Últimas indefectivações

quinta-feira, 17 de abril de 2025

O nosso Grito

Graves erros de arbitragem em debate na BTV


Benfica: quem diria


"Ninguém diria. De uma goleada histórica num clássico fora de portas, a uma desilusão caseira, poucos dias passados. A tendência no rescaldo destes fenómenos é culpar a eventual euforia que resulta de uma vitória desejada e marcante, para um soluço seguinte, frente a um adversário mais modesto e cujas principais guerras são mesmo outras. Mas não me pareceu o caso. A entrada do Benfica foi forte, como se impunha, empurrada pelo ambiente positivo que chegava das bancadas. Muitos remates, mas novamente pouco acerto, que foi retardando o golo e segurou a boa estrutura visitante. Os minutos corriam e a ansiedade era visível e crescente. A impaciência da equipa percebia-se.
Do outro lado, um adversário exemplarmente preparado, motivado e com poucas quebras durante o jogo. A equipa confirmou aquilo que Vasco Seabra tinha adiantado na antevisão: mostrar personalidade com bola e tentar complicar. Nem mais. Um Benfica já mais precipitado e em visível esforço, acabou por finalmente abrir a contagem, já no decurso da segunda parte. Kokçu correspondia com brilho finalizador ao trabalho artístico de Carreras e ao serviço elegante de Aursnes. O mais difícil parecia feito. Mas não.
Na sequência de um infeliz episódio, o empate chegaria para confundir o cenário. Mesmo com a revisão do lance, o árbitro decidiu manter o que o seu olho clínico julgava ter visto. Voltar atrás afetaria o ego do senhor? Uma decisão bizarra que contraria a imagem do lance: uma cabeça atingida, que afinal provoca um derrube (!). Alguém entende a lógica? Nessa altura, com pouco tempo pela frente, a urgência e o estado de alerta ganhavam nova dimensão. Mesmo com o segundo golo de Pavlidis, com a influência posicional de Belotti, o controlo da equipa nunca se restabeleceu. A respiração não deixou de ser ofegante até ao empate final, bem construído pelos visitantes em ataque rápido.
Vitória no Dragão e empate inesperado em plena Luz, já lá vão. O intervalo é razoável até ao próximo desafio. Tempo para recuperar, animar as tropas e preparar o novo embate. Contra: mesmo falhando o árbitro, fica o curto proveito dos muitos remates efetuados e o desperdício de duas vantagens contra o Arouca e em casa. A favor: estádio cheio, Araújo a tempo inteiro e Pavlidis outra vez.

Herdeiros
Custou mas foi — a sucessão convincente de Grimaldo. Carreras é agora o lateral residente, depois de algum tempo de emancipação e conquista dos adeptos mais desconfiados. No passado mês de março, o lateral do Benfica foi justamente eleito o melhor defesa da nossa Liga. Longe vão os tempos em que defesas eram defesas e em que, por exemplo, os guarda-redes brilhavam só pela segurança das suas mãos. Hoje, novos ventos sopram diferenças e tendências. Voltando aos laterais, os mais valorizados são agora aqueles que se distinguem pelo seu talento ofensivo. Capacidade defensiva, logo se vê.
Por isso, no atual futebol dito moderno, continuam a ver-se repetidamente erros defensivos que arrepiam e contrariam os mais básicos princípios de quem defende. Por intuição, pela intervenção do treinador ou pelas duas razões, Carreras consegue ser uma positiva exceção. A maneira como fecha dentro, ajudando o central esquerdo, a contenção que normalmente respeita e os apoios que o ajudam a reagir, fazem dele melhor defesa do que foi Grimaldo. Mais alto, mais jovem e mais rápido que o seu antecessor e com capacidade extra para central, que já provou. Grimaldo, por seu lado, tem clara vantagem na decisiva capacidade de assistir e rematar. Os números que acumula, época após época, fazem dele um dos laterais ofensivos mais influentes da atualidade

