Últimas indefectivações

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Estórias da Pérsia !!!

"O blogue mercado de Benfica emigrou para o Irão. Seguiu os passos de Carlos Queiroz, ou de Toni, se quiserem referência mais querida. A partir da sua nova casa dedica-se ao estudo e desenvolvimento de temas relevantes para a sociedade iraniana, como o depoimento do árbitro Tiago Antunes no TAD, o azarado disciplinador de Brahimi. Também vai abrindo o apetite da crítica iraniana com a divulgação dos emails de Miguel Moreira, outro quadro do Benfica em vias de alcançar o estrelato na nova Pérsia. Para atirar areia aos olhos dos não iranianos, oferecem uns articulados de temas que interessam, sobretudo, à OCDE e... à PJ! Parecem guias!
Curiosa utilidade a deste blogue, que até pode vir a cair nas boas graças de uns dedicados investigadores e curiosos da criminologia. O enredo é cada vez mais cinematográfico: "O hacker de Teerão". Se dão uma no cravo e outra na ferradura, só o Estado de Direito o dirá.
O que eu não vejo é nada do FC Porto, carago! Descarregam, descarregam, descarregam, mas do FC Porto, nadinha! Até parece que não há lá nada que um iraniano não gostasse de ver. Se calhar, além de uns ventres tarimbados encontravam um centro de formação em rendimento desportivo, que levaria a Federação Iraniana a por as mãos na taça Jules Rimet. Com a facilidade com que o Porto agarra as ligas de Portugal.
Portanto, do Irão espera-se muito e não é petróleo. Nem regulação para blogues que divulgam o produto de crimes informáticos consumados contra o Benfica. Já nem se pode adivinhar o que por aí vem, mas preparemo-nos para o pior. Agora até já avisam!"

Sou do Tondela desde pequenino

" “A 7 de Janeiro de 2019, o Clube Desportivo de Tondela (CDT) bateu em casa o Sporting Clube de Portugal na 16 ª jornada da 1ª Liga de futebol sénior.” Se há 25 anos algum tondelense lesse esta notícia, seguramente teria uma de duas reacções: rir, pelo disparate, ou ignorar, pelo disparate. Sei do que falo porque era tondelense há 25 anos – daqueles tondelenses verdadeiros que vivem mesmo em Tondela; hoje ainda mais verdadeiro por sentir-lhe genuína falta.

Estou convicto de que vou acabar este texto a advogar a grandeza da minha terra, a grandeza do clube da minha terra, a grandeza do meu clube da minha terra. Mas não há maiores feitos do que aqueles que, por contraste, foram conseguidos pelos mais pequenos. É nesse sentido que terei de louvar a grandeza de Tondela a partir da sua pequenez, que passo a provar. Para isto nem preciso dos argumentos da densidade populacional ou da área geográfica: é a terceira vez que escrevo “tondelense” nesta página do Microsoft Word e, pela terceira vez, a palavra é sublinhada com um risco vermelho, como se de um erro se tratasse. A fundação de Tondela completou 500 anos há pouco tempo e os seus habitantes continuam a caminhar sobre um risco vermelho de erro - se isto não é atestado de pequenez, eu não sei nada.
Retomo a ideia inicial. Caso em 1994 tivéssemos organizado uma cápsula do tempo onde as pessoas de Tondela escrevessem as suas previsões para o futuro, duvido que 25 anos depois estivéssemos a ler alguma coisa que relacionasse o clube da cidade com a 1.ª divisão. “Carros voadores”? Seguramente! “Homem em Marte”? É possível! mas duvido que “CDT no escalão máximo do futebol nacional” passasse pelos vaticínios de alguém. E “CDT a ganhar a todos os 3 Grandes”, então, daria ordem de internamento no Hospital Psiquiátrico de Abraveses.
Isto não é índice de falta de ambição, nem muito menos de desinteresse futebolístico. Prova que, se calhar, na minha terra as pessoas têm noção da sua pequenez intrínseca, mas trabalham com o afinco de quem não se limita às suas condições e noções. A isto chama-se humildade. Dessa forma, quando ouvirmos o Ricardo Costa, ou o Tomané, ou o Cláudio Ramos, ou qualquer outro jogador tondelense afirmar nas conferências de imprensa que “É preciso encarar jogo a jogo com humildade”, saberemos que há uma cidade pequena a dar esse exemplo. E não é desde 1994, nem 1933 (ano da fundação do CDT), é de 1515. São 500 anos de gente humilde, pequena a operar grandes feitos.
A frase que intitula a esta crónica é, no meu caso, uma verdade literal. Mas é também uma mentirinha espirituosa que recentemente e não poucas vezes tenho ouvido. Ontem, ainda antes do Tondela receber o Sporting, aposto que muitos benfiquistas e portistas afirmaram ser “do Tondela desde pequeninos”. Fazendo fé que o clube beirão se vai manter por longos anos na 1ª liga, conto ouvir a mesma piada sempre que o CDT enfrentar um dos Grandes. Talvez apenas um punhado de viseenses (incapazes de digerir o sucesso doutro clube da região que não o do seu Académico de Viseu) continuará a furtar-se de ser do Tondela desde pequenino.
Embora ache muita graça à simpatia com que os meus amigos simulam apoio ao CDT, não ignoro que o fazem apenas em antagonismo para com o adversário. É por isso que também eu nos últimos 4 anos (desde que os auriverdes ascenderam à 1ª Liga) tenho traçado objectivos para a época, e que não são só esses hercúleos da manutenção, ou das competições europeias. Desportivamente desejo que ninguém seja de Tondela desde pequenino, mas que todos queiram ser pequeninos como o Tondela. Falar da grandeza de um clube é passatempo subjectivo e gasto, mas o meu foco aqui será (e volto a carregar nesta tecla) celebrar a pequenez, sobretudo essa que se bate por grandes feitos. O Benfica tem a mística, os sportinguistas sabem porque não ficam em casa, o Porto é uma nação. Há sempre características exclusivas que cada adepto sente sem saber necessariamente explicar, e é isso que pretendo revelar também no meu Tondela - mas desejo “saber necessariamente explicar”, debruçar-me no indizível e partilhar o intransmissível.
Os meus votos para 2019 são que, de uma vez por todas e aos olhos de todos, o Tondela deixe de ser um MacGuffin. Para quem desconhece de que se trata um MacGuffin, asseguro-vos antes de mais que o Clube Desportivo de Tondela não pode sê-lo. Explicando em traços largos, no cinema chama-se MacGuffin a um elemento (normalmente um objecto) que motiva as acções dos personagens, mas que não tem assim tanta importância ou relevo para a fruição do filme. Serve para pôr a história a andar, mas é um elemento sem personalidade.
Ora, o Tondela não pode ser nada disso, não pode ser apenas o clube dos trocadilhos “ao tom dela” para picardias em redes sociais. Não pode ser apenas o clube da “pequena cidade longínqua” das peças jornalísticas que querem o recôndito e não o âmago. Não pode ser apenas esse embaixador futebolístico da Beira Alta, instrumentalizando no desporto uma ideia despersonalizada de regionalização. E não pode, não pode mesmo, ser apenas o clube do qual somos desde pequenos, esse descartável MacGuffin que se limita a explicitar sentimentos para com os rivais. É com esta certeza que escrevo sobre o Tondela, e que provavelmente voltarei a escrever. Concedam-me a oportunidade de serem convencidos.
(...)"

