Últimas indefectivações

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Assembleia Geral

"O Benfica tem hoje mais uma Assembleia Geral, a última deste ano. A AG tem como ponto único apreciar e votar o R&C da época 2018-2019. Como já é tradição, vai-se falar de muita coisa mas pouco sobre o R&C. Sendo que esta AG terá um aditivo especial de ser uma das últimas antes das próximas eleições, que deverão ser à volta de Outubro de 2020. Umas notas sobre os temas quentes. 
1. O Mercado de Verão. Com um início de época positivo, LFV quase que se escapava a mais um mercado de verão medíocre face aquilo que eram as expectativas iniciais. Foi-nos prometido um plantel curto com reforços cirúrgicos. Não tivemos nem uma coisa, nem outra. Com as primeiras lesões da época, os resultados negativos começaram a aparecer nas últimas semanas e as limitações do plantel que ficaram por resolver ficaram às claras. Vai haver muitos adeptos a falar deste tema. Tudo será uma reedição de 17-18. Acho que está na altura de mudar o discurso. Nós não podemos estar sempre a bater nos mesmos. O problema é estrutural. Falta uma cara que diga qual é o plano no início do verão e que depois os sócios avaliem o trabalho dessa pessoa. Precisamos de um Director para o Futebol. Alguém que assuma as responsabilidades como ninguém o faz há anos.
2. A Venda de João Félix. Continua a ser um dos mistérios deste ano. Se o plano era não utilizar o dinheiro, para que é que se vendeu o João Félix quando aparentemente, segundo declarações de Domingos Soares de Oliveira, o Atlético não tinha capacidade para pagar os 120M a pronto. O problema aqui é o mesmo do ponto 1. Falta muita transparência. Não se passa para os adeptos o plano de clube. Diz-se que queremos investir em jovens, mas a cada ano que passa vendemos alguém. Não há estratégia de longo prazo para vencer na Europa, como tal, não surpreende que nos últimos 14 jogos na Champions League tenhamos 11 derrotas. É preciso alguém assumir estes falhanços. É preciso um Director para o Futebol
3. Finanças. Vai haver muitos adeptos a falar das Finanças. O Passivo não baixou muito significativamente. No entanto, aqui não há muito que falar, na minha opinião. O Passivo é composto por várias rubricas. Neste momento mais de metade dos quase 400M de Passivo são dívidas que não teremos custos associados. Uma boa parte são dois adiantamentos da NOS e outra parte são dívidas a clubes, que não são um problema porque neste momento temos outros a dever-nos quase o dobro do valor. Quem nos dera que o Benfica fosse tão bem gerido desportivamente como é financeiramente. 
4. “Desinvestimento” nas Modalidades e RedPass Modalidades. Vai ser outro tema. As Modalidades melhoraram os resultados em relação a 17/18 (era difícil piorarem). Este ano, a equipa de Andebol apareceu com uma cara nova. A equipa de Basquetebol está com uma super equipa. A equipa de Hóquei teve um bom reforço, pelo menos. As equipas de Futsal e de Voleibol, não estão piores, mas têm menos opções. No geral não houve um desinvestimento, simplesmente não se investiu mais do que já estava investido. Ao mesmo tempo subiram os preços dos bilhetes e criaram um RedPass Modalidades. Há alguns pontos que devem ser apontados. Não haver descontos para família ou não se poder pagar o RedPass às prestações, por exemplo. No entanto, aqui não consigo apontar nada à Direcção. As modalidades já têm um custo significativo para o clube. Mesmo apesar do clube dar lucro e ter capacidade de aumentar mais o investimento para as modalidades, acho que só o deve fazer se for esse o desejo dos adeptos. E a única maneira de os adeptos demonstrarem o seu interesse nas modalidades, é ir aos jogos nos pavilhões. A bola aqui está em nós adeptos.
Não é a pior altura de sempre para se ser benfiquista (se é que houve uma altura má). O clube é de facto muito bem gerido. Financeiramente e a nível de formação somos autênticos case-studies. As modalidades não ganham tanto como gostaríamos. Todos os clubes estão no prejuízo. Para ganhar mais a única solução é aumentar o prejuízo. Por isso é importante que as modalidades não dêem tanto prejuízo e a única maneira de o fazer é aumentando as receitas. O único ponto que merece discussão nesta altura é a estratégia para o futebol. Continuamos com um processo muito confuso, pouco transparente e sem resultados europeus a curto/médio/longo prazo que precisa urgentemente de ser corrigido. É preciso mudar alguma coisa estruturalmente. Os erros deste verão não são inéditos. São os mesmo que vamos vendo sendo repetidos nos últimos anos."

Cadomblé do Vata (Lagartices...)

"Nunca fui fã de video jogos, mas quando um primo comprou uma Mega Drive, passamos tardes inteiras a jogar Shaq Fu. Devido à manifesta falta de jeito para o jogo, a minha táctica era sempre a mesma: ficar parado a dar constantemente pontapés. Assim, só podia ser atingido naquele infímo intervalo entre o pé ir ao chão e voltar a pontapear. Este parece ser também o único modo de sobrevivência que o Sporting CP conhece: constantemente a atirar crise aos adeptos e lá consegue ter uma época boa quando leva um pouco mais de tempo a preparar um desastre.
Fala-se actualmente da "Crise no Sporting CP", como em Inglaterra falam da "Crise no Man. United". Porém, olhando os registos dos últimos 30 anos, vemos que os mancunianos venceram a Premier League 13 vezes e a Champions em 2 ocasiões. No mesmo período o Sporting CP foi 2 vezes campeão, lutou realisticamente pelo título quatro vezes (93/94; 04/05; 06/07; 15/16), ficou cinco vezes em 4º e uma em 7º. A "Crise do Sporting CP" é apenas... o Sporting CP. Tornaram-se pouco mais do que aquela piada inconveniente que em privado solta gargalhadas, no meio da família sorrisos amarelos e em público olhares desconfortáveis. Atingiram um ponto onde ninguém goza com eles por prazer, só por obrigação.
Pessoalmente tenho pena. Não pelo clube, mas pelo meu Afilhadão Lagartão, que não tentei trazer para a Causa Gloriosa por absoluto respeito à Regra nº 1 da Ética Clística: não roubarás filho alheio. Um puto de 11 anos que passou o Verão na casa dos avós equipado à Sporting CP. No início com uma camisola às riscas, no final das férias com uma verde escura. Não percebi se eram duas ou apenas uma já consumida pela sujidade inerente à utilização crónica. Imagino nestes dias de escola, alvo da galhofa encarnada e branca e quase desejo vitórias lagartas em catadupa. O Mundo pode perder um verdadeiro apaixonado pelo futebol devido aos desvarios de Alvalade e ninguém parece estar preocupado.
O Sporting CP precisa fechar para obras. Parar por uns meses. À falta de impraticabilidade da solução, era assumir oficialmente que não vão ser campeões nos próximos 5 anos. Chutar a demagogia para longe e apresentar a realidade às bancadas do horripilante Alvalade XXI. Preparar o futuro que actualmente não têm. Abandonarem, pelo menos à experiência a posição de Clube do Contra: contra a Liga a FPF, a UEFA, os árbitros, o Benfica, os adeptos, os croquetes, os brunistas, os golpistas. Deixarem no fundo, de ser o clube cansativo que são. Se vos faltarem razões, façam-no pelo meu Afilhadão Lagartão e por aquele puto que ontem assistiu de camisola às riscas vestida, mãos na cabeça e pânico na cara, à pancadaria em que o seu irmão se envolveu. Por favor, não façam do Sporting CP - B SAD o derby mais equilibrado de Lisboa."

