Últimas indefectivações

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Entrevista completa de Jorge Jesus

"O treinador do Benfica aceita que lhe apontem erros. Ele, de resto, aponta alguns. Garante, porém, ter a consciência tranquila relativamente às opções tomadas e caminhos percorridos. E diz-se, hoje, tão motivado para trabalhar no clube como em Junho de 2009, quando chegou. Diz que, quando sair, sairá por cima.
- Três anos à frente do Benfica representam um longo caminho. Sente-se com condições para enfrentar a próxima época, quer do ponto de vista pessoal, quer do apoio dos adeptos, atendendo a alguns sinais exteriores de contestação que têm sido perceptíveis desde a derrota em Alvalade?
- Quando se perde, o grau de desânimo é sempre grande, principalmente num clube como o Benfica e, portanto, esses sinais são naturais em momentos como este. Tenho de os considerar e compreender, porque eu próprio sinto essa frustração, mas posso garantir-lhe que tenho, hoje, a mesma ambição e a mesma vontade que tinha quando cá cheguei no primeiro dia. Podem acusar-me de muita coisa, mas há uma garantidamente de que não podem, de falta de dedicação e de não ter dado sempre tudo pelo Benfica.
- Sente um clima diferente, para pior, à sua volta, no universo dos sócios e adeptos, ou entende que os assobios vêm apenas de uma pequena franja mais radical, responsável pelas paredes pintadas na Luz e em Vila do Conde?
- Repito o que disse atrás, manifestações de frustração são naturais, principalmente quando tínhamos uma perspectiva bem diferente daquela que temos hoje. Como acham que vivi alguns dos dias que se seguiram a alguns jogos em que perdemos pontos? Mas alguém pode acreditar que não demos tudo para chegarmos ao fim em primeiro? Portanto, eu partilho dessa frustração e repito que temos de compreender a desilusão dos adeptos. Mas já não posso compreender, como também já disse no passado, as pinturas feitas, não se sabe por quem, e que colocam em causa a pessoa responsável por hoje existir o Benfica tal como o conhecemos.
- Está a referir-se ao presidente?
- Naturalmente. Alguém acha possível que o clube tenha o prestígio que hoje lhe reconhecem, ou tão simplesmente a existência do Benfica como clube se não fosse o seu trabalho? Nessa perspectiva acho perfeitamente injusto e aí sim acredito que essas iniciativas, que não são assumidas, não representam a massa associativa do Benfica.
- Para que não haja equívocos, e de forma muito frontal, por si continua no Benfica?
- Quando cá cheguei em Junho de 2009 vinha com uma ideia do que era o Benfica e com a ambição de ganhar. Efectivamente, estava longe de imaginar exactamente qual era a dimensão do Benfica e é evidente que gostaria de ter ganho mais títulos daqueles que ganhei, mas sinceramente sei que dei tudo e deixei o melhor de mim em cada dia de trabalho. Tenho a consciência tranquila em relação ao que fiz. A resposta é sim. Sim, vou continuar com a mesma vontade, com a mesma determinação. Continuo empenhado em fazer do Benfica aquilo que os sócios e adeptos esperam. É evidente que a emoção conta sempre em momentos como este, mas se forem fazer uma análise seria do trabalho que foi desenvolvido três anos acho que mereço pelo menos o benefício de provar que continuo a ser útil ao Benfica.