(...) leia esta reflexão sobre o futebol português apenas quando se sentir emocionalmente disponível

"Ano novo e, sim... vida nova! Certo?
Prepare-se. Segue-se reflexão romântica e apelo idealista. Se está em modo "pragmático", faça-me um favor: não leia este artigo agora.
Guarde-o. Passe os olhos mais tarde, quando se sentir emocionalmente disponível. Já vai perceber porquê.
Dizem que as palavras são instrumentos poderosos, em determinado contexto e a dado momento. Confesso, concordo em absoluto.
Um dos parágrafos do prefácio que Ricardo Araújo Pereira escreveu num dos livros da Sandra Duarte Tavares dizia quase tudo:
"Faço com palavras tudo o que é importante. Por exemplo, se quero que uma pessoa saiba que gosto dela, recorro mais depressa a palavras do que, digamos, a beijos”.
As minhas palavras de hoje são, essencialmente, de vontade. Vontade em ver o futebol manter muitas coisas boas e vontade em vê-lo mudar muitas outras, menos positivas.
Comecemos pelo princípio.
Sou um homem que vive e respira desporto, dos pés à cabeça. Comecei a carreira na arbitragem em 1991 (sou menos jovem do que o jovem que sinto ser), mas antes disso já dava uns pontapés na bola, convencido que tinha pinta para a coisa.
Obviamente... não tinha. Por isso, desisti do sonho de jogar, mas não do sonho de continuar ligado a esse mundo. E assim foi, assim é, até aos dias de hoje. Até 2019.
O arranque do novo ano fez soar, de novo, o velho alarme psicológico que todos tememos: o de sentirmos que o tempo começa a escassear.
A cada momento que passa, encurta. Foge. Escapa pelos dedos.
Falta menos para criarmos mais. Para tentarmos o impossível. Para deixarmos obra feita.
E essa verdade, inevitável e bem maior do que nós, ganha outra força quando o calendário vira. Quando um ano morre para que outro nasça.
Isso devia ser suficiente a levar-nos a uma reflexão maior. Devia inspirar-nos.
Afinal de contas, o que é que andamos cá a fazer? Que legado queremos deixar para os nossos filhos? E como queremos ser recordados pelos outros?
Para quem está no mundo do futebol, essa pergunta faz sentido redobrado. Triplicado até. É que a indústria cresceu tanto, mas tanto que hoje é um monstro de dimensão incalculável.
Só em Portugal existem cerca de duzentos mil praticantes federados. Significa isso que, para além de tantos outros (amadores), há milhares e milhares de pessoas ligadas a este universo. E há muitas mais que trabalham e subsistem nele. Através dele. Por via dele.
É colossal! Um mundo dentro do mundo. Um mundo que afecta tanta gente e tantos sectores de actividade.
Um mundo anormalmente portentoso.
Quem hoje tem responsabilidade directa nesta actividade deve questionar-se sobre o seguinte: como é que se consegue converter tanta força em algo ainda mais robusto, bonito e transparente?
A resposta exige que se tenha noção clara da realidade actual e dos desafios que esta apresenta. Três exemplos:
1.Temos uma estrutura nacional que é tida (com inteira justiça) com uma das grandes referências mundiais em matéria de profissionalismo e competência. Produzimos resultados individuais invejáveis (muitos), que reflectem a excelência do trabalho feito por muita gente capaz.
No entanto e quase sempre, o jogador português prefere abandonar o seu país, o seu conforto e as suas raízes, para abraçar projectos noutras paragens. Porquê? Como convencê-lo a ficar? Como inverter essa lógica perversa, de criar com estima para os outros levarem com dinheiro? Como evitar essa sangria, que enche os cofres de quem cuida mas esvazia a competição de quem fica?
2. As nossas conquistas coletivas são igualmente admiráveis, sobretudo em anos recentes. Para nosso enorme orgulho, nosso enorme orgulho.
