Últimas indefectivações

segunda-feira, 26 de março de 2012

Heróis da Bancada

"Faça sol ou faça chuva, em casa ou fora dela, no País ou no estrangeiro, nos bons e maus momentos, há quem nunca falte à chamada, e esteja sempre com a nossa equipa, dispensando-lhe um apoio pleno de generosidade. São os 'No Name Boys', que fazem já parte integrante da história e da cultura benfiquistas.

Sem eles, os jogos não teriam a mesma beleza. Ao filme que os artistas protagonizam no relvado, eles dão a banda sonora adequada, com a voz que empurra a equipa para as vitórias e acrescenta uma estética muito própria ao espectáculo. Ao contrário de quem afirma ter deixado de ir ao Futebol por causa das claques, eu digo que, sem elas - em particular sem esta -, talvez até lá fosse menos vezes, pois já não dispenso o colorido, visual e sonoro, que só a sua presença garante.

Desconheço a origem do nome que escolheram, e admito que a sua semântica se preste a equívocos. O que sei, porque vejo, é que os 'NN' são uma claque multi-racial, bastante heterogénea, não se notando entre os seus melhores qualquer predominância étnica, social, política ou económica de qualquer grupo sobre os restantes, identificando-se apenas um forte vínculo entre todos: uma paixão extrema e radical pelo Benfica.

Enquanto noutras claques, de outros clubes, vão emergindo figuras sinistras, que se pavoneiam pela Comunicação Social (até escrevem livros), e daí fazem trampolim para um protagonismo pessoal que de outra forma jamais teriam, nos 'No Name' pouca gente sabe quem são os líderes, ou os membros mais proeminentes. Enquanto outras claques, de outros clubes, funcionam tantas vezes como grupos de pressão sobre dirigentes eleitos (até escolhem e demitem treinadores), os 'No Name', pese embora alguns excessos do passado, remetem-se ao papel que tão bem sabem desempenhar, e no qual são inigualáveis: o apoio à equipa.

Se o Benfica é o maior Clube português, pode também dizer-se que a sua principal claque, particularmente nos últimos anos, tem sabido estar à altura da dimensão do emblema que apoia."


Luís Fialho, in O Benfica

Joana Campeã



A nossa canoísta Joana Vasconcelos tornou-se no último fim-de-semana Campeã Nacional de Fundo... Esta não é a especialidade da Joana, acabou por ser uma surpresa muito agradável...

Objectivamente (Final Champions)

"Fixem bem esta data: 20 de Março de 2012. O orgulho é enorme e imensa é, também, a nossa gratidão. E há que referir, desde já, aqueles que em boa hora ultrapassaram inúmeras dificuldades para realizar este difícil projecto. A equipa de Luis Filipe Vieira, Manuel Vilarinho e... o destemido vice-presidente, Mário Dias. Todos os dedicados benfiquistas que acompanharam de perto, sabem quantos «impecilhos» foram ultrapassados para concretizar o sonho! Estes, com alguns outros que lideraram o processo, merecem nestas horas o nosso agradecimento, porque foi tremendo o esforço e o risco (até pessoal) de alguns dos grandes benfiquistas que aqui referi.

Por isso a decisão da UEFA ordenando a escolha do nosso mágico Estádio da Luz para a final da Liga dos Campeões (Champions League) de 2014, é uma decisão justa e que nos enche de orgulho. Está na linha da escolha dos magníficos palcos de Futebol. Na presente época é o Alianz Arena, em Munique (Alemanha) e no próximo ano o Novo Wembley, em Londres, Inglaterra.

A decisão foi tomada na reunião do Comité Executivo da Confederação Europeia da UEFA, em Istambul, na Turquia.

Contas feitas, e não olvidando a preferência mais que óbvia sobre a qual recaiu a disputa final do Euro'2004, é a segunda vez que Lisboa irá receber um evento desportivo deste gabarito, depois do Estádio Nacional de todos os portugueses ter visto, na época desportiva de 1966/67, o Celtic de Glasgow vencer o Inter de Milão.