IDA PARA O FC PORTO VISTA COMO DISPARATE
-Teve, ou alguém teve por si, algum contacto com o FC Porto ou com outro clube, visando a próxima época?
-Estou farto dessa insinuação que é repetidamente feita com a única intenção desgaste. Estou no Benfica de corpo e alma e não estou interessado em qualquer outro projecto. Quando se chega ao maior clube português alguém pode querer andar para trás? Isso é um completo disparate. Já agora, também lhe devo dizer que estou farto de ouvir e ler que a questão de eu continuar ou não se deve simplesmente ao dinheiro. Totalmente falso. Não é pelo dinheiro que estou no Benfica. Se fosse por uma questão financeira teria saído do Benfica em Janeiro para o estrangeiro e o presidente sabe disso porque acompanhou a abordagem que me foi feita por um clube de outro país. Quero continuar no Benfica porque me sinto útil e porque as pessoas acreditam no meu trabalho.
- E como viu as palavras do professor Manuel Sérgio?
- Se quer que lhe diga, com muita surpresa. Tenho  toda a estima pessoal por ele, mas o que ele disse é um disparate e tenho pena porque tinha obrigação de me conhecer melhor e ao Benfica também. É uma boa pessoa que teve um momento infeliz e que, tal como garantiu ao Benfica, também me garantiu que não tinha dito nada daquilo. É apenas um episódio triste e absurdo, nada mais do que isso.
- Portanto, a questão FC Porto é um assunto encerrado?
- Esse é que é o problema, é que nunca foi assunto. A única coisa que quero do FC Porto é ganhar-lhes. Repito: quem alcança o topo não pode ambicionar a descer. Alguém dizia aqui há alguns meses que treinar determinado clube era a sua ‘cadeira de sonho’. Eu não estou na minha cadeira de sonho, estou na cadeira que qualquer treinador do Mundo ambicionava ter. Acha possível eu querer trocar de cadeira? O que eu quero é continuar nesta cadeira por muitos anos…
- Como tem acompanhado estes nomes que têm surgido na imprensa e aparentemente apontados ao seu lugar?
- Com a mesma naturalidade que vejo todos os dias seis ou mais jogadores serem apontados ao Benfica. É o preço de estar num clube como o Benfica, temos de estar habituados. Mas já agora também é bom dizer o seguinte: há muitos colegas seus que não fazem bem o seu trabalho. Ainda hoje (ontem) li alguns jornais que a equipa sentiu em Vila do Conde a falta do presidente e do Rui Costa. Isto é um atentado à seriedade. O Rui estava de luto, o presidente a trabalhar num processo que está pendente. Falar dos jogadores para justificar esta notícia não é sério. Portanto, voltando ao início, seguramente ainda vão aparecer mais nomes.
- Que sinais tem recebido do presidente, especialmente a partir do momento em que a vantagem no Campeonato se esfumou?
- O presidente é das pessoas que mais sofrem com tudo aquilo que tem acontecido nas últimas semanas e era a primeira pessoa a merecer ganhar este título. Já estamos a trabalhar na próxima época, a ver onde é que podíamos ter feito melhor, em que sectores é que temos de melhorar, é isso que temos vindo a fazer há algum tempo. Não é uma pessoa de baixar os braços...
- Disse, há umas semanas, que faria tudo igual e que manteria as mesmas opções que tomou, mas acaba de dizer que estão a analisar onde é que poderiam ter melhorado, portanto há coisas que faria de forma diferente?
- Quando respondi a essa questão, referia-me a opções técnicas e é evidente que na sua grande maioria as manteria. Se errei? É normal, só não erra quem não tem responsabilidades e já agora é muito fácil jogar ao Euromilhões ao sábado. Mas é evidente que mudaria algumas coisas nomeadamente algumas apostas que fiz em termos de Champions.
- Ou seja, o plantel do Benfica não era suficientemente forte para aguentar duas frentes de batalha? Teria colocado menos ovos no cesto da Champions, salvaguardando a Liga?
- Teria efectivamente colocado, usando a sua expressão, menos ovos na Champions, mas não por não termos um plantel suficientemente forte, mas porque a nossa vantagem na Liga não era suficientemente confortável para fazer o que fizemos.
- Apostou de mais na Champions?
- Quando se joga a esse nível é evidente que temos de aspirar a chegar o mais longe que pudermos, até porque a questão financeira é fundamental para o clube e tudo isso pesa. A partir do momento em que ultrapassamos a fase de grupos, quando se colocou em causa a calendarização dos jogos, hoje possivelmente assumiria opções diferentes, mas lá está, há sempre o reverso da medalha: há jogadores que se valorizaram como não teriam valorizado se não chegássemos onde chegámos, houve muito dinheiro a entrar no clube e tudo isso pesa nas opções que assumimos no momento. E já agora, não é para nos desculparmos, até porque seguramente errei em alguns momentos, mas houve a partir de determinado momento um vento contra que soprou muito forte.
