"Vejo, na TV, um homem nervoso que, ao mesmo tempo que maltrata os jornalistas que polidamente o questionam, repete que o sucedido é “um caso de polícia”. Infelizmente, já nos vamos habituando a estes desabafos em todos os quadrantes da vida nacional – todos os dias somos enganados pelo “conto do vigário” da austeridade que não pára em todas as portas, somos roubados nos direitos, somos burlados nas nossas expectativas. Será o caso deste cidadão? Não, não é. Porque ele se chama João Bartolomeu, há alguns anos que dirige os destinos da União de Leiria e a sua indignação nasce daquilo que parece ser uma série de rescisões nos contratos de trabalho de jogadores profissionais.
Bartolomeu, à boa maneira daquele jogo infantil “passa a outro e não ao mesmo”, dispara em todas as direções – o Sindicato dos Jogadores, as forças das trevas que querem destruir a Liga e os pequenos e médios clubes, por aí fora.
Esquece-se este exemplo do pior dirigismo desportivo, corresponsável pelo divórcio litigioso entre uma cidade e um clube, que na base de tudo estão meses de ordenados em atraso, devidos a profissionais que não podem estar sujeitos a ouvir aquilo que alegadamente lhes foi dito pelo homem que os contratou ou caucionou a respetiva contratação – que só recebem se evitarem a despromoção. Bartolomeu, sempre ponderado e nada populista, vai mais longe, noutra ocasião, ao apontar o dedo acusador ao jogador Keita, que teria fugido com uma mala onde estariam 6 mil euros. No capítulo seguinte, já não foi nada disso – houve um equívoco e Keita não será, afinal, um ladrão mas um homem de bem, como o prova a sua disponibilidade para regressar ao seio do clube e da entidade patronal. Pelo meio, há processos que merecem ser postos em causa, tais como as generosas ofertas de um presidente de outro clube e do dirigente máximo da Liga, disponíveis para avalizar uma parte do pagamento devido aos jogadores leirienses. Fiúsa e Figueiredo, ambos “a título pessoal”. Mas o que significa isso se eles são as mesmas pessoas que detêm responsabilidades públicas no futebol? Bartolomeu fala num 25 de Abril dos clubes pequenos. E é nesse momento que coro, engulo em seco, mastigo um palavrão e desligo a televisão. Vergonha!
Quando ligo de novo a TV ouço um treinador de futebol dizer ao canal do seu clube que não se atreve a passar pelo meio dos adeptos porque uns gostam dele, mas outros… Tem medo, visível, da multidão. Faço contas para concluir que foi o técnico que perdeu o campeonato e receia o ajuste de contas? Não, afinal foi o “mister” que viu os seus ganharem, apesar da sua presença. Chama-se Vítor Pereira e, sabemos agora, sofre de agorafobia. Não vai ficar na História."
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