"Reli agora um texto de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), escrito por ocasião do Mundial de Futebol de 1970, no qual o famoso escritor e cineasta italiano discorre sobre a literatura e futebol. E escreve Pasolini, no artigo intitulado «O golo fatal: o futebol-resultado e o futebol-arte», que no jogo da bola há «momentos que são exclusivamente poéticos», como também existe o «futebol de prosa».
O intelectual italiano escreveu que o golo e o drible são essencialmente poéticos: que a resistência defensiva e a triangulação a meio-campo é «futebol de prosa», mas que o contra-ataque, seguido de golo, é necessariamente poético. Talvez se Pasolini tivesse a felicidade de visionar muitos e bons pormenores das campanhas do Benfica nas duas épocas passadas tivesse acrescentado alguns poemas à sua antologia.
Pura poesia, acrescida com alguma prosa poética: o golo de Markovic ao V. Guimarães foi um caso de liberdade poética; como também o golo de André Gomes ao Porto, para a Taça de Portugal. Já a reviravolta do Benfica em casa frente ao Gil Vicente, foi épica; os golos de Garay e Lima à Juve, em Lisboa, foram o libreto para uma ópera. E o golo de Enzo ao Paços, dedicado a Salvio, terá sido um poema lírico, como o disparo de raiva de Rodrigo abriu caminho para o 2-0 ao Porto em homenagem à obra completa, poesia e prosa, de Eusébio.
Na época anterior, toda a jogada que culminou com as tabelinhas entre Gaitan e Lima, com golo do brasileiro, servido de bandeja, ao Sporting, o calcanhar acrobático de Gaitan, na sequência de um canto de Cardozo contra o Estoril, o míssil de Matic na marcação de um canto contra o Porto, mereciam classificação necessariamente poética, a concluir a prosa da construção do jogo.
Para a época que aí vem, queremos mais."
João Paulo Guerra, in O Benfica
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