No entanto, o fosso entre o nosso principal campeonato e os respetivos "homólogos europeus" é cada vez maior. Além da questão de (não) conseguirmos reter as jóias mais preciosas, que outras medidas deviam ser tomadas no sentido de encurtar distâncias? O que se pode fazer para não perder este comboio, fundamental para a qualidade competitiva e saúde económica do nosso futebol? Se produzimos matéria-prima de qualidade e somamos pontos em tantas áreas, o que é que nos falta para sermos tão fortes como os outros? Que têm eles que não temos nós?!?
3. Quando quer unir-se, o futebol português é fantástico e, de facto, não há gente como a gente. Cria acções de solidariedade, envolve tudo e todos e mostra ao mundo todo a sua verdadeira dimensão ética. O seu lado mais altruísta.
No entanto, aos olhos de quem está cá dentro mas de fora, essa parece ser a excepção e não a regra. Porquê? Porque é que há essa sensação permanente? Que desvario bipolar é esse que leva pessoas capazes do melhor a se mascararem do pior? Que forças tão feias se levantam ao ponto de desvirtuar a essência da decência humana? Será a vontade de vencer, a todo o custo? Será sede de poder? Serão motivações financeiras? Ou um pouco de cada ?
Seja o que for, não é bonito de se ver.
Entre estas e tantas outras verdades do momento actual - não necessariamente negro mas tão capaz de ser melhor - há a tal questão de fundo. A do tempo.
Tic, tac. Tic, tac.
Cada momento do presente é, no instante seguido, passado. E quem agora tem tudo nas mãos deve saber aproveitar cada segundo para fazer ainda mais e melhor. Para tentar o impossível. Para honrar a camisola que veste e encher a consciência de orgulho e admiração.
Há que ter resiliência para preservar tudo o que de bom se construiu e coragem, muita coragem para afastar as pessoas erradas e as estratégias falhadas.
O futebol será cada vez melhor se tiver pessoas com essa virtuosidade. Se conseguir que cada uma delas abandone o "eu" para priorizar o "nós".
São as pessoas que devem servir o futebol. Não o contrário, nunca o contrário."

Derrota em Felgueiras...

Guimarães B 2 -1 Benfica B


Sem transmissão televisiva, pelas informações chegadas, parece que atacámos mais, rematámos mais, mas fomos surpreendidos em contra-ataques... Ainda por cima com auto-golo do Ferro para começar!!! E com um penalty sobre o Jota que ficou por marcar, ainda com 0-0...!!!
Com a saída do Pedro Amaral para a Grécia (com o Guga...), com a ida aparente do Parks para New York... com 5 jogadores lesionados (D. Tavares, Jorginho, Lystcov, Diogo Mendes e o Daniel dos Anjos), estamos a ser obrigados a muitas 'subidas e descidas' entre os Juniores, os Sub-23 e os B... Tudo isto, num momento onde fizemos muitos jogos fora de casa... é importante vencer no regresso ao Seixal..

PS: Boas notícias, com a 'aparente' renovação do Tiago Dantas.

Pirilampo

"1. A luz que Vieira viu para manter Rui Vitória era, afinal, um pirilampo. Fez ao ex-treinador (com consentimento deste) o mesmo que aquela adepta do River Plate fez ao filho quando lhe prendeu engenhos pirotécnicos ao corpo.
2. Se Sérgio Conceição se sente um alpinista no FC Porto, Rui Vitória era, nos últimos tempos, no Benfica, um mineiro a escavar contra o destino.
3. Nos dois primeiros anos, porém, mostrou toda a sua competência. Ninguém pode apagar os seis troféus (dois campeonatos). É como um coleccionador de moedas: nunca as limpa porque isso é limpar a história delas.
4. Do provisoriamente efectivo Rui Vitória ao efectivamente provisório Bruno Lage (será?), discute-se a sucessão. E quando se fala de um bife banhado a ouro (José Mourinho), tudo o resto parece bifanas a pingar óleo.
5. Se eu tiver uns sapatos rotos e 30 casacos, o que devo comprar? