Últimas indefectivações

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Reviravolta no 2.º tempo...

Benfica 4 - 2 Guimarães


Resultado enganador. Estávamos a perder 0-2 ao intervalo, fizemos a remontada, mas só após um penalty e uma expulsão dum Vitoriano! Sendo que o penalty foi mal assinalado, já que o defesa, tocou primeiro na bola... a expulsão foi devido aos 'protestos' e nesse caso, o árbitro cumpriu as regras!

Este Guimarães levou 0-6 em casa dos Lagartos, talvez por isso tivesse havido algum facilitismo da nossa parte, mas este terá sido dos quatros jogos do Benfica, aquele que entrámos pior...

Pelo menos, deu para ver o Tiago Araújo a defesa-esquerdo... o regresso do Diogo Pinto aos sub-23 (não tem jogado na B), e o regresso do Paciência.

Os 5 melhores jogadores portugueses a atuar ao serviço do SL Benfica

"O SL Benfica, pertencendo à elite do futebol nacional, sempre teve, nos seus plantéis, ao longo dos anos, alguns dos melhores jogadores do país. Foram jogadores que mudaram a história do clube, trouxeram glória, levantaram estádios e, acima de tudo, honraram o clube que representaram. Esta lista apresenta aqueles, que para mim, são os cinco melhores portugueses a actuar ao serviço dos encarnados.

1. EusébioEusébio da Silva Ferreira, ou Pantera Negra, é, sem qualquer dúvida, o melhor jogador português do SL Benfica de todos os tempos. Com um faro de golo inigualável, Eusébio é, ainda hoje, um dos maiores símbolos dos encarnados. Campeão nacional por 11 vezes em 14 temporadas, o Pantera Negra é ainda o herói da final da Taça dos Campeões Europeus de 1962, ao apontar dois golos. Em 15 anos de Benfica, marcou uns impressionantes 473 golos em 440 jogos. Um feito apenas ao alcance de um dos melhores jogadores não só do Benfica, mas de sempre.
2. José Águas O que se pode pedir mais a um ponta de lança do que golos? Pois, José Águas é aquilo a que se pode chamar o ponta de lança perfeito. Exímio na arte de marcar golos, Águas era elegante com a bola, não só nos pés, bem como na cabeça. Não lhe importava como é que entrava, desde que entrasse. Foi, por cinco vezes, o melhor marcador do campeonato nacional e fica na história dourada do SL Benfica por ser o capitão do Benfica versão bicampeão europeu, tendo apontado um golo em cada final. Foram 13 anos de Benfica, em que disputou 384 jogos e marcou uns impressionantes 379 golos.
3. Mário Coluna É o “Monstro Sagrado” do SL Benfica e isso, por si só, já explica a razão de estar nesta lista. Dono e senhor do meio campo encarnado entre as épocas de 1954 e 1970, Mário Coluna é um dos ídolos encarnados. Marcou nas duas gloriosas finais europeias, frente ao FC Barcelona e ao Real Madrid CF. Sem precisar da braçadeira de capitão, era líder dentro do balneário. Coluna era duro de roer dentro das quatro linhas e tinha a voz de comando imperial no terreno de jogo. Pelo Benfica, disputou 525 jogos e fez balançar as redes adversárias por 127 vezes.
4. Rui Costa Foi um futebolista português que, em Portugal, actuou apenas ao serviço do SL Benfica.
Nascido e criado na Luz, o médio rumou à Fiorentina após três anos de águia ao peito. Para a história fica o golo que Rui Costa marcou ao Benfica, com a camisola dos italianos, que o levou às lágrimas. 
Regressou, em 2006, para ser capitão dos encarnados e um dos melhores jogadores a actuar pelo clube. No total, realizou 177 jogos com o Manto Sagrado e apontou 29 golos.
5. Simão Sabrosa É, sem qualquer dúvida, um dos grandes capitães do SL Benfica e uma das maiores estrelas nacionais a jogar pelo clube.
Dotado de um talento inigualável, Simão fazia levantar o estádio com o seu pé direito, capaz de jogadas impossíveis. Especialista na cobrança de livres directos, destacava-se também pelas diagonais que fazia em campo. Representou o glorioso durante seis temporadas, em que disputou 230 jogos e apontou 93 golos."

África benfiquista

"A dinâmica das Casas do Benfica, o “braço armado” do clube conforme o Presidente Luís Filipe Vieira um dia as apelidou, é elevada e imparável. Este facto é visível tanto na expansão como na modernização das mesmas, constituindo-se como um dos alicerces da estratégia de internacionalização da marca Benfica.
A aposta no crescimento da marca Benfica no estrangeiro incide, sobretudo, nos mercados emergentes do futebol, nos destinos privilegiados da diáspora portuguesa e nos países da lusofonia.
A visita, durante a digressão de pré-época da nossa equipa de futebol pelos Estados Unidos da América, a sete das onze Casas do Benfica na América do Norte, tratou-se de mais um exemplo cabal da relevância atribuída a este importante eixo de fixação e crescimento do benfiquismo além-fronteiras.
Na próxima semana, dia 7, será a vez da inauguração oficial da Casa do Benfica da cidade da Praia, em Cabo Verde, e o evento contará com a presença de Luís Filipe Vieira, bem como dos vice-presidentes Alcino António e Domingos Almeida Lima, além do antigo jogador Luisão e de vários elementos afectos à estrutura benfiquista.
A forte implantação do Sport Lisboa e Benfica na África lusófona, e em particular em Cabo Verde, é sobejamente conhecida. São inúmeros os episódios demonstrativos de dedicação ao Benfica e da inabalável paixão pelo clube que nos chegam do continente africano, comprovando que a distância ao Estádio da Luz, por maior que possa ser, não é impeditiva, nem sequer redutora, da inquebrantável ligação ao clube.
Mas mesmo sabendo-se desta característica do benfiquismo, o clube tem vindo, com maior intensidade na última década e meia, a estimular e a reforçar esta ligação.
Assim, a visita a Cabo Verde extravasa a mera inauguração da Casa. A comitiva chegará ao território cabo-verdiano no dia 6, onde se espera que seja recebida por muitos benfiquistas no aeroporto. À tarde, está prevista a recepção oficial, com as presenças do Primeiro-Ministro Ulisses Correia e do Presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos.
No dia seguinte, Luisão marcará presença na Universidade de Cabo Verde para dar uma palestra subordinada ao tema “Vontade de vencer”. E, à tarde, ocorrerá a já referida inauguração oficial da Casa do Benfica da Praia, seguida de jantar e animação.
Há quatro anos, durante uma visita do Benfica a Cabo Verde, o então Presidente da Câmara da cidade da Praia e hoje Primeiro-Ministro Ulisses Correia, desafiou Luís Filipe Vieira para que o Benfica apoiasse a criação de uma rua dedicada a Eusébio da Silva Ferreira na capital de Cabo Verde.
Assim surgiu a localização da Casa, no bairro de Achada de Santo António, cujo desenvolvimento prevê mais que um local de convívio benfiquista. Este espaço insere-se já no novo modelo das Casas, com incidência nas áreas social, desportiva, académica e cultural em benefício, sobretudo, das crianças. E também existirão outras infraestruturas que permitirão a realização das diversas actividades no âmbito das vertentes da Casa.
Reforça assim o Benfica a sua histórica ligação afectiva ao mundo Lusófono e onde se sente naturalmente em casa."

A tarde desgraçada do pobre Barrigana...

"A três jornadas do fim do campeonato nacional de 1944-45, o Benfica recebeu o FC Porto e venceu por 7-2. Resultado doloroso para os portistas, que se lamentaram das baixas de Capitolino e Correia Dias. Guilherme Espírito Santo não teve piedade. E Teixeira também não.

A três domingos do fim, salientavam os jornais. A três domingos do fim do campeonato, claro. Agora, seria a três domingos do início, se os jogos fossem todos aos domingos, como nesse ano de 1945.
Barrigana, o grande Barrigana, teve uma tarde desgraçada. Pior do que desgraçada. Foi um tormento!
E Barrigana era uma figura!
Alfredo e Guilhar, na sua frente, também suaram as estopinhas.
O Benfica, mal se ouviu o trilar do apito de Augusto Pacheco, árbitro de Aveiro, atirou-se para a frente.
Espírito Santo, Arsénio, Teixeira e Rogério estavam endemoninhados.
Como segurá-los?
Não valia a pena perguntar aos defesas do FC Porto: eles não faziam a mais pequena ideia.
A velocidade posta em campo é impressionante.
Tanto por uma como por outra equipa. Havia uma diferença gritante. O Benfica atacava, atacava e atacava. Os portistas respondiam com a mesma gana, mas sempre lá atrás.
Espírito Santo tem um remate tremendo que o poste devolve.
Estão decorridos 20 minutos.
No mínimo seguinte, Rogério desmarca-se uma das laterais, isola-se e faz 1-0.
Há festa no Campo Grande. E veste de encarnado.
Oito minutos mais tarde é a vez de Mário Rui molhar a sopa.
Não é preciso perceber muito e em profundidade do jogo inventado pelos ingleses para se perceber que a vitória do Benfica vai ser uma realidade. E que os números serão pesados. Mas não se adivinhariam tantos golos.

