Últimas indefectivações

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Uns no campo, outros na praia

"Na primeira (parte), pela equipa caseira, jogou o Estoril que ganhava por 1-0. Na segunda, jogou o Praia que perdeu por 0-3.

Benfica sempre a melhorar
Grande jogo do campeonato em Paços de Ferreira. Emoção, luta intensa, incerteza no resultado, mudanças tácticas, boas exibições individuais e dois colectivos cada qual com o seu propósito, mas ambos incisivos. Depois de meia-hora de um Benfica cinzento e um Paços atrevido, a última ora da partida só deu Benfica. Sobretudo, uma segunda parte fulgurante de querer, insistir e resolver. Ou citando José Manuel Delgado em A Bola, «espírito de conjunto, primado do colectivo e uma fé de grupo que move montanhas». Escrevi a semana passada que os jogos mais difíceis até ao fim são os que se irão jogar com as equipas em risco de despromoção. Este jogo veio evidenciá-lo meridianamente.
Desta vez - e para desgosto de falta de matéria-prima - não houve casos flagrantes para discussão arbitral. Ainda bem. O Benfica continua a não depender de si próprio para ser pentacampeão e as jornadas vão diminuindo, mas mantém-se focado nesse objectivo jogando agora claramente melhor do que há meses. Ao fim de 24 jornadas, o Benfica tem apenas um ponto a menos do que no tetracampeonato, apesar de, objectivamente, ter uma equipa menos forte do que então. Curioso é ver o desempenho ao longo das jornadas: no primeiro terço: 5V, 1D (Boavista), 2E (Rio Ave e Marítimo), 7 pontos perdidos (29%), 16-6 em golos; no segundo terço, 6V, 0D, 2E (Porto e Sporting), 4 pontos desperdiçados (17%), 22-5 no score global; finalmente, no último terço: 7V, 0D, 1E (Belenenses), 2 pontos perdidos (8%), 24-5 em golos.
Neste jogo, provou-se a importância de dois suplentes que considero bons jogadores: Raúl Jiménez e Haris Seferovic. Percebe-se que, no actual modelo de jogo de Rui Vitória e tendo em conta a imprescindibilidade do notável jogador que é Jonas, não tenham tantas oportunidades como seria justo. Mas Jiménez dá velocidade e capacidade de luta ao ataque e o suíço evidencia um aspecto que eu muito aprecio: a simplicidade de processos. A assistência para o golo decisivo de Jonas é disso um bom exemplo.
Um apontamento ainda para Rafa. Lá está, não há nada como jogar com regularidade. É assim que Cervi se vem impondo, que Zivkovic vem evidenciando que é um craque e que agora Rafa já mostra mais confiança a juntar à classe que ele tem dentro de si. Fez um belíssimo jogo e bem mereceu, finalmente, em termos de golos passar do quase para o finalmente.
A propósito de Jonas, um jovem de 33 anos e, na minha opinião, o jogador mais completo do campeonato, pena tenho que, por causa do menor ranking dos clubes portugueses na Europa, não tenha plenas condições para se sagrar 'Bota de Ouro'. Os golos em Portugal passaram a ter um coeficiente de 1,5 em vez de 2, pelo que os 27 golos marcados por Jonas em 24 jornadas - bem à frente dos goleadores nos principais campeonatos - valem 40,5 em vez de 54 pontos.

O penálti
Ainda a propósito de Jonas, surpreendentemente, veio a falhar, na penúltima jornada, o terceiro penálti dos últimos quatro assinalados (Rio Ave, na Taça; Belenenses e Boavista). Mesmo assim, a sua conta é altamente positiva e espero que continue a marcá-los. Estes falhanços (todos, defesas dos guarda-redes) lembraram-me um texto que na minha anterior coluna em A Bola ('Pontapé de Saída') escrevi, já lá vão 4 anos e que intitulei «A estatística de penalidade». Permito-me aqui voltar a esse texto, precisamente por causa de Jonas.
Uma baliza mede 7,32 m por 2,44 m. Ou seja, a largura é o triplo da altura. Segundo um estudo  do site Globoesporte, dividindo o espaço em 9 áreas iguais, verificamos que o lado direito da baliza é o preferido dos chutos. Nada menos que 46,3%. Por outro lado, se dividirmos o espaço da baliza em três zonas de baixo para cima, o terço junto da relva abrange 45,1% dos remates, e o terço mais alto até à barra é alcançado por 22,9% dos tiros. em resumo, as preferências são assim ordenadas:
4.º  -  7.º  -  9.º
3.º  -  6.º  -  5.º
1.º  -  8.º  -  2.º

Sobre a eficácia na marcação dos penáltis, todos os remates para o terço superior do lado esquerdo são infalíveis, mas só 4,6% por lá passam, a parte directa da baliza no terço a partir da relva é onde se concentram mais tentativas (21%), mas a mais falível, onde só 2 em cada 3 remates entram. Em esquema:

4.º  -  8.º  -  1.º
2.º  -  6.º  -  7.º
9.º  -  5.º  -  3.º

Parece haver, pois, uma interessante correlação entre grau de dificuldade/escolha/eficácia.
É claro que esta estatística não considera os remates tipo rêguebi, ou para os postes ou que saem ao lado. Nem nada nos diz sobre a potência do remate. Ou quando o guarda-redes se mexe ou adianta irregularmente. Nem sobre se o marcador é destro ou canhoto. Nem sobre as paradinhas.
Ora, voltando a Jonas, os três penáltis falhados foram junto à relva e dois deles para o canto inferior direito que é, precisamente, onde se falha mais.
Cá para mim, o chuto deve ser sempre:
a) forte;
b) a meia-altura.
Mesmo que o guarda-redes adivinhe o lado chega sempre depois de a bola entrar.

Estoril na praia
No jogo Estoril Praia - FC Porto houve duas partes abusivamente separadas por largas semanas. Na primeira, pela equipa caseira, jogou o Estoril que ganhava por 1-0. Na segunda, jogou o Praia que perdeu por 0-3. Como se isso não bastasse e para que tudo ficasse mais de acordo com o desejado nos primeiros minutos, o VAR resolveu validar um golo absolutamente ilegal aos portistas.
Quanto ao primeiro aspecto, não sei que benzodiazepina tomaram os jogadores do Praia. Sonolentos, apáticos, só lhes faltou a toalha de banho. Nunca vi coisa igual. Aliás, foi de tal modo escandaloso que o técnico estorilista Ivo Vieira não se coibiu de, publicamente, criticar asperamente a sua equipa. Diz-se que o Porto foi fulgurante nesta segunda metade da partida. Pudera, jogou sozinho... Aliás, o Porto ainda que estando a jogar bem, já se está a habituar a enormes dificuldades face aos seus opositores. Veja-se o caso dos amigáveis Rio Ave e Chaves e do parceiro Portimonense...
Quanto ao segundo ponto, o VAR foi nada mais nada menos do que o advogado Luís Ferreira, que às vezes confundo com Fábio Veríssimo na estampa e nos tiques. Para memória futura: Luís Ferreira também foi o VAR no Porto - Belenenses num jogo em que, por coincidência se juntou o VAR Ferreira e o árbitro Veríssimo (lembram-se de dois penáltis descarados perdoados ao Porto quando havia 0-0?) e foi o árbitro que esteve na origem dos golos do Boavista quando na época passada os axadrezados chegaram num ápice aos três golos. Se juntarmos João Capela (ora poliglota entendendo a língua de Camões com a língua de Cervantes no seu mentiroso relatório do interminável Tondela - SCP), assim se forma o actual grande trio internacional da arbitragem portuguesa.

Contraluz
- Certeza: João Félix
Trata-se de um jogador com larguíssimo futuro. Ainda júnior, embora actuando muitas vezes já no Benfica B, o meu homónimo de apelido marcou dois golos soberbos na vitória fora de casa contra o FC Porto qe garantiram a vitória neste jogo da fase final para apurar o campeão nacional sub-19.
- Imprevisibilidade: Taça de Inglaterra
O quase imbatível e multimilionário Manchester City de Pepe Guardiola, foi eliminado da competição por um clube da terceira divisão inglesa, o Wigan. Na Inglaterra qualquer jogo é emocionante e de desfecho não assegurado, já o mesmo acontecera ao Arsenal ao ser superado pelo Nottingham Forest, do 2.º escalão.
-Acontecimento: Olimpíadas de Inverno
Acabaram estes jogos realizados na Coreia do Sul que pude acompanhar pela Eurosport e pelos excelentes resumos da RTP2. Menos afamados que os de Verão, não deixam de ser uma realização belíssima e de grande qualidade competitiva.
- Acordo: Entre SLB e Jorge Jesus
Um fim do litígio inteligente e oportuno entre o tetracampeão Benfica e o bicampeão Jesus."

Bagão Félix, in A Bola

Quase...!!!

Benfica 2 - 3 Ravenna
21-25, 25-22, 25-18, 22-25, 14-16


Fim do sonho Europeu, em mais um jogo muito equilibrado, contra um adversário com um plantel muito mais forte... Aquela parte final do 4.º Set foi fatal...

Agora, temos as competições internas...

Parabéns...

Contas...


Resumo da apresentação dos resultados semestrais - Época 2017/18
Crescimento do total de rendimentos da Benfica SAD para 111,6 M€ (+25,6% face a 2016/17);
Resultado líquido positivo de 19,1 M€ (+634,1%);
Resultado operacional: 25,6 M€ (+120,2%);
Capital próprio positivo de 87,6 M€ (melhoria de 19,9 M€);
Redução da dívida bancária em 7%;
Redução do passivo em 53M€.

Perspectivas Futuras
Conquista do Pentacampeonato;
Integração na Equipa A de jogadores formados no Benfica e continuação da forte aposta no Futebol de Formação;
Reforço da aposta na área de Sports Sciences;
Continuação do processo de expansão internacional do Grupo Benfica;
Reforço da Estratégia Digital;
Cumprimento dos critérios do Fair Play Financeiro;
Redução da dependência face ao Sector Bancário Nacional.

Podem consultar o Relatório na integra, aqui.

Contas... Dúvidas... Resultados Semestrais

A carta de amor ao Benfica (...): “Nós só cá estamos para cuidar de ti até à geração seguinte”

"Meu querido Benfica,
Muitos parabéns. 114 aninhos e continuas tão bonito como no dia em que todos, sei lá quantos milhões, nos apaixonámos por ti. Já te disse isto antes, mas hoje é dia de festa redobrada lá em casa. O Tomás e o Sebastião cantaram os parabéns à avó Guta e a ti. A seguir perguntaram-me se o Jonas jogava hoje. Não lhe dei o presente que eles pediram mas o aniversário não é deles. Terão uma vida inteira para perceber. Além disso, compensamos já no fim-de-semana contra o Marítimo.
Escrevo estas coisas um nadinha comovido porque é tudo verdade. O Benfica e a minha mãe fazem anos no mesmo dia. Gostava de escrever algo que superlativasse devidamente esta coincidência, e vou tentar com muita força nos parágrafos seguintes, mas já sei que estou condenado ao falhanço. Podia ser só isso, mas ninguém ia aceitar um texto com tão poucos caracteres na Tribuna e o meu amor por ti não se fica por aí.
Os meus filhos já reagem instintivamente ao Benfica. Há um lado do seu pai que, imbuído de uma pedagogia discutível, apela ao pluralismo cromático e aplaude quando os vê escolher o azul ou o verde em questões menores da vida como a cor de céu favorita - azul ganha ao cinzento - ou a cor que define um jardim - é o verde. Porém, quando o futebol lhes entra pelos olhos adentro, há já uma tentativa de verbalizar, uma atenção consciente, há, direi até, uma recepção dirigida rumo à baliza. Mas há mais. Imagina tu, meu querido Benfica, que o destino decidiu oferecer-me uma esposa que tem uma fotografia sua a receber a medalha de 25 anos de sócia ao lado do Ricardo Araújo Pereira, uma das pessoas a quem eu mais tentei agradar desde que decidi escrever um parágrafo que fosse. Eu não sou de hashtags, mas porra. Se tudo isto não é caso para dizer #blessed, não sei o que será.
Já percebeste. A vida é maravilhosa para um tetracampeão, mesmo que chova no teu dia de aniversário. Que se dane. Não seria a primeira vez que celebrávamos juntos à chuva. Como dizem os indefectíveis adeptos organizados que te levam para todo o lado e fazem este activista de sofá sentir-se devidamente representado, mas também privilegiado por ser do clube que é: Seja. Onde. For.
Eu podia dizer que não me lembrava, mas estaria a mentir. 23 de Maio de 1990, por volta das 16:45. Turmas inteiras numa escola primária de Linda-a-Velha eram mandadas mais cedo para casa. Celebrámos todos, independentemente da cor clubística. Foi bonita a festa. Ruy Belo escreveu que “a eternidade é não haver papéis”. Para uma criança de 8 anos, a eternidade era não haver aulas e Portugal ficava em frente à tv. Ainda hoje me lembro da perplexidade com que percebi que um clube de futebol tinha alterado o dia de toda a gente. O Benfica jogava contra o Milan. Repito: foi bonita a festa. Perdemos o jogo. Ganhou-se um benfiquista. Nunca mais fui igual.
Muita coisa aconteceu desde então. Vê lá tu que me fizeram sócio do Belenenses e eu gostei tanto do Mapuata, do Jaime, do Galo, do Saavedra e das boleias infindáveis do pai Mirra que que ainda hoje me lembro de equipas inteiras que vi jogar no Restelo. Fui uma espécie de polígamo. Era miúdo. Felizmente soubeste aceitar-me, tu e o meu pai que terá visto ali um devaneio da adolescência. Souberam aceitar-me como eu era e nunca mais olhámos para trás.
Hoje, não poderia viver mais confortável na minha pele. Hoje, muitos anos depois de descobrir que seria do Benfica para sempre, percebo que o amor a um clube de futebol não é assim tão diferente do que acontece quando nos apaixonamos por outro ser humano. É uma foleirice. É um bocadinho sofrido. Sobrevive-nos através das pessoas que cá ficam e continuam. É uma abstracção mas tem morada, é um porto de abrigo, um ombro em quem encostar a cabeça ali na Av. Eusébio da Silva Ferreira. É, como diria o meu herói MEC, fodido.
É de loucos. Um dia damos por ti e queremos correr e dizer a toda a gente. Fazemos e dizemos coisas pouco racionais. Irritamo-nos com tudo e beijamos o símbolo da camisola, tudo porque amamos. Ou apenas, porque nem sempre parece suficiente. Olha, meu querido Benfica, só sei que um dia dei por ti e nunca mais te larguei.
Os dirigentes e adeptos de um certo belicismo clubístico que me desculpem, mas nós só cá estamos para cuidar do Benfica até à geração seguinte. Além disso, não é esse o amor que eu tenciono pregar no dia de anos do Benfica e da minha mãe. Ambos me ensinaram que há outro caminho.
E é justamente por isso que, quando algumas pessoas de outros clubes dizem que eu escrevo aquilo que escrevo porque sou um avençado ou um cartilheiro, o meu coração balança entre responder com o mais aguerrido dos insultos ou simplesmente retribuir com mais amor - neste caso, ao que é de hoje e sempre. E escrevo estas coisas um nadinha comovido porque é tudo verdade - o meu amor por ti. Parabéns, meu querido Benfica."

Carta aberta ao Caldas

"Este não é apenas o jogo das vossas vidas. Este é o jogo da vida de todos aqueles que precisam de esperança, seja por que motivo for, o que se inspiram neste conto de fadas que já deixou de ser vosso para passar a ser de todos. É de histórias assim, feitas de fé e de luz (para lá da saborosa glória), que o povo precisa. Para poder acreditar, para poder sonhar, para poder desafiar. Vocês não são heróis só pode chegarem a esta fase da prova. Isto é um prémio. Vocês, dos mais novos aos mais velhos, dos que ainda esperam muito aos que já pouco esperam, são os heróis por aquilo que fazem diariamente, quando se juntam para fazer obras no balneário, quando metem férias, trocam folgas ou faltam ao trabalho para jogar futebol, quando abdicam de estar com as vossas famílias e amigos pelo prazer de correr atrás de uma bola, como se alguma vez fosse possível explicar-lhes, como se alguma vez fosse possível compreenderem. Vocês representam todos aqueles que, por pouco ou gratuitamente, fazem o mesmo nas infindáveis divisões inferiores, no anonimato. Como Wilson Severino, aquele guerreiro que fez  toda a carreira nas divisões da Argentina e que se despediu com um discurso marcante: «Não temos contratos milionários nem viagens à Europa. Somos rapazes que se ajudam uns aos outros para podermos estar num campo e sermos jogadores de futebol. É a nossa essência. Há muita gente que não o entende. A família critica-te e chama-te louco. Peço perdão ao meu filho porque perdi 13 anos da vida dele por causa do futebol. Não me arrependo, mas peço-lhe desculpa. Oxalá um dia ele entenda que eu era um jogador de futebol». Hoje (e na segunda mão), sejam jogadores de futebol, divirtam-se, desfrutem. Vocês já fizeram história, já semearam esperança, já tornaram o impossível um pouco mais possível. O resto é bónus. Da minha parte, obrigado por me fazerem sentir tão orgulhoso da terra onde nasci e onde comecei a ver futebol."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Equipas e adeptos, adeptos e equipas

"Há quase dois anos, James McIrney, professor de Biologia evolutiva da Universidade de Manchester, respondeu, com dados científicos, à velha questão «quem apareceu primeiro, a galinha ou o ovo?» Para McIrney, as galinhas apareceram muito depois dos ovos...
No futebol, há um dilema semelhante, para cuja solução ainda não apareceu o contributo de qualquer académico: «É a equipa que puxa pelos adeptos ou são os adeptos que puxam pela equipa?»
Vem este introito a propósito das críticas de Jorge Jesus aos adeptos do Sporting que «não souberam ajudar a equipa» no jogo com o Moreirense. Os 38.920 espectadores que demandaram Alvalade na noite chuvosa de passada segunda-feira não ficaram exactamente com a exibição dos leões e, tal como tinha sucedido no final do jogo com o Astana, fizeram-no saber a ponto de provocar a reacção de Jorge Jesus.
O Sporting, à 24.ª jornada, e antes de enfrentar uma dezena de obstáculos de alto grau de dificuldade até ao fim do campeonato, tem o mesmo número de pontos, 59, que contabilizava há dois anos e apenas difere num golo no saldo entre golos marcados e sofridos. Porém, os leões de 2015/16 (grande época) exibiam uma alegria maior ao longo dos 90 minutos, eram mais convincentes e imaginativas e por isso recebiam mais favores dos adeptos, sempre sensíveis à nota artística.
Portanto, e sem querer, nem por sombras, esgotar a matéria dilemática em apreço, arrisco uma resposta: a partir do momento em que o árbitro apita para o início do jogo, são as equipas que puxam pelos adeptos, antes dos adeptos puxarem pelas equipas."

José Manuel Delgado, in A Bola

O polivalente que se tornou especialista

"George Bernard Shaw (1856-1950), dramaturgo, escritor e jornalista irlandês, Nobel da literatura em 1925, não pensou em futebol quando afirmou que "o especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos e, por fim, acaba sabendo tudo sobre nada". O tempo tem acentuado, no último século, a tendência universalista da sociedade, mas há casos particulares que privilegiam o conhecimento profundo das especificidades de certas funções. André Almeida começou por dar resposta à teoria de Shaw (cumprindo o ideal de saber alguma coisa sobre tudo) mas foi impelido a consolidar competências que, mais estritas no âmbito global do futebolista que desejou ser (médio-centro), lhe são mais favoráveis para a missão que lhe pediram para cumprir (defesa-direito). Teve então de se construir na conjugação entre as obrigações rígidas atrás (responsável, sóbrio, difícil de ultrapassar, com bom sentido posicional e tempo de entrada aos lances) e a integração nas acções à frente (boa articulação motora, talento para tomar as melhores decisões, técnica para executar no último terço e capacidade para articular jogo pelo caminho).
AA adaptou à função de lateral-direito as valências técnicas, o entendimento táctico e o desenvolvimento físico de toda a vida; concentrou num objectivo claro a versatilidade exibida desde miúdo, enriquecendo assim o jogador de enorme fiabilidade em que se tornou. Formado segundo parâmetros de avaliação generalistas, não adquiriu logo a totalidade dos argumentos necessários a tarefa tão específica. Está agora a harmonizar características e qualidades avulsas, de tal forma que é hoje um defesa-direito consolidado, completo e credível, com soluções ricas na acção criativa e cada vez mais preciso nos movimentos sem bola. AA é o polivalente que as circunstâncias obrigaram a reciclar como especialista; um jogador com amplo entendimento do futebol e desejo de participação no jogo, que adaptou o conceito, a visão e a interferência no funcionamento da equipa, a uma intervenção menos influente mas nem por isso menos exigente. Aos 27 anos, está a completar o puzzle como referência do clube e até do futebol português; está a dimensionar-se como elemento de topo na equipa de craques mundiais que tem sido o Benfica na última década, fazendo-o à custa de um caminho que ele próprio trilhou, quase sempre colocado perante obstáculos gigantescos – todos ultrapassados, diga-se de passagem. É, por isso, protagonista de uma história de vida na qual brilha a força de perseverança, ambição, coragem, inteligência e de um talento futebolístico menos visível e reconhecido, para o qual contribuem factores humanos relacionados com temperamento, trabalho, dedicação, estudo, ensino e aprendizagem. AA manteve sempre à distância o sedutor de idiotas que é o êxito e recusou o vedetismo sem sentido, talvez por reconhecê-lo como um dos principais produtores de imbecis.
Já na presente época, AA foi confrontado com vários desafios de coeficiente máximo de dificuldade, o maior dos quais ocupar o lugar deixado vago por Nélson Semedo. Começou por eliminar a concorrência de Douglas, que chegou à Luz com o prestígio acrescido pela ligação ao Barcelona e o passado de sucesso no São Paulo, e prosseguiu dissipando gradualmente as debilidades apontadas ao seu futebol. É impressionante como, tendo sido tão desconsiderado em certas fases da carreira, está a atingir nível tão alto e influência tão grande no tetracampeão nacional. De tal forma que viu o Benfica recusar propostas milionárias (do Leicester, por exemplo) com argumento que tem tanto de lógico como de surpreendente: é imprescindível no ataque ao penta. É mesmo. Num Mundo materialista e pouco dado a sentimentalismos, AA ouviu o que queria, mesmo em prejuízo da tantas vezes sagrada conta bancária. Prova de que, também por isso, é um homem especial.

O altruísmo de Cristiano
Há quem não passe a bola à mãe se tiver 5% de possibilidades de fazer golo
Cristiano decidiu contra a lógica da carreira: pensou mais no colectivo do que nele próprio, abdicando de um golo quase certo para oferecê-lo a Benzema. O egoísmo, antes de ser um defeito futebolístico, é a linha de raciocínio habitual e eficaz de quem alimenta carreiras feitas de números – e é obscena a estatística de CR7. Ronaldo foi muito elogiado. Tudo bem. Desde que não repita a graça muitas vezes...

Marega a fazer época fabulosa
Partiu com atraso para a época mas está a recuperar todo o tempo que perdeu
Marega iniciou a época sob a suspeita (havia quem tivesse a certeza) de não ser suficientemente bom para jogar no FC Porto. Os mais cépticos ainda não estão convencidos, mesmo com os 20 golos na Liga, talvez envergonhados por engano tão escandaloso. Em Portimão, o maliano deixou tudo no lugar: jogou, marcou e assistiu; foi decisivo em espaços curtos e fulgurante em mar aberto. Está a fazer época fabulosa.

O peso relativo de Bas Dost 
Todos os jogadores são substituíveis. Mas há uns menos do que outros
Bas Dost está a viver uma temporada singular: tem mais jogos do que nunca, está a marcar a ritmo incomparável e a revelar peso tremendo na equipa. O holandês não tem substituto à altura no plantel e a equipa ressente-se logo quando a máxima referência ofensiva fica de fora. Mesmo em clara inferioridade física, a sua presença foi inspiradora com Tondela e Astana. Isto para lá dos 2 golos que marcou."

Alvorada... do Guerra

A brincar com o fogo

"Se calhar chegou a altura de olhar com atenção para o fenómeno das tochas e outros objectos pirotécnicos nos estádios do futebol. Esta semana, com a multa de quase 20 mil euros ao Benfica, o assunto volta a ganhar actualidade, mas está longe de ser um exclusivo desta semana, bem como está muito longe de ser um exclusivo dos adeptos do Benfica. É um problema transversal no futebol português e um problema para o qual ninguém aparentemente presta muita atenção.
Muitos destes objectos, lançados a torto e a direito por todos os estádios deste país, são perigosos e podem causar queimaduras graves. Nada gera mais multas para os cofres da Liga - no caso dos três grandes, são centenas milhares de euros por temporada, o que não é pouco. Mas o Regulamento Disciplinar, elaborado e aprovado pelos clubes (parte obviamente interessada na matéria), prevê apenas multas. Elevadas, é certo, mas apenas multas.
A UEFA, por exemplo, não deixa que se brinque muito com o fogo. As multas são bem mais pesadas - começam nas dezenas de milhares de euros - e facilmente um clube é obrigado a jogar à porta fechada caso seja reincidente. O Benfica já sentiu a ameaça na pele e chegou a ter uma pena suspensa, depois de uma tocha lançada pelos seus adeptos ter atingido uma criança num jogo em casa do Atlético Madrid. Antes de cada jogo europeu, as águias alertavam os adeptos para as possíveis consequências do arremesso de materiais pirotécnicos. Parece que nada mudou. Um dia destes, ainda alguém se queima."

Batido o recorde de Agassi venha o de Sampras

"O seu próximo grande objectivo, já o referiu várias vezes, é Wimbledon. A terra batida e Roland Garros continuam a ser uma incógnita

É impossível não falar de novo em Roger Federer na semana em que regressou à liderança do ranking mundial, aos 36 anos. Afinal, tornou-se no mais velho n.º 1 de sempre, ao destronar os 33 anos de Andre Agassi.
O mesmo Agassi que ainda há pouco não tinha a certeza do suíço ser o melhor de sempre, mas que, ao saber que a sua marca iria ser superada, prestou-lhe homenagem no Twitter: «A colocar a barra sempre mais elevada».
De uma assentada, ‘King Roger’ passou a ser o jogador com maior hiato temporal entre a primeira e a última vez em que foi n.º 1 (14 anos – 2004-2018) e com maior intervalo entre duas chegadas ao n.º 1 (5 anos – 2012-2018).
As 303 semanas que leva como n.º 1 são também um recorde, tal como já detinha o máximo mundial de 237 semanas consecutivas no topo do ATP World Tour.
Ao vencer em Roterdão no Domingo, igualou o recorde de Arthur Ashe de vitórias no torneio holandês (três) e somou o seu 20.º título de ATP 500, outro máximo mundial.
Há ainda recordes para ele bater? Há, mas são escassos. A medalha olímpica de ouro em singulares parece uma miragem. Em Tóquio terá 39 anos. Se alguém pode fazê-lo é ele, mas duvido.
Os 109 títulos de Jimmy Connors não são impossíveis, dado que Federer leva 97 e no ano passado somou 7, mas quererá ele fazê-lo? Aos 100 títulos já disse que seria «porreiro» chegar, mas aos 109? «Julgo que estou muito longe. Se fosse uma prioridade jogaria torneios de 250 e de 500 todas as semanas, mas não vou começar a fazer isso», replicou.
Poderemos acreditar na sua sinceridade? Afinal, há um ano, proclamava que o n.º 1 não era uma prioridade e que se motivava a ganhar torneios, sobretudo Majors (e já lá vão 20, outro recorde).
Mas o modo como se empenhou emocionalmente em Roterdão – torneio em que só participou para somar os pontos que lhe permitissem regressar ao n.º 1 – mostra que intimamente pensava de outra forma.
Mais plausível como recorde a alcançar são os 6 anos de Pete Sampras a terminar uma época no topo da tabela.
Federer partilha o segundo lugar com Connors com 5 anos. Poderá o suíço encerrar 2018 como n.º 1, aos 37 anos, e igualar Sampras? Julgo que sim.
Quererá ele fazê-lo? No seu íntimo acredito que sim, mas, uma vez mais, não irá alterar a sua programação a médio prazo para isso. O seu próximo grande objectivo, já o referiu várias vezes, é Wimbledon. A terra batida e Roland Garros continuam a ser uma incógnita
 Mas depois do US Open, em Setembro, se vir que pode fechar o ano como n.º 1, então sim, acredito que reequacione o calendário e pense seriamente nesse raro recorde que ainda lhe falta."

Era uma vez...

114

Benfiquismo (DCCLXII)

E aqui nasceu... há 114 anos

105x68... Compromisso

Onda...

O VAR, o zoom e o excesso de realidade

"A introdução do VAR é, em si, uma melhoria significativa para o futebol português. Não fora esta inovação, muitas partidas teriam ficado contaminadas por erros de arbitragem irreversíveis. Mas o VAR não está isento de problemas. Por isso mesmo, como bem assinalou Rui Vitória, a utilização do VAR requer bom senso – como é sabido um atributo escassamente utilizado entre nós – e uma revisão do protocolo.
É natural que, estando a Liga portuguesa numa fase experimental de utilização do VAR, o protocolo precise de ser alterado. Afinando falhas evidentes (por exemplo, contrariando alguns incentivos que o árbitro assistente continua a ter para assinalar foras de jogo) e aproveitando o VAR para ajudar a contrariar o antijogo (a partir do momento que há paragens para consulta do VAR deve-se caminhar, também, para, na última fase dos encontros, só contar o tempo efectivo de jogo). Contudo, entre alterações, convém que não seja colocada em causa a função de comando do árbitro de campo, que tem de continuar a ser o actor soberano na aplicação das regras do jogo.
Mas, até ver, o principal problema do VAR é ter transferido do árbitro para o VAR a pressão sobre as arbitragens que se vem transformando no alfa e no ómega do futebol português. A questão é mesmo de contexto: com o VAR passámos a ter um zoom aberto sobre os erros de arbitragens, os que já existiam e os que passaram a ser vislumbrados.
O problema das arbitragens em Portugal continua a ser o mesmo: incompetência de muitos árbitros, cuja permanência na primeira categoria é difícil de compreender, e uma péssima gestão do decorrer dos jogos (lá está, a questão de bom senso). Quem julga que os árbitros favorecem a contra b ou b contra c porque estão corrompidos e que é isso que explica o (in)sucesso competitivo está a atirar ao lado e preso a uma realidade ultrapassada.
O mais significativo, no entanto, é a alteração da forma como percepcionamos os casos de arbitragem. 
No passado, guardávamos uma experiência fugaz, vivida no estádio ou através dos relatos radiofónicos. Na verdade, ninguém tinha capacidade de garantir se o penalty tinha ficado por marcar. Depois, evoluímos para a repetição ad infinitum do mesmo lance, alimentando horas de conversa improdutiva nas televisões. Hoje, vivemos um admirável mundo novo: cada lance é anatomizado, visto de todos os ângulos possíveis e o movimento é distorcido pelo super slow motion. Com consequências: o número de lances duvidosos por jogo aumentou exponencialmente, para além do razoável, ultrapassando e muito a capacidade humana para os avaliar no momento. Tínhamos os erros grosseiros e agora passámos a ter os erros só visíveis à lupa através dos zooms televisivos, que alimentam o tribalismo e os debates incivilizados. Também aqui talvez fosse bom recorrer ao bom senso e não contribuir para a morte do futebol por excesso de realidade."

Futebol: a estratégia da violência

"Digam o que disserem, peçam o que pedirem, os líderes da bola serão olhados sempre de forma diferente dos políticos, com total ausência de escrutínio

dias ouvi o Presidente Marcelo falar da necessidade de concórdia e de um ambiente menos hostil no futebol. Achei o desejo louvável; mas o negócio da bola, pelas suas características explosivas de misturar paixão e resultados, exacerba os ânimos.
Quando os dirigentes são os primeiros a inflamar os discursos, os adeptos encontram neles os necessários catalisadores para explodir. Não há santos nem inocentes! Neste nosso futebol indígena, com três grandes clubes que representam mais de 90% dos adeptos, todos têm culpas no estado de sítio que se vive, no ambiente de guerra entre todos, com mails ou vouchers, erros de arbitragem ou do VAR, posts no Facebook ou Twitter, todos a servirem de combustível nas fogueiras das comunicações.
Quem não se lembra dos discursos regionalistas de Pinto da Costa contra o centralismo de Lisboa? Aliás, foi esse discurso que agregou a massa associativa numa luta que fez do FC Porto um dos maiores clubes da Europa há uns anos, suportado em grandes (enormes!) jogadores, chegando a campeão europeu. Por isso, Pinto da Costa continua no lugar há bem mais de 30 anos, sem alternativa visível.
Quem esqueceu os tempos de Vale e Azevedo, com discursos agressivos contra o FCP, como factor de união das massas adeptas? Mesmo em queda, já com várias suspeitas às costas, teve quase 40% dos votos.
E mais recentemente Luís Filipe Vieira, inicialmente contestado mas depois tolerado e presentemente sem qualquer opositor à vista.
Nestes exemplos se baseou Bruno de Carvalho para se guindar à presente posição de líder incontestado, sempre com discurso belicista contra inimigos internos e externos, identificando nestes o Benfica – agregando os sócios, apesar de 4 anos sem títulos visíveis no futebol, mas recolocando o clube como indiscutível candidato.
O ambiente não é de festa mas de sobrevivência, tudo sendo permitido aos líderes da bola. Digam o que disserem, peçam o que pedirem, serão olhados sempre de forma diferente dos políticos, com total ausência de escrutínio.
Todos têm consciência de que o terceiro lugar no campeonato lhes retirará milhões de forma directa pela ausência na Champions e de forma indirecta pela possível perda de patrocínios. Tudo sob a passividade da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol e até da Secretaria de Estado do Desporto, que parece ter receio de se imiscuir para não perder votos. No meio, os árbitros. Ainda não há jogos sem eles, mas todos zurzem neles. Não têm adeptos e muitos são mesmo incompetentes, o que não justifica as perseguições, até pessoais. Pensaram fazer uma greve, mas logo recuaram.
As direcções de comunicação dos clubes comentam sobre tudo e sobre nada. Tudo vale para hostilizar o ‘inimigo’ – e daqui até ao final da época a violência verbal será em crescendo e a violência física virá fatalmente a seguir.
Se em Guimarães uma rivalidade regional motivou feridos em cenas de pancadaria, se há tempos um adepto do Sporting (embora da claque da Fiorentina) foi lamentavelmente morto por atropelamento perto do Estádio da Luz em confrontos de claques, não será de admirar que, com o andar das jornadas, o clima de violência aumente, empurrado pelos discursos totalmente irresponsáveis. Mas quando a sobrevivência dos dirigentes depende dos resultados, e o equilíbrio pontual é grande, o gritar mais alto parece ser a única lei. Todos vão bater em todos para sobreviver.
No fundo, tudo tem a ver com lideranças prolongadas ou que se desejam prolongadas. O eternizar destas lideranças transforma democracias em regimes presidenciais ou mesmo monarquias (no sentido do poder absoluto, dado que, por enquanto, ainda não se designam sucessores). Desertificam-se estrategicamente as alternativas, com guerras que atemorizam os rivais – que não estão em muitos casos para se sujeitar a ser caluniados em público e nas redes sociais. Só de uma coisa tenho a certeza: um deles será campeão, outro vai ao play off da Champions e o terceiro arrisca – pela dificuldade financeira de se reerguer, dados os passivos acumulados e os significativos défices de tesouraria – uma caminhada no deserto.
(...)"

Jornalistas, essa cambada de avençados

"A esta altura do campeonato começo a suspeitar de que Bruno de Carvalho não gosta muito dos jornalistas.
Quer dizer, também não é não gooooosta. Talvez goste de um ou de outro, pronto.
Gostará porventura daquele trio, que recentemente deixou o jornalismo para trabalhar para o Sporting, com quem na última semana se sentou num programa de três horas no canal do clube a ouvir-lhes umas inconfidências da redacção e uns vilipêndios à profissão que tanto lhes deu.
Já desconfiava de que ele não ia à bola com os jornalistas quando no início da sua presidência vi uma conferência de imprensa com palmas (dos adeptos) e sem perguntas (da comunicação social). 
Contudo, exceptuando a veemente condenação à forma como colocou em risco a integridade física de alguns repórteres na assembleia geral do clube, estas linhas não vão no sentido de uma reacção epidérmica e corporativa às palavras do presidente do Sporting.
Sobre Bruno de Carvalho digo desde já: tem o mérito de, finalmente, mostrar vitalidade num clube que definhava durante as últimas décadas. É, portanto, compreensível a popularidade do presidente junto dos seus adeptos, sempre alerta para justificar-lhe cada intervenção, por mais despropositada que seja.
Percebo as angústias, não apenas suas, sobre eventuais desigualdades de tratamento por parte da comunicação social, levando a que a mensagem predominante no espaço público seja muitas vezes a de um dos seus rivais.
Compreendo com a indignação, não apenas sua, em relação a alguns jornalistas que foram alvo de graves acusações documentadas sobre a falta de credibilidade do seu trabalho e que não vieram a público dar uma explicação cabal – uma omissão, diga-se, que não põe em causa só o bom nome dos próprios, mas o de toda a classe.
Venho, portanto, em missão de paz. Só para realçar que é demasiado conveniente confundir comentadores e colunistas, sem qualquer obrigação deontológica, ou até uma minoria de jornalistas, engajados, com «os jornalistas».
«Os jornalistas.» Todos. Essa cambada de «avençados», como vejo escrito por adeptos mais ou menos coléricos. Eu que nunca recebi (jamais receberia) outra avença que não fosse das entidades patronais para as quais trabalhei e que não conheço casos concretos de quem tenha recebido – a dúzia de nomes que circularam por aí, envolvidos num alegado esquema engendrado por uma figura sinistra do futebol português, fez o que devia: desmentiu-o publicamente.
Venho, portanto, em missão de paz, para dizer que essa amálgama não identificada não existe e, como tal, não é rotulável. É como qualificar «os adeptos de futebol», quando todos sabemos que há os bons (os do nosso clube) e os maus (os do rival) – não é verdade?
Venho alertar para os perigos de quem quer substituir o jornalismo por propaganda pura e simples transmitida pelos canais oficiais.
Sem jornalistas, restar-nos-á o arco-íris propagandístico sem contraditório, que satisfará apenas os adeptos mais fanáticos, felizes por ouvirem, dia após dia, os «amanhãs que cantam» e as boas-novas que passaram pelo crivo do líder.
Sem jornalistas, sobrará na sala de imprensa apenas espaço para os «repórteres» dos clubes (levam aspas por não terem equidistância ou isenção que as dispensem), que, devidamente «brifados», antes, ou alertados por sms, durante, farão nas conferências de imprensa perguntas sobre «quão fantásticos são os nossos adeptos» ou, se conveniente, sobre «que opinião tem sobre a arbitragem».
Este simulacro é o sonho de qualquer departamento de comunicação: tudo ensaiado e devidamente articulado; nada fora do controlo.
Neste momento, é evidente a crise nesta batalha pela confiança de quem nos vê, lê e ouve. Do lado de cá da barricada, podemos ignorá-la ou então saber defender o nobre exercício da actividade jornalística. O caminho passará sempre pelo cumprimento de normas deontológicas básicas e por um critério editorial claro. Só pode ser este o caminho. Até porque o atalho que nos propõem é o do obscurantismo.
Eu, que venho em missão de paz, convenço-me, ainda assim, de que a comunicação não ganhará assim tantos jogos como isso: para se ser campeão, vale bem mais contratar um bom avançado do que 50 pseudo-avençados.
Por via das dúvidas, a economia tem sempre razão e a crueza dos números está do meu lado: o salário de um bom goleador é superior ao de uma redacção inteira.
Nesta altura do campeonato, porém, caso a equipa que investiu mais em reforços do que todas as outras – e cujo treinador ganha sozinho mais do que os 17 concorrentes somados – deixe de ser candidata ao título antes do tempo, a reflexão que terá de ser feita não merecerá certamente três horas na televisão do clube. Talvez nem sequer três minutos.
Por outro lado, quem tiver carteira profissional e costas largas terá o perfil ideal para desviar as atenções."

Media e futebol: não há na relação entre ambos inocentes e culpados

"Com raras excepções são ainda os jogadores que conferem alguma dignidade ao futebol.

A discussão sobre a relação dos media com o futebol e vice-versa está quase sempre inquinada por paixões e tocada de irracionalidade. A situação a que chegou a cobertura do futebol em Portugal propicia extremismos verbais que não raras vezes se traduzem em agressões físicas. Porém, frequentemente discutem-se apenas as consequências e não as causas dessa irracionalidade. Não há nessa relação inocentes e culpados, encontrando-se as duas categorias em ambos os lados. Mas também em ambos há que separar, no futebol, os jogadores dos dirigentes, treinadores e directores de comunicação; e do lado dos media há que separar a imprensa desportiva, os comentadores e moderadores de painéis televisivos dos media generalistas.
Diria que com raras excepções são ainda os jogadores que conferem alguma dignidade ao futebol. E não falo apenas de Ronaldo como exemplo de profissionalismo e de solidariedade com causas sociais que dignificam o futebol. Ao contrário, dirigentes e treinadores dos grandes clubes, de quem se espera maior responsabilidade e civismo, estão longe de contribuir para elevar o futebol ao lugar que lhe cabe na sociedade enquanto instituição essencial na educação e no lazer, sobretudo da juventude. Ao envolverem-se frequentemente em guerrilhas verbais entre si, com árbitros e com jornalistas, esses responsáveis contribuem para acicatar paixões irracionais que transformam o natural entusiasmo clubístico em ódios e rancores.
Do lado dos media, a situação não é muito melhor. Não me refiro aos repórteres que no terreno cobrem os jogos, mas sim a manchetes e artigos incendiários surgidos na imprensa desportiva e a debates televisivos com representantes dos clubes nos quais impera a polémica e quantas vezes o insulto e a agressão verbal sem que o jornalista moderador imponha regras. Ora, se é certo que não cabe aos jornalistas controlarem as declarações dos responsáveis e dos representantes dos clubes em conferências de imprensa e em debates televisivos, cabe-lhe pelo menos a decisão de como as reportar ou, pura e simplesmente, de não as reportar.
No caso recente da conferência de imprensa do presidente do Sporting, as televisões estiveram em directo emitindo para o país sem qualquer mediação tudo o que o orador quis dizer, independentemente das consequências que as suas palavras pudessem produzir. O apelo ao boicote aos jornais desportivos e às televisões portuguesas, e as indicações para que os seus atletas não prestem declarações à comunicação social, a não ser em casos regulamentados, foi transmitido para todo o país. A violência verbal do presidente do Sporting contagiou os adeptos e viria a provocar as agressões aos jornalistas que se encontravam no local.
Cabe, a este propósito, referir que são raras as conferências de imprensa a merecerem transmissão televisiva e radiofónica em directo, sendo os jornalistas em geral avessos a cobrirem essa forma de comunicação quando os oradores são governantes, membros dos partidos ou de outras instituições. Aliás, se os critérios jornalísticos que motivaram os três canais informativos do cabo a emitirem em directo a conferência de imprensa do presidente do Sporting se tivessem orientado pelo interesse público em vez de pelo gosto do sensacionalismo e da polémica, talvez a dita conferência tivesse merecido, em vez de um longuíssimo directo, apenas um tratamento diferido dos resultados das votações. Talvez se o presidente do Sporting não soubesse que estava em directo para o país tivesse refreado a incontinência verbal que revelou em certas partes do discurso. É sabido que a presença das televisões condiciona e potencia atitudes e discursos populistas.
Convém todavia referir que por muito inconveniente e mesmo antidemocrático que seja o discurso dos responsáveis dos clubes, por exemplo o apelo ao boicote dos media feito pelo presidente do Sporting, não cabe aos jornalistas exercerem qualquer tipo de "represália" como parece ter acontecido com a não cobertura da conferência de imprensa do treinador Jorge Jesus de antevisão do jogo do Sporting com o Tondela. De facto, os jornalistas norteiam-se pelo interesse público e pelo direito dos cidadãos à informação, pelo que se o interesse público e o dever de informar o justificar devem fazer a cobertura, independentemente do que disserem os responsáveis dos clubes. A verificarem-se actos impeditivos da liberdade de informação, como o impedimento do acesso dos jornalistas a locais onde decorrem eventos públicos, que ao que se sabe não existiram nos acontecimentos do Sporting, devem ser tratados nas sedes adequadas — a ERC e ou os tribunais.
A mediação proposta pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, ao pretender reunir “responsáveis de comunicação de clubes e representantes do jornalismo”, incluindo o Sindicato dos Jornalistas, para discutir questões como a “intensidade diária”, “o excepcional escrutínio público do futebol e a necessidade de maior equidade no tratamento noticioso dos vários emblemas”, conforme palavras do director de comunicação da Liga, afigura-se contra-natura, uma vez que os jornalistas não necessitam de mediação de instituições desportivas ou outras para exercerem as funções que lhes estão legal e deontologicamente cometidas. É, aliás, a excessiva familiaridade, a roçar muitas vezes a promiscuidade, entre membros dos clubes e jornalistas, sobretudo da área desportiva, que proporciona situações como as que estamos a assistir. A mediação da Liga envolvendo jornalistas só tem justificação em situações muito específicas que não podem interferir em questões de “intensidade” ou “equidade” da cobertura jornalística do desporto qualquer que seja a modalidade.
Os dirigentes desportivos, os directores de comunicação e os comentadores dos clubes são livres de fazerem os apelos que entenderem e de criticarem os jornalistas, dentro das regras aceitáveis numa sociedade livre e democrática, onde existem órgãos democráticos de controlo de comportamentos desviantes. Aos jornalistas cabe exercerem a função de informar com rigor, sem partidarismos e clubismos susceptíveis de incitarem ao ódio e à violência. Há porém que constatar que de uma parte e de outra nem sempre, ou muitas vezes, estes princípios basilares não são cumpridos."

Obreiros

"À semelhança do que sucedeu na primeira gala das Quinas de Ouro, da Federação, na edição de 2018 os jogadores e jogadoras voltam a eleger os melhores onzes, premiando o mérito desportivo nas diferentes posições. O Sindicato promove esta votação que se destaca pelo reconhecimento da qualidade dentro de campo, entre colegas de profissão. A todos os que já votaram e aos que irão ainda fazê-lo, o meu agradecimento pelo contributo para esta iniciativa.
Este tipo de iniciativa recentra o foco no jogador, mobiliza a comunidade desportiva e a sociedade em geral para a valorização do talento, dignificar aqueles que se dedicam à profissão e ao que ela tem de melhor. Premiar o mérito tem o importante simbolismo de centrar a atenção no que de melhor acontece em Portugal, e a gala Quinas de Ouro, personifica essa intenção.
A propósito de mérito e reconhecimento pelos melhores motivos, associa-me à distinção feita a Aurélio Pereira, com a Ordem de Mérito da UEFA, pelo mérito do trabalho desenvolvido na detecção de talentos, aos serviços do Sporting, que permitiu ao futebol português descobrir alguns dos seus maiores nomes. O trabalho de selecção e integração de jovens, através da formação desportiva, é de vital importância e enorme responsabilidade. Hoje começa a merecer maior atenção a visão integral da formação, que permita um apoio efectivo ao desenvolvimento do jovem nas suas diferentes dimensões, pessoal, social, educativa, desportiva e, para alguns, profissional. Os recursos humanos ao nível do recrutamento e integração nas estruturas de formação são fundamentais e, nalguns casos, substituem a acção da própria família no acompanhamento do jovem praticante. Espero que o modelo de certificação de entidades formadoras traga uma aposta generalizada neste modelo."

Crescer para vencer...

"Ainda na continuidade do pensamento do último artigo publicado, sublinho que o mundo emocional da criança está muito dependente da confiança em si própria, autocontrolo, devendo os pais experienciarem na vida aquilo que pretendem que seus filhos comunguem como exemplo, isto é, se querem que os filhos sejam honestos, devem praticar a honestidade, que sejam educados, exercerem os deveres da educação perante os outros, que sejam justos, praticarem a justiça, etc …
Os pais, através dos seus próprios comportamentos de vida, são geradores de confiança, acabando por ajudar a iluminar o bom caminho do relacionamento humano de quem lhes abriu as portas para a vida e dela recolhem os fundamentos da sua existência e onde tantas vezes apetece converter em gratidão e aplauso.
As crianças que se sentem amadas e reconhecidas pelos pais e outros familiares directos, confiam mais nelas próprias e nos outros que com elas convivem, devendo por isso estes, sempre que possível acompanhar os treinos e jogos, encorajando e elogiando pelo esforço despendido, apoiando contudo nos casos em que a fragilidade pelo rendimento menos conseguido possa resultar em pesadelo.
É claro que tudo isto é muito aceitável e justificável, mas basta assistir a um jogo entre jovens, para quantas vezes ter vontade de abandonar a bancada ao ouvir certos pais em calorosas discussões, comentando de forma depreciativa o comportamento dos jovens jogadores, treinadores, árbitros e outros pais, interpelando constantemente no trabalho dos treinadores, criticando excessivamente os resultados, criando expectativas exageradas com fáceis elogios e atitudes de sobranceria, proibindo como forma de castigo a prática desportiva face aos maus resultados escolares, etc…etc…
Enfim, a impossibilidade de ter concretizado os seus sonhos, enquanto jovens, estes adultos originam exigências irrealistas aos filhos, sendo estes uma carga sem controlo e qualidade e no futuro vislumbram um olhar de angústia, recorrendo a práticas pouco ou nada recomendáveis, que a comunicação social por vezes comenta, outras vezes omite.
Como referia no artigo publicado nesta rubrica, para combater este flagelo da formação desportiva, felizmente que ainda encontramos muitos clubes com uma organização devidamente estruturada quer no aspecto cultural e formativo dos seus dirigentes e treinadores de jovens que respeitam as bases do treino, tendo em conta o grau maturacional do atleta, deixando fluir sem pressão as etapas de desenvolvimento, transmitindo o gosto pelo treino e pelo jogo, baseado numa aprendizagem e aperfeiçoamento contínuo, fazendo de cada jogo uma base de trabalho para a construção de uma planificação do treino devidamente adequada motivante e criativa.
Na sua dinâmica operacional, associam na formação da persistência a paciência. No código do seu registo de acção estão garantidos os valores da honestidade e a firmeza das convicções, dirigentes e treinadores, conselheiros e amigos, expondo pelo exemplo o seu modelo interventivo, sendo pacientes e tolerantes com os erros e com as dificuldades de aprendizagem, neste desígnio polar duma consciente fórmula de crescer para render.
Também a Federação Portuguesa de Futebol, através da exemplar liderança do Presidente Dr Fernando Gomes, ao criar recentemente a “Portugal Football School”, um projecto aliado a ciência ao ensino superior, dedicado à formação contínua de dirigentes, treinadores, árbitros, jogadores, profissionais de saúde, média ou famílias, vem duma forma quanto a mim notável, validar várias competências ao serviço da razão.
…!...
Permitam-me a propósito do tema em título e para terminar este artigo, a exposição de duas histórias de vida marcadas no tempo e que passarei a enunciar:
Na já distante década de 60 do pretérito século, um menino a despertar para a juventude, recorreu a um conhecido clube da terra, para satisfazer a vontade de prestar provas num treino em Futebol. Após lhe ter sido distribuído o equipamento, ao vestir os calções, verificou que estes estavam rotos, precisamente no local onde mais o jovem procurava proteger. Dirigiu-se ao roupeiro e pediu educadamente para satisfazer a troca, ao que lhe foi respondido: “ queres esses queres… e se não quiseres vai pró caralh…” O menino jovem não teve meias medidas, deixou o equipamento no vestiário, montou na sua usada pasteleira e dirigiu-se para o clube rival, aí a uma distância de 2 a 3 km. Estava uma velhinha a servir na rouparia e já com os cabelos da cor da neve, de olhos meigos e voz doce, perguntou ao menino/jovem o que pretendia, ao que este repetiu o desejo de participar nas provas de captação para o Futebol. A senhora sorridente e num rápido entrega ao menino um cestinho de cor azul, dizendo-lhe:
“ Menino, tens aqui 2 pares de calções, 2 pares de sapatilhas e chuteiras e duas camisolinhas. Veste e vem cá para eu ver qual te fica melhor”. O menino foi para o balneário e tão depressa regressou junto da velhinha que já o aguardava ansiosa e duma tirada lhe disse: “ É lá … até já pareces um jogador a sério. Vai para o campo que o treinador, que é meu filho, já lá está. Vais gostar dele!”... O menino não cabia em si de contente. Dirigiu-se ao campo e passou a ser um entre os demais. Um familiar directo do menino/jovem que havia jogado no primeiro clube, sabendo do acontecido, abeirou-se dele e de dedo em riste avançou com voz grossa: Nem quero acreditar, ouvi dizer que tu estás a treinar no meio daquela tropa (para o momento o clube inimigo número 1, 2, 3, 4,… ). Estou sim senhor!...respondeu o menino /jovem. Ainda a frase não havia terminado e já estava no chão com uma valente bofetada. 
“Pois agora é que jamais deixarei de ir ao treino”… pensou o menino /jovem. De facto não faltava a um treino, mas a selecção de valores era muito elevada e o menino não passava de suplente dos suplentes. Mas cada treino era marcado pela felicidade de fintar, correr, por vezes mais do que a bola… e um dia, já no colégio de Vizela, perdeu a camioneta e teve de faltar ao treino. O treinador no treino seguinte e perante todos lá foi lamentando, dizendo que foi notada a sua falta… etc … e o menino/jovem para além da desculpa de transporte, acrescentou: “Mas, nem sequer jogo … eu sou suplente dos suplentes!”... “Mas nós precisamos de ti, da tua motivação, da tua vontade e alegria… vê se não faltas mais”, retorquiu o treinador. Contudo, acontecia que o menino/jovem, num dos dias da semana, tinha dificuldade de transporte e com receio de não chegar a tempo do treino, montava na sua velhinha pasteleira e fazia 17 Km para o colégio de Vizela e no regresso, (mais de 70% a subir), fazia novo percurso, com a certeza de que marcaria a presença no treino. Ah … e depois ainda tinha de pedalar mais 6 Km para casa, onde residia com os seus avozinhos … sendo mesmo suplente dos suplentes!...
Querem saber, qual foi o primeiro Clube do roupeiro que para além de não trocar os calções, ainda vociferou contra o menino/jovem? Vasco da Gama e depois F.C.P.Ferreira!... e o tal Clube “inimigo” que no imediato o recebeu? S.C.Freamunde. O nome do primeiro roupeiro? Indecifrável. O nome da senhora dos equipamentos, velhinha e de sorriso de encanto e rosto de afectos? Senhora D.Emília. O nome do treinador? Sr Zeca Mirra. O menino/ jovem? - era eu!...
Ainda hoje mantenho o meu lugar de associado nos dois clubes… quer um, quer outro fazem parte do tesouro da minha existência. Do primeiro mantenho a devoção, do segundo guardo gratidão!...
A propósito, aproveito para evocar outros clubes que muito orgulho e honra me concederam para fazer parte da sua estrutura profissional:
No Vitória de Guimarães - encontrei a estrela da manhã; no F.C.Porto – toquei nas portas do céu; no S.C.Braga – senti um vulcão pronto a explodir; no F.C.P.Ferreira – do sonho à realidade com a presença na Liga dos Campeões; no G.D.Tondela – humildes pegadas feitas por gente nobre na conquista de objectivos difíceis e desafiadores. Num tempo periódico, fugaz e por isso muito curto em finais de época, não posso deixar de destacar o Moreirense F.C. e C. D. Trofense enquanto clubes campeões e acesso à 1ª Liga e a Selecção Nacional de Juniores de Hóquei em Patins – campeões europeus no Pavilhão Rosa Mota.
De todos guardo histórias de encantar que habitam no ar que escapa ao meu pensamento. Talvez um dia, algumas delas possam ser escritas. Talvez!...
…!...
A outra história muito mais recente tem como protagonistas, atletas jovens de 3 clubes e os meus alunos no momento de Opção Futebol do 4º Ano da Licenciatura de Educação Física e que no 5º Ano teriam de elaborar uma Tese/Monografia de investigação, no Instituto Universitário da Maia – ISMAI. O tema proposto incidia sobre a Motivação para a prática do Futebol, tendo de aplicar alguns instrumentos de avaliação, seleccionando 3 clubes: F.C.P.Ferreira, F.C.Porto e um Clube modesto doutro concelho do distrito.
Em termos muito globais refiro que as respostas apresentadas pelos jovens atletas dos 2 primeiros clubes indicados, atestavam que, o que mais os motivava a praticar Futebol no clube, era a vontade de competir e de ganhar, a possibilidade de um dia vir a ser profissionais, de ter objectivos desafiadores e uma forte ambição e desejo de ser bem sucedidos.
No referente ao 3º clube, o que mais era evidenciado pelos atletas jovens em acorrer à prática do Futebol, resumia-se à possibilidade de sair de casa, estar com os amigos e conhecer novos amigos, ter alguma coisa para fazer, saindo da rotina do dia a dia.
Passados 6 anos, um aluno como tese final de curso, procurou dar sequência à comparação evolutiva dos resultados obtidos pela primeira amostra, verificando-se que dos jovens atletas pertencentes aos clubes profissionais, agora com idade de sénior, uma elevada percentagem já se encontrava com contrato profissional, quer no clube de origem ou cedidos a outros clubes. No referente aos atletas pertencentes ao clube mais modesto, uma grande parte tinha desistido do Futebol. O aluno investigador, por intermédio do conhecimento duma ficha sociológica anteriormente elaborada, conseguiu encontrar 7 desses ex atletas. Ao questionar as razões do abandono ou desistência da prática do Futebol nesse clube, as respostas foram claras e bem definidas: não era tão bom como pensavam, o treinador era muito exigente e por vezes agressivo, os dirigentes só apareciam no dia dos jogos para discutir entre si e até gozar com a participação menos conseguida, havia muitos conflitos com vários problemas entre o grupo… e dos 7 ex atletas, 4 deles consumiam droga!...
Anote-se a importância pela negativa do treinador e dirigentes na formulação de conteúdos para que o Clube como organização e o Futebol como modalidade viesse a ser aquilo que foi e não devia ser. 
Todos sabemos que a prática do Futebol, apresenta-se como eixo mediador para a construção psicológica, social, biológica e funcional das variáveis educativas.
É capaz de fomentar a expressão e desenvolvimento da personalidade; a oportunidade de superação; a educação da vontade, proporcionando múltiplas oportunidades de conviver numa ampla relação social.
Um suporte de formação para a educação da cidadania, autenticada na capacidade de emulação e superação, que pela inteligência e arte proporciona a possibilidade de crescer para vencer."