"Para Portugal, os melhores Jogos Olímpicos foram os de Atenas. No primeiro dia, numa conjugação feliz de mérito e oportunidade, Sérgio Paulinho curou à nascença a habitual virose de medalhite, que costuma inocular pelo orgulho extremoso na passeata da bandeira na Cerimónia de Abertura e irromper em forma de delírios lancinantes de quem não tem a mínima noção da realidade desportiva nacional e internacional, cinco ou seis dias depois, quando se avoluma a contagem de “deceções”, “frustrações” e “desilusões” e a de outras tantas medalhas “falhadas” por um grupo de “privilegiados” que, afinal, ninguém conhecia. Sem uma medalha na primeira semana, antes do início do Atletismo, os nossos proto-heróis olímpicos transformam-se em vergonha nacional – e adeus até daqui a quatro anos.
Os Jogos de Londres coincidiram com as férias do futebol e os portugueses foram obrigados a descobrir, num misto de espanto e ignorância, que há compatriotas capazes de jogar pingue-pongue, pedalar, velejar, remar, pagaiar ou atirar a um nível superior ao que, habitualmente, a maior parte das estrelas da bola praticam o seu desporto, dito Rei.
De quatro em quatro anos, descobrem que cerca de 80 jovens garantiram, por vias insondáveis, o direito a estarem presentes na maior competição, passando à margem das polémicas mediáticas, das más arbitragens ou da desorganização nacional. Em torno do desporto não há debates televisivos por painéis de entendidos, chicotadas psicológicas de treinadores, dirigentes sob escutas policiais ou orçamentos obscenos.
Mas a admiração e respeito que todos os atletas merecem não invalidam a necessidade de reorganizar o movimento olímpico, otimizando os recursos humanos, de enorme valia, que o país já conseguiu gerar e que estão subaproveitados."