Se, hodiernamente, o Sport Lisboa e Benfica está no topo das instituições internacionalmente mais reconhecidas pelas suas conquistas desportivas e pela contínua e incessante dedicação dos seus adeptos espalhados por todo o Mundo, vem juntar-se agora mais um motivo à colecta, colocando o nosso Clube, a nível nacional, na vanguarda no que respeita à organização do evento desportivo europeu mais visto logo após o Europeu de Selecções (EURO)."


João Diogo, in O Benfica

Limpinho

"No final do embate, Jorge Jesus, no seu estilo popular, disse o que havia a dizer: 'Foi limpinho'. E foi mesmo. Quando os jogos com o FC Porto são 'limpinhos' a música é outra. É mais vermelha do que azul. E esta semana, o vermelho da música competitiva até podia ser mais carregado mais altissonante. Foi por um triz que a equipa do Norte escapou à goleada.

Jorge Jesus também disse que o Benfica era melhor do que o FC Porto. Disse e disse bem. Este Benfica é mesmo superior ao seu principal antagonista. Houvesse sempre jogos 'limpinhos' e a pauta classificativa na Liga tinha, nesta altura, outro escalonamento. O Benfica seria líder, sem quaisquer reservas.

Para não variar, responsáveis portistas viram o que mais ninguém viu. Tiveram o desplante de verberar o desempenho da equipa de arbitragem. Quanta desfaçatez! Como é possível que os grandes beneficiados dos últimos anos no Futebol indígena apresentem queixas.

No deve e haver das competições nacionais, o desequilíbrio é uma brutalidade. De que se queixa o FC Porto? Preparava-se era para comemorar mais um triunfo na Luz e atribuir, finalmente, importância à Taça da Liga, prova que dizem ser menor, pela elementar razão de que nunca a venceram. Já agora, a Supertaça, na qual são recordistas, é no plano competitivo mais importante do que a Taça da Liga? Por que razão nenhum dirigente do FC Porto alguma vez o afirmou?

Este jogo, no anfiteatro da Luz, provou à sociedade que o Benfica tem mais futebol do que o FC Porto. Venham mais jogos 'limpinhos' e teremos a confirmação. Ainda assim, uma monitória. Sem embargo do triunfo, custou ver o FC Porto marcar tantos golos 'limpinhos' quantos aqueles que apontou no jogo do Campeonato. Dá para entender, não dá?..."


João Malheiro, in O Benfica

Somos milhões

"Gostei de ouvir o treinador do Benfica declarar que não se cala. E gostei tanto mais quando Jorge Jesus invocou o 25 de Abril em defesa do exercício da liberdade de expressão. Pois agora, que vivemos num regime no qual é legítimo criticar as instituições, o Presidente da República, o Governo, as oposições, como haveria de ser possível que a corporação da arbitragem do Futebol, sem qualquer sombra de legitimidade e de escrutínio democrático, se sobrepusesse ao exercício da Constituição da República?

Para além dessa questão de princípio, a determinação de Jorge Jesus é particularmente oportuna. O Benfica perdeu uma preciosa vantagem pontual na liderança do Campeonato porque se ressentiu do desgaste de um jogo em condições terríveis: a temperatura de 15 graus negativos, o terreno que não passava de um batatal e a brutalidade impune de alguns adversários.

Mas não foi só esse desgaste que roubou pontos ao Benfica. Foram também os penálties por marcar em Guimarães e em Coimbra, foi o duplo fora-de-jogo de onde saiu a cabeçada para o golo da vitória, martelada, do jogo entre os dois primeiros da classificação. Isso para não falar de erros que têm levado ao colo adversários do Benfica. Mas se os árbitros reconhecem que errar é humano, com que direito querem impor o silêncio sobre os seus erros?

É de prever que a recta final da temporada coincida com uma multiplicação de casos e de erros. Por isso, em defesa da verdade desportiva e no exercício constitucional da Liberdade, eu também não me calo. Já somos dois? Não. Somos milhões.

Nota: É em todas as modalidades e em todos os escalões. Se vissem a arbitragem miserável que eu vi num jogo de Basquetebol entre miúdos Sub-16!"


João Paulo Guerra, in O Benfica

Um Campeão bem simples

"1. O nosso Atletismo (e o Clube, claro) teve um domingo com sensações bem díspares. Foi a triste notícia (embora, infelizmente, esperada) da morte de António Leitão, o nosso primeiro medalhado olímpico e um homem que, apesar das partidas que a saúde lhe pregou, esteve sempre disponível para o Clube, com uma simplicidade e simpatia notáveis.

Foram por outro lado, os recordes nacionais históricos de Marco Fortes e do bem jovem Tiago Aperta na Taça da Europa de Lançamentos. É a vida. Enquanto uns nos deixam, outros vão avançando e progredindo...

2. Foi certamente o último jogo 'calmo' da época. A vitória sobre o Beira-Mar nunca esteve em dúvida e até deu para algum descanso. Terça-feira passada, frente ao FC Porto, já terá sido 'a doer' (escrevo antes do jogo) e, daqui para a frente, o ritmo será terrível. FC Porto e Sp. Braga não têm os jogos europeus e os minhotos até poderão ter uma vantagem extra: irão a Alvalade na última jornada. E se ele for decisiva?...

3. O presidente da Liga de Clubes e vários presidentes, desde o Fiúza do Gil Vicente ao Bartolomeu do U. Leiria, continuam a querer avançar com a 'golpada' do alargamento da Liga a meio de uma época. A Federação já se opôs, vários elementos do Conselho Nacional do Desporto consideraram impraticável a decisão e a opinião pública está largamente contra. O Futebol Português não tem nem 14 clubes com capacidade para uma I Liga quando mais 18. E o que os dirigentes estão a arranjar é forma de abortar uma boa ideia que a todos servia: a presença de equipas B dos principais clubes na Liga de Honra. Era bom para os grandes, pois permitia-lhes rodar os jovens, e era bom para os pequenos, pois isso dava visibilidade à competição. Mas alguns desses pequenos clubes (não todos...) preferem a 'golpada'. Acabarão derrotados.

4. O presidente do Nacional, Rui Alves, vê sempre os jogos no banco da sua equipa. Desta vez, na recepção ao FC Porto, preferiu ficar na tribuna, ao lado do seu amigo Pinto da Costa. Estranho...

5. Pois é. A ida do FC Porto à Madeira apenas levou cerca de 2500 pessoas ao estádio. O Sp. Braga quis mobilizar os seus adeptos a irem ver o jogo em Vila da Feira, pediu 3500 bilhetes mas acabou por devolver 2500. Pois é. Não é grande quem quer..."


Arons de Carvalho, in O Benfica

Pau ao gato

"From: Domingos Amaral

To: Pinto da Costa

Caro Pinto da Costa

Quem será o senhor nesta história: a dona Xica ou o gato? A dona Xica, sabemos todos desde crianças, assustou-se. E o gato, também o sabemos todos desde tenra idade, deu um berro. Contudo, não percebi bem qual dos dois papéis lhe cabe a si. Para quem não está a perceber nada deste texto, eu passo a explicar. Esta semana, soube-se que um pai de uma creche da Ericeira se queixou da professora porque ela canta a célebre cantilena infantil “Atirei o pau ao gato”, adulterando um pouco a letra e incluindo pelo meio um “Viva o Benfica” totalmente inesperado (e até um pouco incompreensível, dado o contexto). Soube-se também que o queixoso pai era adepto do FC Porto e, no dia seguinte, de imediato a SAD do FC Porto emitiu um comunicado público protestando contra a ocorrência, e acusando certos professores infantis, ou mesmo o Ministério da Educação, de “fascismo do gosto”! Sim, leram bem, “fascismo do gosto”! Olaré, que pérola! Dá direito a entrada direta para o “Top do Ridículo” nacional. O FC Porto agora assusta-se, como a dona Xica, e dá um berro público, tal como o gato deu! Mas será o FC Porto a dona Xica ou será o gato? Sabemos, pela canção, que há um “eu” que atira o pau ao gato. Até aí, é fácil: trata-se da professora. Depois, sabemos que a dona Xica se assustou com o berro que o gato deu e é aqui que, por assim dizer, a porca torce o rabo. Tanto o pai queixoso como a SAD do FC Porto se assustaram e deram um berro público. São portanto, em simultâneo, dona Xica e gato. Ora isso torna as coisas extremamente difíceis de explicar às crianças. Por isso, daqui lhe peço um esclarecimento: o senhor é a dona Xica ou é o gato?"


