Últimas indefectivações

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Acertar no onze e só para talentosos

"A final do Campeonato do Mundo será disputada entre a melhor equipa do Mundo e a selecção com mais jogadores do maior clube do Mundo. Esta selecção alemã merece ser campeã do Mundo. A qualidade individual e colectiva dos germânicos é impressionante. Um Alemanha-Argentina é sempre um menu interessante.
No passado domingo estive no sorteio do próximo campeonato nacional. O Benfica inicia na Luz contra o Paços de Ferreira a defesa do título.
Se hoje um adepto do Benfica (ou do FC Porto ou do Sporting) tentasse fazer um exercício de adivinhar o onze com que inicia o campeonato, contra o Paços de Ferreira, dentro de um mês, era impossível acertar. Julgo que mesmo ficar perto é só para talentosos. Fiz esse exercício com três amigos do Benfica e três do FC Porto, hoje acertar em sete ou oito é já um milagre. Hoje nem mesmo as colecções de cromos dos miúdos conseguem acertar nos plantéis com que os clubes disputam as provas.
Este corrupio de compras e vendas, com o mercado aberto até 31 de Agosto (com três jornadas disputadas) é uma vergonha. As equipas que jogam o Benfica-Sporting da terceira jornada, podem nada ter a ver com as que iniciam a quarta jornada.
O sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões, no final de Agosto, permite que um clube milionário compre os melhores jogadores dos rivais (no dia seguinte ao sorteio) com quem vai disputar a prova. Esta volatilidade e incerteza, com aberturas do mercado constantes e prolongadas, podem dar dinheiro a muitos interesses, mas aldrabam os campeonatos e tiram verdade às competições.
Chegamos a uma altura onde defender o jogo é defender a sua verdade, defender as competições é defender a sua verdade, sob pena dos adeptos não acreditarem no jogo. Pode ser uma ilusão, pode até ser uma ideia ultrapassada, mas foi a paixão pelo jogo e não a ganância do negócio que fez a sua grandeza."

Sílvio Cervan, in A Bola

Víctor Andrade

Foi hoje oficializada o fim de mais uma novela Benfiquista!!! O jovem Víctor Andrade, foi hoje apresentado... depois de ter tido uma fugaz passagem pelos escalões de formação do Benfica, disputando somente alguns torneios particulares, depois do Barcelona ter tido o direito de opção, sobre uma futura venda para a Europa, depois de problemas com a Direcção do Santos, depois da imprensa o apelidar do novo-Neymar, depois de se falar de uma provável ida para a Alemanha... Víctor Andrade chegou ao Benfica.
Muito sinceramente, não sei se será aposta imediata para a equipa principal, ou se ainda vai passar pela equipa B... o potencial talento parece-me evidente, mas ainda está longe de ser um jogador feito... É rápido, excelente pé direito, mas falta-lhe músculo, como também acontece nestas situações, ainda não tem posicionamento definido, provavelmente será a Extremo que vai evoluir...
E já agora, acho as comparações com Neymar, completamente desajustadas, aliás o Víctor tem um estilo de jogar, muito mais parecido com o Robinho outra ex-estrela do Santos... teria sido mais adequado chamá-lo do novo-Robinho!!!

PS: Primeiro dia no Europeu de Canoagem, em Brandeburgo na Alemanha: sem surpresas, e com todos os Benfiquistas a qualificarem-se para as Finais: Teresa Portela para a Final de K1 500m; Joana Vasconcelos para a Final de K4 500m; e o João Ribeiro que obteve a qualificação para duas Finais: K2 500m e K4 1000m

Lendas e narrativas

"1. Tudo indica que na próxima temporada o Benfica marque presença nas provas europeias de seis diferentes modalidades (Futebol, Hóquei em Patins, Basquetebol, Andebol, Voleibol e Atletismo). Relembre-se que o nosso Clube é Campeão em quatro delas. Ser a maior potência desportiva do país passa, muito provavelmente, por algo parecido com isto. Mas poderia também ser uma definição para o clube com maior número de sócios, para o que tem mais títulos, para o que tem melhores equipas, para o que tem maiores e melhores infraestruturas, etc. Não vejo é que este facto sirva a outro, sem que esse outro caia no ridículo.