- Está a referir-se às arbitragens?
- Efetivamente estou, mas não me peça para dizer o que penso de algumas porque senão não começo a próxima época no banco.
- Houve algumas arbitragens polémicas, nomeadamente com V. Guimarães, Académica, FC Porto e Rio Ave. Que influência teve esta circunstância no rendimento da equipa e como a explica?
- Se fizer as contas e a relação aos pontos perdidos nesses jogos, com os erros cometidos, faz toda a diferença. São erros que valem o campeonato. Mas por que razão os critérios para a marcação de penalties são uns para o Benfica e outros para outro clube? Há alguma razão? Porque é que uma mão na nossa área é sempre motivo para a marcação de um penalty e na área adversária nunca é? Porque se transforma um penalty em falta atacante na área adversária e noutras sucede-se o contrário? Levo três anos no Benfica e uma das coisas que mais sinto é que para ganharmos um campeonato aqui temos de jogar não apenas contra a equipa adversária, temos de fazer sempre muito mais, porque fazer o suficiente não chega.
- Portanto, do seu ponto de vista, sem casos destes jogos o Benfica teria sido campeão?
- Sem os casos desses jogos e de outros, não tenho dúvidas de que o Benfica teria sido campeão, mas não quero dizer mais nada, caso contrário, como já disse, posso não começar a próxima época no banco! Mas digo-lhe mais isto, os erros de arbitragem afectam desde logo a motivação dos jogadores nos jogos seguintes e, em consequência, o rendimento daqueles. A revolta e indignação na maioria dos casos retira tranquilidade e provoca um desgaste anímico muito grande. E em alta competição então nem se fala...
- O último treinador do Benfica a começar uma quarta época foi Jimmy Hagan em 1973/74 e era tricampeão; não teme que a forma como perdeu este campeonato lhe reduza bastante a margem de manobra junto dos adeptos, no início da temporada, deixando-o vulnerável aos resultados iniciais?
- Sinceramente não. Acho que temos uma equipa muito madura, muito boa do ponto de vista do talento, da entrega, até do ponto de vista humano. É um grupo muito unido e que dá garantias em relação ao futuro. É evidente que o facto de não ganhar o campeonato deixa sempre marcas e temos de estar preparados para elas, mas os tempos de hoje e os tempos de Jimmy Hagan são completamente diferentes, e a nossa missão é exactamente voltar a fazer com que o Benfica volte a viver no presente os tempos de Jimmy Hagan.
- Como explica ter o Benfica perdido uma vantagem de cinco pontos sobre o FC Porto, baixando bastante de produção no derradeiro terço da temporada?
- Já apontámos atrás para algumas explicações. É evidente que empatar na Luz com o FC Porto deixava-nos na frente com igualdade pontual, perder com um golo em fora-de-jogo deixou-nos atrás. Empatar em Coimbra com dois penalties que ficaram por assinalar retirou-nos dois pontos e assim por diante... E como disse, a dado passo há um desgaste e um cansaço psicológico que é difícil contrariar. Quando os jogadores interiorizam que estão a ser prejudicados e que não conseguem sair daquela situação, como é que isso se resolve? Também é verdade que em alguns jogos falhámos demasiadas oportunidades de golo e isso tem o seu custo, mas voltando ainda um pouco atrás como é que se explica a um jogador que vai ficar de fora dois jogos por uma entrada dura mas leal, enquanto os restantes jogadores que foram expulsos durante a época apanharam apenas um jogo, que um jogador que agrediu outro a soco levou apenas um jogo. Tudo isto pesa, não tenho dúvidas.
- Portanto, a todos os jogos anteriores ainda acrescenta o jogo de Olhão?
- Acrescento apenas pela questão do Pablo que não lembra a ninguém, um perfeito disparate. Mas também é verdade que em Olhão falhámos, foi um dos jogos em que claramente não estivemos ao nosso nível. Nos outros fizeram-nos falhar.
- A forma exuberante como o Benfica procura jogar, sempre de prego a fundo e como se não houver amanhã, não é incompatível com uma época que tem a exigência de cerca de 50 jogos oficiais? O modelo de jogo não deve ser repensado?
- Não penso que seja por aí. As grandes equipas europeias têm as mesmas exigências que nós e, se queremos estar a esse nível, e queremos, temos de jogar sempre com essa entrega e essa intensidade. Ao longo da época fomos a equipa que melhor praticou em Portugal, muitos jornalistas europeus elogiaram a forma de jogar do Benfica, foi essa intensidade e essa qualidade que fez os sócios voltar ao estádio.