Espírito Santo!!!
O povo feliz. Feliz porque, em maioria, adepto da equipa da casa, claro está. Os que tinham vindo do Porto estavam de cabeça baixa. Compreensível.
As diferentes entravam pelos olhos adentro.
Queixavam-se os portistas de que estavam diminuídos. Gente que ficara de fora. Gente importante como Capitolino, por exemplo. Ou Correia Dias.
O Benfica, por seu lado, não tinha culpa dessas limitações do adversário.
Fazia o seu jogo e tirava proveito das debilidades contrárias.
Rosa, ainda assim, fez uma ou outra defesa complicada.
Guilhar, trapalhão, toca a bola para a própria baliza. Azar!
Na segunda parte, as diferenças acentuaram-se.
Guilherme Espírito Santo faz o 4-0, mas o lance é anulado.
Araújo reduz. Surpreendentemente.
Tudo está em suspenso, agora. Serão os nortenhos capazes da reviravolta? Mesmo a despeito das suas limitações?
Ah! Reviravolta! Algo de praticamente impossível perante o que acontecia dentro das quatro linhas.
Uma quimera. Um sonho.
Um sonho sem consequências.
Porfia o Benfica.
O ritmo do jogo baixa significativamente. É natural. Ninguém aguentava tamanha correria de forma contínua como esta se desenrolava.
27 minutos da segunda parte: Espírito Santo voa para uma bola centrada do lado direito. Guilherme era um atleta completo. Voava no salto em comprimento, modalidade em que foi recordista nacional. Voava no futebol. Do seu voo saiu mais um golo. Cabeçada perfeita, espectacular.
Logo a seguir, Arsénio.
Cinco a um.
Caramba! Já era um resultado pesado. Muito pesado.
Ainda há rebeldia nos homens que vieram da capital do Norte. Uma rebeldia que os faz resistir, resistir ainda...
Araújo reduz. Mas é apenas um gesto de desespero.
É a vez de Teixeira entrar em funções. Teixeira era forte, resistente. Aguentava até ao último dos noventa minutos com a gana que apresentava no primeiro.
É ele que vai fechar o resultado: 7-2.
A três jornadas do fim.
Um Benfica de golos. Em casa deu 7-2 ao FC Porto, 5-0 ao Vitória de Guimarães, 6-1 à Académica, 7-2 ao Vitória de Setúbal, 11-3 ao Salgueiros.
Golos e mais golos:79 em 18 jogos.
E um título de campeão. Mais um. Nessa altura foi o sexto. Já vai em 37..."

Afonso de Melo, in O Benfica

De afastado do futebol a bicampeão europeu

"Ângelo viu o sonho de jogar futebol ser recuperado no Benfica.

Com 17 anos, tinha tudo acertado com o FC Porto para começar a sua primeira época no futebol. Contudo, quando os portistas deram seguimento ao processo na Associação de Futebol do Porto foram confrontados com a informação de que o Académico tinha entregue a ficha do mesmo jogador. A inusitada situação motivou a que a AF Porto abrisse um processo e 'as conclusões do inquérito motivaram a irradiação de Ângelo e de um dirigente do Académico', pelo facto de o jogador, com 15 anos, se ter comprometido com os academistas. A lei não permitia que jogadores com idade inferior a 17 anos se comprometessem ou praticassem futebol como federados.
Impossibilitado de praticar a modalidade de forma oficial, passou a jogar nos Campeonatos Corporativos, representando a Fábrica da Silva Renito. Com o seu enorme talento, despertou a atenção de um adepto benfiquista residente no Porto, que o elogiou a um consócio lisboeta, que por sua vez transmitiu a informação a Francisco Retorta.
O vice-presidente do Benfica mostrou-se interessado e pediu que o jogador se apresentasse no Clube para o aliviarem. O treino correu de feição a Ângelo, afirmando: 'a verdade é que a bola pareciam mais um íman a atrair uma barra de ferro do que propriamente umas botas de futebol'. Agradou ao técnico Ted Smith e o Benfica iniciou o processo junto da Federação Portuguesa de Futebol para que o seu caso fosse revisto. Os trâmites foram morosos, demoraram um ano. O ano mais longo da vida de Ângelo, em que já se imaginava a jogar de 'águia ao peito'. A FPF acabou por despenalizar o jogador.
Com a situação resolvida, estreou-se pela equipa de honra a 9 de Novembro de 1952, frente ao Barreirense, em substituição de Moreira, que estava castigado. Os 'encarnados' venceram por 3-0 e Ângelo foi muito elogiado: 'não se deslumbrou nem se atemorizou com o ambiente. Revelou personalidade e qualidades que fazem augurar-lhe um bom futuro. (...) Passa com precisão, sabe estar no 'seu sítio', e, quer quando ataca, quer quando defende, é um médio do tipo 'carraça', que não volta a cara e que nunca abdica' de lutar. Era o início de uma carreira recheada de títulos, com o ponto alto a ser a conquista de duas Taças dos Clubes Campeões Europeus.
Saiba mais sobre este magnífico jogador na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

O fora-de-jogo no clássico e a dupla intervenção do VAR em Portimão

"Com a anulação ou validação de golos, por fora-de-jogo, em que a tecnologia ajuda a tomada de decisão por centímetros, a colocação exacta das linhas torna-se fundamental.

No clássico entre Benfica e FC Porto, que teve uma arbitragem globalmente positiva, assertiva e competente por parte de Jorge Sousa e restante equipa, destaco um dos últimos lances do jogo, ocorrido ao minuto 90+5’, com a anulação do golo por fora-de-jogo de Seferovic, aquando da assistência feita por Pizzi. No lance corrido, ficou a ideia de o avançado suíço estar adiantado em relação à linha da bola, no momento do passe, e com a nova tecnologia ao serviço do videoárbitro (VAR), tal veio a confirmar-se: 62 cm de diferença, entre a linha azul colocada em Pizzi e a linha vermelha colocada em Seferovic.
A única questão relativamente à colocação das linhas é a seguinte — em relação à vermelha, que foi colocada ao nível do pé e do joelho, nada a dizer, pois são as partes do corpo de Seferovic que estão mais à frente, ou seja, de acordo com a lei, mais próximas da linha de baliza do adversário; quanto à linha azul, esta foi colocada na ponta do pé de Pizzi, ora aqui é que está o erro, pois o que contava na análise do fora-de-jogo, neste caso, era a posição da bola, porque se Seferovic estivesse em linha com a bola ou atrás da linha da bola estaria em jogo. Assim, se a linha fosse colocada de forma correcta (na parte da frente da bola) teríamos na mesma fora-de-jogo, mas não seria de 62 cms, seria menos. 
Isto é importante para o futuro, pois com a anulação ou validação de golos, por fora-de-jogo, em que a tecnologia ajuda a tomada de decisão por centímetros, a colocação exacta das linhas torna-se fundamental. Se dúvidas houver em relação a isto, vejam o golo anulado a Cristiano Ronaldo no fim-de-semana, ao serviço da Juventus, por escassos centímetros.
No jogo entre o Portimonense e o Sporting, também há um lance muito interessante para análise, onde o que está em discussão é o protocolo do VAR e a sua interpretação. Foi ao minuto 10: Pedro Sá rasteirou e derrubou Luiz Phellype, o árbitro assinalou de pronto livre directo por infracção ocorrida fora da área, mas o VAR corrigiu, pois o toque foi dentro e Carlos Xistra emendou e assinalou penálti. Contudo, o VAR interveio de novo para dizer que, no início da jogada, houve uma falta atacante por parte de Thierry e isso levou de novo o árbitro a corrigir a sua decisão, transformando um penálti a favor do Sporting num livre directo a favor do Portimonense. A questão de fundo para entendermos a decisão correcta a tomar é a seguinte: se entre a falta cometida por Thierry e a rasteira cometida por Pedro Sá o Portimonense ficou ou não na posse da bola. É que se considerarmos que ficou, o VAR não pode fazer a revisão do lance considerando a falta de Thierry; se entendermos que não ficou, aí sim, podemos ir buscar esse momento e tomar a decisão que acabou por ser tomada.
O que aconteceu foi que, antes de ocorrer o penálti, a bola foi cruzada para a área e Jadson cortou-a, impedindo-a de chegar a Bruno Fernandes. Na sequência deste corte, a bola sobrou para Pedro Sá, que primeiro deu um toque com um pé, depois com o outro, adiantou e jogou a bola para a frente, sendo aí surpreendido pela chegada de Luiz Phellype, que acabou por ser rasteirado.
A atenuante para a decisão do árbitro é que no protocolo se determina que “se a bola se mantiver numa zona de pressão por parte dos adversários, os toques dados por parte dos defesas podem não ser considerados como posse de bola”. Pode ter sido esta a base legal que o VAR e o árbitro usaram. Contudo, o mesmo protocolo diz claramente que “não há posse de bola em situações de defesa, alívios ou ressaltos”, que, na minha opinião, não foi o que aconteceu. O primeiro e o segundo toques na bola são cortes e recepção, mas o terceiro toque dado por Pedro Sá já foi a sair claramente a jogar a bola.
Este protocolo dá ainda ao árbitro poder de decisão em função da sua interpretação do que é ou não posse de bola. A minha opinião em relação a este lance é que a decisão final não foi correcta. Considero que deveria ter sido assinalado pontapé de penálti, que o VAR não poderia ter ido buscar a falta de Thierry, pois a intervenção dos dois jogadores do Portimonense e os três toques que deram na bola estão enquadrados no conceito de “posse de bola”, nomeadamente a opção de Pedro Sá, que jogou a bola para a frente após uma recepção orientada."


