Últimas indefectivações

domingo, 13 de julho de 2025

Comunicado


"Em face do recente acórdão do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, fica claro que a verdade desportiva foi gravemente adulterada na final da Taça de Portugal 2024/25.
O conteúdo da decisão confirma, de forma inequívoca, que os erros cometidos pelo VAR Tiago Martins e pelos AVAR Vasco Santos e Sérgio Jesus tiveram impacto direto no resultado da partida e colocaram em causa a integridade da competição.
Sem meias-palavras: esses erros privaram o Benfica de um título que era seu por mérito e desempenho estritamente desportivo.
Estes factos não podem ser relativizados, ignorados ou branqueados. O Sport Lisboa e Benfica exige a suspensão imediata dos quadros da arbitragem de todos os elementos envolvidos neste colossal erro de avaliação e julgamento.
Quem demonstra tamanha incompetência e falta de critério não pode continuar a intervir em jogos profissionais. A sua continuidade em funções seria um insulto ao futebol português e à sua credibilidade.
O Clube informa ainda que, com o apoio da sua equipa jurídica, está já a trabalhar noutras ações no âmbito da justiça desportiva, tanto em território nacional como internacional, para garantir que este caso não fica sem consequências exemplares.
O Sport Lisboa e Benfica tudo fará – dentro dos canais legais e institucionais – para defender os interesses do Clube, os princípios da competição e o respeito pelos seus adeptos.
A verdade desportiva não se contorna nem se arquiva. Defende-se, sem hesitações.
Em face do exposto, perante tudo o que sucedeu no final da época passada e o arranque de uma nova temporada, o Sport Lisboa e Benfica exige esclarecimentos urgentes e que se assumam responsabilidades.
Nesse sentido, o Clube dirige publicamente as seguintes questões às entidades que tutelam o futebol português:
- Para quando uma pronúncia pública por parte do Conselho de Arbitragem sobre os acontecimentos que marcaram a final da Taça de Portugal?
- Que consequências concretas retiram os responsáveis do futebol português face à gravidade deste caso?
- Que conclusões tira a Federação Portuguesa de Futebol de uma reforma da arbitragem apresentada como resposta à exigência de mudança, mas que se revela claramente insuficiente perante os desafios do futebol moderno?
- Para quando a divulgação pública dos áudios do VAR relativos à final da Taça de Portugal, formalmente requerida pelo Sport Lisboa e Benfica no passado dia 26 de maio?
- Haverá, de facto, consequências para erros que não se limitam à negligência, mas que podem revelar indícios de dolo?
O Sport Lisboa e Benfica continuará a exigir respostas, transparência e responsabilização. O silêncio e a inação não servem o futebol português. A verdade desportiva exige compromisso, coragem e consequências."

Noronha...

Obrigado, Orkun Kökçü!

Benfica e Besiktas: princípio de acordo por Kökcü


"Num comunicado enviado neste sábado, 12 de julho, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa que alcançou um princípio de acordo com o Besiktas, da Turquia, para o empréstimo, com opção de compra obrigatória, de Orkun Kökcü.
Leia aqui, na íntegra, o comunicado: "A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa que chegou a um princípio de acordo com o Besiktas para o empréstimo do jogador Orkun Kökcü durante a época desportiva 2025/26.
O referido princípio de acordo inclui a opção obrigatória de transferência a título definitivo dos direitos desportivos do jogador, pelo montante de € 25 000 000 (vinte cinco milhões de euros) acrescido de uma remuneração variável associada a objetivos, pelo que o valor global da transferência poderá atingir o montante de € 30 000 000 (trinta milhões de euros).
Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD
Lisboa, 12 de julho de 2025.""

Sou do tempo em que de Alvalade se liam coisas destas...

Dois meses depois:

Gyokeres não apareceu!! Como ficaram os lagartos?

Eleições no Benfica: querer não é poder


"Rui Costa foi um jogador de eleição, o que não quer dizer que seja um presidente ou um candidato para eleição. Sobre Vieira é difícil encontrar palavras certas para definir a vontade de poder

O lugar é apetecível, em face da dimensão nacional e internacional do emblema, do legado desportivo de largas décadas, da elevada implantação humana, com base de apoio pelas quatro partidas do Mundo, pela influência produzida junto de instâncias decisoras do futebol, em particular, e do desporto português, em geral, pela indesmentível projeção da cobertura mediática permanente e, como é lógico, pela condição de mega-empresa que o nome do Sport Lisboa e Benfica encerra, na sua gestão do dia-a-dia e nas suas valências mais salientes, como o futebol profissional.
Só neste longo parágrafo terei sublinhado a maioria dos aspetos que tornam a presidência do grande clube da Luz um alvo extraordinário e um objetivo de carreira para muitos adeptos que tenham, também, as devidas competências de gestão. Que, atenção, estão longe de ser as únicas requeridas para ocupar o lugar. Conhecimento do fenómeno desportivo, dos seus bastidores, capacidade de lobbying, noção integrada dos modelos a seguir e dos meios necessários para tornar uma empresa de dimensão muito apreciável numa máquina exemplar para todos os seus adeptos.
E não estou, evidentemente, a ater-me ao aspecto puramente resultadista, da mera soma de títulos ou troféus. Um clube com esta dimensão terá, fatalmente, de ser e de motivar muito mais do que isso. Terá de falar para dentro e para fora. A comunicação, hoje democratizada pelo fácil acesso e interação, e transversalizada pela rápida propagação e imediato conhecimento dos factos, com muitos mais fontes (é verdade de algumas menos fiáveis, mas compete a cada um, e em cada momento, separar o trigo do joio…), e com muito mais horizontes, obrigará sempre o titular do cargo mais alto da hierarquia encarnada a um cuidado redobrado e ao exercício de competências muito bem trabalhadas, em cada minuto e para cada decisão.
Rui Costa foi — já nesta página o escrevi — um jogador de eleição, o que não quer dizer que seja um presidente ou um candidato para eleição. O que foi como futebolista profissional confere-lhe ferramentas muito importantes (até porque andou pelo estrangeiro e tem obrigação de valorizar uma visão mais ampla, mais global e integrada do fenómeno futebolístico), mas o universo benfiquista veste-se de particularidades que Costa, tendo percebido enquanto atleta, não conseguiu, até agora, contornar em pleno enquanto líder.
Porém, reconheça-se ao atual número um da estrutura da Luz e do Seixal um atributo essencial: inultrapassável dedicação e benfiquismo, essa aura de que tanto se fala mas que, muito mais importante do que se explicar o que é, se deve demonstrar em cada ato, para que o adepto nele se reveja. E isto, obviamente, é válido para qualquer clube da dimensão do SLB, portanto, para qualquer emblema grande, português ou estrangeiro.
A ligação entre líder e adepto sente-se, por exemplo, no Real Madrid, com Florentino Perez a ultrapassar sucessivas dificuldades, falta de êxitos desportivos, problemas de tesouraria, algumas contratações falhadas, com uma excecional ligação aos adeptos, quase umbilical, o que o salva de convulsões internas à velocidade da luz. Nos clubes latinos, de resto, esta dependência é muito mais notória do que em emblemas de outras paragens europeias, como os blocos anglo-saxónico ou escandinavo, onde dificilmente identificamos, a uma distância razoável, o presidente ou o diretor geral de um clube de topo. Outras sensibilidades, outras personalidades…
Retornemos ao Benfica. Tempo de eleições é tempo de balanços. E, neste particular (também por força da lucidez e saúde democrática do emblema em causa), sempre surgem interessados na cadeira do poder. Que, como sublinhei atrás, no caso vertente, é mesmo um assento poderoso. Alguns nomes recorrentes, como Noronha Lopes, alguns jovens credenciados mas a quem, talvez, falte alguma maturidade no dirigismo para assumir a posição, e outros dois nomes que, por razões distintas, não surpreendem: o próprio Rui Costa e Luís Filipe Vieira, outrora aliados do mesmo lado da barricada, agora queridos inimigos pretendentes ao mesmo lugar.
Escrevi-o há semanas: creio que Rui Costa deveria afastar-se. A recente investida contra tudo e contra todos, após a final da Taça de Portugal, visando arbitragens, dirigentes, decisores e regulamentos, e a ainda mais recente posição de força em relação à muito necessária (imprescindível, mesmo) centralização dos direitos televisivos revelam um dirigente demasiado acossado no espaço e no tempo, sabendo que este escasseia até ao ato eleitoral de outubro e apostado num populismo que, definitivamente, não me parece a solução para um Benfica que se pretende, na geografia do futebol português, parceiro e não opositor, a procurar soluções e a não ser parte de problemas.
Mesmo assim, Costa continua com base de apoio entre os associados, e será sempre candidato a levar em consideração, quanto mais não seja pelo inegável esforço dos últimos anos.
Já quanto a Luís Filipe Vieira, parece-me difícil, por agora, encontrar palavras certas para definir a indomável vontade de poder, de voltar a dirigir, sobretudo depois do modo como saiu do clube.
A ele e às eleições na Luz voltarei após a silly season, tendo embora a certeza de que ela produzirá, como sempre, algumas gargalhadas e muitas surpresas…

Cartão branco
Já tinha escrito História, ao ser a primeira senhora a dirigir um jogo da principal liga portuguesa de futebol.Mas Catarina Campos vai chegar mais longe, e só um problema físico a impedirá de estar presente na fase de eliminação direta do Euro 2025, na Suíça. Campos garante que a arbitragem portuguesa, tão vilipendiada entre portas, continua a merecer confiança, elogios e oportunidades quando sujeita a verdadeiras provas de fogo no estrangeiro.

Cartão vermelho
Odeio funerais. Como cidadão, não vou, não quero e talvez só seja mesmo obrigado a ir ao meu...Cristiano Ronaldo tem toda a razão, neste aspeto. Não há local menos aconselhável que um velório ou um cemitério, sobretudo se a despedida for a de alguém amigo, com quem se tem relação próxima. Porém, o futebolista que é capitão da seleção portuguesa não esta autorizado a pensar apenas com os seus botões. Tem uma acessória responsabilidade solidária que não se limita ao balneário ou ao festejo gutural e incisivo quando marca golos e persegue recordes.
O capitão da Seleção tem de estar no funeral do internacional e companheiro de Seleção Nacional Diogo Jota. Não há nenhuma justificação plausível para a ausência, e é ainda menos razoável a razão entretanto aventada. Porque CR7 acabou por estar mais nas bocas do mundo pela ausência do que decerto estaria pela presença. Não foi digno da braçadeira."

Está tudo nas mãos dos clubes


"Centralizar é justo. Centralizar sem que o produto melhore, é tonto. Pensar que a internacionalização é possível com o que temos para oferecer, é viver numa realidade virtual. Os clubes dirão se o futebol português tem um grande futuro atrás de si...

No dia 25 de fevereiro de 2021, o Governo de António Costa decidiu que a venda dos direitos televisivos dos jogos dos clubes do futebol profissional tinha de ser feita de forma centralizada, e deu um prazo, até 30 de junho de 2026, para ser apresentado (responsabilidade da FPF e da Liga) um modelo, aprovado pela Autoridade da Concorrência, que deverá entrar em vigor a partir da época de 2028. Se tal não suceder no prazo previsto, será o Governo, (presumivelmente de Luís Montenegro), a decidir sobre o novo formato de distribuição do dinheiro televisivo no futebol profissional.
Esta intervenção musculada do executivo socialista terá sido uma forma enviesada, e provavelmente destinada ao fracasso, de tentativa de correção de uma distorção gritante na distribuição do dinheiro: em Portugal a diferença entre quem recebe mais e quem recebe menos na I Liga é de 15 vezes, enquanto que em Espanha e Itália é de 3, na Alemanha de 2,5 e em Inglaterra de 1,3.

OS 300 MILHÕES
Em nome de uma maior competitividade (apesar de, ao contrário do que sucede nos outros países, entre nós haver três clubes que absorvem mais de 90 por cento do mercado), o princípio da centralização é justo e adequado, mas será estultícia sonhar que terá condições (sociais, políticas e económicas) de ser atingindo através de uma imposição legal que estabeleça a divisão do vil metal.
Mas este processo, depois de ter nascido torto por intervenção governamental, partiu do pressuposto, que nunca foi cabalmente provado que, qual pedra filosofal, a centralização transformaria 185 milhões de euros (valor atual) em 300 milhões (valor previsto para 2028). Ora o que tem sucedido, um pouco por toda a parte, é uma estagnação, e em alguns casos recuo, das verbas disponíveis para pagar os direitos televisivos dos jogos. Como honrar, então a promessa feita pelo Governo e pela Liga, de que nenhum clube, após a centralização, receberia um euro que fosse a menos, relativamente ao que tem no modelo atual? Esta é uma verdadeira quadratura do círculo, uma bota que o governo terá de descalçar a partir de 30 de junho de 2026 (se não houver acordo entre os clubes, e tudo aponta nesse sentido), podendo sempre refugiar-se no argumento da alteração de condições, que justificaria um novo desenho legal.
Mas como se chegou ao número mágico dos 300 milhões, que daria, à imagem do que sucedeu em Espanha, para que os que recebem mais passassem a receber um pouquinho mais, e os restante vissem entrar nos cofres muito mais? Francamente, nunca houve uma explicação convincente, agravando-se exponencialmente a situação com a recessão no mercado televisivo. Parece hoje claro, para a Liga e para os operadores, que numa visão benévola seria possível chegar aos 200 milhões, e numa perspetiva mais conservadora não seriam sequer atingidos os 185 milhões. O que fazer, então?
Um dos argumentos usados para justificar a verba de 300 milhões foi a putativa venda dos jogos da I Liga para os mercados internacionais, algo que não se perspetiva que venha a acontecer, tanto mais que aquilo que se viu foi o abandono, por alguns operadores, da I Liga. Pode pensar-se que estamos perante uma questão menor, mas não é disso que se trata: ou, de facto, são criadas condições para aumentar receitas, ou entraremos numa crise profunda, da qual o governo (este ou qualquer outro) fugirá como o Diabo da Cruz.

INTERNACIONALIZAÇÃO
Falemos então da internacionalização. Porque é que a I Liga suscita tão escasso interesse? A resposta não podia ser mais fácil de dar: poucos são os jogos competitivos, capazes de ombrear com outras Ligas, nomeadamente as dos Big Five, mais a da Bélgica e a dos Países Baixos, a que acresce o Brasileirão, a Major League Soccer e o Campeonato da Arábia Saudita, umas porque fornecem melhores espetáculos, outras porque permitem ver em ações nomes míticos do futebol mundial.
O que fazer, então? Ao contrário do que tem sido feito até hoje, é tempo dos clubes deixarem de ser avestruzes e tirarem a cabeça da areia, encarando a realidade e encontrando soluções em conformidade com a mesma. Poder-se-á dizer, com propriedade, que a Liga é a principal culpada do que está a acontecer, por cobardia, ao não tomar as medidas impopulares e difíceis que se impõem. Mas quem é a Liga? A Liga são os Clubes, apesar da tendência constante para confundir o Presidente desse organismo, que executa as deliberações dos seus membros, com quem detém o poder da mudança. Pouco importa se Reinaldo Teixeira, ou, antes, Pedro Proença, pensavam desta ou daquela maneira, preferiam ir por este ou por aquele caminho. No fim do dia, exercido o seu magistério de influência, tinham (e têm) de seguir os ditames dos clubes. E estes não têm querido, uns por egoísmo, outros por calculismo e outros ainda por falta de visão estratégica para a indústria do futebol, criar condições para que o nível competitivo aumente e os nossos jogos passem a ter um valor diferente no mercado internacional.

QUADROS COMPETITIVOS
Não é possível tapar por mais tempo o sol com a peneira, uma I Liga com 18 clubes é uma irracionalidade desportiva e económica, face ao País que somos. Enquanto não houver, entre os clubes da Liga, a coragem de alterar os quadros competitivos (algo que a FPF fez, com tremendo sucesso, nas competições não profissionais, que passaram a ser mais interessantes e subiram de nível futebolístico - e estou a falar sobretudo do Campeonato de Portugal e de forma ainda mais acentuada da Liga 3), não haverá centralização que lhes valha porque o produto que têm para vender não é, simplesmente, televisivamente apelativo. Ninguém paga para ver jogos medíocres com os estádios às moscas, e é isso que sucede, tirando da equação os três grandes, o SC Braga e o Vitória Sport Clube, de Guimarães.
Será, então, que estamos perante um problema insolúvel? Só se os clubes assim decidirem. Se a I Liga tiver 12 clubes, que joguem entre si, casa e fora, numa primeira fase (22 jogos) e terminem a competição numa fase final, a disputar por dois grupos, o dos seis primeiros, a jogar para o título e para a Europa, e o dos últimos seis, a lutar pela permanência (10 jogos, o que daria um total de 32, menos dois do que atualmente, o ajudaria a que o calendário não estivesse tão sobrecarregado), o caminho do sucesso estará encontrado. E se a este modelo juntarmos uma II Liga dividida em duas zonas de 12 clubes a funcionar com um modelo idêntico, teremos 36 clubes a disputar competições profissionais de futebol em Portugal.
Como se vê, só vale a pena centralizar se houver, através da alteração dos quadros competitivos, um aumento real do valor do produto que é posto à venda. São duas realidades indissociáveis, que têm de ser decididas com urgência. Os clubes fariam bem se, em vez de se dispersarem em acusações estéreis com cheiro a mofo, metessem mãos ao trabalho e tratassem de salvar a indústria a que pertencem. É minha opinião que se tivessem começado ontem, nesta senda, já iriam muito atrasados. Assim, haverá que pensar que mais vale tarde do que nunca. Se a opção for pelo ‘nunca’, o futebol profissional português terá um grande futuro atrás de si."

Inevitável: Francisco Neto e Rui Jorge chegaram ao fim da linha


"Num ano 2025 que já rendeu a Portugal uma Liga das Nações e o título europeu Sub-17, não há como destacar pela negativa as prestações dos Sub-21 e das Navegadoras

Sim, houve duplo ouro na Liga das Nações, conquistada pela Seleção orientada por Roberto Martínez, e no Euro sub-17, com Portugal brilhantemente comandado por Bino Maçães. Mas a verdade é que também houve enormes desilusões, em particular nos Sub-21, em junho, e agora com as Navegadoras, que esta sexta-feira deixaram o Euro 2025 sem glória e sem brilho, a par do que sucedera, um mês antes, na Liga das Nações feminina.
É certo que, à luz do que era o futebol feminino há 15 anos, a evolução é brutal e deve-se em grande parte ao fantástico trabalho do selecionador Francisco Neto desde 2014. Não há, porém, lugares vitalícios, nem sequer na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), onde vários treinadores protagonizam longas carreiras, nem sempre com os resultados mais desejados (e raramente com consequências). Há, contudo e inevitavelmente, ciclos que terminam e o de Neto, a par do de Rui Jorge nos Sub-21 (já lá iremos...), parece ter chegado ao fim.
O salto qualitativo que se esperava, quando hoje as futebolistas portuguesas jogam num nível cada vez mais elevado, representando emblemas de topo, quer em Portugal, quer, sobretudo, em Espanha, nos EUA e no México, não aconteceu. Aliás, ao terceiro Europeu da história lusa, o que se viu foi uma equipa fraca em ideias, com um fio de jogo ineficaz e sem capacidade concretizadora.
Resultado: apenas um ponto na fase de grupos e somente dois golos marcados e oito sofridos, num registo pior do que em 2017, quando se registou uma vitória e 3-5 em golos, e do que em 2022, quando conseguiu, igualmente, apenas um empate, mas marcou quatro golos, encaixando 10.
Juntando a estes dados o facto de, nos 10 jogos realizados em 2025, Portugal ter apontado só 7 golos e sofrido 29 (!) torna-se claro que há uma necessidade de mudança rumo ao tal salto para o patamar seguinte que, decerto, a FPF, agora liderada por Pedro Proença, deseja.
Também no fim da linha tem de estar Rui Jorge depois de 15 anos como timoneiro dos Sub-21, com os quais conquistou... zero títulos. Defensor da ideia (a meu ver, errada) de que o escalão serve, acima de tudo, para formar jogadores que estão à porta da Seleção A, Rui Jorge acabou por mostrar-se incapaz de formar para ganhar — esquecendo, quiçá, que, com jogadores de 21, 22 e, até, 23 anos, vencer e conquistar troféus tem de obrigatoriamente fazer parte da formação do ADN que se pretende na transição para os AA."

Zero: Mercado - Kökçü rende; Samu é o mais caro

Zero: Mercado - Live - Agitação no Dragão

5 Minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Observador: E o Campeão é... - Gyökeres? Tem de ser homenzinho e aparecer

A maldição da camisola 0 na NBA


"Esta temporada de NBA registou um recorde assustador de lesões graves e reacendeu o debate sobre a redução de quantidade de jogos por ano

A camisola número 0 na National Basketball Association (NBA) não tem uma origem específica atribuída a um único evento ou jogador, mas a sua definição ao longo do tempo reflete a evolução da cultura do basquetebol e da identidade dos jogadores. Historicamente, a NBA (e o basquetebol em geral) permite números entre 0 e 99. O número 0 passou a ser usado por jogadores que queriam destacar-se ou atribuir um significado pessoal a esse dígito.
Os play-off desta época desportiva trouxeram outra simbologia associada à camisola 0. Três estrelas da NBA, todas com o mesmo número, sofreram roturas no tendão de Aquiles durante este período. Tyrese Haliburton (Indiana Pacers), rompeu o tendão de Aquiles no início do jogo 7 das finais. Jayson Tatum (Boston Celtics), rompeu o tendão de Aquiles no jogo 4 da 2ª ronda dos play-off e Damian Lillard (Milwaukee Bucks) sofreu a mesma lesão no jogo 4 da 1ª ronda da decisão a eliminar.
O tendão de Aquiles é o maior e mais forte tendão do corpo. Os tendões normais são uma matriz composta por tenócitos, colagénio e principalmente pequenos proteoglicanos, juntamente com outros elementos complementares. Estão dispostos hierarquicamente, com fascículos rodeados por tecido conjuntivo, que suporta as estruturas vasculares, linfáticas e neurais do tendão. Tanto a subcarga como a sobrecarga significativa do tendão podem perturbar este equilíbrio e conduzir a alterações patológicas na matriz do tendão. É muito provável que a carga esteja implicada na patogénese da patologia tendinosa, com uma subcarga significativa ou uma sobrecarga que pode levar a alterações na matriz do tendão. As roturas agudas geralmente apresentam-se com início súbito de dor associada a um estalo no local da lesão. A lesão causa dor severa e incapacidade significativa.
Tem sido dramático assistir ao aumento exponencial deste tipo de lesão. Um estudo de epidemiologia e análise de vídeo de lesões do tendão de Aquiles na NBA realizado pela American Orthopaedic Society for Sports Medicine (AOSSM) identificou 44 roturas de tendão de Aquiles de jogadores da NBA no período compreendido entre 1970 a 2018. O cenário de lesão (jogo vs treino) foi identificado para 37 (84,1%) das lesões. Das 37 lesões, 29 (78,3%) ocorreram durante o jogo, enquanto 8 ocorreram durante o treino (21,7%). Durante o período do estudo, a frequência de roturas de tendão de Aquiles atingiu o pico no início da temporada, com 12 das 44 roturas de tendão de Aquiles observadas (27,3%) ocorrendo durante este segmento de cada temporada. Aumentos semelhantes foram observados, embora em menor grau, no final das temporadas (últimos 27 jogos de cada temporada). Quarenta e três (97,7%) lesões foram tratadas cirurgicamente.
O tempo médio para retorno ao desporto foi de 10,5 meses e 35 jogadores (79,5%) voltaram a jogar após a lesão.
Nessa altura já havia uma preocupação clara para este tipo de lesão, apesar de o registo ser inferior a 1 lesão deste tipo por ano.
Novas perspetivas de treino e jogo foram incluídas e com isto a incorporação de novos pensamentos foi registado. Vale notar que entre 1990 e 2023 houve 45 lesões, aumentando a média para um valor superior a 1 lesão por ano.
No entanto, apenas na temporada 2024-2025 foram registadas 7 lesões no tendão de Aquiles. Esta temporada de NBA registou um recorde assustador de lesões graves e reacendeu o debate sobre a redução de quantidade de jogos por ano. Para além de Haliburton, Lillard e Tatum, James Wiseman e Isaiah Jackson (Indiana Pacers), Dru Smith (Miami Heat) e Dejounte Murray (New Orleans Pelicans) tiveram uma rotura total do tendão de Aquiles. Se considerarmos a pré-época, este registo acresce para 8 lesões, já que DaRon Holmes II, jogador dos Denver Nuggets, rompeu o tendão de Aquiles durante a Summer League, antes mesmo de a temporada regular começar, tendo-o impedido de jogar durante a época 2024/2025.
Haliburton foi um dos 3 jogadores dos Pacers a ter a lesão este ano. No jogo que atribuía o título, quis arriscar ir a jogo após ter tido um estiramento muscular na região posterior da perna e pouco conseguiu contribuir. O estiramento prévio do tricípete sural é um fator de risco e pode ser o fator comum na maldição da camisola 0. Os três astros que envergam o número que se fala tiveram essa lesão antes da rotura completa. Inevitavelmente, alteraram padrões de movimento para fugir à dor e com isso forçaram ainda mais o tendão. O facto de estar muita coisa em jogo pode ter contribuído para o risco de querer jogar sem estar a 100%, mas vão acabar por estar impedidos do retorno ao desporto por muito mais tempo.
Outros astros da modalidade tiveram esta lesão, como Kobe Bryant ou Kevin Durant. Por Portugal, também tem havido um aumento deste tipo de lesão. Esta lesão pode até influenciar a decisão de acabar a carreira cedo demais para a expetativa criada no público. É o caso da base internacional portuguesa Inês Viana, um exemplo de perseverança, que decidiu colocar um ponto final na sua carreira de jogadora profissional com apenas 30 anos. Ao serviço da Seleção Nacional foi internacional regular e fez parte do grupo que fez história ao qualificar-se e disputar pela primeira vez uma fase final do EuroBasket, este ano. Passou por lesões complexas, nomeadamente a rotura do tendão de Aquiles. A recuperação não foi linear e após uma infeção no tendão teve de voltar a ser operada. Espera-se que continue a conciliar a paixão do basquetebol com outras funções.
Metaforicamente há algumas razões comuns para a introdução do número 0, que incluem o recomeço de algo, sendo que muitos jogadores escolhem o número 0 para simbolizar o início de uma nova fase na carreira ou vida pessoal.
A reintrodução ao jogo bem precisa disso por quem passa por esta lesão e projeta uma nova versão. Uma versão melhor, se possível."