- E no entanto, o Benfica não foi campeão?
- Sabe, podemos trabalhar bem, podemos fazer as melhores opções, mas há coisas que não se controlam, pelo menos no Benfica, o que é um bom sinal. Sinal da seriedade do clube.
- Considera que o plantel do Benfica é equilibrado? A estrutura que apoia a equipa sénior é sólida?
- A equipa é equilibrada, mas é evidente que há margem para crescer e melhorar. Quando termina uma época há sempre espaço para algumas mudanças. Há que reflectir onde é que se falhou, onde é que se pode melhorar quer no plantel, quer na estrutura, e isso também vai acontecer no Benfica. Seguramente que haverá áreas em que chegaremos à conclusão de que poderíamos ter feito de forma diferente ou que faltou alguma coisa, mas esse é o trabalho que iremos fazer mal o campeonato termine. Mas há uma coisa de que não me posso queixar que é o grau de profissionalismo de toda a estrutura que me rodeia, o António Carraça veio acrescentar valor ao grupo e isso é importante de destacar.
- Em 2012/13, com a previsível entrada directa na Champions, vai poder preparar a época com mais calma. Em termos de plantel prevê muitas mexidas, sente da parte dos responsáveis vontade de reforçar a equipa ou, ao invés, os sinais que lhe chegam apontam para a necessidade de vender os melhores jogadores?
- Já falámos sobre isso e é evidente que a situação económica que vivemos actualmente vai condicionar de alguma forma a preparação da próxima época, mas vai condicionar todos os clubes, não apenas o Benfica, portanto, é normal que havendo boas propostas alguns jogadores venham a sair e, nessa medida, outros irão entrar. Se olharmos para o Chelsea e para o Real Madrid, estão lá quatro jogadores que passaram pelo Benfica nos últimos dois anos e é assim que vamos ter de continuar: comprar bem, formar bem e vender melhor! Não há outro caminho. Quando cheguei ao Benfica, em 2009, o clube era a 23.ª melhor equipa da Europa, hoje somos a 9.ª melhor equipa, este é o melhor sinal daquilo que conseguimos crescer em três anos. Continuamos a vender para as equipas mais fortes do ponto de vista económico, e, ao mesmo tempo, continuamos a competir com elas, pelo menos chegamos onde algumas delas chegam. Nós formamos, eles compram feito e mesmo assim continuarmos a ser competitivos, isto também deve ser valorizado.
- Acusam-no de ser um treinador intenso, que desgasta muito rapidamente a relação com os jogadores. É justa esta crítica?
- Sou efectivamente um treinador exigente, mas todos eles sabem que trabalho de forma séria e que sou o primeiro a defendê-los. Que quando grito ou chamo a atenção é para o bem da equipa, mas admito que é um ponto em que posso melhorar. A verdade é que hoje sou mais paciente e mais tolerante do que era quando aqui cheguei. Os jogadores já sabem quando não fazem aquilo que eu espero deles. Já há cumplicidade, mas admito que sou exigente.
- Em três anos venceu um campeonato, três Taças da Liga, qualificou o Benfica três vezes para a Champions, foi a uma meia-final da Liga Europa e aos quartos-de-final da Liga Europa e da Champions. Estes resultados satisfazem-no ou sabem-lhe a pouco?
- Sinceramente, quando olho para trás sabem-me a pouco. Esta lista poderia ter no mínimo mais dois ou três troféus. Mas não vou ficar agarrado a olhar para trás, o que vou fazer é trabalhar para que no próximo ano alguns desses troféus que nos têm escapado possam estar nesta lista. Quando cheguei a minha ambição era ganhar dois campeonatos nos primeiros três anos. Não consegui, mas posso garantir-lhe que vou sair do Benfica com o Benfica por cima e que esse titulo terá de ser ganho no próximo ano. Há uma coisa que devo dizer, devo muito ao Benfica, o Benfica valorizou-me enquanto treinador. Sei que hoje, enquanto treinador, tenho o reconhecimento que não teria se aqui não estivesse, e é por isso que me dedico de corpo e alma, para poder retribuir tudo o que me deu.
- Na próxima época haverá o FC Porto do costume (este ano, sem deslumbrar, sagrou-se campeão), um Sporting mais forte e um SC Braga que se habituou aos lugares cimeiros. E que Benfica se deve esperar?
- Um Benfica que quer ser campeão, ganhar a Taça de Portugal e a Taça da Liga e chegar o mais longe que for possível na Champions.
- Que mensagem quer deixar aos adeptos? O que podem eles esperar de si na próxima época?
- Pedir-lhes que continuem a apoiar-nos. Sei a desilusão que estão a viver, mas também quero que saibam que essa desilusão não é maior que a minha, a dos jogadores, a do presidente. Fizemos um caminho difícil, por isso é fundamental estarmos unidos, porque só assim vamos conseguir alcançar os nossos objectivos.

