Últimas indefectivações

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O Regresso...

Lucas Veríssimo | O central de Jorge Jesus?

"Lucas Veríssimo tem sido um dos (muitos) defesas centrais apontados ao SL Benfica (Koch, Cabrera, Veríssimo, Leo Pereira etc). O defesa brasileiro de 25 anos fez um Brasileirão de muita qualidade, tendo sido o titular do centro da defesa do Santos FC, ao lado de Gustavo Henrique. 
Veríssimo é um jogador muito forte fisicamente. Com 1.88m de altura e 77 quilos, torna-se difícil ultrapassar o jogador em força. A nível defensivo destaca-se pelo bom posicionamento, boa marcação e capacidade de desarme. Registou 2.2 intercepções por jogo e 1.9 desarmes. Foi ultrapassado em drible apenas 0.5 vezes por jogo e realizou 4.5 alívios. Vence 62% dos duelos que disputa. Veríssimo não é um jogador nada impetuoso. Mantém-se sempre calmo e tem uma boa tomada de decisão. O espelho disso mesmo foram as zero expulsões que teve no último Campeonato Brasileiro.
O central brasileiro é um jogador bastante mais composto e concentrado do que, por exemplo, Robin Koch. Lucas Veríssimo cometeu apenas um erro que levou a um remate (no último Brasileirão), face aos quatro erros do alemão que originaram golos.
Apesar da sua elevada estatura, o camisola 28 do Santos FC tem alguma qualidade técnica com a bola nos pés. Diversos são os lances onde podemos observar o jogador a ultrapassar, com habilidade, avançados bem mais rápidos e a progredir no terreno. No capítulo da construção de jogo, apesar de ter bons números (completa 87% dos passes totais), ainda peca muito nos passes longos (completa apenas 44%) e tem alguma dificuldade em encontrar colegas em boas posições. É óbvio que tem uma grande margem de progressão, mas para já está muito longe de ser um bom “central com bola”.
O jogo aéreo é uma das grandes armas do jogador. Defensivamente é muito competente, ganhando 68% dos duelos disputados no ar. Ofensivamente é sempre uma referência a ter em conta. Marcou três golos em 2019.
Então Lucas Veríssimo é o central ideal para este SL Benfica? Depende. Veríssimo seria um excelente substituto para Rúben Dias, caso o internacional português abandone a Luz. São dois jogadores com algumas semelhanças físicas e técnicas. Seria um substituto competente!
No entanto, acho difícil que o brasileiro possa figurar ao lado do internacional português. Veríssimo é um central que usa preferencialmente o pé direito, o que pode causar muitas dificuldades na construção de jogo. Para esta posição o SL Benfica necessita de um central com maior qualidade na construção de jogo e preferencialmente canhoto. Neste sentido Koch ou Leo Pereira podiam ser opções mais viáveis, tendo até em conta a experiência europeia do alemão.
Outra questão será o valor necessário para contratar Veríssimo ao “Peixe”. O valor, segundo o que vai sendo noticiado na imprensa portuguesa e brasileira, deverá rondar os 10 milhões de euros. Esta quantia parece-me muitíssima inflacionada, tendo em conta a situação pós-confinamento que o mundo do futebol atravessa e a falta de experiência europeia do jogador.
O Southampton FC deverá pagar cerca de 12 milhões de euros por Mohammed Salisu, uma das grandes promessas do centro da defesa na Europa. Não estará o trabalho de scouting dos clubes portugueses e do SL Benfica em concreto a ficar muito atrasado?"

Complexos!


"Ambiente de excelência durante o jantar oficial de celebração do FC Porto, após a vitória frente ao SL Benfica, na Taça de Portugal.
O que os jogadores, equipa técnica e direcção do Sport Lisboa e Benfica não compreendem, é que isto só acontece de forma reiterada, ano após ano, porque nós o permitimos.
Quando decidirmos encarar o FC Porto, dentro e fora de campo, como aquilo que ele realmente é - um inimigo que de tudo faz para nos abater - e o enfrentarmos "à Benfica”, olhos nos olhos, então finalmente o ódio que eles hoje nutrem transformar-se-á amanhã em medo e acobardamento."

Voltar a ganhar

"Hoje, às 17 horas, no Benfica Campus, será apresentado Jorge Jesus, com a presença e intervenções do Presidente Luís Filipe Vieira e do administrador da Benfica, SAD, Rui Costa.
A temporada que findou no passado sábado ficou claramente aquém dos objectivos definidos, impondo-se, assim, um fim de ciclo e o início de outro. A obtenção de apenas um troféu numa época, caso não se trate do Campeonato Nacional, é escasso pecúlio para um clube como o Benfica.
É certo que conquistámos cinco Campeonatos nas últimas sete temporadas, incluindo o inédito Tetra, um feito que há muitas décadas perseguíamos e finalmente conseguimos. Nestas sete épocas, vencemos 15 dos 28 troféus em disputa, mais de metade, ou seja, mais do que o total agregado de todos os nossos adversários.
Porém, o percurso da nossa equipa, em 2019/20, não esteve à altura dos pergaminhos do Clube, saldando-se muito abaixo das expectativas, as quais eram legítimas e consonantes com o elevado investimento feito e com a ambição de todos os Benfiquistas.
Queremos ganhar sempre, nunca nos acomodamos nem viramos a cara à luta. Damos o melhor de nós para contribuirmos para o acréscimo de títulos e troféus ao nosso vasto e glorioso palmarés. E, felizmente, reabituámo-nos a vencer regularmente, algo que não acontecia desde a década de oitenta do século passado, o que muito nos orgulha e satisfaz, mas ainda mais nos responsabiliza.
Não surpreende, portanto, que, no final de uma época em que vencemos somente a Supertaça, se tenha decidido enveredar por outro caminho, não obstante o destino pretendido – ganhar, ganhar e ganhar – se mantenha.
Impunha-se uma reacção rápida à derrota e ela aí está, com o regresso de Jorge Jesus para iniciar um novo ciclo.
Trata-se de um técnico indiscutivelmente competente com provas dadas em vários clubes, nomeadamente no Benfica, pelo qual se sagrou Campeão Nacional três vezes, celebrando o Bicampeonato benfiquista 31 anos depois do anterior.
Temos os olhos postos no futuro, sabendo que contaremos com um grande treinador à frente do nosso plantel, o qual será muito bem apetrechado certamente. Sofrido um desaire, exige-se sempre uma resposta à Benfica, não tendo nós a mínima dúvida de que esta será dada o mais adequada e célere possível.
Nos últimos anos voltámos a ser, no futebol português, o Benfica que ganha mais do que perde. É este Benfica que queremos continuar a ser já na próxima temporada.
#PeloBenfica"

Recordações: Joana Ramos...

Noronha Lopes...

Finalmente, o fim da época

"Em Abril de 2019, ao percebermos que a defesa do SL Benfica nas redes sociais era praticamente nula, juntámo-nos e criámos esta página com o simples propósito de defender a verdade desportiva e expor o podre que é o futebol português.
Somos Benfiquistas independentes, que apenas querem o melhor para o Clube, daí que por duas vezes, nos termos insurgido publicamente contra os erros efectuados na preparação desta época. Logo em Agosto do ano passado, há quase 1 ano, expusemos as deficiências de planeamento e, infelizmente, tudo se veio a confirmar com o decorrer da época. Estava à vista de todos.
Ontem, finalmente, terminou este pesadelo. Com mais uma humilhação, com tão pouco Benfica. Contra um dos adversários mais fracos de sempre. Doeu muito, mas chegou ao final e agora é altura de olhar em frente.
Esperamos que não sejam cometidos os mesmo erros de planeamento e que se construa um plantel ambicioso, à nossa dimensão, e que fora do campo não sejamos displicentes como temos sido até agora.
Porque por mais #PortoaoColo que exista, o Sport Lisboa e Benfica tem de fazer a sua parte.
E Pluribus Unum"

A final da Taça de Portugal, um jogo definido por fatores emocionais e por aquela ideia tão simples que é querer ou não ficar com a bola

"A primeira reunião que Guardiola teve com Víctor Valdés, quando foi escolhido para treinar a equipa principal do Barcelona, teve um grande impacto no guarda redes espanhol. No seu escritório, em Camp Nou, o treinador preparou o quadro magnético onde colocou duas peças perto da área. Pep pergunta a Valdés se sabia que jogadores representavam aquelas duas peças, tendo obtido uma resposta negativa. Nesse momento, diz-lhe que aqueles jogadores são os defesas centrais, que vão jogar com ele dando-lhe sempre a possibilidade de uma saída curta, e que era nesse tipo de saída em que mais iam apostar.
Naquele momento, Valdés sentiu-se confuso. Ele não percebia aquela linguagem, e achou até que o treinador estava maluco. Depois da explicação do treinador, e de algum tempo que teve para reflectir sobre a informação que lhe passava, o guarda-redes responde-lhe: se os queres aí, é melhor que a queiram; porque para eles jogarem aí, onde tu queres, eles têm de ser corajosos e querer ter a bola. Em todo este diálogo a parte fundamental é a última resposta que o treinador dá e que termina com a conversa: "Tranquilo!; Disso encarrego-me eu; É o meu trabalho, e eu vou garantir que eles vão querer ter a bola".
Este relato é feito na primeira pessoa por Víctor Valdés para o documentário “Take The Ball Pass The Ball”, de 2018, ao qual ele termina dizendo que foi aí o começo de tudo.
Parece uma ideia simples e que falar nela é um exercício estéril, uma vez que assumimos que qualquer jogador joga futebol pelo contacto com a bola e por querer ser diferenciado no que pode fazer em função dela. No entanto, não são assim tantos os jogadores – sobretudo em posições mais recuadas – que têm o conforto, a coragem, e são estimulados de forma adequada para que se possam sentir livres e jogar no campo inteiro. Mas isso, como muitas coisas, é algo que faz parte da ideologia de um treinador ou não. São hábitos difíceis de mudar, e é nos momentos que se julgam menos importantes que a escolha, o conforto, o hábito de querer ficar com a bola ou não pode ser absolutamente decisivo, como foi o caso da final de sábado.
Estiveram em confronto duas equipas que sofrem quando são obrigadas a ter a bola durante muito tempo, que são rudimentares na forma como tentam desorganizar o adversário, criar espaço, e atacar a finalização de forma simples. Duas equipas que vivem dos momentos do jogo onde tudo se decide rápido (transições), ou dos momentos menos dinâmicos onde o tempo para preparar e treinar torna tudo mais imprevisível, ainda que a execução seja quase sempre muito difícil (bolas paradas).
E o jogo assim foi. Em toda a primeira parte mal jogado com bola, com as duas equipas a tentarem condicionar o adversário, e um FC Porto com dois lances onde consegue sair desse condicionamento, mas depois não conseguiu definir. Em 45 minutos, dois lances por parte das duas equipas é manifestamente pouco. A equipa de Sérgio Conceição, aliás, foi a única capaz de criar uma situação de golo, uma finalização limpa, durante esse período - falta rápida marcada por Otávio para Corona, que solicita Marega em apoio frontal. O avançado maliano segura muito bem, comprometendo Jardel e Nuno Tavares com o lance, o que criou um espaço entre Rúben Dias e o central que segurava o avançado. Com um toque de calcanhar, Marega deixa para Corona que tinha iniciado a marcha para invadir a área do Benfica. Com a oposição de Weigl, o extremo mexicano vê-se obrigado a puxar para o pé esquerdo e rematar para uma boa defesa de Odysseas.
O lance anterior ocorreu aos 3 minutos e depois disso há dois momentos que marcam o jogo de forma crítica: a expulsão de Luis Diáz, que altera por completo a dinâmica, e o corte do Jardel. A expulsão faz com que o Benfica seja obrigado a ter a bola durante mais tempo, e a estar na maior parte do jogo em ataque posicional. Ora, já sabemos que essa é e foi sempre a maior fragilidade do Benfica de Bruno Lage, ao qual Nélson Veríssimo deu continuidade. Jogar com menos um fez também com que o Porto tivesse de se resguardar mais perto da sua baliza, sem tentar condicionar em zonas adiantadas as saídas do Benfica, e mais do que isso, deu também o estímulo emocional extra do qual as equipas do Sérgio Conceição tanto precisam para se superarem na abnegação, no esforço, no compromisso colectivo.
Depois, o golo. Sair do intervalo com o treinador expulso, com um jogador a menos, e marcar na primeira ação perto da baliza do adversário, reforça tudo o que foi falado ao intervalo e eleva o estado mental “contra tudo e contra todos” para um patamar superior. Porém, antes do golo há uma acção tão simples, tão irrelevante, mas ao mesmo tempo tão determinante, que marca por completo a história do jogo. Artur Soares Dias apita para o início da segunda parte, a bola é atrasada para Pepe que de imediato tenta ligar longo, para uma zona onde o Porto tentava ter mais jogadores para atacar melhor não só a primeira como a segunda bola. O passe é impreciso e a bola segue para Jardel que está completamente só. O central corta, seguem-se duelos onde Danilo ganha a segunda bola, Gabriel ganha a terceira, Pizzi adianta a quarta, mas é novamente Danilo a recuperar, e o resto do lance é a última imagem que ficou na cabeça de todos - a abordagem defensiva de Weigl e a saída de Odysseas.
Aleatoriedade vs Controlo
(...)
É certo que Weigl errou e poderia ter abordado o lance com Danilo de outra forma, da mesma maneira que Odysseas coordenou mal a saída com os elementos da zona defensiva. Contudo, se Jardel tem tido uma ideia tão básica quanto o querer ficar no controlo do jogo, não se defender de uma perda e atirar a responsabilidade para a aleatoriedade, o lance não teria terminado daquela forma. E para quem acha que estou a culpabilizar o Jardel, desengane-se; mais uma vez, isto é trabalho dos homens do leme, que definem as intenções dos jogadores em larga medida. Numa equipa que quisesse ter a bola, Jardel matava no peito e saía a jogar, ou então, caso estivesse mais inseguro, teria atrasado para o seu guarda-redes ou tocado ao lado para Rúben Dias. Se calhar até, poderia ter optado por outras opções menos simples, mas dificilmente optaria por, num lance em que não tem pressão, entregar a bola para o duelo, para onde não se sabe quem vai sair mais forte.
Por vezes procuramos por razões tácticas e extremamente complicadas para explicar um jogo quando ele se define fundamentalmente por factores emocionais, ou por uma ideia tão simples quanto o querer ficar com a bola ou não. Diz-se que sou fundamentalista, que só olho para um tipo de jogo, que não vejo as coisas boas que outras formas de jogar apresentam; perdoem-me ser em contra-natura um fã absoluto dos jogadores, dos treinadores, dos directores desportivos, dos presidentes, e dos adeptos que, como eu, têm o atrevimento de querer ficar com a bola."

Cegos ?!!! Surdos?!!!


"Otávio: "O árbitro podia fazer o que quisesse que nós não perdíamos. Merecemos isto". "A jogarmos com 10? Com 10 não, eles é que jogaram com mais três e nós com menos quatro ou cinco. Mas faz parte. estava escrito que não perdíamos. Assim sabe melhor."
Ficamos à espera do castigo. Daqui a 2 anos, quando Otávio sair do #PortoaoColo pode ser que existam novidades."

"APAV, boa tarde. Como podemos ajudar?", "Sim, é a bola da final da Taça. Socorro". A final da Taça de Portugal

"Vlachodimos
A grande verdade é que uma pessoa não pode elogiar muito estes gajos.

André Almeida
Este jogo deixa-me numa situação complexa. Por um lado estou como todos os adeptos do Benfica: desapontado, deprimido, devastado por mais uma derrota sem apelo nem agravo. Por outro lado, a época chegou ao fim, o que significa que não tenho que escrever mais estes miseráveis. Copo meio cheio, amigos. De whisky, óbvio.

Jardel
Triste despedida: acabar a carreira representar um clube que só ganha campeonatos nos balancetes no qual metade dos jogadores não tem vontade de ganhar e todos recebem o salário a 100%.

Rúben Dias
Vi há pouco que um adepto do clube recebeu uma newsletter às 4:20 da madrugada com a mensagem “vamos virar a página e atacar 2020/21”. Isto é mais ou menos como sair de um funeral e alguém sugerir uma ida a um bar de karaoke.

Nuno Tavares
Acertou um cruzamento por cada espectador presente no Estádio Municipal de Coimbra.

Julian Weigl
Um dia, bem longe de terras portuguesas, este alemão vai contar aos seus netos sobre os estranhos dias que passou em Portugal a correr atrás de uma bola num relvado sem grande noção do que ele ou os seus colegas estavam ali a fazer. Talvez nessa altura o presidente seja outro. Deixem-me sonhar. 

Gabriel
Último jogo antes da Guantanamo que o espera às ordens de Jorge Jesus. Aperte com ele, mister. É como na música. Benfica, até debaixo de água. Quem não quiser que desampare a loja.

Chiquinho
Garanti-vos por 3 vezes que o Chiquinho iria marcar neste jogo. Não tenho culpa que vocês levem estes textos a sério.

Pizzi
Uma exibição mais anti-estatutária do que o emblema da nova camisola principal.

Seferovic
- APAV, boa tarde. Como podemos ajudar?
- Sim, é a bola da final da Taça. Socorro.

Cervi
É uma pena que as palavras escritas nem sempre permitam explicar-vos o que sinto. Deixo-vos com esta alternativa.

Taarabt
Vai ser giro voltar a vê-lo numa equipa que não esteja em auto-gestão. Até já, Adel.

Rafa
Penalti bem cavado e pouco mais. Valeu por ter contribuído para a fúria momentânea dos portistas, mas de pouco serviu.

Jota
Nada como perceber nos últimos minutos do último jogo da temporada que talvez o miúdo pudesse ter jogado mais do que 5 minutos por jogo. Mostrou uma coisa rara nos dias que correm: mais vontade de ganhar do que o adversário.

Vinícius
Muito bem o adjunto que não considerava este o jogo mais importante da época ao poupar o melhor marcador da equipa, para que este entrasse de férias com a máxima energia. Vinicius só cometeu um erro, que foi dar-nos esperança num desfecho menos infeliz.

Dyego Sousa
Deixem-me só acabar de beber este batido de cianeto e já vos digo o que achei da exibição do Dyego."

Um Benfica sem cor

"Lamento não poder elucidar o universo benfiquista sobre a magna questão que tem ocupado as mentes mais brilhantes nos últimos dias: que cor é aquela das novas camisolas? E não foi por falta de debate. Na primeira meia-hora da final de sábado, enquanto o Futebol Clube do Porto fazia gato-sapato daquele conjunto heterogéneo de jovens promessas do Seixal, gregos voadores, centrais na pré-reforma e avançados ligeiramente menos estáticos e tangencialmente mais eficazes do que torres eólicas, só tive olhos para as camisolas pois o que estava dentro delas não me pareceu digno da minha atenção.
A minha mulher, sportinguista inflexível, tentou ajudar-me a resolver a questão cromática, mas acabou por adormecer, creio que ainda antes do intervalo. Eu, para meu grande infortúnio, mantive-me desperto a assistir à parada de horrores parados e a pensar, à guisa de distracção, em “papaia”, “salmão”, “coral claro”, “tomate” e “terracota”. Imagino que a expulsão de Luís Diaz tenha animado alguns adeptos. Já a minha reacção fez-me lembrar a temporada que passei em Hiderabade, na Índia, quando anfitriões muito prestáveis me ofereciam comida que eu sabia ser insuportavelmente picante e acabava por aceitar com um sorriso de agradecimento contrariado e aquelas palavras de etiqueta: “não era preciso incomodar-se.” Bem sei que Soares Dias agiu correctamente, mas não era preciso incomodar-se.
Este ano, a final da Taça de Portugal teve a particularidade de ser disputada numa altura do ano que associo a serenos torneios de pré-época e a jogos amigáveis com equipas de cabeleireiros suíços do terceiro escalão e a inúmeras derrotas na Supertaça e tudo o que posso dizer em favor dos jogadores do Benfica é que eles estiveram à altura desses momentos, num futebol menos organizado do que as praias em tempos de pandemia com aquele perfume nostálgico do protector solar, de Piz Buin, do creme das bolas de Berlim, das sandes de ovo e dos pacotes de Compal de tutti-frutti. Se o jogo tivesse sido de dia, teria sentido falta da famosa bola da Nívea e das avionetas com tarjas publicitárias a sobrevoarem o campo e de Nélson Veríssimo, estendido numa toalha junto do banco, a soerguer-se, a fazer uma pala com a mão e a tentar decifrar a mensagem que naturalmente teria de ser: “adeusinho, man.”
Não quero ser severo, muito menos severíssimo, com Veríssimo, a quem coube a ingrata de guardar um corpo em avançado estado de decomposição à espera da chegada do delegado de saúde, um tal Jesus que é bom que tenha aperfeiçoado os dotes de ressuscitador. Mas era Veríssimo que estava no banco, também ele muito estival, sem nenhum do entusiasmo do interino que ainda sonha com o lugar e com todo o desinteresse ressentido dos jogadores que entram nos descontos quando a equipa está a perder por 3-0.
E o futebol que o Benfica jogou – chamemos-lhe futebol, por favor – foi nitidamente um futebol interino. É que há pouco eu dizia que o jogo me lembrava o período da pré-época, mas a verdade é que, na maioria desses jogos, sendo o futebol de fraca qualidade, há uma esperança seminal, como se estivéssemos a assistir ao nascimento, por vezes atribulado, de qualquer coisa. Neste caso, foi exactamente o contrário: o Benfica jogou como uma equipa em desintegração, um império outrora grandioso a desfazer-se em directo, um onze em, lá está, avançado estado de decomposição. Um Benfica interino, provisório, não como um estaleiro de obras de onde se espera que mais cedo ou mais tarde apareça uma coisa nova, mas provisório no sentido de precário, uma estrutura que ameaça cair ao mínimo toque.
Ontem, li no "Público" uma entrevista a um psicólogo que fez um estudo sobre a Guerra Colonial em que dizia que “os militares, quando chegavam para render outros, ficavam perfeitamente horrorizados com o olhar de louco e de perturbado dos soldados veteranos que iam embora” enquanto alguns dos veteranos olhavam para os “maçaricos” e pensavam “estás aqui todo impecável, fardado, cheio de energia, mas isto é o que te espera, vais ficar como nós.” E pensei que a equipa do Benfica que entrou em campo no sábado era uma mistura de “maçaricos” assustados e de veteranos cínicos e desgastados por anos de guerra que, de regresso a casa, se questionam sobre as razões para terem combatido e não encontram uma resposta satisfatória. Foi como se o Benfica tivesse ido para a batalha com um exército de pacifistas e objectores de consciência contra um inimigo que nunca perde tempo com considerações filosóficas sobre a natureza absurda da guerra.
Seferovic a tropeçar na bola como se lhe tivessem atirado uma granada para os pés, Nuno Tavares a avançar pelo flanco esquerdo como se procurasse negociar umas tréguas em vez de desferir um golpe no adversário, Dyego Souza a olhar para os céus não sei se a pedir clemência ou um milagre, Rúben Dias a chutar balões consecutivos como quem descarrega em pânico uma metralhadora para o vazio. Tudo triste, sem sentido, sem alma, como se nas veias daqueles jogadores não corresse o sangue vital, mas um líquido assim da cor indefinível das novas camisolas."

Será que o fair-play é a essência do desporto?

"Eric Arthur Blair, conhecido pelo pseudónimo Georges Orwell (1903-1950), escritor, jornalista e ensaísta inglês, disse que o “verdadeiro desporto não tem nada a ver com o fair-play. É cheio de ódio, de invejas, de não respeito das regras e do prazer sádico em olhar para a violência. Por outras palavras, é a guerra sem tiros”. É num artigo publicado na revista inglesa “Tribune”, de 14 de dezembro de 1945, que Georges Orwell mostra, com uma força devastadora, o carácter falacioso dos discursos sobre a nobreza do desporto.
“Eu fico sempre estupefacto ao ouvir as pessoas dizerem que o desporto favorece a amizade entre os povos (…). Ao nível internacional, o desporto é abertamente um simulacro de guerra”. Estas palavras têm que ser colocadas no seu contexto histórico, mas, de facto, algumas verdades antropológicas essenciais não devem ser esquecidas. Por um lado, o desporto tem uma relação nativa com o confronto. Por outro lado, tem (ou teve) uma função social de preparação para a guerra, estimulando e fortificando o corpo para o combate, ou seja, o tal “rebronzeamento da raça”, nas palavras de Pierre de Coubertin. A esta função junta-se a necessidade de criar os laços entre os membros de uma comunidade, pela exaltação de uma identidade colectiva.
Num outro texto, “Massacres por uma bagatela”, publicado na revista “Quel corps ?”, n.º 30-31, Junho de 1986, o filósofo Patrick Tort lembra que o “desporto tem duas lógicas: uma lógica de guerra e uma lógica de paz, e que a prática moderna do desporto não conseguiu evoluir no sentido da paz, apesar das declarações públicas mais universalistas e aparentemente mais afastadas do nacionalismo. “O desporto é uma guerra em miniatura”, reitera Michel Caillat, sua obra “Sport : l’imposture abolue” (2014) . A transgressão é a regra, a falta inteligente é, muitas vezes, saudada.
Ao contrário do que disse o filósofo Bernard Jeu (1929-1991), no seu livro “Le sport, la mort, la violence” (1975), a morte não é apenas simbólica e a violência limitada ou codificada. Ela pode ser real, como já aconteceu várias vezes. O futebol, o desporto mais popular, tem atingido por algumas catástrofes. Os estádios são locais propícios para a expressão de agressividade, de frustração e de afirmação identitária. Num universo concorrencial, o atleta, preparado física e mentalmente, deve estar motivado e ser dominador. Ele cultiva o “eu” (narcísico) e fixa os seus pensamentos num objectivo: ganhar. A violência, para muitos autores, é a essência do desporto e não o fair-play, isto é, o respeito pelas regras e pelo adversário."