Tancredi ganhou o Mundial


"Em 1887, o Aston Villa, detentor da FA Cup, venceu o Hibernian, titular da Scottish Cup, e sagrou-se o primeiro «campeão do mundo de clubes», de acordo com a denominação dada pela imprensa britânica da época.
O troféu Sir Thomas Lipton Trophy, em 1909 e 1911, com representantes suíços, italianos, ingleses e alemães, também pretendeu consagrar «o melhor clube do mundo» — que foi, após vencer ambas as edições frente à Juventus e a outros futuros gigantes, o West Auckland Town, hoje na nona divisão inglesa.
Ainda a ressacar do Maracanazo, a confederação brasileira, sem a chancela da FIFA, organizou um Mundial em 1951 com oito participantes, incluindo o Sporting, de cuja comitiva dirigentes do Benfica, do FC Porto e do Belenenses se despediram com votos de boa sorte no aeroporto da Portela, lê-se nos jornais de então. Hoje todos os clubes brasileiros renegam a prova, à exceção do Palmeiras, o vencedor.
A Venezuela sediou a Pequeña Copa del Mundo, ganha duas vezes pelo São Paulo e pelo Real Madrid e uma pelo Millonarios, pelo Corinthians e pelo Barcelona, entre 1952 e 1957, ano em que o Racing Paris convidou Real Madrid, Rot-Weiss Essen e Vasco da Gama para o primeiro Torneio de Paris, visto pelos historiadores como o tubo de ensaio definitivo da Taça Intercontinental, que duraria 44 anos, de 1960 a 2004, com duas memoráveis conquistas portistas, até ser substituída pelo Mundial de Clubes.
Entretanto, o Mundial de Clubes, como a Intercontinental, começou por ser equilibrado entre Europa e América do Sul até o dinheiro, a Lei Bosman e a desorganização sul-americana tombarem a balança para o lado europeu: 11 taças seguidas, de 2013 a 2024, rumaram a clubes da UEFA.
A FIFA decidiu então virar aquele torneio, que um dia já foi só do Villa e do Hibs, de cabeça para baixo: chamou 32 clubes, mais do quádruplo da edição anterior, americanizou o jogo, irritou os esgotados atletas europeus e iludiu os representantes brasileiros que, fruto de boas exibições e importantes vitórias, chegaram a sonhar com a taça.
Em vão: no domingo, após o PSG-Chelsea, passaremos a contabilizar 12 títulos seguidos da Europa, razão pela qual é recordado no título deste texto o jovem aristocrata Tancredi, que, além de homónimo de um antigo guarda-redes da Roma, é o autor da célebre frase «tudo precisa mudar para que tudo fique na mesma», no livro O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Para Tancredi — Alain Delon na versão cinematográfica — a elite deveria parecer aderir às mudanças apenas para, no fim das contas, manter os privilégios. Como naquela Itália do século XIX, nada mudou no futebol do século XXI: 63 jogos de Mundial de Clubes depois, o poder permanecerá nas mesmas mãos."

O fracasso da FIFA no Mundial de Clubes


"«Não estou nada preocupado em encher um estádio quando as equipas vêm jogar um Mundial, vêm competir por algo a sério, e não apenas um particular em que às vezes jogam com a segunda ou terceira equipa.»
Gianni Infantino, presidente da FIFA, em abril, sobre as assistências do Mundial de Clubes

Muita gente viu, em Portugal, o ar desolador do Estádio Inter & Co, em Orlando, que recebeu o Benfica-Auckland City da fase de grupos do Mundial de Clubes.
Um dos estádios mais pequenos deste Mundial — lotação para 25.500 espectadores, quando no Mundial de seleções cada estádio tem de ter no mínimo 40.000 — estava mesmo assim quase vazio, apenas 6.730 pessoas nas bancadas, ocupação inferior a 26 por cento. Na prática, estavam três cadeiras vazias a cada quatro.
O que muita gente não viu foi que ainda houve pior: no mesmo estádio, três dias antes, apenas 3.412 pessoas assistiram ao Ulsan-Mamelodi Sundowns (13 por cento de ocupação).
A FIFA acreditou que, por se tratar de um Mundial, as pessoas iriam querer estar nas bancadas. Mas nem os preços dinâmicos (prática comum nos EUA, que neste caso, devido à falta de procura, significou que foram caindo quanto mais se aproximavam os jogos) evitaram que houvesse estádios às moscas.
E o problema vai repetir-se no Mundial de seleções, em 2026: com 48 equipas, algumas delas nada entusiasmantes para o público em geral, 104 jogos e um organizador que barra sem critério pessoas à entrada no país e cria um sentimento de insegurança em quem pensa ir à bola, haverá jogos em que nem que com bilhetes de graça a lotação esgotaria."

Rakitic: o maestro silencioso que marcou uma Era


"Ivan Rakitic, de 37 anos, anunciou esta semana o fim da sua carreira como futebolista profissional, encerrando um percurso de 21 anos marcado por inúmeros sucessos, tanto ao serviço dos clubes por onde passou como da seleção nacional da Croácia – país que escolheu representar com o coração, apesar de ter nascido e crescido na Suíça.

A despedida foi feita com a serenidade e a classe que sempre o definiram: através de uma carta lida por si próprio e partilhada nas redes sociais, com palavras que tocaram o coração dos adeptos - Dear football, I have a special letter for you…
Na mensagem, Rakitic revisitou os momentos mais marcantes da sua trajetória, expressando profunda gratidão por todas as experiências vividas e pelos muitos sonhos que, ao longo das últimas duas décadas, transformou em realidade.
Há jogadores cuja despedida nos custa. Rakitic nunca precisou de luzes nem de capas de super-heróis para mudar o rumo de um jogo – necessitava apenas de ter a bola nos pés. O seu futebol enchia o campo de inteligência, visão e classe. Fora dele foi sempre aquilo que todos gostamos de encontrar num atleta de topo: um exemplo. Uma referência. Um senhor do jogo e da vida.
Despede-se com uma carreira plena. Com mais de 850 jogos oficiais, mais de 100 internacionalizações, golos em finais, passes que construíram histórias e uma forma de estar que o tornou admirado tanto dentro como fora das quatro linhas. Mas acima de tudo, conquistou o coração dos que sabem ver para além do golo e do aplauso fácil. A forma de jogar - com sobriedade, eficácia e uma elegância natural - refletia o que era e é como pessoa: equilibrado, confiável, profundamente humano.
Nascido na Suíça, filho de emigrantes croatas, Rakitic começou por brilhar no Basileia. Foi lá que o futebol europeu percebeu que estava a nascer um médio diferente - sereno, tecnicista, com leitura de jogo rara para a idade. Seguiu-se o Schalke 04, na Alemanha, onde cresceu taticamente e se afirmou num futebol mais exigente fisicamente. Mas seria em Espanha, ao serviço do Sevilha, que o mundo se renderia ao seu talento - e ao seu caráter. Em Sevilha, tornou-se ídolo. Capitão. Líder. Ganhou a Liga Europa em 2014, sendo eleito o melhor jogador da final. Recordo-me bem que levantou o troféu com a braçadeira no braço e lágrimas nos olhos. Ainda hoje, Sevilha é casa. A cidade que o adotou. A cidade que o aplaude de pé, sempre. A cidade que no verão de 2011, conheceu a sua esposa Raquel Mauri, com quem casou dois anos depois. Juntos têm duas filhas: Althea e Adara.
Depois do Sevilha, chegou o Barcelona. E com ele, o desafio de suceder a lendas como Xavi. Mas Rakitic não tremeu. Fez parte de um dos trios de meio-campo mais eficientes e memoráveis da história recente do clube e do futebol mundial: Busquets, Iniesta e Rakitić. Em 2015, conquistou a Liga dos Campeões, marcando na final frente à Juventus. Um golo que abriu o caminho para o troféu. Nesse ano, o Barça de Messi, Neymar e Suárez encantava o mundo - mas era Rakitic quem segurava o equilíbrio, quem dava ordem ao talento.
No plano internacional, viveu o momento mais mágico com a camisola da Croácia no Mundial de 2018, na Rússia. Juntamente com Modric, levou a seleção até à final, com exibições sublimes e nervos de aço - como nos penáltis contra a Dinamarca e a Rússia, onde converteu os remates decisivos. Não ergueu o troféu, mas ganhou o coração de milhões. O seu nome ficou para sempre gravado entre os maiores da história do futebol croata. 
Regressou onde o coração bate mais forte: Sevilha. Ainda a tempo para mais um momento de glória: a conquista da Liga Europa de 2023 – como se o futebol, num gesto de gratidão, lhe tivesse oferecido um último troféu – uma espécie de justiça poética. Depois, teve ainda tempo para uma passagem pelo Al-Shabab, na Arábia Saudita, e por fim, vestiu a camisola do Hajduk Split. Um regresso simbólico às origens, uma reconexão com as suas raízes e ter a oportunidade de jogar, pela primeira vez, no seu país.
No futebol moderno, há quem brilhe pelos golos, outros pelas assistências, e depois há os que influenciam o jogo de forma tão subtil quanto determinante. Ivan Rakitic pertence a esta última categoria. O médio croata nunca precisou de estatísticas vistosas para provar a sua importância - bastava vê-lo em campo para perceber que a sua influência ia muito além dos números. Destacou-se pela forma como resistia à pressão, encontrava soluções rápidas e distribuía o jogo com uma fluidez que dava vida ao meio-campo. Era raro vê-lo tomar uma má decisão. Considero o Ivan um verdadeiro influencer do futebol – não nas redes sociais, mas dentro das quatro linhas. Influenciava com o seu toque de bola refinado, com recuperações essenciais, passes teleguiados como se a bola tivesse olhos, remates decisivos e um entendimento tático excecional. Era um maestro do meio-campo. Unia criatividade a agressividade, intensidade a serenidade. Sabia pausar e acelerar. Desarmar e construir. Pausar quando era preciso respirar, acelerar quando a equipa precisava daquele impulso. Jogou em todas as posições do meio-campo e até nas alas. Era o equilíbrio. O pêndulo da equipa. O elo de ligação. O cérebro.