PS: Interessante o pormenor do fora-de-jogo, que eu nem sequer tinha notado... mas em relação aos Cartões ao Danilo e ao Pepe: nada!!!!
Sobre o lance de Portimão, a ginástica que é feita para dar 'razão' ao Sporting, é inacreditável: então o próprio Pedro Henriques recorda que 'se a bola se mantiver numa zona de pressão por parte dos adversários...', e mesmo assim consegue chegar à conclusão oposta!!!

Benfiquismo (MCCLXXIV)

Vitória...

Chama Imensa... rescaldo

Segunda Bola - 3.ª jornada

Benfica FM - com D'Arcy

“O Tyrone Mings pisou-me a cara de propósito e mandei a foto para o grupo WhatsApp dos colegas: ‘Continuo mais bonito que vocês’. Sou durão”

"Esta época, Nélson Oliveira rumou ao AEK da Grécia depois de ter jogado cinco anos no Reino Unido, e de ter passado por Espanha e França. Antes cresceu na formação do Benfica, clube do coração onde, segundo ele, nunca teve uma verdadeira oportunidade na equipa principal. Fã confesso de Cristiano Ronaldo, das passagens pela selecção recorda o bom coração de Fernando Santos. Sobre a pisadela na cara de que foi vítima em Fevereiro deste ano, considera que foi propositada, mas garante que é um durão e que os golos bem como as exibições nos relvados vão durar pelo menos até aos 36, 37 anos, se mais nenhum azar lhe bater à porta. E revela como a doença e a morte do pai, o seu verdadeiro herói com quem tinha uma forte ligação, afectaram a sua vida.

Comece por dizer onde nasceu e fale-nos um pouco da sua família.
Nasci em Barcelos, o meu pai tinha um talho, a minha mãe trabalhava na câmara municipal de Barcelos, nas finanças, e tenho um irmão mais novo do que eu cinco anos.

Era um menino bem comportado ou reguila?
Reguila. Como o meu pai tinha um comércio, eu estava lá com muita frequência e, claro, as pessoas metiam-se comigo. Por isso acho que fui tendo uma treta, como se costuma dizer, mais avançada do que os rapazes da minha idade. Chegava um dizia-me uma coisa, chegava outro e fazia uma brincadeira; acabamos por nos tornar um pouco mais reguilas. No infantário, rachei a cabeça de um miúdo mais velho com um carrinho de pista logo na primeira semana (risos). Não é uma coisa muito bonita de contar.

Gostava da escola ou nem por isso?
Gostava, era bom aluno. Sempre gostei muito de matemática, ao contrário dos outros. Por outro lado sempre fui responsável, porque o meu pai fazia-me ver que para continuar a jogar tinha de estar bem na escola. Ele sabia que eu tinha capacidades para ser bom aluno e, então, à mínima falha, se visse que estava a relaxar muito, a não tirar as notas que ele sabia que podia tirar, no mesmo instante deixava de jogar. Por isso, sempre tive cuidado e atenção de ter boas notas. Mesmo quando fui para o Benfica.

Estudou até que ano?
Até ao 12.º. Lembro-me que, no meu primeiro ano no Benfica, tinha 15 anos, era juvenil, fui para o 10.º ano e no centro de estágio os responsáveis disseram que os três melhores alunos seriam ser premiados. Fui um deles e na altura o prémio era escolher uma camisola de um jogador dos seniores. Eu escolhi a do Simão.

Antes de continuarmos com o Benfica, lá em casa, quando era pequenino, torcia-se por qual clube? Benfica?
Sim. O meu pai era muito benfiquista, mas não era fanático, gostava muito de bom futebol. Conseguia ver as coisas com imparcialidade, sem clubismo. O Benfica sempre foi o clube a que me habituei a gostar desde pequeno, muito por influência do meu pai.

Sempre quis ser jogador?
Que me lembre, sim. Mas acho que houve uma altura em que dizia que se não fosse jogador queria ser médico.

Como surge o futebol?
Desde miúdo que andava sempre com uma bola. Quando ia para o talho do meu pai, que ficava por baixo da minha casa, ele às vezes precisava de ir para a parte de trás para fazer outras coisas - como os enchidos, por exemplo - e dizia para eu ficar a olhar pelo talho; e lembro-me que ficava com a bola a jogar contra a parede, sempre a inventar.

Quem eram os seus ídolos?
O meu ídolo sempre foi o meu pai. E continua a ser, apesar de já não ser vivo, infelizmente. Em termos de jogadores de futebol, habituei-me a ver e gostava muito do Arsenal, que eram os “Invencíveis”, e gostava muito do Henry e do Bergkamp, os dois da frente, mais até do Henry porque marcava mais golos (risos).
Quando começa a jogar futebol num clube?
Por volta dos oito, nove anos, no clube de Barcelos, o Santa Maria. É o meu avô que me leva. O meu avô ajudou-me bastante. O gosto pelo futebol veio do meu pai claramente, o meu pai adorava que eu jogasse futebol, só que não tinha tempo para me levar, e o meu avô materno ajudou muito nessa fase porque ia comigo para todo lado. Levava-me sempre aos treinos, depois mudei de clube, do Santa Maria para o Braga com 11, 12 anos e o meu avô também me levava a Braga.

Como é que passa do Santa Maria para o Sporting de Braga?
Começámos a ter um treinador que me punha a jogar muito sobre o lado esquerdo e eu não gostava. Detestava jogar ali, gostava de jogar mais no meio. Gostava muito de rematar à baliza. Mas ele punha-me a jogar do lado esquerdo, dizia que ia ser bom para mim porque eu tinha que melhorar o pé esquerdo e eu não gostava. Hoje, olho para trás e digo que ele tinha razão. Mas na altura não gostava e estava sempre a dizer isso, que não gostava. O meu avô então disse-me: “Vou levar-te ao Braga, vamos lá fazer uns treinos”. E fui. Recordo-me que no primeiro treino joguei de sapatilhas num pelado, nas Camélias acho eu. No final do primeiro treino, o mister Carlos Baptista queria que eu ficasse, disse que tinha qualidade para jogar no Braga.

Fica duas épocas no Braga e depois é emprestado ao Bairro da Misericórdia.
Não sou emprestado. O Braga funcionava um pouco como o FC Porto com o Padroense. Os do primeiro ano de iniciados, sub-14, iam para o Bairro da Misericórdia para poderem jogar também no campeonato nacional. Eu fui para o Bairro da Misericórdia com 13 anos, e jogava já contra o V. Guimarães, o próprio Braga, Famalicão, Gil Vicente, contra todos os que tinham 14 anos. Era bom porque jogava contra os mais velhos num campeonato com dimensão nacional, ganhavas andamento.

Como surge o Benfica?
Fiz uma grande época, fiz 50 e tal golos ou perto disso. O treinador era o Quim Berto e o adjunto que era o mister Miguel. E o mister Miguel trabalhava com o Benfica como observador, na prospecção de jogadores, e deve ter-me indicado ao Benfica. Deve ter dito: “Tenho aqui um miúdo que é bom jogador”. Lembro-me que estávamos a meio da época, mais ou menos em dezembro, e o Benfica, dos três grandes, foi o primeiro a aparecer. Depois, apareceu o Sporting e o FC Porto também, mas em dezembro já tinha praticamente um pré-acordo, já tinha reunido com o Bruno Maruta, que ainda hoje é coordenador da formação do Benfica.

Foram ter com o seu pai...
Por acaso, não. Foi engraçado porque estava a acabar um treino no Estádio 1.º de Maio, era quase de noite, e enquanto estava à espera que o meu pai me viesse buscar, recebi um telefonema da parte do Benfica a dizer que estavam interessados em reunir comigo e que queriam muito que eu fosse para lá. Fiquei eufórico, mas desconfiado. Ainda pensei: “aposto que é um amigo do meu pai a querer dar-me tanga” (risos). Liguei logo para o meu pai a contar e ele: “não, não é tanga, é verdade. Eles também ligaram para mim”. Aí fiquei muito contente, não cabia em mim de felicidade, ainda por cima era benfiquista.

Como foi sair do “ninho” e ir para Lisboa?
Foi um pouco complicado. Deixar os amigos que tinha na escola, os que tinha no Braga, ver a minha família e o meu irmão poucas vezes...Se bem que os meus pais faziam um esforço e eram muito, muito presentes. De duas em duas semanas iam ao Seixal.
Ainda se lembra da primeira noite, sozinho, no centro de estágios do Seixal?
Não fui sozinho. Foram dois amigos meus que jogavam no Gil Vicente e um deles ficou no meu quarto. Isso facilitou bastante a minha adaptação lá em baixo.

Fizeram-lhe muitas partidas quando chegou?
Nem por isso, os mais velhos eram “top”, por acaso tive muita sorte. No centro de estágio éramos como uma família e foram bons tempos. Formaram-me como homem e como pessoa. Éramos muito unidos.