Rumo 'certo'!!!

Mais um dia...

Antevisão SL Benfica-Vitória FC: a necessidade de ganhar frente ao desejo de não perder

"É na sequência de uma derrota por 2-1, de uma vitória pelo mesmo resultado e de um empate a zero que o SL Benfica recebe o Vitória FC. Depois de três jogos de resultados e exibições oscilantes – de jogo para jogo e nas próprias partidas -, as águias procuram retornar ao nível habitual no lugar do costume: no Estádio da Luz. Um factor imprevisível. Se o ambiente for de apoio, pode revelar-se um grande contributo para a construção de uma boa exibição e de um bom resultado. Porém, se a crescente pressão interna se fizer sentir nas reacções dos adeptos, a equipa pode facilmente “descarrilar”.
Do outro lado, a situação não é muito mais animadora. Em seis jogos para a Primeira Liga, os setubalenses venceram apenas um (venceram ainda o jogo que realizaram a contar para a Taça da Liga – 1-0 em recepção ao Moreirense FC). No entanto, também só por uma vez conheceram o amargo sabor da derrota, precisamente em casa de um candidato ao título – no Dragão, os comandados de Sandro Mendes foram goleados por 4-0. A esta derrota e à vitória alcançada em casa às custas do SC Braga (1-0) somam-se quatro empates – todos sem golos.
São cinco jogos em seis (na Liga, seis em sete, no global) sem sofrer golos. Um registo notável, que não é acompanhado pelo registo ofensivo: são cinco jogos em seis (para a Liga) sem marcar. Na Luz, espera-se o espelho destes registos: uma equipa fechada a criar dificuldades de criação aos encarnados, mas inócua no seu momento ofensivo, procurando em ataques rápidos e através de bolas paradas repetir o que apenas conseguiu por duas vezes esta época – marcar.
Convém ainda salientar que a derrota frente ao FC Porto aconteceu na segunda jornada, pelo que os vitorianos chegam à Luz numa série de quatro jogos sem perder. O que não deve nem pode assustar o grupo de Bruno Lage, que precisa de vencer e convencer, respeitando o adversário, mas sem pensar sequer em perder pontos em casa. Apesar das últimas exibições, a turma lisboeta segue no segundo posto da tabela, a um ponto do líder (ainda é uma surpresa ser líder?) FC Famalicão e não pode ceder numa luta que se espera renhida e na qual participa também o FC Porto.
Separando as águas e colocando o foco no campeonato, o SL Benfica vem de três vitórias consecutivas, leva 15 golos marcados em seis jogos e apenas três sofridos – em dois jogos: dois frente ao FC Porto e um frente ao Moreirense FC na jornada transacta. Em casa, venceu o Paços de Ferreira FC por 5-0, o Gil Vicente FC por 2-0 e sofreu o resultado inverso frente ao vice-campeão nacional. Mostrou duas faces distintas. Para levar de vencida a equipa de Setúbal, terá que apresentar a melhor das duas faces.
Terá que mostrar a face em que domina o jogo, em que pratica um futebol dinâmico e de qualidade, em que baralha as marcações e as trocas defensivas do adversário com os constantes movimentos interiores de Rafa e Pizzi, em que pressiona alto e bem, retomando a posse de bola o mais breve possível. Terá que mostrar a face em que o jogo passa por todas as cabeças e não apenas pela de Taarabt, em que erros infantis como os muitos que ocorreram frente ao Vitória SC não acontecem, em que a eficácia e a proficuidade estão bem presentes.
Com as expectáveis entradas no onze inicial de Odysseas, André Almeida, Ferro, Grimaldo, Fejsa, Rafa, Pizzi e Raul de Tomas (e, quiçá, Gabriel), o SL Benfica ficará, em teoria, mais próximo de conseguir mostrar essa face. Se o fizer, conseguirá, por certo, regressar às boas exibições e aos bons resultados. No entanto, se não o fizer, que não restem dúvidas de que o Vitória FC pode regressar a Setúbal com um bom resultado, deixando as redes sociais e os pseudo-programas televisivos de pseudo-futebol em polvorosa."