2. Ao contrário do que sucede com as competições europeias, ou com as taças, em que podemos ver pela frente adversários distintos, o sorteio do Campeonato tem pouca relevância. Os opositores são conhecidos à partida, havendo que jogar com todos, sendo apenas sorteada a ordem das jornadas. Ainda assim, há que sublinhar o facto de não irmos ao Porto nas últimas jornadas - a acontecer novamente, confesso que suspeitaria de fraude -, de iniciarmos a defesa do título em casa, e de recebermos o Sporting à terceira jornada. aspectos que nos são teoricamente favoráveis. Realce ainda para as dificuldades de Novembro e Dezembro, onde um ciclo de jogos terrível, com Champions pelo meio, irá por à prova o conjunto de Jesus.
Com o tempo, perceberemos se o calendário é bom ou mau. Por agora, é apenas... um calendário.

3. Domingo disputa-se a Final do Mundial. Desde 1930 que a história do Futebol é escrita, em larga medida, pela pena desta competição. Pelé, Maradona, Eusébio e Cruyff tiveram, cada um, o 'seu' Mundial. Ainda não se sabe de quem será este. Sabe-se, sim, que assistiremos a uma partida histórica. E espera-se que de nível qualitativo condizente com as dezenas de jogos que nos deliciaram ao longo do mês. Que ganhe o melhor!

4. Alfredo Di Stéfano era o ídolo de Eusébio, e isso, por si só, representa muito daquilo que o hispano-argentino foi no futebol internacional. Paz à sua alma."

Luís Fialho, in O Benfica

Davam Eusébio no lugar de Di Stéfano

"Na véspera do grande Tottenham-Benfica para a meia-final da Taça dos Campeões, o «Daily Mail» assegurava: «O Real Madrid já tomou a decisão de substituir Di Stéfano pelo interior Eusébio, do Sport Lisboa e Benfica. A transacção transformará Eusébio no jogador continental europeu mais caro de todos os tempos, mas não será concluída enquanto o Benfica disputar a Taça dos Campeões Europeus. Perante a proposta apresentada pelo Real Madrid - 250 mil Libras - o treinador do Benfica, Bélla Guttmann afirmou que, no seu entender, se deveria dispensar o jogador visto a oferta ser fabulosa».
António Calderón, dirigente do Real Madrid, apressa-se a desmentir o interesse do seu clube em Eusébio.
O Dr. Fezes Vital, novo presidente do Benfica, apressa-se a afirmar que Eusébio não está à venda.
Eusébio continua a ser notícia, até mesmo quando a notícia não existe. Eusébio e Di Stéfano: houve sempre uma profunda ligação entre os dois. Recordem a fotografia: difusa, desfocada, uma multidão leva Eusébio em ombros; cabeças a esmo, braços erguidos, uma mão ao alto que segura um chapéu, talvez de feltro; Eusébio está em tronco nu; o seu braço esquerdo está junto à cara; o seu braço direito está apertado ao longo do corpo, a mão metida dentro dos calções. Local: Estádio Olímpico, em Amesterdão. Data: 2 de Maio de 1962.
Eusébio confessaria: a mão metida dentro dos calções estava agarrada à camisola de Di Stéfano, aquele que foi sempre para si o melhor jogador de todos os tempos. A preciosa camisola do seu ídolo que acabara de cair aos pés da sua classe avassaladora - Benfica, 5 - Real Madrid, 3.
Correrão agora ambos na planície da eterna saudade."

Afonso de Melo, in O Benfica

Diz-se por aí...

"Diz-se por aí que este Verão é marcado por dois actos surpreendentemente semelhantes e que nos têm proporcionado espectáculos surpreendentemente tristes: eleições para a Liga Portuguesa de Futebol e eleições para o Partido Socialista! Parece estar em curso um terrível efeito de contágio que, esperamos, não se alargue aos clubes, ao Campeonato ou, em último caso, dos adeptos.
O curioso é que a Liga Portuguesa de Futebol parece ter sido irremediavelmente contagiada, após as suas igualmente tristes eleições. De facto, num episódio que a história recordará com ares de comédia, Mário Figueiredo abandona o sorteio do campeonato nacional 2014/2015 salientando ser 'perfeitamente normal' a ausência de um conjunto significativo de emblemas no evento e rematando até, imagine-se, que se sente 'optimista'. Contágio total!
Neste Verão turbulento, ninguém percebe a diferença entre o cómico e o trágico, entre a vitória e a derrota, entre o dever de continuidade e a mínima consciência de que é tempo de partir...
Um pouco de bom senso não faria mal a ninguém nesta época balnear e, no caso da Liga, ajudaria a criar uma parceria estável e credível em torno do sucesso do futebol português. Não podemos desejar, imaginar e propor um campeonato de futebol nacional cada vez mais competitivo, transparente e economicamente atractivo em termos internacionais quando o presidente da Liga é eleito num processo tudo menos transparente. Não podemos desejar mais competitividade e fair-play no futebol quando se fecham as portas da Liga para evitar reuniões de clubes. Não podemos querer apostar na formação e na ética no futebol quando queremos eliminar os problemas refugiando-nos em detalhes estatutários e formalidades pífias...
No meio de tudo isto, arranca a época 2014/15 e espero sinceramente que o Sol que por agora rareia, venha finalmente impor alguma ordem e racionalidade nos tempos que se avizinham."