TotoGomes

"Na década de 90, a adesão dos clubes ao Plano Mateus, com a Liga e a FPF atravessadas, a fim de regularizarem quase € 60 milhões de dívidas ao Fisco acumuladas até 1996, parecia ser uma tábua de salvação. Teve um imponderável: as verbas da exploração do Totobola, que foram “dadas em pagamento” ao Estado, não foram suficientes. Em 2004, o Estado fez uma revisão do acordo e das receitas consignadas. Não obstante, avançou para os tribunais com a execução da Liga e da FPF, como responsáveis solidários pelas dívidas dos clubes, para pagamento de cerca de € 20 milhões em falta para a 1.ª fase de avaliação da dívida (1998-2004). A situação não melhorou. E, em 2011, avançou novamente para os tribunais para executar os milhões que estão em falta para a 2.ª fase de avaliação da dívida (2004-2010). Nos tribunais, FPF e Liga esgrimem argumentos jurídicos válidos mas, de todo o modo, arriscados. Em 2012, começaram a chegar aos clubes os “ofícios” das Finanças para pagarem a parte que cada um deve originariamente no “bolo” total de mais de € 30 milhões em dívida no totonegócio. Os clubes discordam dos montantes, avançam com suspensões cautelares e alegam prescrições. Em suma, um imbróglio bem longe do fim.

Eis senão quando a FPF de Fernando Gomes negoceia com o Governo e se “oferece” para pagar a dívida dos clubes correspondente à fase 2004-2010: 13 milhões! Razão: “uma Federação ao serviço do futebol de Portugal”. Será?

Talvez seja. Mas se efetivamente é, conviria que Gomes explicasse aos clubes, nomeadamente aos profissionais, a sua noção de “serviço”. E desse, sem o biombo de uma deliberação da direção, algumas respostas: 1) Por que é que o seu “acordo” serve para receber do Estado € 1,3 milhões dos subsídios de deslocações às ilhas? 2) Por que é que serve ainda para Gomes receber indiscriminadamente quase € 2,3 milhões dos jogos sociais de 2011, que estão por ora retidos e dão crédito aos clubes? 3) Por que é que Gomes não ambiciona um acordo global, incluindo portanto a dívida apurada entre 1998 e 2004, período em que a responsabilidade atribuída pelo Fisco à FPF é de € 3 milhões e a responsabilidade da Liga é de… € 17 milhões? 4) Por que é que Gomes fica sem mais com as receitas futuras dos jogos sociais existentes, a que os clubes têm direito, em vez de estimular a posição dos clubes como detentores maioritários das receitas de “jogos” futuros, como as “apostas on-line”? 5) Por que é que Gomes está a debilitar a impugnação jurídica dos clubes e da Liga na execução fiscal do período 1998-2004, o que, em especial, projeta a impossibilidade futura de a Liga pagar a sua parte de € 17 milhões e abriria a porta à falência e extinção da Liga?

É para assuntos desta gravidade que servem as assembleias gerais da Liga. Para os clubes assumirem que vão pagar o que realmente devem. Para os clubes saberem todas as alternativas de que dispõem para acabar, em definitivo e em conjunto, com a dívida restante do Plano Mateus. Convoquem-se, pois, os clubes e chame-se Gomes à assembleia, para que responda àquelas perguntas, cara a cara. E sem a máscara que o levou até à FPF!"


O futuro

"Qual a inscrição de um clube na vida de um profissional? Como é que um clube pode ser de tal modo vivido por um profissional do futebol que chegue a cicatrizar-se, a inscrever-se, na sua vida?