Gedson e David: duas pérolas do Seixal de regresso

"Em etapas evolutivas discerníveis pela quantidade de jogos efectuados ao mais alto nível, Gedson Fernandes e David Tavares perfilam-se como as próximas duas grandes pérolas a ter preponderância no meio-campo encarnado: numa sucessão natural aos consagrados Samaris, Fejsa, Pizzi e Gabriel e numa lista que conta ainda com a presença de Tiago Dantas, atleta de perfil diferente (menos físico, mais sofisticado) – um complemento ideal para os dois primeiros.
Olhando às funções que Lage entrega aos quatro da linha divisória, não é difícil encontrar espaço onde colocar Gedson. Pode perfeitamente ocupar a banda direita como falso ala – à imagem de Pizzi –, sendo essa até a melhor posição para aproveitar a velocidade de ponta do luso-santomense e a capacidade de associação em espaço interior. Esta última característica valeu-lhe um papel principal com Rui Vitória na primeira metade de 18/19: foram 22 participações em 25 possíveis e 1777 minutos num total de 2250 como terceiro médio de um 4-3-3, espaço onde rendeu com especial brilho, enquanto o retorno ao 4-4-2 parece ter impedido a sua progressão enquanto futebolista.
Assim como não é temor algum pedir-lhe para funcionar no centro. Foi ao lado de Florentino que foi a Istambul garantir a primeira vitória de sempre na Turquia, num papel diferente ao interpretado por Gabriel, já que as suas características o fazem assumir outro tipo de funções, mais perto daquilo que se reconhece como um box-to-box. Era habitual ver-se esta posição no modelo de Jesus, que apostava sobretudo nas transições suportadas por um médio de alta rotação como Ramires, Enzo Pérez ou Rúben Amorim. Quando não existia esse médio – como nas épocas de aposta em Aimar mais recuado ou Pizzi naquela zona – as prestações ficariam sempre aquém, principalmente fora de portas. É, dessa forma, uma opção a ter conta em jogos de outra necessidade física na luta pelo centro do terreno, onde pode perfeitamente associar-se com Gabriel e Taarabt, intervenientes com outra capacidade de passe.
Depois da caricata lesão nas férias, e consequente ausência dos trabalhos de pré-temporada, Gedson está agora pronto para voltar ao mais alto nível. No Benfica desde os nove anos, assume-se como um dos jogadores mais identificados com os valores do clube, onde só Jota (desde 2007) e Rúben Dias (desde 2008) têm mais anos de casa: pontos a favor na aposta da formação e factor de ligação à massa adepta e a um Terceiro Anel que sempre exigiu o equilíbrio entre a cantera e a qualidade diferenciada vinda de fora. Sempre foi esse, aliás, um dos componentes das melhores equipas que pisaram a Luz. 
David Tavares, por seu lado, é um recém-chegado ao palco principal, ainda que as duas lesões graves em épocas consecutivas tenham impedido a sua contribuição mais cedo do que seria expectável. Tendo formado parte do conjunto que iniciou trabalhos com a equipa A no início de 2018-2019, uma ruptura do ligamento cruzado do joelho esquerdo levou-o a ficar de fora de Junho a Março: 257 dias onde estagnou a sua evolução, que perpetuou com a entorse ao joelho oposto nesta pré-época. É um médio todo-o-terreno (com formação dividida entre Alcochete e Seixal, depois de estágios preparatórios em Santo Antão de Tojal e Loures), e que reúne um conjunto de características um tanto parecidas às de Gedson: enorme capacidade no transporte e progressão com bola. Se na equipa B era dono de lugares mais perto da baliza contrária, parece claro que a sua evolução na equipa A terá de ser feita como opção para o lugar de Gabriel, ainda que Lage não tenha pejo em colá-lo na banda esquerda.
Se o Benfica conseguir segurar a base desta equipa, o sucesso estará logo ao virar da esquina. É essencial dar tempo e espaço à juventude para crescer e criar ligações entre si, num processo que, quando complementado com a qualidade vinda de fora para lugares específicos, acabará por elevar o Benfica a outros patamares competitivos. Que exista vontade de esperar pelo dinheiro: Félix jogou apenas seis meses como titular do Benfica."

Berrar e Ser Contra, ou a imbecilidade esférica

"O que me preocupa é o palco excessivo que estas personagens recebem, que vai na razão inversa da qualidade e da substância do que têm para dizer.

no mundo público e mediático português (que cada vez é mais entretenimento e menos outras coisas) meia dúzia de personagens (que não personalidades, que é substantivo para outras estaturas), aliás sempre as mesmas, que têm por “profissão” ou modo de ser (ou de existir) berrar e ser contra. Melhor: ser contra, aos berros. Sempre, a propósito de tudo, e puxando o gatilho muito rapidamente, sempre que são solicitados, ou, não o sendo, sempre que surge uma oportunidade, criada pelas circunstâncias ou criada por eles mesmos. Podia citar alguns nomes, mas dispenso-me, não por receio (estou aliás certo de que a minha morte não será seguramente nem por medo, nem por parto, como costumo dizer sempre que me ameaçam ou tentam constranger), mas por três razões: porque me interessa discutir a questão ela mesma, e não os nomes; porque nomear é dar mais palco, e não quero “dar para esse peditório”, nem aliás é preciso, porque palco já têm o muito (demasiado) que infelizmente lhes dão, sempre em busca de “polémicas”, “casos” e “homens que mordem cães”; e porque toda a gente sabe de quem se trata, e cada qual ponha os nomes a quem de direito e cada qual, se tiver discernimento e sentido crítico para isso, que enfie a carapuça.
A mim, o que me entristece e enfada (e nada mais, mesmo quando sou alvo da berraria do contra, e sou algumas vezes, directa ou indirectamente) não são as personagens em si, nem propriamente o que dizem. Aliás, nada contra a que sejam sempre do contra, e até tolero (apesar da indelicadeza) os berros. O que me revolve um pouco as entranhas, e sobretudo preocupa olhando para a saúde da República, são duas outras dimensões do fenómeno (que por vezes chega à caricatura, embora tosca e com pouca graça), que aliás muito recentemente pude observar a respeito de dois temas que de alguma maneira me envolvem, mas que antes já vi tantas outras vezes, a propósito de tudo e de todos, a saber: primeiro, o palco excessivo que estas personagens recebem ou encontram, que vai na razão inversa da qualidade e da substância do que têm para dizer. Segundo, a falta de cuidado, preparação, estudo, reflexão e senso das personagens em causa, que fazem sempre o mesmo discurso a respeito de tudo, muitas vezes sem curar de saber bem do que falam e se o que dizem tem alguma espécie de fundamento. Com o que revelam, muitas vezes (noutras esperteza, mais ou menos saloia), não só imbecilidade, no sentido de falta de preparação e de falta de preocupação com tal falha, mas uma imbecilidade de tal ordem, e tão balofa, que é impossível penetrar nela com alguma reflexão e alguma ponderação. Tão redonda e composta, que não tem arestas, nem frestas, nem há forma de lhe fazer alguma coisa para além de a contornar, aguentando se e na medida do possível. Trata-se de uma imbecilidade verdadeiramente esférica. Uma bola, que roda sobre si mesma, que saltita, cheia de ar, vazia de tudo. Resta alertar, e sugerir que se reflicta. Aqui fica, e pode ser que, porventura, sirva para alguma coisa."

Eléctricos cada vez mais vermelhos

"Josef seguiu o caminho do pai. Não na morte, claro, que era ainda uma criança. No futebol. Era pobre e jogava descalço. Primeiro nos juniores do Hertha de Viena, depois em clubes menores como Schustek ou o Farbenlutz. E marcava golos. Marcava golos e golos e golos.