Nunca fugia às regras?
Há uma coisa engraçada. Naquela altura dos 14, 15 anos cresci, era alto, mas era magrinho e tinha um bocado, não era complexos, mas via os jogadores que eram mais fortes e eu queria também ser mais forte. Então, comecei a fazer muito ginásio quando cheguei ao Benfica e lembro-me que era apanhado muitas vezes no ginásio, à noite, pelo senhor Fernando, que já faleceu. Não se podia estar lá depois de uma determinada hora e eu era apanhado.

Era castigado?
Não, porque eu não era mau comportado, nem era desrespeitador e o senhor Fernando tinha sempre uma palavra. Puxava-me um bocadinho as orelhas, mas dizia “não podes ser assim, estás sempre na mesma coisa”, mas nunca me castigava (risos).

Não tem mais histórias desses anos da formação?
Uma vez tentámos simular um assalto ao centro de estágio (risos), a malta toda. Havia lá um dos seguranças que era muito fixe, mas era um bocado chatinho. Eles iam sempre fazer a ronda nos quartos do centro de estágio, abriam quarto a quarto e viam se estavas lá dentro. Eu já era júnior, já estava no 2.º piso. Depois de ele passar às vezes fazíamos barulho de propósito e dizíamos coisas do género “vai-te embora” alto e ele levava aquilo muito a sério, ouvia aquilo e voltava logo para trás. Os outros seguranças não, entendiam que aquilo era uma brincadeira, mas aquele levava muito a sério, começava logo pelo intercomunicador “quarto 201 está aqui a haver barulho e movimento” e mais não sei quê. Parecia que estava na tropa. Então, um dia, planeámos simular um assalto ao centro de estágios. Vestimos os kispos todos do estágio, metemos o carapuço na cabeça e fomos assim para baixo. Veio logo esse segurança à nossa procura porque não estávamos nos quartos. A malta dos juniores foi quase toda, um ou outro juvenil. Ou seja, quando ele foi fazer a ronda aos nossos quartos faltavam para aí uns 15/ 20. Andávamos a simular, a fazer barulhos, para ele ver nas câmaras que havia movimento ao pé do centro de estágio, junto às grades. Claro que não estávamos ali para roubar nada, era só para o preocupar (risos).

O que aconteceu quando ele os encontrou?
Não fomos castigados. E aquele segurança que não levava as coisas muito para a brincadeira, a partir daí relaxou, já não era tão stressado, deixou de ser aquele segurança chato.

Quando começa a ganhar dinheiro com o futebol, ainda é no Braga ou só no Benfica?
É no Benfica. É um contrato de formação onde começo por ganhar, acho que uns 150 euros por mês. 

Lembra-se do que fez com esse primeiro dinheiro?
Não. Nunca encarei aquilo como um salário. Era como se fosse basicamente um subsídio. Graças a Deus nunca me faltou nada, venho de uma família de classe média. Mesmo quando tive o meu primeiro salário profissional, e foram valores bem mais altos, tinha autonomia para comprar o que quer que fosse, não precisava de pedir autorização ao meu pai, mas ele sempre me fez ver que ganhar e ter muito dinheiro não significava que não estivesse sob a alçada dele e não tivesse de respeitar algumas regras que não eram difíceis. Por exemplo, não podia receber 150 euros e comprar o que me apetecesse, não era assim que funcionava. Se eu quisesse comprar uns ténis novos, certamente o meu pai já me os tinha dado antes de eu receber esses 150 euros. Ou seja, não estava à espera de receber aquele salário para comprar o que quer que fosse que não tivesse.
Dos tempos de formação no Benfica, antes de subir a sénior, o que é que o marcou mais?
Quando fui campeão nacional de juvenis. Foi uma alegria enorme, fizemos todos uma grande festa, principalmente a malta do centro de estágio, muitos de nós éramos do norte.

As primeiras saídas à noite foram nessa altura?
Foi mais ou menos nessa altura, nos juvenis, com 15, 16 quando já temos alguma liberdade. 

Lembra-se da primeira vez que saiu à noite?
Não, não me lembro, mas deve ter sido para o Bairro Alto porque às vezes íamos para lá. Mas também não tínhamos assim muita liberdade, sabe. No centro de estágio só começámos a ter mais liberdade a partir dos juniores, porque, até aí, tínhamos de estar até às 23 horas no centro de estágio, muitas das vezes, até antes. Lembro-me que, quando era juvenil B, não podia por exemplo ir ao shopping às nove da noite. Tinha de escrever a pedir autorização ao senhor Fernando e ele depois é que dizia se podia ir. Nos juniores já saía mais. Tínhamos também o limite para estar às onze da noite no centro de estágio, mas se quisesse podia dormir fora algumas vezes. Era outra liberdade que não tinha nos juvenis.

Os primeiros namoros também surgem aí?
Eu já tinha uma namorada quando fui para baixo. Tinha uma namorada de escola. Quando fui para baixo ainda namorei com ela mais um ou dois anos, mas depois com a distância era um bocado complicado.

É chamado a primeira vez ao plantel sénior do Benfica quando e por quem?
A primeira vez, sou chamado pelo Quique Flores, tinha 16 anos, fiz a pré-época.

Não se sentiu pequenino por ir treinar ao lado de figuras como o Nuno Gomes e por aí fora?
Senti-me tímido no balneário, mas depois no relvado havia pouca timidez. Nunca fui muito tímido. 

Houve algum jogador que tenha sido particularmente mais simpático?
Tinha muitos. Sou um grande fã do Nuno Gomes, como jogador, mas ainda mais como pessoa. Quando o conheci nos séniores era exemplar a forma como ele tratava as pessoas, não só os miúdos, mas toda a gente. Era uma pessoa com muita classe. Apanhei o David Luiz que também era espectacular com os miúdos. Lembro-que que às vezes era ele que nos trazia para Lisboa depois do treino.

É chamado pelo Quique Flores, mas não chega a jogar.
Pela equipa principal, não. Fui convocado contra o Nápoles para a Liga Europa. Essa fase foi uma fase um pouco triste da minha vida, que me marcou muito.

Porquê?
Porque coincidiu com o meu auge, o ponto de referência da minha carreira que foi a subida aos séniores, tão novo ainda por cima, tinha feito um campeonato nacional de juvenis espectacular. Tinha 17 anos e fui chamado aos sub -19, lembro-me que fui à selecção com a geração do Romeu Ribeiro, do Miguel Vitor, do Adrien Silva, dessa malta toda. Entretanto, a época culmina com a chamada ao plantel sénior para fazer a pré-época e é quando o meu pai começa a ficar doente. Foi-lhe diagnosticado cancro.

Afectou-o, naturalmente.
Muito, mesmo. Lembro-me que quando fui aos seniores, era um dos melhores jogadores da formação do Benfica, com mais projecção, com mais talento... e acabei por não ficar na equipa principal e baixei para os juniores. Houve até jogos dos juniores que eu não jogava de início. Andava desmotivado, aquilo mexeu mesmo muito comigo. Ainda hoje… É um momento que ainda hoje tenho dificuldade em recordar. Nós achamos que esses problemas só acontecem aos outros e lembro-me que quando vi que era com o meu pai, com a pessoa que eu mais gostava, foi um choque enorme. Não aceitei nada bem aquilo, porque é que tinha que ser o meu pai...

O que se seguiu?
No meu primeiro ano de júnior fiz a pré-época, o meu pai começou a ficar doente, começou a fazer os tratamentos, foi operado...Eram tratamentos muito agressivos, que mudam. Eu às vezes perguntava-lhe se estava bem, mas a partir do momento em que tens isso, é muito difícil ficares bem, porque o bem para ele era poder ir para a praia brincar comigo e a partir do momento em que ele teve a doença ficou muito menos disponível para tudo, muito mais limitado. Ficou uma pessoa diferente. Essa época foi muito complicada; na parte final, recordo-me que arrebitei um bocado, fiz bastantes golos. No segundo ano de júnior, em Janeiro, percebia que aquilo era um nível bastante fácil para mim e que não me estava a dar muita competitividade. Ia alternando seniores/juniores mas também não joguei muito nos seniores, porque foi o primeiro ano do Jesus. Como estava a jogar pelos juniores, onde já levava bastantes golos, senti que não estava a evoluir, pedi para ser emprestado para a Primeira Liga e então em Janeiro fui fazer seis meses ao Rio Ave para ter contacto com futebol profissional.

Como foi a experiência no Rio Ave com o Carlos Brito?
Foi bastante boa porque na minha altura como hoje em dia. Hoje está tudo organizado em termos de formação, em termos de equipas B, mesmo as fases finais, a Youth League que eles jogam é um género de Liga dos Campeões. Ou seja, os miúdos hoje em dia quando passam para um plantel sénior já estão bem mais preparados. Na minha altura havia os juniores e depois ias para os seniores, não tinhas equipas B. Nos juniores eram poucos os jogos competitivos que fazias. O Benfica tinha melhor equipa, então os jogos mais competitivos eram só contra o Sporting e o Porto. Ou seja, foi muito bom para mim ir para o Rio Ave porque me abriu os olhos. Cheguei ao futebol sénior e vi que não tinha nada a ver com os juniores, mesmo o contacto com jogadores mais velhos, com homens, deixei de treinar e de jogar com miúdos como eu era.

O que foi mais difícil?
Dentro de campo, porque a intensidade era diferente, eram jogadores mais batidos com qualidade. Qualidade eu tinha, porque vinha de uma equipa grande e forte, com uma formação onde estavam os melhores jogadores da minha minha idade, só que não tinha a “ratice” que tinham os jogadores mais experientes na Liga.

Foi viver para onde?
Fiquei a viver em casa dos meus pais. Escolhi o Rio Ave precisamente por isso. Por ser perto de onde sou. Como não tinha carta, o meu pai tinha de me levar. Eu era o único que chegava ao treino com motorista, que era o meu pai (risos).

Foi praxado no Rio Ave, fizeram-lhe alguma partida?
Não. (risos). Lembro-me de um episódio com o Gaspar. Ele estava no banho e quando saiu virou-se e disse assim: “Ó miúdo sabes quem é que eu sou? Sou o Gaspar, tens de me vestir as cuecas”. E eu: “Tenho de te vestir as cuecas? Isto não funciona assim. Sou mais novo ok, mas não vou vestir-te as cuecas. Não vou fazer isso. Se quiseres que eu seja praxado com outra coisa tudo bem mas isso não”. E ele: “Está bem miúdo, se fosse ao Rui Costa vestias-lhe as cuecas, ao Gaspar não podes vestir, queres ver” (risos). Ele estava sempre a meter-se com os miúdos, só mesmo o Gaspar para fazer isso (risos).
Na época seguinte foi emprestado ao Paços de Ferreira. Porquê?
Foi o Benfica que preferiu que eu fosse para o Paços de Ferreira, também porque tinha o mister Rui Vitória, que tinha algumas ligações ao Benfica e estava familiarizado com a formação do Benfica.

Foi de bom grado ou foi contrariado?
Fui um pouco contrariado, no sentido em que tinha ambições de ficar na primeira equipa do Benfica. Fiz a pré-época com eles. Na altura era bastante complicado para um jovem da formação ficar no Benfica. As pessoas falam muito da formação do Benfica hoje em dia, é verdade, tem grandes jogadores, mas sempre teve. Na minha altura também tinha. Na minha equipa de juniores tinha o Danilo, que é um dos melhores jogadores do campeonato português e que joga no Porto. O Benfica não aproveitou. Tens o Mário Rui, defesa esquerdo do Nápoles e da selecção, que era do Benfica e o Benfica não aproveitou. Há o meu caso. Posso dar vários exemplos. Naquela altura, era complicado ter uma oportunidade nos seniores ou quando tinhas, era uma oportunidade que não chamo de oportunidade. Oportunidade é como têm agora os miúdos do Benfica. Sai um defesa central e o Benfica não contrata mais ninguém. Saiu o Lindelöf, o Benfica não foi buscar nenhum central, tinha o Ruben Dias e foi o central que eles quiseram. Na minha altura saía um avançado, contratavam outro. Lembro-me que no meu ano, havia Cardozo, Saviola, Rodriguez, Aimar, todos jogadores que jogavam na frente, não optavam muito pelos jogadores da formação.

Estava a dizer que foi contrariado para o Paços.
Sim, fui um pouco contrariado. Mas fui muito bem recebido e gostei muito de estar lá, mas não era aquilo que eu ambicionava naquela altura, porque queria ter oportunidades na primeira equipa do Benfica. Mas foi bom para mim ter ido porque no final dessa época estive no Mundial de Sub 20 e rebentei. Continuou a viver em casa dos seus pais? Sim, tinha a minha casa em Paços onde ficava às vezes, mas eu era muito ligado ao meu pai e, infelizmente, continuaram a aparecer problemas. No meu primeiro ano no Paços, o meu pai foi novamente operado e eu fazia sempre o esforço de ficar em casa. Lembro-me que ia treinar de manhã e quase sempre vinha almoçar com ele, para ele não almoçar sozinho, e depois acabava por ficar por Barcelos e dormia em casa, porque ainda era uma distância. Não vinha de Paços para almoçar com ele e depois ia-me embora outra vez.

Entretanto na época seguinte é chamado ao Benfica pelo Jorge Jesus.
Certo.

O que tem a dizer sobre ele?
Bastante diferente de todos os outros.

Em que aspecto?
Em muitos aspectos. Costumo dizer que o mister Jorge Jesus como treinador, e não tenho problema nenhum em dizer isto, é dos melhores com quem trabalhei em termos de conhecimento do jogo e do futebol, os aspectos tácticos e técnicos. Como treinador, foi dos melhores que apanhei.

E do ponto de vista humano?
Do ponto de vista humano era um bocado... é complicado. Não digo que o mister fosse má pessoa, não acho que fosse má pessoa, também não o conhecia fora do futebol e sempre que lidava com ele, era profissional. Mas acho que, por exemplo, era complicado às vezes para um miúdo, a maneira como ele fala, porque nós não somos todos iguais. Acho que muitos jogadores sentiam-se retraídos com ele. Sentiam-se limitados. Falo no meu caso, ele era muito agressivo a falar e eu sentia-me retraído, sentia que não conseguia jogar… . Depois começas a adaptar-te e a proceder de maneira diferente, mas é um bocado complicado.
Como corre a época?
Faço 23 ou 22 jogos mas raramente jogava de início.

Desmotiva estar constantemente no banco?
Não, não desmotiva, pelo contrário. Para mim quando estou no banco tento trabalhar mais para jogar. Só que o Benfica com o mister Jorge Jesus funcionava completamente diferente. Lembro-me que na altura o Benfica fazia contratações e eles chegavam ali e jogavam à frente de qualquer miúdo, mas não tinham mais qualidade do que a dos miúdos que lá estavam. Tive muitos avançados à minha frente que eram grandes jogadores, mas também tive outros que não eram melhores do que eu, nem de longe, nem de perto. Só que era assim que o Benfica funcionava, principalmente com o mister Jorge Jesus. Lembro-me do Benfica ter contratado o Derley ao Marítimo...E muitos outros jogadores que tinham sempre mais oportunidades, mais crédito do que os miúdos da formação. Da formação ninguém jogava no Benfica, ninguém. Não tinha nenhum titular do Benfica que fosse da formação, no plantel devia ser eu o único, não sei se tinha mais algum. Hoje, olho e digo, se fores miúdo no Benfica não podes estar frustrado porque sabes que só tens de trabalhar bem porque se realmente estiveres a merecer, a tua oportunidade vai surgir. Vimos agora o caso do miúdo que subiu a defesa direito, o Tavares, e o Benfica ganha na mesma. Na minha altura não era assim, sentias-te um pouco desmotivado e frustrado porque sabias que quer faça, 30, 50 ou 100, vou ter sempre menos oportunidades do que os outros. Mas um jogador tem de saber lidar com o estar no banco e o facto de ter que trabalhar mais para jogar.

Na época seguinte tem a primeira aventura fora. É emprestado ao Deportivo da Corunha. É o Nelson que pede, é o Benfica que quer?
É o Benfica que quer. Para ver a diferença, eu nessa altura venho de fazer o Europeu com a selecção nacional, o Euro 2012 em que chegámos às meias finais. Ainda fiz uns quatro jogos. Nas meias-finais entrei aos 80 minutos e joguei o prolongamento todo contra a Espanha. Joguei contra a Holanda, joguei contra a Alemanha. Foi uma experiência completamente diferente, foi estar ali onde está a nata toda de Portugal, os melhores jogadores, incluindo o Cristiano. Quando fui chamado para ir tinha uma curiosidade enorme para ver como era o Cristiano.

Então e que tal?
É um craque. Merece tudo o que tem e mais ainda, porque é diferente. Para o que ele conquistou até acho que é pouco vaidoso. Acho que ele está claramente num patamar que nós portugueses esquecemos de valorizar. A grandeza do que o Cristiano fez e continuar a fazer todos os anos, acho que às vezes não compreendemos bem. Não compreendemos que temos um jogador que é cinco vezes Bola de Ouro. Quando dizem, “ah, está a ficar velho”, não está. Ano após ano, surpreende. Tem uma mentalidade, uma capacidade de trabalho acima da média. Quando o conheci foi um prazer enorme, foi muito bom e melhor ainda foi ver o grande exemplo que ele é. Como se continua a auto-motivar, a querer sempre mais e ser melhor. Acho que a palavra que melhor o define é o exemplo. Acho que ele devia ser o exemplo para todos os jovens. Se tu queres ser jogador, o jogador em que te deves focar é nele. É o jogador em que qualquer jovem se deveria focar.

Foi praxado na selecção?
Na minha altura ainda não se fazia isto de cantar, era só o discurso que para mim é bem mais fácil. Fiz um discurso. Mas claro que faziam sempre mais qualquer coisa. A seguir ao jantar, às vezes a malta ia até à sala dos jogadores, ou até um quarto ou outro e eles tentam arrastar-te para um quarto sem te dar a entender, e eu como sou muito distraído facilmente entrei no quarto que tinha de entrar e depois caíram todos em cima de mim à pancada com almofadas. Era a praxe que faziam, levas ali um apertozito e pronto, nada de especial, tudo sempre na brincadeira.

Foi chamado a primeira vez pelo Paulo Bento. Que tal como treinador?
Estou-lhe agradecido por ter dado a oportunidade de me estrear pela selecção. É bom treinador. Não tenho assim mais grande coisa a dizer sobre ele.

