"Ponto prévio: já sei que as palavras que se seguem vão levar aos inevitáveis "quando perdemos temos de apoiar", "deves ser benfiquista do Marquês" e por aí fora. Não quero saber.
Já há algum tempo que confidencio no meu círculo de amigos benfiquistas que discordo da ideia pateta que temos uma super equipa, prontinha a chacinar todos os oponentes em território nacional e conquistar o Velho Continente nas asas dos jovens do Seixal.
Digo mais, até: não temos uma equipa muito superior aos nossos rivais (sim, incluo os vizinhos complexados). Essa falsa sensação de estarmos em condições de acumular campeonatos sem grande dificuldade tem-me preocupado bastante. E o jogo de sábado serviu para acalmar a bazófia que, diga-se, vem muito de quem lidera o clube.
Temos, em potencial, uma grande equipa. E potencial para, com os passos certos, estar nos próximos anos com alguma vantagem competitiva sobre as restantes equipas da nossa Liga. Mas ainda não estamos lá, nem pouco mais ou menos. Porquê? Na minha opinião por sobranceria, arrogância e provavelmente falta de conhecimento sobre futebol, por parte do presidente.
A aposta no talento do Seixal é o caminho certo, claro está. Nem vale a pena explicar porquê, acho que é mais ou menos senso comum nesta fase. Mas nem só de jovens se faz uma grande equipa. Claro está que, SE se mantivessem todos anos a fio, esse potencial seria tremendo, mas como sabemos isso nunca vai acontecer, face à facilidade com que equipas de outras ligas chegam aqui e batem cláusulas sem suar.
Assim, o caminho só pode ser dotar a equipa de um equilíbrio entre os young guns e jogadores com capacidade para fazer a diferença, acrescentar experiência e acima de tudo de qualidade incontestável.
E é à volta de 4, 5 craques que devem ser lançados e crescer os putos do Seixal. E não dependermos em absoluto de um conjunto de miúdos com 19 anos que, por mais talento que tenham (e têm) vão crescer com os erros — que aqui e acolá vemos no Ruben Dias, no Ferro, no Florentino ou no Nuno Tavares (mas sobre o lateral-esquerdo, já falaremos).
Agora, vou ser mister de sofá.
O jogo com o FC Porto foi embaraçoso a todos os níveis. A começar pelo facto de termos sido vulgarizados por uma equipa que ainda nem está consolidada e que vinha dos resultados que conhecemos. Uma vez mais ressuscitámos mortos.
O caso Nuno Tavares a lateral-direito é um bom exemplo do desmazelo com que se preparam as nossas épocas nos últimos tempos. Ora sabendo-se da ausência de André Almeida das primeiras partidas, e face à já longa ausência de um concorrente direto para AA, não teria sido esta a altura certa para tratar disso?
Cabe na cabeça de alguém ter um lateral-esquerdo com 19 anos, acabado de chegar à equipa principal, a fazer o corredor direito? Com todas as condicionantes físicas e técnicas óbvias para um canhoto naquela posição? Tavares bateu-se bem, em jogos mais suaves, mas em diversos lances ficou à vista de quem está minimamente atento que as dificuldades estão lá, que o jogo emperra ali porque a tendência do jogador é travar e procurar o pé esquerdo. Não está, obviamente, em causa o seu talento, está ali craque — mas na lateral oposta.
O problema "joelhos do Gabriel" é outro que me parece complexo. Este modelo de jogo depende muito (demasiado) das características do jogador brasileiro, pela capacidade de acrescentar agressividade defensiva e qualidade ofensiva. Sem Gedson nem David Tavares, não há uma solução que permita manter o estilo de jogo preconizado por Bruno Lage. Taarabt acrescenta qualidade de passe, mas a jogar em "dupla" é pouco fiável em termos defensivos. Para jogos menos exigentes desse ponto de vista pode ser uma opção válida como "8", em jogos de exigência elevada, não creio.
Este vazio na ligação meio-campo/ataque é ainda mais notório pela opção RDT - Seferovic. A insistência no espanhol como segundo avançado é, para mim, um tremendo equívoco [ainda que admita que pode ser apenas um caso de falta de química entre RDT e o suíço].
Parece-me que, apesar da capacidade técnica de RDT, se nota claramente (até na sua expressão corporal) que não se sente confortável naqueles terrenos — por se tratar de um 9 clássico, que quer estar perto do golo, e onde pode efectivamente fazer a diferença.
Sobre Seferovic: reconheço-lhe muitos méritos. Essencialmente as movimentações inteligentes e a capacidade de ser a primeira linha de defesa. Não obstante, acredito que dos três pontas-de-lança que dispomos, o suíço acabará por ver o seu lugar ameaçado, assim Lage queira ver RDT na frente ou acredite em Vinicius (eu acredito muito neste brasileiro, muito mesmo).
Sobre Bruno Lage: pela primeira vez, vi-o aos papéis durante um jogo. As substituições e o desnorte da equipa trouxeram-me memórias do reinado de Rui Vitória. Obviamente que tem todo o crédito, mas urge trabalhar alternativas tácticas para diferentes oponentes, e de preferência não explicar tão minuciosamente todas as suas ideias em conferências de imprensa. É fixe, mas calma.
Isso e saber dizer a quem manda: epá preciso disto, disto e disto, porque senão não ganho isto, isto e aquilo. Porque, segundo foi amplamente repetido pelo Presi: "dinheiro não é problema"."
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