Para checo, essa língua bicuda, cheia de ângulos retos e triângulos isósceles, Bican até é um nome redondo. Tal como Huss. Um dia eu estava na velha praça de Praga, de frente para a estátua de Jan Huss, e os meninos jogavam à bola sem vaidade nem metafísica. Porque também não há metafísica numa velha praça que se chama precisamente Velha Praça, ou Staromstské nám, se quiserem encher-lhe o nome com os paralelepípedos que revestem o chão.
Nessa língua que desafia a geometria, Huss soltou um gemido à medida que as chamas iam consumindo o seu corpo e sua propagada heresia: «Svatá prostota!». Santa simplicidade! No lugar onde se ergue a sua estátua, o fogo recusava-se a devorá-lo para desespero do seu algoz, o Bispo de Lodi. Então, uma mulher do povo, movida pelo espírito prático das gentes que sentem ter sempre algo para fazer e recusam o ócio como um pecado, aproximou-se das lentas labaredas inquisitoriais e robusteceu-as com os ramos secos de azevinho que trazia às costas. Talvez nem ela mesmo soubesse porque o fez. Era apenas uma fogueira que não ardia e ela sabia como fazê-la arder. Fê-lo com a mesma santa simplicidade com que os meninos jogavam à bola nessa tarde de Dezembro em que eu estava em Praga e a neve caía do céu, branca e leve, branca e fria, há quanto tempo a não via, e não, meu Deus, não tinha saudades porque ao contrário de Augusto Gil não acredito em Ti, com maiúscula ou seu maiúscula.
Huss foi assassinado e os checos distanciaram-se desse Deus católico, apostólico e romano que mandava assar as almas que punham em causa as suas leis indubitáveis. Era um homem livre e gostaria de ter visto, em redor dos seus pés de bronze, meninos encapuzados correndo atrás de uma bola, soltando bafos de condensação à medida dos seus esforços que faziam perigar as meses das esplanadas praticamente vazias.
O filho de František e Ludmila Bican, Josef, também era checo. Nasceu quase 500 anos após a morte de Jan Huss, em Viena, no Império Áustro-Húngaro, mas a sua família era de Sedlice, na Boémia. František jogou no Hertha de Viena e combateu na I Grande Guerra. Uma vez, durante um jogo, foi atingido por um adversário com uma joelhada na zona dos rins. Desprezou a dor. Não tardou a morrer.
Josef seguiu o caminho do pai. Não na morte, claro, que era ainda uma criança. No futebol. Era pobre e jogava descalço. Primeiro nos juniores do Hertha de Viena, depois em clubes menores como Schustek ou o Farbenlutz. E marcava golos. Marcava golos e golos e golos.
Dizem que nos 406 jogos da sua carreira marcou 607 golos. Mas as contabilidades são tão fiáveis como as palavras. Também me lembrei de Bican, nessa tarde em que vi os meninos correndo atrás da bola sem metafísica na grande praça velha no centro da cidade. E, como recordo sempre um poema qualquer de um poeta qualquer, por causa de tudo o que o meu pai me ensinou acerca de poemas, lembrei-me igualmente de Oldich Mikulášek, poeta checo, que escreveu: «E os homens/Mesmo os mais tristes/Deixavam derreter a neve/Nas sombras dos seus rostos fechados...».
Em 1925, Bican, a quem chamavam Pepi, recebia um schilling por cada golo marcado. Não tardou a ser contratado pelo famoso Rapid de Viena e a ser protagonista de uma polémica transferência para os inimigos do Admira. Era um homem bruto dentro de campo. Abusava dos seus ombros largos e do seu peito ancho, rematava com uma potência inaudita e era obcecado pelas balizas adversárias.
O tempo trouxe consigo o nazismo, e Bican era um homem que prezava muito a liberdade. Foi para Praga, para o Slávia, o seu nome foi escutado por todos os cantos da Europa. Em 11 anos jogou 217 jogos pela equipa da estrela vermelha ao peito e marcou 395 golos. Era o seu destino.
Pepi corria os 100 metros em 10,8 segundos e, por brincadeira, colocava 10 garrafas de cerveja equilibradas na trave de uma baliza deitando-as abaixo com precisão chutando um bola à distância de 25 metros.
O tempo trouxe consigo o comunismo. Antonín Zápotocký, que foi Presidente da República, nunca lhe perdoou a desfeita de ouvir o povo, nas manifestações de Maio, gritar: «Viva Zápotocký!» à mistura com «Viva Josef Bican!».
Josef deixou de ser checo para ser apenas um burguês austríaco, ele que viera da pobreza absoluta. Foi obrigado a sair do pedestal e a jogar em clubes menores como o FC Vítkovice ou o FC Hradec Králové. Nunca lhe perdoaram o espírito aberto do tamanho do seu sorriso. Viveu em Brno onde foi treinador e Mikulášek trovava: «O tempo estava tão belo/Na cidade de Brno/e o velho feiticeiro/cofiava a barba/procurando reparar as injustiças...». Envelheceu vendo passar os elétricos cada vez mais vermelhos."

Da objecção ao reconhecimento, como Jorge Jesus conquistou os brasileiros

"O segredo é simples: "hoje, o Flamengo joga o melhor futebol do país e impressiona sobretudo pela movimentação do ataque. (…) O Flamengo é, neste momento, uma homenagem ao futebol.”

Quando chegou ao futebol brasileiro, o treinador português Jorge Jesus foi bastante criticado por parte da imprensa brasileira, não por ser português, pois, os dois países possuem laços de amizade, mas, por ser estrangeiro. Existe, sim, uma certa desconfiança acerca do desempenho de um treinador estrangeiro no Brasil, não pela qualidade dos treinadores, mas, pela adaptação ao intenso futebol brasileiro, que no entendimento de todos, é um dos aspectos que mais pode dificultar o desempenho de um treinador por não conhecer a realidade do Brasil continental. Além disso, recentemente, alguns técnicos estrangeiros, não foram bem nas suas passagens pelo país.
Posto isto, o treinador estrangeiro irá encontrar no Brasil uma realidade completamente diferente dos países europeus, que são pequenos em extensão, diferente do Brasil, onde cada estado é como se fosse um país dentro do grande país, em que há a cultura do regionalismo, tendo cada região sua própria imprensa, as suas próprias tradições, e a sua própria maneira de ver o futebol, que valoriza os campeonatos estaduais, as equipas da região e as disputas regionais. Além do regionalismo, existe também a dificuldade das distâncias que são gigantescas, aliado a um calendário bastante intenso, onde se joga quarta e domingo, e se encontra espaço para o campeonato estadual, Taça do Brasil; Copas regionais; Brasileirão e torneios Sul-Americanos. Além disso, outro factor é o equilíbrio que existe nas terras de Vera-Cruz, algo incomparável com qualquer campeonato europeu, pois, no Brasil, cada jogo é muito difícil, mesmo um jogo contra uma equipa de uma divisão inferior.
Portanto, o clima na chegada do treinador luso foi de muita desconfiança, e críticas, pois, além de ser estrangeiro, Jorge Jesus foi chamado para comandar uma equipa que nos últimos anos não tem demonstrado um bom desempenho. Inclusive, não apenas o Flamengo, mas o futebol carioca de modo geral, já que os clubes da cidade maravilhosa não conseguem ter bom êxito em competições nacionais e internacionais, visto que nos últimos anos as principais conquistas têm sido dos clubes paulistas, gaúchos e mineiros. Sendo assim, estes aspetos reforçaram o temor de parte da imprensa, que considerou um erro a contratação de Jorge Jesus, pois, muitos alegaram que ele não conhece a realidade do futebol brasileiro, como o jornalista brasileiro Marcos de Vargas, que durante um programa desportivo de grande audiência nacional questionou o currículo de Jorge Jesus afirmando: “Que ele só venceu o campeonato português”. [1] Além deste, outros famosos jornalistas e comentaristas também criticaram a escolha do treinador, inclusive para muitos, o contrato de um ano era considerado um contrato de risco, como apontou o jornalista Fábio Sormani : “O Flamengo não deveria ter aceitado o que o Jorge Jesus propôs, que foi o contrato de um ano, para vencer na metade da próxima temporada. Foi um grande erro da directoria do Flamengo”. [2] Outro que criticou a escolha de Jorge Jesus foi o ex-treinador e multi-campeão Muricy Ramalho, que hoje trabalha como comentarista desportivo, que afirmou: “’Quem é o melhor técnico para o Flamengo? É o Jesus?’ Eu duvido que foi isso. Foi algum empresário que falou ‘olha, nós temos esse técnico aqui que é muito bom’ e realmente é muito bom”[3]. Já Juca Kfuri, que além de jornalista é sociólogo, constatou assim no seu blog: “Há uma evidente má vontade com técnicos estrangeiros no Brasil…”[4]
Assim sendo, este foi o clímax inicial vivido no Brasil por Jorge Jesus, oposição que aumentou muito, pois, até a equipa do Flamengo acertar, teve um período de altos e baixos, e acabou perdendo alguns jogos pelo campeonato Brasileiro e foi eliminado pelo Athletico Paranaense na Taça do Brasil, o que intensificou as críticas, como a do jornalista Roberto Alves, um dos mais conceituados comunicadores do estado de Santa Catarina, que afirmou na sua coluna: “A estreia do técnico Jorge Jesus no Flamengo não foi lá essas coisas.”[5] Já Carlos Alberto, ex-jogador e comentarista da Fox Sports afirmou: “O Jorge Jesus não tem nada demais do que temos aqui. Torço pelo trabalho dele, não é torcer contra. Tomara que faça sucesso.” Já outros jornalistas pelo Brasil foram mais críticos, inclusive chamando Jorge Jesus de “Professor Pardal”[6], pois, muitos jornalistas afirmavam que ele inventava demais na escalação da equipa. No entanto, o treinador português não se deixou abater, e com o seu profissionalismo apurado passou a conquistar grandes resultados à frente da equipa carioca, que rapidamente foi subindo de produção, vencendo jogos importantes no campeonato Brasileiro, onde hoje ocupa a primeira posição, eliminando o sempre tradicional Internacional pela Taça dos Libertadores da América. Feitos que foram credibilizando o trabalho do treinador, e mudando assim os paradigmas. Agora ele não é mais questionado, mas admirado pelo seu trabalho. Com estes resultados, após 35 anos o Flamengo se classificou para as meias-finais da Taça Libertadores, onde irá enfrentar o tradicional Grémio, comandado pelo experiente treinador Renato Gaúcho, e apontado pela imprensa brasileira como uma das equipas mais vencedora do país nos últimos três anos, pois desde 2016 venceu seis títulos, a Libertadores em 2017 e chegou nas últimas três meias-finais da competição[7]. Será realmente um grande duelo.
Enfim, Jorge Jesus tem conquistado o seu espaço no sempre difícil futebol brasileiro, o seu trabalho está sendo muito reconhecido, diariamente tem concedido entrevistas aos principais meios de comunicação do país, já que actualmente a mesma imprensa que o criticava passou a admirar o seu trabalho. Assim sendo, a crítica imprensa brasileira, que no início demonstrou objecção, agora demonstra reconhecimento e admiração pelo trabalho de Jorge Jesus, como destaca o jornalista Paulo Vinicius Coelho, conhecido como PVC: “hoje, o Flamengo joga o melhor futebol do país e impressiona sobretudo pela movimentação do ataque. (…) O Flamengo é, neste momento, uma homenagem ao futebol.” Esta opinião não é apenas de PVC, mas, é compartilhada por vários jornalistas como Juca Kfouri, que assim sinalizou: “Quem dera todos os treinadores brasileiros fossem igual ao português.” Esta condição actual do Flamengo possui relação directa com o óptimo trabalho desenvolvido pelo técnico português Jorge Jesus que, inicialmente, foi olhado com desconfiança mas, com o passar do tempo, ganhou a confiança de toda a imprensa nacional, dos torcedores brasileiros e, em especial, do torcedor do Flamengo, uma torcida apaixonada, que vê em Jorge Jesus a esperança do retorno de grandes títulos a um clube que já teve grandes estrelas do futebol mundial como Zico, Andrade, Júnior, Carpegiani, Romário — e agora Jorge Jesus!"

Até onde nos levam os nossos sonhos?

"Quando penso na primeira memória associada aos Jogos Olímpicos vem-me à lembrança o sprint final da Fernanda Ribeiro, que lhe valeu o título de campeã olímpica dos 10 000 metros, nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996.
No início do ano lectivo 1996/1997, a professora de Português da minha turma desafiou-nos a redigir uma composição com o título “O meu sonho é…” e, talvez ainda inspirado pela medalha da Fernanda Ribeiro, eu referi que gostaria de me “...tornar atleta de alta competição e participar em várias provas mundiais e, é claro, nos Jogos Olímpicos”.
Não me lembro de ter escrito esta composição, mas a minha professora não esqueceu. Por isso, em 2008, já com o apuramento garantido para competir na prova de espada dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, fui presenteado com esta relíquia durante a cerimónia de aniversário da instituição onde estudei entre os 10 anos e os 21 anos, o Instituto Militar dos Pupilos do Exército, como aluno interno.
Por ser de Viseu, passava muitos fins-de-semana nos Pupilos do Exército e, quando comecei a praticar Esgrima “mais a sério” surgiu uma necessidade que à primeira vista pode parecer pouco relevante: lavagem da roupa! Vou tentar explicar por que é que esta questão foi importante para o meu sonho.
A dada altura, surgiu a possibilidade de entregar a minha roupa civil e desportiva para ser tratada na lavandaria dos Pupilos do Exército. Quem normalmente me recebia era a dona Lucília, que perguntava sempre “como corria a Esgrima”, com um simpático sorriso. A única coisa que a dona Lucília sabia de Esgrima é que nós usamos fatos brancos. Talvez nunca tenha sequer assistido a um assalto de Esgrima, mas a forma como me recebia fazia-me sentir especial e motivava-me no meu percurso enquanto atleta.
Em 2002, conquistei a medalha de bronze no Campeonato da Europa de juniores, em espada. Na euforia do momento histórico em que tinha atingido a meia-final, liguei para a minha mãe para lhe contar o que já tinha conquistado. Do outro lado responde a minha mãe: “Olha, este fim-de-semana vou a Lisboa. Como vamos fazer para eu tratar da roupa?”. “Mãe, não estás a perceber! Eu estou em Itália, no Campeonato Da Europa, e já conquistei uma Medalha!”. Do outro lado, continua a minha mãe: “OK, está bem, mas como é que vamos fazer isto da roupa?”
Tal como a dona Lucília e a minha mãe, várias pessoas foram importantes no meu percurso enquanto atleta: umas vezes alimentando o sonho de criança, outras colocando as coisas em perspectiva para que nunca esquecesse que o desporto é um meio, mas não um fim em si mesmo.
Os sonhos podem ser nossos, mas nesta viagem não estamos sozinhos. Pelo caminho, cruzamo-nos com pessoas que, mesmo não dando por isso, ajudam-nos a manter o foco e a acreditar que vamos ser capazes de concretizar os nossos sonhos."

Crescimento sustentado

"Hoje é um dia muito importante na vida associativa do nosso Clube. Às 20h30, com segunda chamada às 21h00, terá início, no pavilhão Fidelidade, a Assembleia Geral para apresentação, discussão e votação do Relatório e Contas do Sport Lisboa e Benfica relativo à temporada 2018/19.
A época passada, no âmbito desportivo, celebrámos o quinto título de campeão nacional de futebol nas últimas seis temporadas. Nas modalidades de pavilhão, regressámos ao título nacional no futsal e no voleibol. E, no atletismo, prolongámos a já longa hegemonia na modalidade, celebrando o nono título consecutivo. Na vertente feminina, além do tricampeonato de futsal e do heptacampeonato de hóquei em patins, assistimos ao regresso das equipas de andebol e voleibol, em que ambas subiram de Divisão, e à estreia, ao fim de 114 anos de vida, no futebol e com retumbante sucesso: promoção ao primeiro escalão, campeão da 2.ª Divisão e vencedor da Taça de Portugal. Verificou-se ainda o reforço do Benfica Olímpico e a conquista de alguns títulos e feitos individuais a nível internacional em modalidades com menor notoriedade.
No plano associativo, entraram 21884 novos sócios. Cerca de dois terços dos novos associados inscreveram-se por via digital, confirmando o acerto do investimento nesta área. Ao nível das receitas, a quotização voltou a atingir um máximo histórico anual com 16,884 milhões de euros (crescimento de 5% relativamente ao ano anterior). Aliás, tratou-se do quinto ano consecutivo de incremento das receitas de quotização do Clube, reforçando a sustentabilidade da expansão do associativismo e evidenciando a dinâmica da captação de novos associados em simultâneo com uma maior capacidade de retenção dos sócios.
Ao nível patrimonial, o destaque vai para a anunciada transferência da Benfica Estádio e da BTV, na sua totalidade, para a esfera do Clube. O Clube estará assim indubitavelmente mais forte e protegido neste aspeto, contrariando a tendência que se vai formando um pouco pelo país e que começa a ser bem visível em alguns dos principais clubes portugueses.
E na componente económico-financeira verificou-se, pelo sexto ano consecutivo, um exercício lucrativo com os diversos excelentes resultados conhecidos e que já tivemos aqui oportunidade de analisar.
Muito haveria mais a destacar, nomeadamente a introdução do novo conceito de Casa do Benfica 2.0, a muito meritória acção da Fundação Benfica, a modernização de práticas de gestão e meios em vários departamentos ou ainda a evolução na área comercial do Clube, entre outros. Portanto, fica o convite para uma leitura atenta do Relatório e Contas e a lembrança, novamente, da realização da Assembleia Geral esta noite. A sua presença é importante!

P.S.: Haverá muito Benfica neste fim-de-semana. O destaque vai, naturalmente, para o desafio ante o V. Setúbal, no sábado às 19h00, no nosso Estádio, relativo à 7.ª jornada do Campeonato Nacional de futebol. No domingo haverá o Benfica – Sporting em futsal, às 14h20. Entre as muitas outras equipas do Benfica que competirão este fim-de-semana, refira-se a realização da Supertaça de Futsal (feminino). A partida será em Ponte de Sor no sábado, às 17h00, frente à Novasemente. #PeloBenfica"

Antevisão...

Ginga: Shéu...

Benfiquismo (MCCCV)

Objectivo...

Aquecimento... O Maior, Varela, Edmundo... e o resto!

Derrota pesada...

Benfica 68 - 96 Mornar Bar
24-18, 10-25, 24-22, 10-31

Até começamos bem, mas de facto não tivemos 'pedalada', ainda por cima com o Micah e o Betinho em noite 'desafinada'... contra um adversário com vários jogadores de qualidade: 3 internacionais de Montenegro que tiveram no Mundial da China e alguns Americanos de muita qualidade, inclusive um ex-Barcelona que fez a diferença com 29 pontos!!!

Não deixa de ser irónico, que estatisticamente, o Mornar tivesse 'dominado' nos Triplos!!!

O segundo jogo, será para cumprir calendário, não acredito em recuperações milagrosas, mesmo se os nossos dois melhores lançadores estiverem em noite inspirada. Ficámos perto de regressar à Champions da FIBA, mas muito provavelmente, na Europe Cup seremos mais competitivos...

Uma semana pedagógica

"Se Cervi ou Pizzi tivessem convertidos dois golos cantados, Bruno Lage teria sido genial a escalar o onze inicial frente ao Leipzig

1. Na semana passada, houve um comunicado da SL Benfica - Futebol, SAD, com informação económica e financeira consolidada relativa ao exercício findo a 30 de Junho, realizou-se o primeiro jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões e, por fim, o desafio em Moreira de Cónegos.
Quanto ao primeiro ponto, importa assinalar um conjunto de dados económicos, financeiros e patrimoniais que evidenciam a melhoria sustentada da SAD. Entre os elementos divulgados pelo seu C. Administração, transcrevo um ponto estruturante da actual fase de consolidação: «os rendimentos operacionais (excluindo transacções de direitos de atletas) atingem os 165,7 milhões de euros, o que corresponde ao valor mais elevado de sempre alcançado pela Benfica SAD e representa um crescimento de 36,3% face ao período homólogo; esta evolução nos rendimentos operacionais é principalmente justificada pela entrada em vigor do novo critério de distribuição de prémios nas competições europeias da UEFA, para o ciclo 2018/21, que implicou um aumento generalizado dos valores a distribuir (...)».
No que a este assunto do comunicado diz respeito, começou mal o Benfica desportiva e financeiramente (-2,7 milhões), na partida contra os líderes da Bundesliga, o Leipzig. Depois de duas finais na Liga Europa e de uma boa participação na Champions (quartos-de-final, em 2015/16), nos últimos 13 jogos, entre 2017 e 2019, foram 10 derrotas, 2 vitórias - contra o AEK - e 1 empate. Se, realisticamente, não pode haver a ilusão de um Benfica europeu de alto nível (nesta principal competição), também não pode acontecer este decepcionante desempenho.
Concordo com Bruno Lage quando afirmou que o jogo europeu até nem foi mau e não envergonhou os adeptos. Reconheço que o Leipzig tem maturidade colectiva, precisão de passe, simplicidade de processos e arcaboiço físico diferenciadores. Acho que, ao contrário de anteriores épocas, em que a equipa jogava em inferioridade psíquica e tremideira, tal não foi evidente neste jogo. Houve até ocasiões suficientes para, pelo menos, empatar o jogo. A diferença esteve sobretudo na eficácia. A equipa germânica teve três oportunidades e converteu duas. O Benfica teve quatro ou cinco hipóteses para acabar por fazer um só golo.
O futebol é rico em contingências que mudam a feição ou o resultado de um jogo e, inevitavelmente, a sua avaliação. Foi o caso. Se Cervi ou Pizzi tivessem convertido dois golos cantados, Bruno Lage tinha sido genial e escalar o onze inicial. Assim, logo surgiram, de supetão, as críticas a um artificioso 'estado de pré-crise', tão do agrado de certas audiências. Como ele em recordou, em Fevereiro, contra o Galatasaray em Istambul, a rotação e a aposta em 'jovens do Seixal' foi do mestre para a opinião publicada. Agora tal rotação foi considerada excessiva, deslocada e trocada. Cá para mim, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. André Almeida - de fora, por razões compreensíveis - de fora, por razões compreensíveis - foi bem compensado pelo estreante Tomás Tavares, que não tremeu. Do meio-campo para a frente, as lesões em série têm certamente dificultado a gestão do plantel (Gabriel, Florentino, Gedson, Chiquinho, Vinícius). Visto de fora, apenas a não entrada inicial de Rafa foi surpreendente, ainda que Cervi tenha cumprido, e se tivesse marcado o golo que teve nos pés, outro galo cantaria.
Já aqui o escrevi e volto ao assunto. Sejamos realistas. O plantel é inferior ao da época passada. Jonas não tem manifestamente substituto à altura, reconhecendo que se trata de uma missão impossível ter um seu clone à disposição imediata. Quanto a João Félix, também não enxergo uma alternativa à mesma altura, o que não é de estranhar. E quem entrou no plantel? De Raul de Tomas e Vinícius ainda não há evidências de desempenho que justifiquem os 37 milhões que custaram. Chiquinho foi uma boa aquisição, mas metade da época foi ao ar. É certo que o meio-campo tem mais e melhores soluções, pois conta com um recuperado Taarabt, bem como Florentino a confirmar a sua relevância. Acrescem os três Tavares, cada qual com o seu perfil,mas creio com boas perspectivas já nesta primeira época na equipa principal. Na frente, Jota é um jovem que é capaz do bom e do medíocre em minutos seguidos, que precisa de ter mais consistência, ainda que as oscilações de devam também, em meu entender, a diferentes papéis que tem vindo a desempenhar. Caio Lucas não faz esquecer Salvio. Por fim, Samaris parece não contar, ele que foi precioso na conquista do último campeonato.

2. E chegámos ao sábado à noite. Transcrevo, aqui, o título de um dos jornais de domingo (Jornal de Notícias) que define, com humor e clareza, a vitória do Benfica: «Águia benta. Na terra dos cónegos, o milagre da reviravolta aconteceu ao cair do pano». Foi um jogo reconhecidamente insuficiente. Valeram a fezada de alguns jogadores, um inconformado Rafa, uma boa batata frita de Seferovic descarada por um Jota acabadinho de entrar.
Custa a compreender a maneira como a equipa jogou, sobretudo na primeira parte: lenta lentíssima, parada. Nada o justificava, nem o cansaço, nem o tempo, nem o relvado, nem nada. A segunda parte começa com dois lances de perda infantil da bola, perto da área. O primeiro deu em canto. O segundo deu em golo do Moreirense. Em ambos, se viu uma maneira de estar em jogo que não entendo - expliquem-me! - qual seja a de se passarem estéreis minutos em passes e passinhos entre o guarda-redes e os defesas, ora vai para o lado, ora vai para trás, o que, não raro, dá mau resultado, ou termina com Vlachodimos aflito a mandar a bola para as alturas. Aliás, esta 'mania' não é exclusivamente nas equipas portuguesas, sejam as mais poderosas, sejam as de menor valor.
Acontece que o bem acaba é o que faz história e um campeão também se faz com vitórias bem suadas e felizes. A bom propósito, trata-se da 13.ª vitória consecutiva de Bruno Lage em jogos fora de casa (se não é recorde, anda lá perto). Os minutos finais são sempre o clímax do futebol. Deste vez correu bem ao Benfica, nos escassos 3 minutos de 'desconto', diante dos adeptos que jamais deixaram de apoiar a equipa, como era bem audível na transmissão televisiva. Na semana anterior, correu bem ao Porto nos abundantes minutos de descontos sobre descontos. Ambos de cabeça, no caso do Benfica com cabeça, no caso do Porto na cabeça do Nakajima.

3. Na rota europeia, excelente resultado do Sporting de Braga na Inglaterra, no jogo europeu das equipas portuguesas antecipadamente mais complicado. Os outros resultados eram, mais ou menos, o que se esperava. A nossa posição no 'ranking' está agora a aproximar-se do tão almejado lugar ora ocupado pela Rússia, que dá dois lugares directos na Champions e um hipotético terceiro. Para tal, também muito tem contribuído e desempenho das equipas russas, umas já eliminadas, outras com resultados bastante negativos. Realce para o Krasnodar que, depois de ter eliminado o FCP da Champions, levou 6-1 do Olympiakos no conjunto dos dois jogos do play-off e se estreia com uma derrota copiosa (0-5) contra uma equipa helvética. Por associação, tenho presença e declaração de Sérgio Conceição na conferência de imprensa que antecedeu o jogo contra uma equipa também helvética: «é melhor estar a competir para ganhar a Liga Europa, do que ser eliminado na fase de grupos da Liga dos Campeões». Nem nestes momentos, o homem se liberta da sombra do Benfica, credo! Pelo menos implicitamente, já prognosticou, ao fim de uma jornada, o destino dos encarnados (certamente, não se estava a referir a uma eliminação do seu próprio clube numa qualquer fase de grupos...). Só se enganou num ponto que talvez tivesse dado jeito (pelo menos, financeiramente) de FCP: ir à fase de grupos da Liga dos Campeões, ficar em terceiro lugar, e, depois, competir para ganhar a Liga Europa...

Contraluz
- Exemplar: Shéu Han deu uma entrevista à Bola TV reproduzida também neste jornal. Nos tempos conturbados do futebol actual, foi um bálsamo ver (ler) o que o grande benfiquista nos disse. Que saudades tenho de o ver jogar!
- Crime: Segundo a Wikipédia, um black hat («chapéu preto») é um hacker que, além de não respeitar a ética, usa o seu conhecimento para fins ilegais, ilegítimos, criminosos ou maliciosos. Há quem lhe chame cracker. Há crackers que se julgam craques, endeusados sabe-se lá por quem e a troco de quê, defendendo, sem corar, que os fins, para tal tidos como bondosos, justificam quaisquer meios, a não ser para os próprios (os piratas ou os seus defensores). Boa rapaziada, sem dúvida. Com pinta...
- VAR em série...: e vão três seguidas. Expulsão de um infeliz vimaranense no minuto 1, penálti falso em Portimão e, agora, penalidade ensanguentada não assinalada a favor do Santa Clara. Para não VARiar, com mais um árbitro da AF Porto, Rui Oliveira. Tal como no lance de Portimão, espera-se o pedido de desculpas."

