"Jaime Graça seguiu a paixão de família e dedicou a sua vida ao que mais gostava: o futebol
O desporto para além dos reconhecidos benefícios para a saúde física, em muitos momento é também, essencial para a saúde mental. A prática desportiva, principalmente durante a juventude, pode servir como escapatória para momentos difíceis. Dentro de campo as desigualdades desaparecem e a realidade passa a estar confinada ao que se passa dentro das quatro linhas.
Com uma infância marcada por episódios trágicos, por ter perdido o pai e a irmã, Jaime Graça teve o futebol como fuga. Proveniente de uma família que 'respirava futebol', o pequeno Jaime seguiu as pisadas do pai e do irmão. Apesar de nos primeiros anos ter dividido o tempo com o trabalho como aprendiz de eletricista, era dentro de campo que estavam os seus sonhos!
Como jogador doseava de forma exímia as emoções dos jogos, com um discernimento e calma incomuns, distinguindo-se pela sua leitura de jogo e sentido posicional Jaime Graça parecia estar sempre um passo à frente. A sua paixão pelo futebol era contagiosa. Ambicioso e com uma postura incólume, ascendeu à equipa de honra do Vitória de Setúbal na época 1960/61 e, na temporada 1964/65, era já capitão de equipa, erguendo a Taça de Portugal numa final bastante disputada frente ao Benfica.
Em 1966 após ter contribuído para uma fantástica campanha da seleção nacional no Campeonato do Mundo, transferiu-se para o Benfica, onde, volvidos poucos meses, os seus conhecimentos de jovem eletricista foram fundamentais para evitar uma tragédia maior, devido a um curto-circuito no tanque de hidromassagem, conseguindo salvar quase todos os seus colegas.
Nos encarnados, viu a sua qualidade traduzida em títulos, ao conquistar sete Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal e três Taças de Honra. Terminou a ligação com os benfiquistas em 1974/75, mas, após ter 'pendurado as botas' na temporada de 1980/81, voltou ao Clube em 1995.
Tal como o futebol não o tinha abandonado nos momentos difíceis, Jaime também continuou bem perto das quatro linhas, primeiro como treinador, depois como prospetor e por fim como coordenador técnico. Nessas funções, Jaime Graça destacou-se pela forma como transmitia a paixão pelo futebol, pela previsão do que iria acontecer e pela escolha dos jogadores que iriam atingir um elevado nível.
Se no início da sua vida teve motivos para reclamar, o futebol resgataria o seu sorriso. Na sua vida adulta poderia ter razões para gestos de vedeta, mas preferiu sempre manter uma postura humilde. Jaime era singular! Nos seus últimos anos, preocupou-se em formar futuros jogadores e treinadores com competência, mas, acima de tudo, com devoção por um desporto que tem o condão de nos transportar para uma realidade em que as diferenças são postas de lado pela partilha pela mesma paixão: futebol.
Recorde momentos do seu percurso na exposição temporária Jaime Graça - Ao Serviço do Futebol no Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica