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1. Não vou escrever, desde já, acerca do desporto ou do futebol. Desculpem-me. A começar pelo nosso querido Director. Depois os nossos simpáticos e dedicados leitores. Mas compreenderão que não esqueça o precoce afastamento do nosso convívio do Nicolau Breyner. Do querido Nico. Fazia parte da miríade de pessoas brilhantes do nosso tempo. Homem ilustre e simples, talentoso actor e realizador visionário encheu diferentes palcos, mobilizou-nos para a televisão, chamou-nos para o cinema português. Era portador de um espírito desmedido e de uma capacidade multidisciplinar e ecléctica. Engrandeceu Portugal e amou os mais próximos. Suas queridas Filhas eram o seu tesouro. Não esqueço a sua generosidade admirável. E a sua dedicação ao seu Alentejo e ao nosso Benfica. E é esta dedicação que, aqui, registo, sublinho e enalteço. Sempre que nos encontrávamos o Benfica era um tema incontornável. Com a certeza que nunca deixava de acreditar. Nunca mesmo. E o forte aplauso que o Estádio da Luz lhe dedicou na passada segunda-feira foi um reconhecimento pleno. Uma homenagem justa. A que se seguirão, estou certo, algumas outras. De Serpa a Lisboa!
2. Diz o povo na sua imensa e inata sabedoria: «Filho és, Pai serás. Como fizeres, assim acharás». Ontem celebrou-se o Dia do Pai. Recordei com uma imensa saudade o Senhor Meu Pai. Com ele aprendi que, tal como nos Génesis, somos «filhos dos dias». E na celebração de São José, do carpinteiro que a história regista, da joselogia que se expressa e divulga, do José do Egipto que era uma «figura conhecida como modelo de virtude», não esquecemos, neste arranque da semana quaresmal, o Evangelho e aquele trecho de Mateus: «Levanta-te, torna o menino mais a sua mãe e foge com eles para o Egipto. Deixa-te lá estar até que eu te diga, porque Herodes vai procurar a criança para a matar». E recordei também a saudosa Senhora minha Mãe já que nunca esqueço que nasci num Domingo de Páscoa. E que só daqui a dois anos é que o dia dos meus anos coincidirá, de novo, com um Domingo de Páscoa. Para imensa alegria, estou convicto, dos meus queridos e saudosos Pais. E para alegria de toda a Família, do meu querido Filho e dos meus amados netos. Já que sou, como Avô, e neste tempo e nesta circunstância, um verdadeiro, e porventura perturbante, pai com mel. Com a consciência que somos sempre «filhos dos dias»!
3. E recordei o meu querido e saudoso Pai no momento em que o sorteio da Liga dos Campeões nos ditou em sorte o Bayern de Munique. Foi graças a ele que acompanhei o Benfica a Munique em Março de 1976 para uns quartos de final da Taça dos clubes Campeões Europeus. Agora Liga dos Campeões. Na primeira mão o Benfica empatara no Estádio da Luz. Com o Capitão Mário Wilson a liderar no banco. E com Toni, Shéu, Nené, José Henrique, Artur Correia e Jordão, entre outros na equipa. E em Munique também jogou, recordo com saudade o Vítor Baptista, e também o Vítor Martins e o Nelinho. Mais o António Bastos Lopes, o Barros e o Messias, entre outros. Não esqueço, desse jogo, o faro de golo do Muller e do Durnberger. Não esqueço mesmo! E não esqueço, ainda, que conquistámos o título nacional nessa época em disputa directa com o Boavista, o nosso adversário de hoje e então liderado por José Maria Pedroto. E o terceiro classificado nessa época foi o Belenenses de Artur Jorge e Pietra! E que foi nessa época, e na última jornada desse campeonato que realizámos o jogo mil na primeira divisão o qual perdemos, aliás, para o Futebol Clube do Porto. Acredito que na passada sexta-feira assistimos a um sorteio puro. Mas, na verdade, pareceu um sorteio cantado. Bem cantado! Como escreveu Jesús Mota em relação a este sorteio - e logo à UEFA - a «grandeza das instituições está em cuidar os pequenos detalhes». Acredito que o Benfica de Rui Vitória entrará no bonito estádio do Bayern com vontade de surpreender a Europa. E o Mundo. Com a certeza e a consciência, em cada jogador, que são «filhos desse dia»!
4. Renato Sanches e Eliseu. Victor Lindelof e Jonas. Juventude e experiência. Os quatro chamados à respectivas selecções nacionais. Da portuguesa à sueca. E se com Renato Sanches é uma escolha que se saúda de Fernando Santos com Jonas é o regresso bem merecido à selecção brasileira podendo celebrar a sua nona internacionalização. E Lindelof chega com todo o mérito à principal selecção da Suécia e partilhará decerto instantes relevantes com Ibrahimovic. Todos reconhecerão que o Benfica é um palco privilegiado para estes momentos únicos. E Renato Sanches e Lindelof saberão reconhecer, tal como nos ensina Francisco Quevedo, que «o que se aprende na juventude dura a vida inteira»! Ou seja, que eles, tal como os seus colegas mais velhos Eliseu e Jonas, são mesmo filhos dos dias». Desses dias em que, com todo o cuidado e muito orgulho, envergarão as Camisolas das principais selecções nacionais dos seus Estados de origem!
5. Barack Obama inicia hoje uma histórica viagem a Cuba. Em Agosto passado, pouco tempo após o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois Estados, visitava Havana e os meus interlocutores cubanos, nas vésperas da visita do Papa Francisco, antecipavam este momento. Que termina na próxima terça feira com Obama a assistir a um jogo de basebol, o desporto nacional dos cubanos. Em Cuba diz-se que conforme «está a bola assim está o País»! E Obama não deixará de lançar a primeira bola no confronto que oporá a selecção nacional cubana com os Rays de Tampa. Mas Obama não assumirá aquilo que Sandy Kaufax disse: «Arremessar a bola é a arte de incutir medo, fazendo um homem desistir»! Antes pelo contrário! Se o ténis de mesa ajudou a aproximar os EUA da República Popular da China não deixa de ser entusiasmante para um amante do desporto que este jogo de basebol seja entendido como um sinal de uma mudança transcendente nas relações entre dois Estados que estão na sua proximidade geográfica cada vez menos distantes!
6. O Sporting de Braga chegou com mérito aos quartos de final da Liga Europa. Paulo Fonseca evidencia a sagacidade que alguns não reconheceram e António Salvador tem, de novo, justificadas razões para acrescidos sorrisos. É caso para acreditarmos que este ano vai ser tudo vermelho! Os «filhos dos dias» são, também, os descobridores da vida! Desta nossa vida!"
Fernando Seara, in A Bola