André Ventura, in O Benfica

Lições de benfiquismo

"Oiço, recorrentemente, amigos benfiquistas esgrimirem opiniões contrárias (e a diferença civilizada de opiniões é de supina importância para o nosso Benfica) sobre a vida passada, presente e futura do Glorioso.
Muitas vezes a argumentação termina com aquela espécie de sentença categórica e irrefutável de que 'ninguém me dá lições benfiquismo'. Quantas vezes não disse eu isso? Quantas vezes (ainda que o não admitindo) já aprendi algo sobre o benfiquismo, ouvindo e vendo o benfiquismo alheio? Há benfiquistas que pela sua paixão, razão, vivência, experiência, saber ou entrega nos dão lições de benfiquismo.
Sempre que no passado vi um benfiquista ser alvo de injustiças cometidas por alguém com passageiro poder dentro do Benfica, calar a revolta e a razão, não as tornando públicas, vi uma lição de benfiquismo. Sempre que vi um dirigente abdicar da sua vida pessoal/familiar para servir abnegada e incondicionalmente o Benfica, vi uma outra lição de benfiquismo. Sempre que vejo um avô emocionado por poder levar o neto à Luz, vejo a lição do benfiquismo assente no passar do testemunho. Esta última lição de benfiquismo é, de todas, a mais importante, porque garante uma renovação do benfiquismo com memória. De todos os benfiquistas, são exactamente os benfiquistas com memória que mais lições têm para dar. Há benfiquistas como Arons de Carvalho, Alberto Miguéns, Manuel Seabra, Ricardo Palacin, Luís Fialho, Rui Costa, João Paulo Guerra, José Jorge Letria, Luís Filipe Vieira, Manuel dos Santos, Ricardo Araújo Pereira, António Melo e tantos outros mais ou menos anónimos que, directa ou indirectamente, me deram lições de benfiquismo. Resta-me apenas agradecer-lhes. No entanto, continuarei convicto a insistir que, tal como a todos os outros benfiquistas, 'ninguém me dá lições de benfiquismo',"

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Poesia e prosa

"Reli agora um texto de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), escrito por ocasião do Mundial de Futebol de 1970, no qual o famoso escritor e cineasta italiano discorre sobre a literatura e futebol. E escreve Pasolini, no artigo intitulado «O golo fatal: o futebol-resultado e o futebol-arte», que no jogo da bola há «momentos que são exclusivamente poéticos», como também existe o «futebol de prosa».
O intelectual italiano escreveu que o golo e o drible são essencialmente poéticos: que a resistência defensiva e a triangulação a meio-campo é «futebol de prosa», mas que o contra-ataque, seguido de golo, é necessariamente poético. Talvez se Pasolini tivesse a felicidade de visionar muitos e bons pormenores das campanhas do Benfica nas duas épocas passadas tivesse acrescentado alguns poemas à sua antologia.
Pura poesia, acrescida com alguma prosa poética: o golo de Markovic ao V. Guimarães foi um caso de liberdade poética; como também o golo de André Gomes ao Porto, para a Taça de Portugal. Já a reviravolta do Benfica em casa frente ao Gil Vicente, foi épica; os golos de Garay e Lima à Juve, em Lisboa, foram o libreto para uma ópera. E o golo de Enzo ao Paços, dedicado a Salvio, terá sido um poema lírico, como o disparo de raiva de Rodrigo abriu caminho para o 2-0 ao Porto em homenagem à obra completa, poesia e prosa, de Eusébio.
Na época anterior, toda a jogada que culminou com as tabelinhas entre Gaitan e Lima, com golo do brasileiro, servido de bandeja, ao Sporting, o calcanhar acrobático de Gaitan, na sequência de um canto de Cardozo contra o Estoril, o míssil de Matic na marcação de um canto contra o Porto, mereciam classificação necessariamente poética, a concluir a prosa da construção do jogo.
Para a época que aí vem, queremos mais."

João Paulo Guerra, in O Benfica