Voltemos à ida para o Deportivo. Vai sozinho ou com alguma namorada?
Vou para Espanha numa altura em que me estava a separar da minha ex-namorada. Vivi sozinho em Espanha.

Como foi essa experiência?
Aí sim foi a primeira vez que tive de cozinhar em casa algumas vezes (risos). Apesar de não ser muitas porque estavam bastantes portugueses no Deportivo e íamos muitas vezes jantar juntos.

Como foi a adaptação ao futebol espanhol?
Foi boa, mas não foi um bom ano para mim. Acho que foi o pior ano da minha carreira.

Porquê?
Por tudo. Não joguei muito, o clube era uma desorganização total, fiquei seis meses sem receber salário. Primeira vez fora, não correspondeu às minhas expectativas. Descemos de divisão, não foi nada bom. Fiquei bastante desiludido.
A seguir foi para França, para o Rennes.
Sim, porque quando estive na Corunha, no último jogo da época contra a Real Sociedad, o treinador da Real Sociedad, Philippe Montaine, ia assinar pelo Rennes. A R. Sociedad ficou em 4.º lugar, fez um bom campeonato. Ele vem falar comigo no final do jogo e diz-me que quer levar-me, que gosta muito de mim, apesar de eu não ter jogado muito, o que joguei chamou-lhe à atenção. Eu disse que tinha de falar com o Benfica e resolver as coisas com o clube. E assim foi.

Falava francês?
A adaptação foi bastante boa porque fiz lá amigos que para mim são uma família. Ainda hoje vou a Rennes. Foi engraçado. No primeiro dia, estava chegar ao centro de estágio para fazer exames médicos e assinar contrato e depois fomos almoçar a um restaurante lá ao lado. E quando estamos para ir almoçar, vi um português que me pediu uma foto. Tirou uma foto comigo e foi embora. Durante a semana, uma pessoa no clube diz-me que há uma portuguesa em Rennes, presidente da associação da comunidade portuguesa, que me quer conhecer. Eu disse ok. Fui conhecer a senhora e o marido dela e quem era o filho deles? O rapaz que tinha tirado a foto comigo. E a partir dali criámos uma amizade, eu estava sempre com os filhos dela, que são quatro. Ela diz que tem cinco agora, porque eu sou um dos filhos dela (risos). Por isso a adaptação foi fácil. Era um grande apoio. Era capaz de ir jantar duas ou três vezes com eles durante a semana. Ia sair com os filhos deles, era como se fosse a minha família.

E o futebol: muito diferente do português e do espanhol?
Diferente, mas correu bem. Fiz uma primeira metade da época muito boa. Depois começaram a aparecer problemas físicos. Tive uma pubalgia bastante acentuada e na segunda metade da época não joguei assim tanto como queria. Mas, no global, foi um ano bastante bom. Fiz nove golos numa liga competitiva como a francesa. Fiz amigos. Foi um ano em que posso dizer que fui feliz.

Nos tempos livres o que fazia? Jogava playstation, via séries ou filmes?
Ver séries ou filmes só se estiver mesmo sem nada para fazer. Sou muito mais de ir jantar com amigos, ficar na conversa. Coisas mais palpáveis, não tão eu e uma televisão. Gosto mais do convívio. Lembro-me que, em França, íamos algumas vezes jogar bowling. Ia andar de kart também. Um dos filhos dessa senhora andava bem em karts e havia um outro português que tinha uma pista e nós íamos para lá. Nunca fui de ficar em casa a jogar playstation. Gosto de jogar playstation se estiver em estágio com outros jogadores em que jogamos uns contra os outros para passar o tempo. 

Na época seguinte volta ao Benfica mas por pouco tempo.
Sim, venho seis meses para o Benfica,tive poucas oportunidades outra vez e fui para Inglaterra. Porque quis ou porque o Benfica quis? Quando um jogador vai emprestado é sempre porque as duas partes querem. Acho que é uma vontade mútua. O Benfica queria que eu fosse emprestado, porque assim não precisava de estar a pagar os meus salários, e eu também queria porque não estava a fazer nada ali, também não tinha oportunidades.

Foi para o Swansea City. Como foi o primeiro impacto no País de Gales?
Foi bom. Já não fui sozinho, porque pelo meio conheci uma bela mulher que hoje em dia é minha esposa.

Conheceu-a onde e como?
Em Portugal. Ela é de Famalicão. Chama-se Melanie, nasceu em França porque os pais são emigrantes. Tínhamos amigos em comum e eu já a conhecia de vista. Quando estava em França comecei a falar com ela, porque encontrámo-nos num jantar de amigos. Sempre fui muito ligado ao meu pai, ao meu irmão, à minha mãe também, mas mais ao meu pai, e sempre que fui para fora tentava vir com frequência visitá-los. Lembro-me que quando fui para o Corunha, todos os fins de semana ia a casa, ainda por cima a Corunha é perto de Barcelos, duas horinhas. Em França, igual. Sempre que tinha oportunidade ia a Portugal.
O que faz ou fazia a sua mulher, profissionalmente?
É gestora de empresas. Tem o curso de gestão. Trabalhou num banco, quando eu ainda estava no Benfica e depois foi comigo para o Swansea. Costumo dizer que a minha mulher foi um anjo que veio ajudar-me a ficar melhor em todos os aspectos. Porque eu estava ali numa fase um pouco... Em França fui feliz e tive suporte mas estava numa fase um pouco sem rumo. Como já expliquei, a doença do meu pai afectou-me bastante. Estou-me a repetir mas aquilo afectou a minha personalidade, a minha vida, faltava-me um apoio. Se não estivesse doente, o meu pai iria ter estado muitas mais vezes em Espanha, muitas mais vezes em França, muitas mais vezes em todo o lado. A minha mulher ajudou-me a ficar mais calmo, mais estável, porque...Não tenho problema nenhum em admitir que, por exemplo, quando estava no Corunha, saía muitas vezes e não tinha uma vida digamos que...

Exemplar?
Exemplar, sendo jogador de futebol. Embora todos os jogadores saiam, quem disser que não teve essa vida não está a ser muito sincero. Foi uma fase em que saía bastante, mas o clube, o ano proporcionou-se assim. Não estava feliz, salários em atraso, o meu pai doente, as coisas não estavam a correr bem no futebol. Lembro-me que tinha jogo ao sábado, acabava o jogo, e porque tinha folga no domingo e na segunda-feira, vinha logo para Portugal sair com amigos. E estando solteiro, pior ainda. Por isso é que eu digo que a Melanie veio trazer estabilidade, veio acalmar a minha vida, veio dar um sentido muito, muito grande à minha vida. Eu tinha uma coisas mal organizadas, coisas normais, de jogadores. Vou dar um exemplo, coisas que tu não dás importância e que uma mulher chega e organiza sempre melhor. Papéis, coisas que tu tens que fazer de uma certa forma. O IRS está sempre direitinho agora e entrego sempre a horas (risos). A minha mulher organiza a minha vida de maneira que eu não organizava quando não a tinha, ainda por cima ela é da área da gestão. Dá-me apoio não só nisso, em tudo.

Então correu bem a adaptação ao País de Gales.
Sim, correu bem. O futebol é espectacular, tanto é que estive lá quatro anos e só mudei agora porque aquilo tem um senão. O clima. É mesmo o único problema, porque de resto para viver acho que é bom.

Gostou dos britânicos? Há quem os considere muito frios.
Eu não acho. Senti-me pior com os espanhóis do que com eles. Porque os espanhóis são muito parecidos connosco mas olham para nós com sendo inferiores a eles. Em Inglaterra não, as pessoas comigo sempre foram impecáveis. No País de Gales as pessoas ainda são mais simpáticas, estive lá seis meses e criei relação de amizade com um senhor que trabalhava nos comboios que faziam ligação Swansea- Londres. Eu e a minha mulher íamos muitas vezes a Londres, jantar ou passar a folga, e lembro-me que criei uma ligação com esse senhor que tinha uma filha que era fã do Swansea e ele às vezes facilitava, oferecia-me bilhetes de comboio.

Sabia falar bem inglês?
Safei-me. Ao início a minha mulher era melhor do que eu, agora acho que já sou melhor do que ela (risos). Ainda não sou, estou a brincar. Mas, ao início, não falava nada inglês quando fui para o Swansea. E o inglês deles é um pouco diferente. Mas tinha uns dois ou três espanhóis na equipa, um equatoriano, um argentino, estávamos sempre mais juntos e um dos espanhóis estava lá há bastante tempo e ajudava-nos, traduzia algumas coisas.

Entretanto depois dessa época no Swansea, regressa. Porque não fica lá?
Porque estava emprestado. Havia algum interesse da parte deles em assinar comigo em contratar-me definitivamente mas o Benfica também pedia um valor que o Swansea, se calhar não achava que deveria custar tanto e acabaram por assinar com Eder e eu não fiquei. Fui mais um ano emprestado para o Nottingham Forest. Lembro-me que no verão andávamos ainda em negociações e quando me despedi do treinador do Swansea, ele não sabia se havia de dizer-me um “até já” ou um “adeus”.