Como entrar
Do último clássico muito se disse e debateu, como é tradicional. Para além das sempre variadas opiniões, ficam também alguns dados estatísticos, uns mais estranhos ou mais interessantes que outros. Neste patamar numérico de rescaldo, figura o jogador que mais faltas cometeu no importante duelo: Gonçalo Borges, o veloz ala do FC Porto, foi surpreendentemente (?) o interveniente mais faltoso do jogo. Faz sentido que alguém que só jogou 26 minutos e ainda por cima avançado, seja o tal? Estranho ou nem por isso? Há coisas em futebol que não têm tanta lógica. Outras que, como esta, parecem não ter, mas que, pensando bem, têm alguma...
Estar no banco de suplentes provoca normalmente diferentes reações, dependendo da natureza mais tolerante ou impaciente do jogador. Um verdadeiro mundo de vários estados de espírito possíveis: revoltado, amuado e stressado ou animado, conformado e empenhado. Concluindo: a tensão acumulada no banco e o querer fazer muito em pouco tempo resulta, em muitos casos, na precipitação que leva às tais faltas e cartões."

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Benfica Podcast #556 - Final Stretch

Kanal - 45 minutos - S04E14

5 minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - Os cinco desafios do novo presidente da Liga

Terceiro Anel: “SOMOS O BENFICA” 🦅🔴🎙️

Zero: Negócio Mistério - S04E04 - Ibrahimovic no Barcelona

Zero: Senhoras - S05E27 - Entre o descalabro em Vigo e o penta do Benfica

Bernardo Silva e Rúben Neves: não esperem mais


"Uma vez que o futebol português não consegue reter talento, talvez não seja má ideia os clubes fazerem um esforço financeiro um pouco maior e um apelo ao coração para que jogadores da valia e qualidade de Bernardo Silva ou Rúben Neves voltem às origens para dar algum destaque à nossa Liga. Isso é mais fácil dizer (ou escrever, na circunstância) do que concretizar, mas são dois exemplos de futebolistas que saíram com o claro desejo de regressar. Nunca o esconderam ao longo dos anos em que, legitimamente, engordaram as contas bancárias. Cada cêntimo que ganharam foi por mérito, talento e sacrifício.
A ligação aos clubes que os projetaram faz parte de um certo romance que o futebol perdeu quando se globalizou, ou, dito de outra forma, quando os magnatas passaram a mandar em clubes e Ligas que no plano desportivo e financeiro já eram atraentes. Sim, também estou a falar da Arábia Saudita. Um desfile de craques, muitos deles longe de estarem em final de carreira, que criaram um efeito mediático a uma escala incrível, colocando essa parte do mundo no mapa das televisões. Só mesmo pelo coração Bernardo Silva ou Rúben Neves podem voltar, quando ambos são ainda unidades plenas de vitalidade nos seus clubes e na Seleção Nacional.
Quanto mais adiarem o regresso, menos possibilidades terão de cumprir a promessa de não fazer da nossa Liga um ponto de repouso para terminar as carreiras. Não é isso que se pretende, ainda que Portugal tenha ficado muito grato a Pepe quando decidiu voltar ao FC Porto e terminar o seu ciclo na Seleção Nacional com níveis competitivos que deixaram saudades."

Rabona: United’s Onana situation is crazy and causing a MASSIVE dilemma

O impacto das estratégias comerciais nos equipamentos desportivos


"Uma das discussões mais emotivas sobre futebol prende-se com a evolução do futebol enquanto desporto, em contraste com o futebol como negócio.
Dentro da lógica do futebol-negócio, sobressai, desde logo, a ideia da identidade de um clube de futebol, que entendo ir muito além dos resultados em campo ou do número de títulos conquistados.
A identidade de um clube está profundamente enraizada na sua história, nos seus valores fundacionais, nos seus adeptos e, inevitavelmente, na sua imagem visual. No entanto, nos tempos mais recentes, esta identidade tem sido constantemente posta à prova por um fenómeno cada vez mais notório: a incessante alteração dos equipamentos desportivos a cada época desportiva, impulsionada unicamente por uma lógica comercial.
Os clubes têm o equipamento principal, dois ou três equipamentos alternativos, para além das edições especiais ou comemorativas, às quais se somam, ainda, edições especiais de colaboração com outras marcas não ligadas ao desporto.
Todos os anos, os principais clubes europeus e mundiais apresentam novos equipamentos, muitas vezes afastando-se significativamente das cores e dos designs que historicamente os caracterizam.
Esta mudança frequente não é um acaso, mas antes um reflexo de um mercado altamente lucrativo. As marcas desportivas, que celebram contratos milionários com os clubes, impõem a necessidade de uma renovação constante dos equipamentos para estimular a venda de merchandising.
Os adeptos, tomados por uma paixão inabalável pelos seus emblemas, são frequentemente levados a adquirir as novas camisolas, contribuindo assim para a perpetuação deste ciclo comercial. Para além dos equipamentos de jogo, também os equipamentos de treino são já alvo de renovação permanente.
No entanto, se olharmos para os clubes que são patrocinados pelas maiores marcas desportivas, vemos que, ultimamente, os designs variam muito pouco de equipa para equipa. Não raras vezes, o que marca a diferença é somente o logótipo dos patrocinadores na frente e nas mangas das camisolas.
Posto isto, uma questão fundamental impõe-se: até que ponto esta estratégia pode acabar por comprometer a identidade de um clube?
Quando um clube que historicamente tem uma paleta de cores bem definida passa a adotar equipamentos alternativos em tons completamente diferentes, não estará a fragilizar a sua própria imagem junto do público e dos seus adeptos?
A camisola de um clube não é apenas um pedaço de tecido; é um símbolo que une gerações, que carrega memórias e que reforça a identidade coletiva de toda uma massa adepta.
A perda de identidade visual pode ter consequências que transcendem a mera estranheza dos adeptos perante um novo equipamento. Num contexto de crescente globalização do futebol — e de entrada de novos investidores, grandes grupos económicos ou até mesmo Estados no capital social dos clubes — a descaracterização de um clube pode facilitar a sua alienação a entidades externas que não partilham dos valores nem da história da instituição. Se a identidade visual de um clube se tornar volátil e submissa às imposições comerciais, qual será o próximo passo? A mudança de nome, de emblema, de localização?
Não sou purista nem quero impor um qualquer saudosismo irracional ou um bloqueio à modernização do futebol. A evolução é necessária, mas não pode dar-se a qualquer custo. Os clubes devem tentar encontrar um equilíbrio entre a necessidade de gerar receitas e a preservação da sua identidade.
Isso pode passar, por exemplo, por garantir que os equipamentos principais mantêm coerência histórica, permitindo alguma criatividade apenas nas edições especiais/comemorativas. Mais importante ainda, os adeptos devem ter um papel ativo nesta discussão, pois são eles os verdadeiros guardiões da identidade dos clubes.
Se o futebol é realmente o jogo do povo, então a voz desse mesmo povo deve ser ouvida e respeitada. A tradição e a identidade de um clube não podem ser reféns de estratégias comerciais desenfreadas. Caso contrário, arriscamo-nos a transformar os clubes em meras franquias descartáveis, nas quais os adeptos deixam de se reconhecer e identificar. E quando isso acontece, o que resta do futebol que apaixonou gerações?"

Relatório de Atividades do TAD (III)


"Terminamos esta semana com a análise do relatório de atividades do Conselho de Arbitragem Desportiva, órgão do TAD, referente a 2024, bem como o relatório e contas do Conselho Diretivo do TAD, analisando, agora, a tipologia de casos que têm vindo a ser submetidos a esta instância.
A maioria das ações arbitrais foi interposta por pessoas coletivas, num total de 45, ou seja 63,4%, por pessoas singulares foram apresentadas 23 ações, representado 32,4%, sendo que três ações (aproximadamente 4%) foram apresentadas conjuntamente por pessoas singulares e coletivas, mantendo o padrão da estratificação face a anos anteriores.
A atividade arbitral envolveu diversas modalidades desportivas, com o futebol, nas suas várias disciplinas, seja no âmbito dos poderes de regulamentação, organização, direção, disciplina ou relações económicas e laborais a representar aproximadamente 84,5% do universo dos litígios submetidos à jurisdição do TAD.
Em 2024 não se registou qualquer solicitação do Serviço de Consulta, apesar de vários agentes e entidades terem pretendido a emissão de pareceres, pretensão inviabilizada por não terem enquadramento no rol a que se refere o artigo 33.º, n.º 1 da Lei do TAD. Também não deu entrada qualquer pedido no âmbito do Serviço de Mediação.
Confirmando a tendência dos últimos anos, verificou-se predomínio do uso de meios eletrónicos no relacionamento com o TAD, tendo sido só recebidos processos em suporte físico do Tribunal Central Administrativo Sul no quadro dos recursos das decisões arbitrais via artigo 8.º da Lei do TAD, cimentando a lógica de desmaterializar, automatizar e desintermediar."

Eu vi Mourinho no pelado do Avenida


"Vi-o jogar de chuteiras calçadas no duro pelado do Avenida. Eu era um dos alucinados que, de uma forma quase ritualista, se divertia com outros «artistas» a ver os jogos das reservas do Rio Ave, uma cena pré-Liga dos Últimos, mas próxima na sua excentricidade existencial.
O mítico Campo da Avenida não se limita a uma era a que posso chamar de Mourinho(s). Passa, por exemplo, pela recordação da célebre invasão de campo numa tarde em que o adversário era o Aliados de Lordelo. Ou pela emoção de uma incrível subida à principal competição do futebol português, após uma liguilha que ficará para sempre na minha memória.
Tantos e tantos momentos de Realismo Mágico à moda de Jorge Luís Borges.
Mas voltemos a Mourinho. Quem diria que o jovem que acompanhava o seu Pai e Mister desse Rio Ave - era comum vê-los no Ramon, restaurante hoje encerrado, mas em cujas paredes se encontram muitos segredos do Futebol Nacional dessa era - haveria de chegar onde chegou?
As tertúlias organizadas por João Malheiro poderiam acontecer durante vários dias e noites. São muitas as histórias, mas o foco desta edição da Oitava é mesmo a fabulosa matéria do The Daily Telegraph intitulada «We are still the special ones» que juntou 20 anos mais tarde Terry, Lampard e o Special One, evocando o primeiro título do meu clube britânico, após cinco décadas sem vencer.
São muitas as cenas que o trio recorda: Mourinho lembra as conversas com Abramovich e o então todo poderoso Peter Kenyon. E um pormenor delicioso: revela ter estado em Stamford Bridge, já finalista com o FC Porto em 2004, a espiar o Chelsea-Mónaco e levar com uma «entrada de carrinho».
Esse primeiro contacto com um fã não correu bem. O homem deu-lhe as «boas vindas» com um sonoro «não o queremos aqui, gostamos de Ranieri!».
A pré-época em Seattle é recordada por Lampard e os primeiros «mind games, métodos e dons de adivinho» - que eram no fundo o exaustivo estudo científico do adversário - deixaram o Balneário desde logo rendido aos métodos completamente desconhecidos pelo plantel.
Terry recorda as mensagens coladas nas paredes e em particular um jogo com o Bolton, onde Mourinho define desde logo o Título.
Uma outra memória, o jogo com o Celtic em Los Angeles. Aí, Mourinho definiu sem dúvidas Terry como o seu capitão e Lampard como maestro e vice-capitão, obrigando o central a um discurso de balneário, o seu primeiro.
Rui Faria não é esquecido neste tsunami de memórias, que inclui um treino onde as crianças dos jogadores participaram livremente, criando uma ideia de família que seria simbolizada pela forma como a vitória sobre o Blackburn foi celebrada.
Petr Cech defendeu um penálti, Robben sofreu uma fratura. Mourinho recorda que se fosse hoje, com os Football Babies (explica ao jornalista Matt Law que se refere a jogadores, árbitros e VAR ), esse jogo teria terminado com sete jogadores do Blackburn.
No final, Mourinho mandou os seus «Gladiadores» darem uma volta ao campo em tronco nu (nem todos o fizeram) para mostrarem o físico e simbolizarem a Mind frame do seu Chelsea num terreno enlameado e com uma arbitragem que permitiu uma dureza inaudita.
Mourinho, Terry e Lampard contam outras histórias nesta espantosa matéria do Daily Telegraph, mas o apito final pertenceu a Terry que anunciou a todo o volume: «Ele é mesmo Especial!»"

Excelência Organizativa e um Investimento de Retorno Incalculável


"A Federação de Patinagem de Portugal (FPP) tem demonstrado uma capacidade organizativa de excelência, tornando o país num palco privilegiado para grandes competições internacionais. Nos últimos quatro anos, Portugal recebeu eventos como a Taça da Europa (2021), as World Series (2022), o Europeu de Show e Precisão (2023) e o Campeonato da Europa de Patinagem Artística (2024), consolidando a sua posição de destaque na modalidade.
Além da patinagem artística, o país também foi anfitrião de importantes competições noutras disciplinas. Em 2021, organizou o Campeonato da Europa de Seniores de Hóquei em Patins, tanto no setor feminino, como masculino, bem como os Campeonatos da Europa de Sub-19 e Sub-17 masculinos. No mesmo ano, a patinagem de velocidade teve o Campeonato da Europa de Juvenis, Juniores e Seniores em solo português, reforçando o compromisso do país com o desenvolvimento da patinagem em todas as suas vertentes.
O impacto destas competições vai muito além do domínio desportivo. A nível económico, o retorno gerado supera largamente os custos envolvidos, dinamizando setores como a hotelaria, a restauração e o comércio local. Cada evento atrai milhares de pessoas, que movimentam as cidades anfitriãs e contribuem para o crescimento regional. Paralelamente, a exposição mediática fortalece a imagem de Portugal como um destino de excelência para o desporto e para o turismo, posicionando-nos como uma referência internacional na organização de eventos da patinagem.
A qualidade da organização tem sido amplamente reconhecida, refletindo a experiência e competência da FPP. Portugal assume-se como um verdadeiro embaixador do bem receber, garantindo que cada evento é mais do que uma competição, mas sim uma oportunidade para promover a modalidade e o país. A aposta nestes eventos não deve ser vista como um custo, mas como um investimento estratégico, cujos benefícios são incalculáveis. A excelência dos nossos atletas, aliada à capacidade organizativa demonstrada, garante um futuro promissor para a patinagem portuguesa."

Esports World Cup: uma Miragem de 70 milhões


"A manchete ecoou por todo o mundo dos esports como um trovão: 70 milhões de dólares em prémios para a Esports World Cup. A maior competição de clubes de esports de todos os tempos, prometendo revolucionar o cenário competitivo. No entanto, por detrás do brilho ofuscante deste montante astronómico, esconde-se uma estratégia falaciosa que, em vez de nutrir a base do ecossistema, corre o risco de criar um fosso intransponível e insustentável.
Esta injeção massiva de capital concentra-se, de forma quase exclusiva, no pináculo da pirâmide competitiva: o 1% dos clubes e atletas profissionais que já detêm a maior parte dos recursos. Enquanto a promessa de riqueza extrema paira sobre estes poucos eleitos, a vasta maioria dos clubes amadores e semi-profissionais, os verdadeiros alicerces do desenvolvimento dos esports, permanece na sombra, sem qualquer perspetiva real de aceder a esta torrente de dinheiro.
Estamos a assistir à criação de elites, um modelo que dificilmente se concilia com os valores de um ecossistema desportivo saudável e vibrante. Como poderão os talentos emergentes, os clubes que dedicam tempo e esforço a formar novos jogadores, competir num cenário onde a disparidade de recursos é tão gritante? A Esports World Cup, com a sua concentração de prémios no topo, corre o risco de asfixiar o crescimento orgânico e a diversidade competitiva que sempre caracterizaram os esports.
Mesmo para os clubes de topo, esta dependência de uma única competição de proporções gigantescas acarreta riscos significativos a longo prazo. O desporto, intrinsecamente, é incerto. Vitórias e derrotas fazem parte do seu ADN. Hoje, um clube pode ostentar uma constelação de talentos e arrecadar milhões; amanhã, uma má fase, mudanças de jogadores ou a ascensão de um rival podem inverter a situação. Se o modelo financeiro de um clube se baseia quase exclusivamente no sucesso nesta única competição, a sua queda do sistema de acesso pode significar a sua ruína, tornando a recuperação financeira uma miragem distante. Estamos, perigosamente, a replicar os erros da Liga dos Campeões no futebol, onde a concentração de riqueza nos poucos da frente ameaça a sustentabilidade do futebol como um todo.

Um Desenvolvimento Desequilibrado: o foco exclusivo na Arábia Saudita
Como já alertámos em artigos anteriores, este investimento aparentemente colossal no ecossistema global dos esports revela-se, sob um olhar mais atento, um projeto de desenvolvimento nacional em larga escala, centrado num único país: a Arábia Saudita. Todo o investimento em infraestruturas de ponta, em programas de formação e na acumulação de conhecimento especializado, todo o valor que está a ser gerado, está a ser concentrado num único território.
À medida que mais e mais clubes se tornam dependentes, senão totalmente, desta competição financiada pela Arábia Saudita (uma dependência que para muitos já é uma realidade), surgem questões prementes sobre a integridade desportiva e o bem-estar a longo prazo dos atletas e clubes. Que garantias temos de que a verdade desportiva será sempre a prioridade máxima? Como assegurar que o apoio aos atletas e clubes não se torne refém de interesses geopolíticos ou económicos de um único país?
A centralização de poder e recursos desta magnitude levanta sérias dúvidas sobre a sustentabilidade e a equidade do ecossistema global dos esports. Ao invés de um crescimento orgânico e distribuído, corremos o risco de criar um sistema onde o destino de grande parte do cenário competitivo está umbilicalmente ligado às decisões e prioridades de uma única nação.

A urgência de estratégias nacionais e continentais robustas
A verdadeira solução para um ecossistema de esports próspero e resiliente reside no desenvolvimento de estratégias desportivas independentes e autónomas em cada país e a nível continental. É imperativo investir na criação de competições locais, regionais e nacionais fortes, que sirvam de base para o desenvolvimento de talentos e clubes. Estas estruturas de base garantem uma maior diversidade competitiva, oferecem oportunidades a um leque mais vasto de participantes e promovem um crescimento orgânico e sustentável.
A dependência excessiva de uma única competição global, por mais lucrativa que pareça a curto prazo, é um erro estratégico com potenciais consequências devastadoras para a saúde a longo prazo dos esports. A Europa, com a sua rica história de inovação e os seus talentosos atletas, tem a responsabilidade de trilhar o seu próprio caminho, investindo nas suas próprias infraestruturas, nos seus próprios talentos e nas suas próprias competições. Só assim poderemos garantir um futuro vibrante e equitativo para os esports, onde o sucesso seja fruto do mérito desportivo e do investimento na base, e não da dependência de um único e potencialmente instável pilar financeiro."