A Eusébio Cup deste ano, contra o
Torino, é muito mais que um jogo de futebol. É um encontro com a história do
futebol, na sua vertente mais bonita. Quando, na companhia do meu colega Alcino
António e do Padre Delmar, fomos a Turim jogar a Meia final da Liga Europa com
a Juventus, deslocámo-nos ao local do trágico acidente. Superga, que vitimou a
equipa do Grande Torino. A vários quilómetros do centro, mesmo ao lado da Basílica
de Superga, eram centenas os adeptos que esperavam a mais simples das
homenagens e a mais justa das evocações, dum facto que apesar de trágico ligou
Benfica e Torino até à eternidade. Depois das fantásticas palavras do Padre
Delmar, foram dezenas os adeptos que, comovidos e a chorar, nos agradeciam a
atitude evocativa e simbólica do Benfica. Naquela época, década de 40, o Grande
Torino era a melhor equipa do mundo, a que mais títulos tinha em Itália e mais
deslumbrava na Europa, e ainda hoje é considerada uma das mais fabulosas na
historia do futebol. Nos olhos lavados de lágrimas dos italianos, nos pedidos
para voltar a jogar connosco (muitos compraram bilhetes na candonga para ir
torcer pelo Benfica contra a Juve), vivi, com Alcino António, um dos dias mais
arrepiantes como dirigente do Benfica. Quando eliminamos a Juventus tínhamos adeptos
do Torino à espera no aeroporto, na loja do clube faziam-me descontos por ser
do Benfica. Jantei com dirigentes do Torino, comprei livros e percebi a dimensão
da equipa e do desastre. Percebi porque era o meu avô do Torino e o porquê de
mais de meio milhão de pessoas num funeral depois daquele 4 de maio de 1949. A Eusébio
Cup deste ano é o lado mais bonito do futebol, os mais novos podem não perceber
o alcance, mas em cada lágrima que escorreu na cara daquelas centenas de
italianos pelas palavras do Padre Delmar, havia um milhão de razoes para um Benfica-Torino
na Eusébio Cup. O dia 27 de Julho será de Eusébio, mas será também de Mazzola,
Rigamonti, Menti, Loik, Gabetto… Agora que estão juntos no reino dos Imortais.
Sílvio Servan, in A Bola