CHAMPIONS E DEPOIS CARDOZO
Treinador fala ainda de Matic, Saviola, Emerson, Capdevila, Nélson Oliveira e Rodrigo
- O que quis com a troca, em Vila do Conde, de Matic por Saviola? Foi apenas uma substituição que correu mal?
-Quando faço a substituição estávamos a ganhar 2-1 e o Matic tinha um amarelo, a ideia era fazer o terceiro golo para depois voltar a mexer. A verdade é que sofremos o empate, mas o Saviola criou várias oportunidades de golo, entrou bem no jogo e acabou por sofrer um penalty, mais um não assinalado. Joguei para marcar o terceiro, porque essa deve ser a imagem do Benfica, jogar sempre para marcar, para ganhar. É isso que os adeptos exigem e foi isso que quis com essa substituição.
- Arrependeu-se da ousadia o FC Porto na Luz quando estava a ganhar por 2-1 e não resguardou o meio-campo?
- Já viu a contradição? Em cima acusam-me de ser um treinador demasiado ofensivo, aqui perguntam-me se não devia ter sido mais defensivo. Repito o que lhe disse atrás, é fácil fazer o Euromilhões ao sábado. A verdade é que podíamos ter feito o terceiro golo, mas acabámos, mais uma vez, a jogar com dez jogadores, e sofremos um golo em claro fora-de-jogo. Portanto, o futebol é isto. Se tivéssemos feito o terceiro golo ou se o fora-de-jogo tivesse sido assinalado, talvez hoje não se colocasse esta pergunta.
- Não se arrepende de ter apostado tanto em Emerson e tão pouco em Capdevila?
- Por uma questão de respeito para com os jogadores não vou justificar em público essas opções. São dois bons jogadores, excelentes profissionais e apenas posso assumir a responsabilidade pelas opções que tomei. Sempre o fiz na minha vida e assim continuarei. Acho que um treinador, qualquer que ele seja, não deve ser julgado pelas opções A ou B que toma, mas sim pelo seu trabalho, por tudo o que faz durante a semana. Os jogadores que se equipam no fim de semana são a parte mais visível do nosso trabalho é certo, mas é apenas uma parte daquilo que fazemos.
- Não foi um erro emprestar Rúben Amorim ao SC Braga?
- O Rúben foi uma questão disciplinar. Não se tratou de uma opção técnica, é bom que isso fique bem claro, mas é evidente que quando num determinado grupo se toleram alguns comportamentos isso prejudica toda a organização. E o comportamento que o Rúben assumiu teve consequências, só isso.
- Nélson Oliveira e Rodrigo podem ser titulares num futuro próximo?
- Têm características diferentes, mas são já hoje jogadores em quem podemos confiar. Vão ser seguramente titulares do Benfica no futuro e o Nélson, seguramente, vai mostrar todas as suas qualidades na nossa Selecção.
- Ajudar Óscar Cardozo a ganhar a Bola de Prata das parte da agenda da equipa nos dois jogos que faltam disputar?
- Primeiro estão os objectivos da equipa. Como tal, devemos concentrar-nos em ganhar o próximo jogo que nos dará matematicamente acesso directo à Liga dos Campeões. Depois, logo se vê. Agora, tenho a certeza de que o Cardozo tudo fará para ajudar a equipa e esta tudo fará para o ajudar a consagrar-se como o melhor marcador da Liga, prémio que bem merece. Muitas vezes é um jogador incompreendido, mas a verdade é que é um absurdo que algumas pessoas continuem sem reconhecer todo o potencial de um jogador que marcou 127 golos desde que chegou ao Benfica."

