terá de transportar muito desta eleição para essa. A sua imagem não passou, pareceu demasiado radical. E se o povo é avesso à mudança, ainda o será mais a uma que lhe pareça extrema. Levará também daqui o que não pode imitar, como a ingenuidade de Noronha Lopes, que, já fragilizado pela maior dificuldade de comunicar, teve de lidar com uma campanha do presidente em exercício que foi tudo menos inocente, ainda que não personalizada no próprio. Por vezes, jogou-se sujo. Não houve misericórdia. Noronha e os seus mais próximos não estavam preparados. Por isso, perdeu esta batalha — e acredito que a guerra."

No futebol quem não sabe comunicar perde


"A agenda mediática no último mês foi dominada pelas eleições à presidência do Sport Lisboa e Benfica (SLB)
Os candidatos na primeira volta — Rui Costa, João Noronha Lopes, João Diogo Manteigas, Luís Filipe Vieira, Martim Mayer e Cristóvão Carvalho — e depois na segunda volta — Rui Costa e João Noronha Lopes — esgrimiram argumentações até à abertura das urnas.
Num cenário ultra mediatizado como o do universo benfiquista, cada candidato não só esteve a competir com adversários diretos, mas com a perceção do público, a imprensa desportiva e o escrutínio constante nas plataformas digitais.
O apoio no planeamento estratégico como o de uma agência ou de um consultor de comunicação experiente — comum a todas as candidaturas — deixou de ser um investimento supérfluo para se tornar um fator decisivo.
Numa época em que a paixão e a perceção pública se confundem, as campanhas à presidência de um clube de futebol português tornaram-se mais num exercício de comunicação e menos num duelo de ideias. Uma declaração ou soundbyte, entrevista, publicação nas redes sociais, e mesmo, o silêncio podem influenciar o rumo de uma candidatura.
É neste contexto que o papel de especialistas em comunicação reúne cada vez mais relevância. Transformando intenções em narrativas consistentes, posicionando candidatos com autenticidade e procurando antecipar tempestades mediáticas que fazem parte do jogo. Com uma missão clara de garantir que a mensagem tem consistência e um propósito e, por fim, que chega ao público-alvo no timing certo.
Uma estratégia de comunicação eficaz não se resume à gestão do relacionamento com os meios de comunicação social e os jornalistas. É acima de tudo uma gestão de perceções e de construção da confiança — pilares essenciais para ser líder. O apoio das equipas e dos técnicos especializados permite reforçar as caraterísticas singulares e diferenciadoras do candidato, destacando temas relevantes e, ademais, tentando evitar que a emoção comprometa a coerência do discurso.
No futebol a comunicação também é tática. Saber quando e como falar, preparar uma resposta e usar o tom adequado é tão decisivo quanto a escolha de um treinador. Uma má entrevista pode custar votos e um comentário inspirador pode consolidar a liderança.
Mais do que gestão da imagem é uma questão de profissionalismo e de visão. Um candidato que investe na comunicação consistente demonstra o respeito pelo clube, pelos sócios e no processo democrático.
No final das contas, a liderança de um clube é mais do que a gestão da equipa — é representar uma identidade coletiva. E, no jogo invisível entre o que se diz e a perceção do público, quem comunica bem joga para ganhar."

SportTV: Ukra - S02E03 - Sílvio...

A justiça olímpica para 'todes'


"O The Times revelou esta semana que o Comité Olímpico Internacional (COI) se prepara para recuar na decisão em relação aos atletas trans e deve anunciar a proibição da sua participação nos Jogos Olímpicos

A caminho de um torneio em França, alguns elementos da então União Holandesa de Atletismo retiram Foekje Dillema do comboio. Na plataforma da estação de Hilversum, disseram-lhe que a sua jornada terminava ali e que nunca mais teria autorização para competir. Quando ela agarrou na sua mala que estava no compartimento onde estavam as suas companheiras de equipa que, surpreendidas, lhe perguntaram o que se passava respondeu: «Dizem que eu não sou uma rapariga.»
Voltou à terra pobre que a viu nascer e nunca mais falou com jornalistas. Quando morreu, análises de ADN mostraram que era intersexo, o que antes se denominava hermafrodita. Viveu sempre como mulher e apesar de nunca ter sido esclarecido, algumas fontes garantem que terá recusado submeter-se a um teste de verificação de sexo, na altura, anos 50 do século passado, um exame físico invasivo. Foi banida para sempre.
Esta semana, o The Times revelou que o Comité Olímpico Internacional (COI) deve anunciar no início de 2026 que decidiu proibir a participação de todas as atletas transgénero nas categorias femininas dos Jogos Olímpicos, colocando um ponto final numa polémica que não pára de aumentar.
Até agora, o COI adotou o princípio de «nenhuma exclusão sem base científica», deixando nas mãos de cada modalidade a decisão, salvaguardando, porém, que as mulheres transgénero só poderiam competir com níveis reduzidos de testosterona.
Agora, a diretora médica e científica do COI apresentou um estudo que sustenta existirem provas científicas de que alguém que nasceu biologicamente com o sexo masculino terá sempre vantagem física, mesmo com tratamentos de supressão hormonal durante vários anos.
Os 46 segundos que durou o combate de boxe entre a argelina Imane Khelif e a italiana Angela Carini, em Paris2024, reacendeu a polémica, até porque a italiana desistiu ao primeiro soco acusando a rival de ser um homem.
Na realidade, até hoje, a única atleta abertamente trans a competir nuns Jogos foi a neozelandesa Laurel Hubbard, no halterofilismo, em Tóquio2020, embora algumas páginas tenham anunciado que na capital francesa competiram 190 atletas LGBTQI+, três não binárias assumidas: Nikki Hiltz (atletismo), Quinn, do futebol canadiano e Alana Smith (skate). Ser não-binário (identidade de género) não implica qualquer transição médica, hormonal ou cirúrgica.
A decisão que o COI se prepara para anunciar lança para cima da mesa várias questões e a primeira é que o sistema desportivo atual não tem espaço institucional para identidades fora do binário homem/mulher.
Pela frente uma batalha entre quem acredita que princípio basilar do desporto olímpico é a igualdade de condições e que atletas trans mulheres, que passaram pela puberdade masculina, podem manter vantagens fisiológicas — maior massa muscular, densidade óssea e capacidade cardiovascular — mesmo após anos de terapia hormonal. Além disso, defendem, as categorias femininas foram criadas para garantir oportunidades justas às mulheres, após séculos de exclusão desportiva e que a inclusão de atletas trans é uma ameaça a esse espaço, revertendo conquistas do movimento feminista no desporto. Somado a isto, claro, há modalidades que têm exigências físicas diferentes.
Crie-se uma categoria para os que não são homens ou mulheres, clamam. Mas, a criação de eventos abertos ou híbridos será uma solução justa ou apenas reforça a segregação?
Parece simples?
Mas não é.
Para outros, a exclusão de atletas trans viola o princípio da dignidade humana e o direito à igualdade de oportunidades reconhecido pela Carta Olímpica. Se o desporto deve ser um espaço de inclusão e representação social, banir atletas trans reforça estigmas e marginalização. O desporto deve ser uma arena de meritocracia biológica ou de inclusão social?
Tanto para discutir... Afinal, a quem pertence a definição de justiça no desporto: à biologia, à identidade ou à sociedade?"

Cláusulas de rescisão: uma encruzilhada fiscal


"Em período de paragem do campeonato e em vésperas de Natal, começam as movimentações da silly season. Os clubes procuram investir, os jogadores almejam novos horizontes e/ou a necessidade de minutos precipita decisões outrora jamais equacionadas.
Este constante fluxo de informações e de novidades a la minute enche as discussões de famílias e adeptos, sempre com uma frase, repetida até à exaustão: «Só sai pela cláusula de rescisão.»
Na verdade, «só sai», mas... nunca assistimos em Portugal - se a memória não me falha - ao completo e formal exercício da cláusula de rescisão. E isso prende-se, e muito, com o modo de pagamento, mas sobretudo com o ónus que a mesma transporta para a esfera do jogador.

Os clubes portugueses estão permeáveis aos «grandes» compradores
Vejamos, prima facie, o que é afinal a cláusula de rescisão.
Comecemos por algo básico, mas muitas vezes o primeiro erro cometido. O clube - supostamente comprador - vai pagar a cláusula de rescisão! Aqui d’el rei que esse poderoso colosso, com tamanha vantagem financeira, consegue chegar e a seu bel-prazer tirar o craque da equipa.
Pois bem, a cláusula de rescisão está inserida num contrato de trabalho desportivo, no qual apenas duas partes se obrigam perante o mesmo: o jogador e o clube contratante. Nenhum terceiro é afetado pelo mesmo e - em corolário - nenhum terceiro pode (ou deverá) ter qualquer impacto no normal funcionamento da relação laboral constituída. É, por isso, uma relação laboral entre partes, na qual só os seus outorgantes podem ou não fazer cessar a mesma.
Aqui chegados; apenas o jogador pode fazer cessar o contrato de trabalho e potenciar a transferência por via do exercício da cláusula de rescisão.
Seguidamente, importa perceber afinal o que é uma cláusula de rescisão. É uma cláusula liberatória. Isto é, é uma cláusula que na sua redação permite uma dupla valência:
i) terminar o vinculo laboral e desportivo sem ónus disciplinar ou compensatório para o jogador e para quem o contrata: e,
ii) estabelece um montante que as partes atribuem como bastante para satisfação do clube que vai perder o jogador
Posteriormente nascerá a dúvida procedimental. «Bom mas e se o clube não quiser receber o valor», ou maxime, o jogador não souber para onde o pagar. O n.º 4 do artigo 46.º do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) esclarece esse tema de forma translúcida: bastará depositar a quantia - definida no contrato de trabalho registado na Liga Portuguesa de Futebol Profissional - e, imediatamente, o jogador verá o seu contrato cessado.
Assim, e resumindo, uma cláusula de rescisão atribui um valor que, sendo pago, permite ao jogador terminar um vinculo com um clube e assinar por outro sem qualquer ónus disciplinar associado.

O terrível ónus fiscal do jogador (!)
Todavia, existe uma variável associada ao pagamento da cláusula de rescisão que não é considerada; o impacto fiscal da mesma para o jogador. Vejamos, o Tomás – nome fictício para exemplificar um putativo exercício da cláusula de rescisão – é um destacado jogador que tem no seu contrato uma cláusula que permite a rescisão do seu contrato de trabalho, sem justa causa, mediante o pagamento do valor de cem milhões de euros.
Seguindo o racional apresentado, o jogador deposita o valor junto da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e o seu vinculo cessa sem mais. Acontece, no entanto, que a entrada do avultado valor na esfera do Tomás carece de justificação e tributação. Ou seja, entrando esse valor nas contas do jogador, importa saber: decorre de rendimento já tributado? Ou, em alternativa, decorre de um prémio antecipado pelo novo clube? Qual a origem do valor?
Assim, forçosamente, o valor pago pelo Tomás para cessar o vinculo contratual - e que dessa forma trouxe uma vantagem (assume-se) na celebração de um novo contrato de trabalho -, terá sempre de ser enquadrado em sede de IRS do próprio atleta. Ou seja, o Tomás verá assim a autoridade tributária taxar esse seu rendimento, que potenciou a quebra contratual.

O hábito de hoje se fazer uma redação aberta da cláusula de rescisão
Sem entrar em contradição com o anteriormente apresentado, certo é que hoje é comum assistir-se a uma redação aberta das cláusulas de rescisão: as mesmas assumem que o valor devido pelo jogador pode ser pago «por clube ou sociedade desportiva terceira».
Ainda que se abra a porta a um terceiro imiscuir-se na cessação da relação laboral, a base será sempre em representação de uma das partes - in casu - o jogador. Ou seja, ainda que o pagamento seja feito por um terceiro, a obrigação que se pretende satisfazer é a obrigação de uma das partes e sobre a mesma incidirá o racional de enquadramento fiscal do valor pago, e que entrou - ainda que indiretamente - na esfera do jogador.
Qualquer valor pago pelo clube em representação do jogador, e nos termos do exercício da cláusula de rescisão, terá de ser entendido como um princípio de pagamento pelo sinalagma laboral, que se irá iniciar com o novo contrato de trabalho e nesse contexto assumido como novo rendimento do jogador.
Tendo em consideração esta dimensão tributária, temos afinal a materialização real de que o valor definido por cláusula de rescisão será sempre um valor ao qual se deve somar os encargos fiscais que - independentemente de quem liquide a obrigação - serão suportados pelo jogador. Transferência com o acordo de todos: o caminho mais seguro Resta salientar que este cenário ocorre na execução pura e dura da cláusula de rescisão. Isto é, quando o jogador, por sua iniciativa e de forma unilateral, decide terminar o contrato de trabalho. No entanto, o cenário habitual é um entendimento tripartido entre clube comprador, clube vendedor e jogador. Um encontro de vontades. Um divórcio consensual. A referência corriqueira de só sai «pela cláusula», é, em bom rigor, não mais do que uma posição negocial alicerçada numa encruzilhada fiscal, que os clubes sabem que será prejudicial ao jogador se exercida."