Últimas indefectivações

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O ridículo não mata e só custa 250 euros

"Que o ridículo é inofensivo e não mata ninguém já a gente sabe à muito. Assim não fora aquele mazombo que disse uma vez que ser portista em Lisboa era como ser palestiniano em Israel teria sido entalado nos portões do Castelo de São Jorge e todos nós sentiríamos desinfectados por não termos de suportar os fétidos vómitos da besta.
Aliás, se o ridículo matasse poupar-nos-ia àquela fraude jornalística em figura de anãozinho encaracolado e engravatado que agora se convenceu de que poderia ter sido o nº10 de qualquer equipa da I Liga e o grita aos sete ventos- Como se houvesse uma I Liga de campeonato de matraquilhos...
Não. O ridículo não mata. É mais que certo! Ou então já não teríamos de aguentar com estoicismo os concertos desafinados de apito de um certo tocador de concertina recentemente exilado nas arábias.
Nem as bacocas evocações de um respeito temerário pela bondade da Justiça, cuspidas na televisão por um merceeiro de segunda apanha, adorador de corruptos pronto a dar às vila Diogo de cada vez que é posta a nu a careca da sua nojenta hipocrisia.
Assim sendo, naquele teatro de marionetas em que se transformou a conferência de Imprensa do treinador do FC Porto após o jogo de Guimarães, o ridículo até pôde passar a grotesco na maior das impunidades. Bem... na maior das impunidades, não.
Quando o ridículo ultrapassa as fronteiras do ridículo merece castigo: 250 euros.
Castigo ridículo, pois claro!"
Afonso de Melo, in O Benfica

Escutas: venham elas!

"Ainda a divulgação das Escutas do 'Apito Dourado', que tanto 'ofenderam' Rui Moreira e outros defensores da 'legalidade'. Há, primeiro, que lembrar que a justiça desportiva condenou vários arguidos, a começar por Pinto da Costa. E que a justiça civil não os inocentou, afirmou apenas que não reuniu provas para os condenar, facto a que não é alheia a impossibilidade de utilização das escutas...
Toda a gente sabe que, ao longo de muitos anos (começou muito antes do 'Apito Dourado'), o FC Porto 'comprou' os árbitros. Há provas evidentes disso e sabe-se como fazia. Os principais responsáveis (a começar pelo presidente do clube) continuam no activo... e activos! A obrigação de todos aqueles que querem a verdade desportiva é continuar a lutar por ela por todos os meios ao seu alcance, não deixando de denunciar todas as 'falcatruas' que se fizeram. A divulgação das Escutas é uma das formas.
Venham elas... todas!
Ao colocar-se à margem das lutas entre Benfica e FC Porto, o presidente do Sporting confirmou a postura 'interesseira' do seu clube. Como terceira potência desportiva nacional, o Sporting tem responsabilidades. E, tal como o Benfica, foi amplamente prejudicado ao longo de todos estes anos, passando de 2º a 3º clube nacional. O Sporting não se pode colocar de lado, tentando passar pelo 'bonzinho' e 'honesto' e deixando que tudo continue na mesma... como se tem verificado neste campeonato, no qual o FC Porto continua, jornada após jornada (até em Guimarães!...), a ser beneficiado pelas arbitragens. Ao receber Pinto da Costa como se nada tivesse acontecido (e esquecendo até os insultos que este proferiu ao seu presidente...), ao ceder-lhe jogadores fundamentais (como João Moutinho e vamos ver se também Izmailov!), ao prestar-lhe contínua vassalagem, o Sporting é cúmplice de toda a falcatrua em que se transformou o futebol português e vai-se afundando cada vez mais. A postura de José Eduardo Bettencourt até faz lembrar (salvas as devidas proporções) a de países (e governantes) que se mantiveram neutros na II Guerra Mundial, face às atrocidades de Adolfo Hitler..."
Arons Carvalho, in O Benfica

Segurança

"Tem toda a razão o Benfica ao reclamar segurança nas suas deslocações e passagens em trânsito por todo o território nacional sem excepções. Esta é uma questão de Estado que transcende o futebol. É ao Estado que compete assegurar fundamentais, entre os quais a liberdade de circulação no País, sendo inadmissível a existência de bolsas subtraídas ao todo de liberdade que é Portugal. Não estamos num país terceiro-mundista, com zonas do território controladas por separatistas chechenos, fundamentalistas taliban, senhores da guerra somalis ou tigres Tamil.
Mas a impunidade tem sido excepção em sucessivas ocorrências nos domínios do futebol, controlado em Portugal pelo 'sistema' e respectivos capangas. A mais recente aconteceu na deslocação do Benfica a Guimarães: à saída do Porto, o autocarro do Benfica foi mais uma vez cobardemente apedrejado.
Aliás, a impunidade já há muito que deixou de ser uma excepção para passar a ser a regra, no que diz respeito a determinados talibãs do submundo do 'sistema'. Adeptos do Benfica que infringiram os direitos de outros foram, nos termos das leis, investigados pelas polícias, acusados pelo Ministério Público, levados a tribunal, julgados e alguns condenados.
Mas em matéria de futebol a Lei não tem sido igual para todos. E as denúncias de casos de vandalismo, depredação, assaltos, apedrejamentos, dentro e fora de recintos desportivos, sucedem-se sem consequências. Como se vivêssemos num Estado retalhado pelo separatismo. Ou numa espécie de Chicago em que a lei dos gangsters se sobrepõe ao poder de Estado.
No dia em que a Lei se aplicar a todos por igual e com todo o seu rigor, o 'sistema' perde um dos seus indispensáveis pilares."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Da potência e da Impotência

"O futebol ocupou uma posição tal na nossa sociedade que o faz ser mais temido do que o próprio Estado de onde emanam os governantes e as políticas a que nos sujeitam. Tome-se põe exemplo o caso ainda fresco do presidente da Associação Comercial do Porto que abandonou melodramaticamente, e em directo, um programa de televisão de debate sobre futebolistas porque se recusou, em nome dos bons princípios, a comentar escutas ordenadas por um juiz no âmbito de um processo de investigação criminal.
O processo em causa, com o folclórico e colorido nome de Apito Dourado, incidia sobre práticas desleais protagonizadas por um sem número de dirigentes, empresários e árbitros de futebol, sendo que o clube do presidente da Associação Comercial do Porto era, sem margem dúvida, aquele que protagonizava mais práticas desse quilate.
E Rui Moreira, que é o nome do presidente da Associação Comercial do Porto, sentiu-se de tal modo constrangido pela discussão do assunto, que se levantou da cadeira onde estava sentado e foi para casa ofendido.
Não deixa de ser curioso que, a 26 de Fevereiro deste mesmo ano de 2010, o mesmo Rui Moreira não se tenha sentido minimamente constrangido, em nome dos seus bons princípios, a responder a um inquérito do diário I que lançava a seguinte questão: Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta. Mantém a confiança no primeiro-ministro?
Fiquem pois sabendo que o presidente da Associação Comercial do Porto não só não se recusou a responder como até deu uma opinião bastante assertiva e contundente: «O primeiro-ministro tem que ser um factor de confiança perante o exterior e agora acho que passou a ser um factor de desconfiança perante o exterior.»
Embrulha, Zé Sócrates!
Convém, por ser verdade, esclarecer que o presidente da Associação Comercial do Porto não foi o único a disponibilizar-se para comentar as escutas do processo Face Oculta. Foi apenas um de uma lista de 50 individualidades identificadas e com profissões e estatutos sociais tão importantes como os empresários, economistas, sociólogos, escritores, presidentes de associações cívicas, professores universitários, fiscalistas, banqueiros, historiadores, penalistas, médicos, cientistas, militares e, final e inevitavelmente, um psiquiatra que, por sinal, até teria muito a acrescentar à discussão se nos quisesse explicar as razões desta impotência de que padece tanta gente quando chamada a tratar do intratável.
Compreendem agora que não é disparate nenhum concluir que o futebol mete muito mais respeitinho aos seus transeuntes do que a política e os políticos aos seus cidadãos? Perante as belezas e os perigos dos vetustos monumentos da bola nacional e o respectivo cortejo de vénias e de salamaleques aos seus dons e aos seus doutores, qualquer primeiro-ministro não passa de um Zé.
Ah, valentes!


APROXIMA-SE o dia do FC Porto – Benfica, duas potências em conflito. O historial de desacatos, desordens e vandalismos que antecedem o jogo propriamente dito não deixa nenhum dos emblemas superiorizar-se moralmente ao outro.
Estamos nestes casos, sempre e tristemente, perante um caso de polícia sendo que a polícia, aparentemente, tem tanto medo destes delinquentes enfarpelados com as cores dos respectivos clubes, como certos intelectuais e empresários têm medo de comentar as escutas no Youtube, desde que as escutas digam respeito apenas ao emblema do seu coração.
Tendo frescos na memória os acontecimentos da última deslocação do Benfica ao Porto – em que o disparo de bolas de golfe para o relvado se acrescentou ao tradicional reportório de pedradas contra o autocarro da equipa -, Luís Filipe Vieira fez-se receber pelo ministro da Administração Interna e anunciou «uma grande surpresa» dando-se o caso do Vermelhão voltar a ser atacado.
A possibilidade de o Benfica dar meia volta e regressar a Lisboa foi imediatamente aventada e, depois, elogiada ou criticada conforme os afectos de cada um, o que é sempre o pior critério para avaliar situações deste género cívico e que nada têm a ver com a questão desportiva.
E lá voltamos nós à questão da impotência, agora do Estado, responsável pela segurança pública, quando o assunto mete o futebol e logo ao mais alto, ou ao mais baixo nível, como é precisamente o caso. Tal como num jogo de futebol a autoridade máxima é o árbitro, num país a autoridade máxima que vela pela ordem nas ruas, nas estradas e nas auto-estradas é a polícia.
Na noite de passada terça-feira, em Génova, deu-se um caso curioso e exemplar. Estava marcada a realização do jogo Itália – Sérvia, de qualificação para o Euro – 2012, mas o comportamento dos adeptos, nomeadamente os sérvios, foi de tal modo criminoso que o árbitro, um escocês chamado Craig Thomson, perante a incapacidade policial em dominar os vândalos, resolveu suspender o jogo aos 6 minutos por não estarem reunidas as condições de segurança indispensáveis a um espectáculo público.
Não é de crer que a UEFA á condenar o árbitro por ter tomado a resolução do bom senso. Se uma coisa destas acontecesse em Portugal, o árbitro Thomson estava tramado até ao fim dos seus dias...


COM Paulo Bento, a selecção nacional voltou à normalidade. E isto já é dizer muito.


O Sporting queixa-se de ser perseguido pela Comunicação Social que não dá tréguas às mais insignificantes ocorrências do universo de Alvalade. Não tem razão o Sporting porque não há clube em Portugal que se ponha mais a jeito para os comentários dos analistas e até dos humoristas que são sempre os que mais fazem doer.
José Eduardo Bettencourt esforçou-se na última semana a dar entrevistas à RTP e ao jornal oficial do clube e ainda foi a Castelo Branco discursar num núcleo de simpatizantes locais. À RTP repetiu que a equipa de futebol estava «a um clique de distância» do sucesso, o que veremos se vai ou não acontecer, e que, pelos menos, o Sporting «nunca tinha ficado uma vez em 6.º lugar», o que é verdade. Também é verdade que o Sporting nunca ficou 32 vezes em 1.º lugar...
Ao jornal oficial do clube, o presidente regozijou-se pelo facto de já não ver «pessoas a rirem-se com as derrotas no balneário», o que é estranho. E em Castelo Branco afirmou que não podia dizer o que queria «para não ser ridicularizado no exterior».
O que também é verdade. Uma grande verdade."

Leonor Pinhão, in A Bola

O cão e o dono

"Numa das várias, e inquietantes, obras-primas de Luís Buñuel (neste caso, “Viridiana”), há uma sequência em que um cão, mal-tratado pelo dono, insiste ainda assim em seguí-lo com a fidelidade que só a sua espécie consegue expressar.
Entre os humanos assistimos, no entanto, a exemplos que conseguem, por vezes, aproximar-se desse registo. A postura do Sporting perante o FC Porto lembra-me frequentemente aquelas imagens, sendo aqui bastante fácil de distinguir o dono cruel e o animal amestrado.
Voa Paulo Assunção, voa Adriano, e o Sporting zanga-se com o Nacional da Madeira. Escapa João Moutinho, e o Sporting atira-se ao comportamento do jogador. Foge Ruben Micael, e o Sporting queixa-se do empresário. Perde Villas-Boas, e o Sporting lamenta a sua pouca sorte. Ouvimos Pinto da Costa a ridicularizar José Eduardo Bettencourt (sem falar do roupeiro Paulinho), e vemos o presidente portista no camarote presidencial de Alvalade. O FC Porto ganha 17 campeonatos em 25 anos, recorrendo às fórmulas mais obscuras (expostas nos casos Apito Dourado, Calheiros, Guímaro, “quinhentinhos”, e por aí fora), e o Sporting escuda-se no silêncio, permitindo que a ira dos seus adeptos se volte para o…Benfica.

Se não estivermos a falar de cães, sobrará apenas uma hipótese para entender isto: o Sporting e os sportinguistas olham para o FC Porto, não como um rival, mas como um parceiro útil no combate ao odiado vizinho, e regozijam-se com as suas vitórias, vendo-as como uma forma eficaz de evitar triunfos do Benfica. Aliás, na noite da comemoração de um dos últimos títulos portistas, foram vistas bandeiras verde e brancas nalgumas ruas de Lisboa, que não pareciam propriamente festejar o 2º lugar.
Esta peculiar atitude tem custado muito caro ao clube de Alvalade, que caiu, em apenas duas décadas, de segundo maior emblema português para um periclitante terceiro lugar na hierarquia do desporto luso. Isso, tal como os pontapés ao cão de Buñuel, pouco parece preocupar as suas gentes.
Mais do que um fenómeno desportivo, estamos aqui perante um verdadeiro “case-study” na psicologia de massas portuguesa."

Luis Fialho, in Vedeta da Bola

(77,53)

"(77,53)! Por momentos, pensei que se tratava de uma citação religiosa, mas logo me lembrei que tais dígitos não se atingem na Bíblia, nem mesmo no Livro dos Números, cujos versículos acabam em (36,13) ou no Livro do Apocalipse, que terminam em (22,21).

Afinal, era bem mais prosaica aquela referência. Tratava-se da precisão de um cronometrista: 77 minutos e 53 segundos, o tempo exacto de uma delirante penalidade. Para o treinador do FC Porto: «Foi óbvia, eu vi-a e os meus jogadores garantiram-me também que foi demasiado nítida.» Sublinho eu: óbvia e demasiado nítida. Tanto que ninguém a conseguiu ver ou reclamar. Já sem qualquer nitidez, dado o espesso nevoeiro, foi o penalty (e 2.º amarelo) de Fucile. Mas aí nem olho de lince, nem cronómetro. Apenas Xistra.

O treinador disse que se indignara não com a expulsão de Fucile, mas por causa do putativo penalty. As imagens são, porém, elucidativas. Não há um gesto do treinador entre os tais 77m 53s e a agressão do jogador do FC Porto. Uma caricata fita de quem não soube encaixar um pequeno desaire! Bem sei que, no dia seguinte, teve a correcção de pedir desculpa, embora tivesse omitido tudo o resto. A evidência era tão avassaladora que não tinha outro caminho.
Umas semanas antes, Villas Boas respondera ao presidente do Benfica, dizendo que «era natural que o entretenimento semanal do campeonato fosse as arbitragens!». Como não se entreteve com o penalty com que derrotou a Naval, os dois penalties na mesma jogada de ataque do Rio Ave ou o braço na bola contra o Nacional, quis agora entreter-nos com a sua visão ao virar da curva dos primeiros pontos perdidos. Uma boa e jovem visão sem miopia, hipermetropia, estigmatismo, daltonismo, estrabismo, treçolho ou o mais danoso e contagioso olho vermelho. Só a contar é que se enganou: afinal os (77,53) são (00,00)..."
Bagão Felix, in A Bola

Inspiração

Realizado por Guilherme Cabral