Jorge Jesus, entrevistado por Nuno Paralvas, in A Bola

«Ainda que muitos pretendam esquecer»

"Entre os benfiquistas o tema da continuidade de Jesus não é consensual. Já entre os adversários, há consensualidade: Jesus tem de se ir embora. E é isto que dá que pensar

(...)

INTERESSANTE e educativa semana foi esta com Vieira ausente e com Jorge Jesus lançado às feras e em comedido silêncio, apesar de ver notícias sobre o seu futuro em todas as primeiras páginas dos jornais.
Há, sem dúvida, muitos benfiquistas para quem a saída de Jorge Jesus e uns retoques no plantel significam a garantia automática de dias felizes gloriosamente a caminho.
Não são, no entanto, a maioria porque ainda há muitos mais benfiquistas que podem não perdoar ao seu treinador as apostas em Roberto e em Emerson mais a incapacidade genética da equipa para fazer contenção de bola quando é preciso, mas que reconhecem sem esforço o facto de Jorge Jesus ter posto em três anos um Benfica a jogar para a frente como não se via há muito (muitos) anos na Luz.
E ainda há os que se lembram destas coisas todas apontadas, as más e as boas, mas que também sabem fazer contas. E, por isso, concluem que em três anos de Jorge Jesus o Benfica ganhou 4 competições oficiais - recorde-se que, ainda bem recentemente, o Benfica passou uma década inteirinha sem ganhar um titulozinho sequer - e ainda conseguiu fazer uns brilharetes europeus como também há muito não se via, «ainda que muitos pretendam esquecer»...
Ou seja: entre os benfiquistas o tema Jesus não é consensual como jamais poderia ser no presente rescaldo de um campeonato perdido à antiga portuguesa. E com todos os matadores.
Já entre os adversários do Benfica, há grande consensualidade: Jesus tem de se ir embora rapidamente.
E é isto que dá que pensar.

PS - Sábado, em Vila do Conde, Olegário Benquerença, déjà vu, sempre! Olegário déjà vu Benquerença. Porque déjà vu é o seu nome do meio."

Leonor Pinhão, in A Bola

Quem vê TV sofre mais que no WC

" «Noventa por cento de quem nos critica, se algum dia lhes pusessem um apito na boca borravam-se todos, a começar por um senhor que eu não digo o nome, mas tem o cabelo encaracolado.»
Olegário Benquerença, Setembro de 2010, após críticas do Benfica a seguir a jogo em Guimarães

PRIMEIRA  jornada do campeonato 2011/12: em Guimarães, o FC Porto sente dificuldades; em cima do intervalo, Sapunaru é puxado na área - lance não é muito fácil de ver, mas penalty bem assinalado por Olegário Benquerença. Hulk marca e o FC Porto vence por 1-0.
28.ª jornada: Benquerença apita o Rio Ave-Benfica. Marca um penalty a favor do Benfica, mas não vê mais dois evidentes: empurrões a Cardozo e Saviola.
Há erros que se percebem, lances que a televisão esclarece com facilidade mas que no campo são difíceis de ver. E por isso acho fundamental pôr já a televisão ao serviço do futebol. Sim, ao serviço do futebol. Quem acha que a TV como auxiliar nas decisões dos árbitros prejudicaria a modalidade está a ver o filme ao contrário - como as coisas estão é que não podem continuar, com os erros de arbitragem e entrarem noite sim noite sim nas casas dos adeptos...
Mas não é necessária televisão para ver que Sony caiu em cima de Saviola na área do Rio Ave. Tenho de admitir que, vendo a repetição, Olegário Benquerença continuasse a achar que não era penalty, porque não aceito que não tenha visto bem da primeira vez. E se assim for tem de ser despedido. E se se fizesse isso não sobrariam árbitros.
Ou não... Afinal estamos a falar de Olegário, que na época passada, reconheceu Vítor Pereira, prejudicou o Benfica... em Guimarães, onde na primeira jornada desta Liga não hesitou. E que depois, perante as críticas, teve a tirada brilhante que transcrevi em cima. E que depois disto tudo continua a ser nomeado para jogos do Benfica. A coberto do facto de agora essas nomeações não serem divulgadas.
Assim vai o futebol português."