Bagão Félix, in A Bola

Treinador mas não santo

"Será uma lástima se a Champions voltar a ser um caso perdido. Lage e os seus jogadores têm de pensar no que isso dói aos campeões europeus de 1961 e 1962 ainda vivos

Cervi titular com o Leipzig sem um minuto de competição, Cervi de fora no jogo com o Moreirense depois de ter sido titular quatro dias antes com os alemães, tudo é aproveitado para colocar pedras no caminho de Bruno Lage e ensombrar o brilho do seu trabalho.
Nenhuma surpresa quanto a isso. Ele deveria estar preparado para o impacto das derrotas e saber que, mais cedo ou mais tarde, seria contestado e alguém faria emergir a dúvida mais sobre o seu perfil do que sobre a sua competência para assumir o alto cargo de comandante do futebol benfiquista e, através desse enviesado estratagema, atingir o alvo principal que é o projecto do Seixal e o seu extraordinário impulsionador, Luís Filipe Vieira.
Bruno Lage já tinha sido derrotado antes, mas com a nação encarnada e a comunicação social em geral concentradas no objectivo Reconquista, os desaires noutras competições foram encarados como normais acidentes de percurso e, por isso, de irrelevante significado.
O Benfica foi campeão, conquistou o 37.º título, festejou com inebriante entusiasmo por todo o País, diria por todo o Mundo onde vive um português, e a vida continuou em direcção ao 38.º, que é onde estamos, exactamente, neste momento, perante um dado novo, porém: ao 22.º jogo na Liga, Lage perdeu, pela primeira vez, e logo com o FC Porto. Podia ter sido com outro adversário, mas foi com este, o principal rival, e da forma como foi: inquestionável. A partir daqui desencadeou-se um fenómeno curioso.
No essencial, tentou fazer-se crer que a águia entrou em voo desordenado, do qual vai sentir dificuldade em sair devido à impreparação de Lage, produto supremo dessa mania do presidente que vê nos jovens da formação a alavanca que vai devolver à águia o prestígio europeu e mundial que ostentou entre as décadas de 60 e 80 do século passado. Como se não bastasse a ideia louca de Vieira em gerar no Seixal os craques de amanhã, deu-lhe também na cabeça descobrir por lá o treinador que os há de ajudar a crescer.

Benfica, enfim, no caminho certo - foi este o título de uma das minhas crónicas semanais, há meia dúzia de meses. No caminho certo, porquê? Por Vieira, além de ter sacudido de vez os fantasmas do passado, com argúcia e sensatez, ter também tomado uma das mais importantes decisões no seu ministério ao escolher um treinador verdadeiramente sintonizado com o projecto da formação.
A opinião que hoje defendo é precisamente a mesma. Quando se define um fim é normal que, até alcança-lo, haja avanços e recuos, dúvidas, contradições e correcções, um sem número de medidas que se impõem à medida que o projecto cresce e avança e outros desafios se colocam, sempre numa perspectiva de crescimento que pede respostas concretas e seguras.
O Benfica está a fazer esse caminho, e bem. A evolução é constante e, por isso, além de maior clube de Portugal, será já «demasiado grande para Portugal», como o CEO Domingos Soares de Oliveira defendeu, com hábil oportunidade, em recente entrevista à agência EFE.
O emblema da águia quer expandir a sua dimensão universal, abraçar outros mercados, captar novos patrocinadores, gerar riqueza e consolidar uma estratégia de internacionalização que precisa do sucesso do seu futebol, alicerçado no trabalho realizado numa academia de topo a nível mundial. «Para muitos clubes, a obsessão é o resultado imediato. Nós temos uma situação mista: queremos resultados (ganhar o nosso Campeonato e chegar o mais longe possível na Champions), mas também integrar jovens jogadores», sublinhou Domingos Soares de Oliveira.

Se o futebol continuar a ganhar as coisas ficam mais fáceis e o percurso menos árduo. É a área da responsabilidade de Bruno Lage que nos dez meses como treinador principal decidiu quase sempre bem. Prova disso, as muitas vitórias e a conquista de um título que parecia perdido e que imenso orgulho trouxe à família benfiquista. Além de, com a espontaneidade de um puro, ter promovido novo tipo de comunicação, sem gritos, sem agressões, nem bazófias, apenas com simplicidade e graça e com a intenção que me parece genuína de estabelecer laços de saudável convivência com os restantes actores.
À beira de completar um ano em lugar de tamanha exigência e loucamente invejado, aprendeu, seguramente, que deve evitar as falsas palmadinhas nas costas e acolher as referências encomiásticas a seu respeito com a conveniente distância. Por outro lado, deve ter sempre a consciência plena que é, e só, o treinador do Benfica, evitando cair na tentação de se transformar numa espécie de santo milagreiro com poderes de transformar pedras em ouro.
Louva-se o seu entusiasmo em experimentar, adaptar-se e resolver os problemas do plantel com a gente disponível, mas igualmente com os limites que a lucidez aconselha, porque a qualidade não se inventa. Há ou não e, assim sendo, apesar dos azares das lesões, será uma lástima se a Champions voltar a ser um caso perdido.
Lage e os seus jogadores têm de pensar no que isso dói aos campeões europeus de 61 e 62 ainda vivos."

Fernando Guerra, in A Bola

Fever Pitch #21 - Setúbal na Luz, 1996 e 2002

Espelho meu...!!!

"São deliciosas as reacções do Calor da Noite e dos seus peões nas redes sociais e comunicação social em relação ao jogo de ontem com o Santa Clara referente à Taça da Liga. 
Só naquela, e confirmem-nos por favor, mas estamos a falar do clube que:
- Teve nas suas fileiras jogadores como Pepe, Felipe, Paulinho Santos, Bruno Alves, Jorge Costa, Fernando Couto, João Pinto, André, etc...
- Nem há uma semana teve um jogador adversário que saiu de campo com a cabeça aberta por uma cotovelada de um jogador do Calor da Noite
- Nas últimas três jornadas da Liga foi premeditada e escandalosamente beneficiado pela arbitragem, de tal forma que nem o seu próprio jornal conseguiu passar ao lado sem o referir na primeira página no seu famoso "Tribunal Unânime".
Estamos a falar deste clube, certo? Era só para confirmarmos...
Já agora, e na sequência de um tweet do Director de Comunicação do Calor da Noite, os fanáticos seguidores da personagem já andam a ameaçar de morte o jogador Fábio Cardoso do Santa Clara e já circula a morada dele nas redes sociais.
Não façam nada que não é preciso..."