Para os colegas, era sempre uma saída segura. Um facilitador, um maestro sem batuta, um artista do coletivo. Em cada jogo, lembrava-nos que a verdadeira influência mede-se na capacidade de elevar todos os que o rodeiam. Um desses outros foi Fernando Reges, que, esta semana, partilhou comigo uma história que diz muito sobre Rakitic:
Sabemos que todos os grandes acabam por pendurar as botas, mas é uma perda enorme deixar de ver alguém como o Rakitic em campo. Foi dos jogadores com quem tive mais prazer em partilhar o campo. Tecnicamente, brilhante. Um verdadeiro líder, com uma sensatez invulgar e uma humildade rara. Tratava todos por igual, sem exceções. Fora do campo, era igual. Sempre bem-disposto, sempre com um sorriso. Uma pessoa genuína, que valorizava os pequenos gestos. Lembro-me de um episódio em Sevilha: um dia, comentou que gostava muito das minhas Havaianas, dizia que todos os brasileiros as usavam. Eu disse-lhe que lhe ia oferecer um par. Ele riu-se e respondeu: 'Mas tu agora não vais ao Brasil, como é que me vais dar isso?' E eu: 'Consigo arranjar em Portugal.' Quando fui a Portugal, comprei-as e ofereci-lhas. Ele ficou mesmo feliz. Valorizou aquele gesto de forma sincera. E eu também.
Aquelas Havaianas não foram apenas um presente. Foi respeito e amizade entre dois colegas. Há carreiras que se medem em títulos, outras em estatísticas, mas a de Rakitic mede-se sobretudo em respeito. O respeito dos adeptos, dos colegas, dos treinadores e dos adversários. Aquele respeito que não se compra, que não se pede nem se exige - conquista-se. Esse respeito é transversal. Basta ouvir o que dizem os que com ele jogaram e treinaram:
Luka Modric: Com o Rakitic ao lado, tudo era mais fácil. Sabia sempre onde estar, o que fazer, como ajudar. Mas mais do que isso: sabia ouvir, sabia unir. Foi um pilar da nossa seleção e um irmão no balneário.
Julen Lopetegui: Treinar o Rakitic é ter um treinador dentro de campo. Taticamente perfeito, emocionalmente estável, e sempre pronto a pôr o coletivo à frente do individual. São jogadores assim que constroem equipas campeãs.
Lionel Messi: O Ivan foi essencial para o que conquistámos. Era daqueles com quem sabias que podias contar em qualquer jogo, em qualquer momento. Um verdadeiro companheiro de equipa.
Unai Emery: Ele não precisava de falar alto para liderar. Bastava vê-lo treinar. Era o primeiro a chegar, o último a sair, sempre com um sorriso e um respeito inabalável por tudo o que envolve o futebol.
Cristiano Ronaldo: Enfrentá-lo nunca foi fácil. Sabia como anular espaços, como temporizar, como ferir quando era preciso. Sempre o respeitei muito.
Gerard Piqué: Dentro do balneário era um dos mais respeitados. Sempre equilibrado, sempre presente. Quando perdíamos, era ele quem chamava à razão. Quando ganhávamos, era o primeiro a lembrar que o trabalho continua.
Zlatko Dalic: Sem o Rakitic, não teríamos chegado à final do Mundial. Era o cimento invisível que colava tudo. Taticamente perfeito, emocionalmente estável, mentalmente fortíssimo.
Jorge Sampaoli: Ele era o relógio da equipa. Quando tudo parecia caótico, ele punha ordem. Não gritava. Não fazia gestos teatrais. Mas todos o seguiam.
Andrés Iniesta: O Ivan foi dos jogadores mais completos com quem partilhei o campo. Sabia o que fazer antes de a bola lhe chegar. E sabia também quando calar e ouvir. O que ele deu ao futebol não se mede só em títulos.
José Mourinho: É fantástico em todos os aspetos: defende, compensa, corre, e é inteligente com a bola nos pés.
O futebol despede-se de um maestro. E os adeptos, de um símbolo - um exemplo de profissionalismo, elegância e caráter. A sua ausência nos relvados será, paradoxalmente, uma presença constante na memória de quem verdadeiramente ama o jogo. Agora, inicia-se um novo capítulo: o tempo de estar com os seus familiares, de retribuir com proximidade todo o apoio, força e motivação que, em silêncio, o acompanhou ao longo de uma carreira brilhante. Chegou o momento de viver a vida noutro ritmo - saboreá-la com leveza, explorar novos caminhos e abraçar futuros projetos com a mesma paixão, classe e humildade com que sempre honrou cada camisola que vestiu.
Agora, a camisola fica pendurada, as chuteiras repousam. Mas o nome, esse fica. Fica nas bancadas do Sánchez Pizjuán, nas noites de Camp Nou, nas ruas de Split, nos relvados onde ainda hoje os jovens sonham. Fica em cada treinador que sonha com um médio assim. Fica em cada adepto que percebe que jogar bem é, antes de tudo, entender o jogo.
É por tudo isto que, agora que se despede, o mundo do futebol – mesmo em silêncio – se levanta para o aplaudir.
Ivan Rakitic despede-se. Mas não parte. Fica connosco, onde vivem os eternos.
Obrigado Ivan. O futebol foi melhor contigo."