Hugo Vasconcelos, in A Bola

As Lanças Apontadas


Ontem só consegui ver os minutos finais do programa As Lanças Apontadas da Benfica TV, mas hoje ao rever a gravação, sou compelido a dar os Parabéns aos intervenientes, tal como fiz na Segunda-feira ao Relatório e Contras. O Ricardo Palacin, o Pedro F. Ferreira, e o Manuel dos Santos tiveram muito bem, usaram do seu direito de liberdade de expressão, criticaram, elogiaram, livremente... Para quem acusa a Benfica TV de seguidismo, não deve ver concerteza estes programas. Sem nunca renegarem o seu Benfiquismo, conseguem ter intervenções públicas mais equilibradas do que os supostos comentadores isentos, nos órgãos de comunicação social generalistas!!!
O Benfica precisa neste momento, de lucidez e serenidade... é fundamental para o futuro próximo do Benfica.

PS: Acho que ainda não 'falhei' um dos programas do Lanças Apontadas, sinal de que gosto do que se diz... mas tenho uma critica a fazer: não concordo com a discussão neste programa de questões ligadas à Politica e Economia do País. Não sou fundamentalista, acho que na Benfica TV existe espaço para temas extra-desportivos, mas não se devem misturar no mesmo local... Um programa especifico, bem 'assinalado', com os diferentes pontos de vista defendidos, pode ter sucesso... até porque nos canais generalistas, existe uma clara partido-dependência em todas as discussões, sendo assim existe um 'nicho' não explorado de perspectivas 'diferentes'!!!

Apanhados

"Vejo, na TV, um homem nervoso que, ao mesmo tempo que maltrata os jornalistas que polidamente o questionam, repete que o sucedido é “um caso de polícia”. Infelizmente, já nos vamos habituando a estes desabafos em todos os quadrantes da vida nacional – todos os dias somos enganados pelo “conto do vigário” da austeridade que não pára em todas as portas, somos roubados nos direitos, somos burlados nas nossas expectativas. Será o caso deste cidadão? Não, não é. Porque ele se chama João Bartolomeu, há alguns anos que dirige os destinos da União de Leiria e a sua indignação nasce daquilo que parece ser uma série de rescisões nos contratos de trabalho de jogadores profissionais.
Bartolomeu, à boa maneira daquele jogo infantil “passa a outro e não ao mesmo”, dispara em todas as direções – o Sindicato dos Jogadores, as forças das trevas que querem destruir a Liga e os pequenos e médios clubes, por aí fora.
Esquece-se este exemplo do pior dirigismo desportivo, corresponsável pelo divórcio litigioso entre uma cidade e um clube, que na base de tudo estão meses de ordenados em atraso, devidos a profissionais que não podem estar sujeitos a ouvir aquilo que alegadamente lhes foi dito pelo homem que os contratou ou caucionou a respetiva contratação – que só recebem se evitarem a despromoção. Bartolomeu, sempre ponderado e nada populista, vai mais longe, noutra ocasião, ao apontar o dedo acusador ao jogador Keita, que teria fugido com uma mala onde estariam 6 mil euros. No capítulo seguinte, já não foi nada disso – houve um equívoco e Keita não será, afinal, um ladrão mas um homem de bem, como o prova a sua disponibilidade para regressar ao seio do clube e da entidade patronal. Pelo meio, há processos que merecem ser postos em causa, tais como as generosas ofertas de um presidente de outro clube e do dirigente máximo da Liga, disponíveis para avalizar uma parte do pagamento devido aos jogadores leirienses. Fiúsa e Figueiredo, ambos “a título pessoal”. Mas o que significa isso se eles são as mesmas pessoas que detêm responsabilidades públicas no futebol? Bartolomeu fala num 25 de Abril dos clubes pequenos. E é nesse momento que coro, engulo em seco, mastigo um palavrão e desligo a televisão. Vergonha!
Quando ligo de novo a TV ouço um treinador de futebol dizer ao canal do seu clube que não se atreve a passar pelo meio dos adeptos porque uns gostam dele, mas outros… Tem medo, visível, da multidão. Faço contas para concluir que foi o técnico que perdeu o campeonato e receia o ajuste de contas? Não, afinal foi o “mister” que viu os seus ganharem, apesar da sua presença. Chama-se Vítor Pereira e, sabemos agora, sofre de agorafobia. Não vai ficar na História."