Na vertigem dos tempos, na voragem do mercantilismo actual, parece que toda a ligação emocional está subjacente à melhoria do contrato, à comissão do intermediário e ao conselho interesseiro do empresário. Vive-se a emoção no “tempo que dura” e o “tempo que dura” é balizado pela alínea c) da adenda Y ao contrato X. Depois, há as excepções. São aqueles em quem a cicatriz se tornou visível para o exterior. Aqueles que percebem que a cicatriz da inscrição de um clube na sua vida acaba por transformá-los em referências simbólicas e colectivas. Ou seja, aqueles que sabem viver a sua profissão também pela emoção da pertença a algo que os transcende.

É, para todos nós, um enorme orgulho ver a carreira de Ryan Giggs cicatrizada no Manchester United ou a de Gerrard no Liverpool; ver como o River Plate respira o sonho de ver regressar o “nosso” Aimar; sabermos que o Aimar é nosso por adopção e do River por nascimento, da mesma forma que o Rui Costa “é” da Fiorentina por adopção e nosso por nascimento. Esta vitória da componente emocional sobre a racional é das maiores alegrias que o adepto pode vivenciar na sua relação com este desporto apaixonante.

Recentemente, surgiu a notícia de que a Fiorentina gostaria de poder contar com a ajuda do nosso Rui Costa. Percebo, e bem, esse interesse. É natural que em Florença se queira construir o futuro alicerçado em estrutura sólida. Perceberão também os da ‘società viola’ que nós, os da Luz, também contamos com ele para alicerçar o nosso futuro. E nós, Benfica, não podemos abdicar do futuro."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

O Azeiteiro-de-cabeça-d'unto

"O Azeiteiro-de-cabeça-d'unto acordou nessa manhã com uma ligeira indisposição gástrica que atribuiu ao facto de andar a abusar de caranguejos, santolas, lavagantes, percebes e burriés a todas as refeições. Olhou-se ao espelho e procurou debalde a marca das olheiras de uma noite mal dormida. O Criador, na sua infinita bondade, lançara-o no Mundo sem essa maçadora virtude da consciência que actua sobre os salafrádios como uns quartilhos de cafeína ou como a voz esganiçada e ininterrupta do velho grilo falante. O Azeiteiro-de cabeça-d'unto tinha por hábito por hábito levantar-se cedo. Tomar um fortificante pequeno-almoço de café com leite e fruta à discrição, que em sua casa nunca faltava fruta, e sair em peregrinação a centros comerciais antes de seguir para a sua diária visita ao dentista.

Pode-se dizer, com propriedade, que se tratava de um homem rico. Só para esbulhar meia-dúzia de pobres diabos que ainda caíam na asneira de confiar no aprumo da sua espinal medula, enfiara ao bolso qualquer coisa como 28 mil euros no curto espaço de dez meses, sem contar com as alcavalas dos subsídios e com as mordomias de umas viagens ao estrangeiro. O Azeiteiro-cabeça-d'unto não era homem de grandes desperdícios. Necessitava, está bem de ver, de alguns alqueires de banha de porco para alindar o seu crâneo helicóidal, assim a modos como que a deixar a cabeça tão gordurosa por fora como por dentro. Infelizmente para o seu sistema digestivo, o Azeiteiro-de-cabeça-d'unto foi acometido, nessa manhã de que falamos, de vómitos contínuos. Desconfiou ter ingerido algo de estragado: ou marisco, ou fruta... Ou mesmo leite azedo. Sentiu que tinha abusado, da mesma forma como muitos e muitos milhares sentiram que ele havia abusado deles. Enquanto a própria sociedade o vomitava, como se fora um produto estragado, o Azeiteiro-de-cabeça-d'unto vomitava-se a si própria. Quando finalmente ergueu a cabeça para o espelho, sentiu nojo. E vomitou-se outra vez. Mas a porcaria não saiu. Já lhe estava no sangue..."


Afonso de Melo, in O Benfica