"Em 1887, o Aston Villa, detentor da FA Cup, venceu o Hibernian, titular da Scottish Cup, e sagrou-se o primeiro «campeão do mundo de clubes», de acordo com a denominação dada pela imprensa britânica da época.
O troféu Sir Thomas Lipton Trophy, em 1909 e 1911, com representantes suíços, italianos, ingleses e alemães, também pretendeu consagrar «o melhor clube do mundo» — que foi, após vencer ambas as edições frente à Juventus e a outros futuros gigantes, o West Auckland Town, hoje na nona divisão inglesa.
Ainda a ressacar do Maracanazo, a confederação brasileira, sem a chancela da FIFA, organizou um Mundial em 1951 com oito participantes, incluindo o Sporting, de cuja comitiva dirigentes do Benfica, do FC Porto e do Belenenses se despediram com votos de boa sorte no aeroporto da Portela, lê-se nos jornais de então. Hoje todos os clubes brasileiros renegam a prova, à exceção do Palmeiras, o vencedor.
A Venezuela sediou a Pequeña Copa del Mundo, ganha duas vezes pelo São Paulo e pelo Real Madrid e uma pelo Millonarios, pelo Corinthians e pelo Barcelona, entre 1952 e 1957, ano em que o Racing Paris convidou Real Madrid, Rot-Weiss Essen e Vasco da Gama para o primeiro Torneio de Paris, visto pelos historiadores como o tubo de ensaio definitivo da Taça Intercontinental, que duraria 44 anos, de 1960 a 2004, com duas memoráveis conquistas portistas, até ser substituída pelo Mundial de Clubes.
Entretanto, o Mundial de Clubes, como a Intercontinental, começou por ser equilibrado entre Europa e América do Sul até o dinheiro, a Lei Bosman e a desorganização sul-americana tombarem a balança para o lado europeu: 11 taças seguidas, de 2013 a 2024, rumaram a clubes da UEFA.
A FIFA decidiu então virar aquele torneio, que um dia já foi só do Villa e do Hibs, de cabeça para baixo: chamou 32 clubes, mais do quádruplo da edição anterior, americanizou o jogo, irritou os esgotados atletas europeus e iludiu os representantes brasileiros que, fruto de boas exibições e importantes vitórias, chegaram a sonhar com a taça.
Em vão: no domingo, após o PSG-Chelsea, passaremos a contabilizar 12 títulos seguidos da Europa, razão pela qual é recordado no título deste texto o jovem aristocrata Tancredi, que, além de homónimo de um antigo guarda-redes da Roma, é o autor da célebre frase «tudo precisa mudar para que tudo fique na mesma», no livro O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Para Tancredi — Alain Delon na versão cinematográfica — a elite deveria parecer aderir às mudanças apenas para, no fim das contas, manter os privilégios. Como naquela Itália do século XIX, nada mudou no futebol do século XXI: 63 jogos de Mundial de Clubes depois, o poder permanecerá nas mesmas mãos."

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!