"Amanhã, todos na Luz a lembrar o que Cosme Damião, Félix Bermudes e outros fizeram há 114 anos. E ganhar ao Marítimo.
O Benfica teve em Paços de Ferreira um jogo complicado, que apenas merecia ter tido um vencedor. A única surpresa foram os golos tardarem tanto, tal a diferença existente entre as equipas. O Benfica não fez uma boa primeira parte mas foi sempre superior. Não censuro o Paços pelo anti-jogo, nem pela imaginativa forma de queimar tempo. Censuro a arbitragem pela passividade primeiro, cumplicidade depois e finalmente pela co-autoria de expedientes dilatórios de queima de tempo. O árbitro avisou quatro vezes o guarda-redes pacense para a demora na reposição do jogo (só na primeira parte) e acabou sem mostrar um amarelo ao protagonista. O árbitro retardou o jogo para ele próprio ir arranjar um tufo de relva. Nunca tinha visto! Interromper o jogo para mostrar doces atirados das bancadas ao quatro árbitro, foi uma doçura!
Depois de uma arbitragem permissiva com todas as delongas, tivemos o jogo parado do minuto 83 ao minuto 87, quatro minutos por razão nenhuma. No reatar da partida, golo do Benfica e 1-2. Fez-se justiça. Nada que retire valor à luta do Paços de Ferreira, que tem na manutenção o seu objectivo, mas o anti-jogo foi demais.
Jonas, mesmo longe do fulgor físico, mostra capacidade e inteligências raras. De maior destaque, a forma como se festejou o segundo golo na Mata Real, o banco saltou para os festejos num compromisso inegável de ambição. Ver Samaris a festejar como fez mostra que onde poderia haver azia, havia alegria. Ver Luisão a ser capitão no banco, quase tão interventivo com Rui Vitória, mostrou unidade, querer, e paixão neste compromisso de tentar vencer.
Na semana do 114.º aniversário, mostraram em Paços todo o significado do 'E Pluribus Unum'. Era decisivo ganhar, mas tanto como na obtenção do golo, houve alma e compromisso no festejo do golo.
Amanhã todos na Luz e lembrar o que Cosme Damião, Félix Bermudes e alguns outros, fizeram há 114 anos, mas também a ajudar a vencer o Marítimo, que já nos tirou pontos este ano. Responder a todos dentro de campo: aos insultos com uma aceleração de Cervi; ao ruído com um golo de Jonas.
Seria assim o argumento do dramaturgo Bermudes, ao gosto de Cosme Damião, para festejar mais um aniversário, a honrar a história."
Sílvio Cervan, in A Bola