Que tal Nottingham Forest?
Foi um sítio onde gostei muito de estar, foi um sítio onde encontrei pessoas muito porreiras, foi um clube onde eu me senti muito bem, onde a minha mulher também se sentiu muito bem, uma boa cidade. Foi um sítio de que gostei muito.
Mas não ficou lá, foi para o Norwich City. Como é que isso acontece?
Não fiquei, porque eles estavam com um problema. Eles em Inglaterra são muito rigorosos com o Financial Fair Play. Na altura em que eu estava lá, eles não podia contratar jogadores, só podiam contratar jogadores emprestados, mas acabei por fazer uma boa época, voltei à selecção, e no final da época eles queriam me contratar mas não tinham possibilidade e é aí que aparece o Norwich e contrata-me definitivamente ao Benfica.

Chegou a jogar nos sub 23 do Norwich. Porquê?
Ao início fiz alguns jogos pelos sub-23 porque vinha de uma lesão. Isso é normal em Inglaterra. O que eu acho bem. Rasguei o adutor no Nottingham Forest, mais ou menos em Abril e não acabei a época. Como era jogador do Benfica voltei logo para Lisboa. Foi uma lesão um bocado grave para dois meses, dois meses e meio e portanto voltei logo para Lisboa. Fiquei maio, Junho e um pouco de Julho a fazer tratamento, a recuperar. Quando assinei e fui para o Norwich, como vinha da lesão e sem fazer pré época, comecei a ser reintegrado e os primeiros um ou dois jogos que fiz foi pelos sub-23, para ganhar ritmo. Depois joguei logo contra o Everton para a Taça.

Esteve três épocas no Norwich, mas na última foi emprestado ao Reading.
Exactamente. Basicamente, estive duas épocas e meia no Norwich e meia época no Reading. A primeira época no Norwich corre muito bem, a segunda nem por isso. Na pré-época da segunda época fui chamado à selecção para jogar contra as Ilhas Faroé e para outro jogo. Lembro-me que fiz um golo no estádio do Bessa, o outro jogo já não me lembro contra quem é que foi.

Fernando Santos muito diferente do Paulo Bento?
Sim. O mister Fernando Santos para mim foi uma grande surpresa, não o conhecia. É uma pessoa para quem tu olhas e parece que não está muito bem disposto, mas tem um coração... Acho que é mesmo boa pessoa. Toda a gente gosta do mister, tem muita experiência, não estou a falar dele como treinador, porque como treinador já toda a gente sabe que é muito inteligente, experiente, é aquele tipo de treinador que olha para ti e já sabe se estás bem para o jogo ou não, se estás com medo. É um treinador bastante inteligente, vês logo pelo olhar dele que é inteligente, experiente, rato, que sabe, mas como pessoa, acho que é muito boa pessoa. Tem um grande coração. Não tive muita convivência com ele, estive na selecção com ele duas vezes, acho eu. Mas é uma pessoa que me surpreendeu pela positiva.

Estava a contar que depois na segunda época as coisas já não lhe correm tão bem.
Não correm, porque na primeira época eu chego, o clube está a vir da Premier League, é o primeiro ano na Championship, e os clubes em Inglaterra quando descem, nos dois primeiros anos recebem bastante dinheiro para se poderem aguentar, para poderem continuar a manter os jogadores. Digamos, para o clube não cair. Então, no meu primeiro ano, apostaram forte, fiz uma grande época, fiz 15 golos mas não subimos e o clube estava um pouco mal organizado. Fizemos uma época aquém das expectativas e entrou uma direcção nova para o segundo ano. A direcção nova mal entrou, não sei se era porque o clube ter de realizar encaixe financeiro porque não conseguiu subir, mas senti da parte do clube que... Aliás, o clube aceitou uma proposta de oito milhões de euros do Reading. Eu fiquei… Fogo, fui um dos melhores jogadores da primeira época, era um dos preferidos dos adeptos, era bastante acarinhado, e de repente senti que eles queriam vender-me, queriam realizar dinheiro comigo. Queriam mudar um pouco a política. Queriam apostar em jogadores mais jovens da formação, jogadores financeiramente mais económicos. Mas eu não via grandes vantagens em sair e ser vendido para uma equipa do Championship quando estava numa equipa boa, onde tinha feito uma boa primeira época e então não sai. Depois até tive um problema com o treinador, quando tirei a camisola e quando me peguei com ele.

Recorde-nos lá essa cena.
Não é uma coisa de que me orgulhe e que tenha sido boa para a minha carreira. Foi bastante má. No final da época eles queriam vender-me, comecei a segunda época no banco, tinha feito sete golos na pré-época e tinha sido um dos melhores jogadores. Só que o clube, como queria forçar a minha saída, pôs-me no banco no primeiro jogo. Quando entrei e fiz golo, tirei a camisola e tive um despique com o treinador. Fiquei os dois jogos seguintes sem jogar, castigado. Foi um ano que começou logo mal da minha parte com a direcção, com o treinador, depois acabei por não sair. Aliás, no final do mercado de transferências, quando estava na selecção, no dia 31 de Agosto, recebi uma proposta do Swansea novamente. Ofereceram 12 milhões ao Norwich para me contratar, mas como já tinha feito três golos, o mister do Norwich ligou-me e disse que não podia deixar-me sair por ser o último dia. Acabei por ficar ali essa época toda mas não foi uma boa época. Fiz nove golos mas não é uma época em que eu tenha sido feliz e tenha desfrutado do meu futebol. No ano a seguir acabei por ficar meio ano sem jogar, porque também já sabia que eles não contavam comigo, e em Janeiro fui fazer seis meses ao Reading.
Onde estava o José Gomes, não era?
Sim. Como estava há tanto tempo sem jogar, achei por bem ir jogar. O mister José Gomes também me ligou, estava numa situação complicada para descer e fui para lá meia época e adorei.

Menos aquela pisadela do Tyrone Mings, do Aston Villa, que lhe deixou a cara muito mal tratada. 
Sim, menos isso. Eu costumo dizer que tive muitos altos e baixos em Reading. Em tão pouco tempo, o que me aconteceu lá parece que foi em três anos, mas não, foi só em quatro meses. Parti o nariz, parti a cara, joguei de máscara, depois lesionei-me outra vez, depois voltei, depois lesionei-me. 

Consegue explicar o que é que aconteceu ou ainda hoje não sabe bem o que é que lhe aconteceu?
Na pisadela?

Sim.
O que aconteceu foi que ele pisou-me propositadamente, na minha opinião, porque sou jogador e sei perfeitamente que nós jogadores podemos evitar certo tipo de contacto. Aliás, ele já tinha feito isso a outro jogador que teve sorte porque não lhe apanhou a cabeça em cheio, foi só de raspão. A mim, como foi num lance em que ele me agarrou e caiu exactamente por cima de mim, pisou-me directamente na cara.

Quando viu pela primeira vez a sua cara, o que pensou?
No campo achei que... sei lá... ninguém pisa a cara de outra pessoa. Foi tudo tão rápido que pensei que ele me tinha dado com o joelho. Senti logo um estouro na cara, mas pensei que me tinha dado com o joelho. Estava cheio de sangue, levantei-me logo, eles não queriam que eu saísse pelo meu pé, mas eu saí, lembro-me que cheguei ao balneário e fui logo para o posto médico para ser cosido. Tive sorte, porque o médico que costumava coser, que era mais especialista nisso, estava na bancada a ver o jogo e baixou logo ao balneário. Quando cheguei ao posto médico pedi o meu telefone para tirar uma fotografia, mas eles não queriam dar-me porque aquilo estava mesmo em mau estado. Não me queriam assustar. Mas tirei uma fotografia à minha cara cheia de cortes, foi essa que se tornou viral. Acho que isso aconteceu porque eu tirei essa fotografia e mandei para o grupo de Whatsapp da minha equipa do Reading e disse: “Malta fiquem tranquilos que eu continuo a ser mais bonito que muitos de vocês. Não se preocupem” (risos).

Passou-lhe pela cabeça vingar-se do Tyrone?
Vingar nunca, mas que fiquei com uma sensação má dentro de mim, fiquei. Fog,o este gajo... Depois parei para pensar e pensei que no meio daquele azar todo tive muita sorte. Eu até brinco com a minha mulher e digo “ainda bem que eu tinha um nariz grande porque se não tivesse estava f*****” (risos). Imagine que o piton que me acertou no nariz e me partiu o nariz, se fosse um pouco mais ao lado, podia cegar-me. Aliás, eu fui cozido no nariz, acima do olho e na testa. E depois tenho duas pequenas cicatrizes de um ou dois pontos acima da sobrancelha, uma em baixo e outra em cima. Se o piton acertava no olho eu ficava cego e não podia jogar mais futebol. Foi nisso que pensei. Que ele podia ter-me lixado a carreira por uma coisa completamente evitável, uma coisa estúpida.

Ele alguma vez lhe ligou a pedir desculpa?
Mandou mensagem a seguir a pedir desculpa e eu até fui muito porreiro com ele, porque ainda não tinha visto as imagens. Mas quando vi as imagens disse-lhe: “Agradeço a tua mensagem, mas acho sinceramente que poderias ter evitado. Acho que não foi uma boa atitude da tua parte”. Eu jogo futebol, sei que os defesas, alguns deles, têm aquela malícia dentro deles. O dares uma cotovelada, uma porrada, puxares de forma mais agressiva, dares uma pisadela, uma coisa assim para impor respeito, não tenho nada contra. Todos os defesas há 30 anos faziam e daqui a 30 vão continuar a fazer. Não vou dizer que gosto, mas não tenho nada contra, admito e não levo a mal. Agora deixa de ser normal quando tu fazes uma coisa que põe em causa a integridade física. Agora, pisar uma cara.... São coisas que já não tem a ver com agressividade. Acho que é uma cobardia. Pisar a cara a alguém, quando alguém não pode, é uma cobardia, foi assim que eu vi aquele lance.

Quanto tempo demorou a recuperar?
Foi rápido porque eu sou durão. Não sou muito dado à dor, passado uma semana já joguei, com uma máscara.
Como é que vai parar ao AEK da Grécia?
Vou parar à Grécia porque o Miguel Cardoso demonstrou interesse em mim, eu achei que era o momento de sair de Inglaterra, porque a verdade é que estava um pouco farto do clima. O clima é bastante complicado, para nós portugueses. Eu agora que cheguei à Grécia já me sinto outro, o facto de haver sol, de poderes ir jantar a uma esplanada, coisas assim que parecem simples, mas que te dão um conforto e uma qualidade de vida que eu não podia ter na Inglaterra. Achei que o facto de poder ter isso na Grécia, aliado a ser um dos grandes clubes da Grécia, com um treinador português que me queria, achei que era uma boa oportunidade de dar seguimento à minha carreira aqui.

Era o que estava à espera, melhor, pior?
Era até porque acho que os gregos são parecidos connosco. Tanto que há muitos portugueses a vir para cá, o próprio mister Fernando Santos já esteve aqui, foi treinador da selecção grega, foi treinador dos três grandes clubes da Grécia. Acho que eles são um povo parecido com o nosso, então a adaptação está a ser bastante boa. Também temos alguns portugueses na equipa, o que facilita.

Onde é que ganhou mais dinheiro até agora?
Agora na Grécia.

Tem investido o seu dinheiro onde?
No imobiliário, tenho algum dinheiro no banco também.

Acredita em Deus?
Sim, muito.

Frequenta a igreja, vai à missa?
A minha mulher é mais de ir à igreja do que eu. Eu não sou muito, mas tenho fé e crença em Deus à minha maneira. Vou muitas vezes a Fátima. Leio praticamente todos os dias a Bíblia. Rezo também praticamente todos os dias. 
É supersticioso?
Sou, acho que todos os jogadores são um bocadinho.

Pode revelar uma superstição, um ritual que faça sempre?
Tenho muitos, sou sincero. Por exemplo se levar uns ténis para estágio e nesse jogo jogar bem, esses ténis no próximo jogo têm de ir.

Tem tatuagens?
Não.

Nem pensa fazer?
Por acaso, penso. Mas ainda não sei bem o quê.

Pensa ter filhos?
Sim, gostava de ter filhos. Mas mais para o final da carreira, porque não achamos que seja bom, estar um ano aqui na Grécia e depois ter de ir com o filho para Inglaterra ou para outro sítio. A vida de um jogador é muito assim. Eu espero mais para o final a minha carreira voltar a Portugal, são esses os meus planos e nessa altura... 
Já pensou no que vai fazer depois da carreira de futebolista acabar?
Acho que vou continuar relacionado com futebol.

Vê-se mais como treinador, como empresário, como?
O posto em que me vejo é como director desportivo porque é o que eu gosto de fazer. Gosto de criar plantéis, gosto de olhar para um jogador... Um dos directores desportivos de quem gosto do trabalho, é da minha zona, é de Barcelos, é o Luís Campos, do Lille. Via-me a fazer esse trabalho mas sei que antes disso há outras coisas que tenho fazer porque não basta só perceber de futebol e identificar talentos nos jogadores, que eu acho que para isso tenho bastante capacidade. Mas é o trabalho que me vejo a fazer.

Tem na cabeça alguma meta para deixar de jogar ou fica ao sabor dos acontecimentos?
Acho que vou deixar de jogar tarde, tenho essa convicção.

Lá para os 33, 34 anos?
Não, isso é cedo (risos). Então, o Ronaldo tem 35 e ainda vai jogar não sei quantos anos mais. Eu diria que quero jogar até aos 36, 37 anos.

Tem algum clube de sonho onde gostasse de jogar ou a onde gostava de ter jogado?
Tenho vários. Adorava jogar num clube grande de um campeonato mais competitivo, não sei se isso irá ser possível porque já tenho 28 anos, mas se me perguntar se ainda acredito nisso, ainda acredito. Se sou maluco em acreditar? Não sei, só o tempo o dirá, mas ainda acredito que vou jogar num bom clube, numa das melhores cinco ligas da Europa. É esse o sonho que tenho.
Qual é a sua maior alegria e a sua maior frustração no futebol?
A minha maior alegria acho que foi representar a selecção nacional pela primeira vez na equipa A num jogo amigável contra a Polónia. Lembro-me como se fosse hoje. A minha maior frustração foi também na selecção, nos sub-20 quando perdi a final contra o Brasil. Foi uma coisa que me marcou bastante porque acho que era bom para Portugal, era bom para nós, era merecido.

Pensei que ia dizer o não ter vingado no Benfica.
Isso também, pensei nisso e pode acrescentar porque é uma delas. Nem sei se até não é maior do que o Mundial, mas a realidade é que na altura não estava criada uma envolvência para que jogássemos e nos destacássemos como está a acontecer agora. E isso é uma das grandes frustrações que tenho. Ainda nestes dias li que o Bernardo tinha a frustração de nunca se ter estreado pela equipa principal do Benfica, de nunca ter jogado e que achava que um dia mais tarde, iria jogar. Eu tenho essa frustração também, porque acho que a minha carreira poderia ser bastante diferente. Às vezes começo a imaginar como é que seria a minha carreira se eu fosse hoje miúdo no Benfica. E certamente iria ser bem diferente.

Qual foi a maior extravagância que fez com o dinheiro?
Não sou muito de extravagâncias porque não sou assim muito gastador. Acho que a maior extravagância foi ter comprado um carro bom quando tinha 18 anos.

Qual era?
Um Mercedes classe E, coupé. Foi o meu primeiro carro. Esse foi o primeiro carro que comprei, mas antes conduzi os carros do meu pai depois de ter tirado a carta. Só comprei quando já tinha uns dois anos de carta.

Qual foi o melhor carro que teve?
Já tive bastantes carros. Em Inglaterra já tive um Range Rover, tive um Mercedes S 500 coupé. Em Inglaterra, os jogadores têm facilidades.

Mais nada de extravagâncias?
Sim, relógios. Lembro-me que quando fui à selecção pela primeira vez, foi lá um senhor mostrar relógios e eu já tinha na ideia comprar um Rolex e comprei. Ainda hoje é uma das coisas onde eu perco mais facilmente a cabeça.

Tem quantos relógios?
Tenho seis. Mas sou esquisito, não compro por ser desta marca ou daquela, compro relógios quase como coleccionador de relógios.Tenho relógios difíceis de arranjar, com lista de espera grande. É quase como se fosse um investimento. É quase, não, é um investimento, porque sei que o dinheiro que gastei nesses relógios, certamente hoje se os quisesse vender, valem mais do que quando os comprei. É uma paixão que eu tenho.

Falou mais do que uma vez no seu pai e na doença do seu pai. O seu pai faleceu há quanto tempo?
O meu pai faleceu vai fazer três anos em Janeiro.
Foi esse o dia mais triste da sua vida?
Não é o dia mais triste porque o meu pai teve uma doença degenerativa, um cancro, e no dia em que ele morreu, eu sabia que ele ia morrer. Eu vi o meu pai a degradar-se dia para dia, até que chegou ali uma fase... Depois a minha família escondeu-me um pouco, porque queria-me proteger, para eu estar concentrado no futebol, porque sabia que eu era muito ligado a ele e que se contassem tudo se calhar eu era capaz de não querer jogar, apanhar um avião e vir para a beira dele. O meu pai durou oito anos com cancro. E durou por uma simples razão: porque ele não tinha medo de morrer, era uma pessoa muito forte a combater o cancro. Nada lhe metia medo, aliás, ele nunca deixou de fumar, sempre a trabalhar no talho e foi operado umas oito ou nove vezes. Primeiro nos intestinos, depois no fígado. A última vez que vi que já não havia solução para o meu pai, foi quando ele rejeitou um tratamento. Depois, começou também a ficar amarelo, com os olhos amarelos e comecei a perceber que estava a aproximar-se o fim dele, estava também cada vez mais magro. Ou seja não foi propriamente o dia em que ele morreu que foi o mais triste, quando ele morreu eu nem estava com ele. Despedi-me antes de ir para Inglaterra e lembro-me que, quando lhe dei um abraço, foi quase como se me despedisse dele para sempre. Sabia que nos próximos dias ele iria falecer. Lembro-me que me deu um abraço e disse-me: “Filho estás muito bem entregue com a Mel”. Ainda me deu um abraço e eu senti que a minha despedida com ele foi ali. Se tiver de dizer o dia mais triste, acho que foi esse, em que me despedi dele, não o dia em que faleceu."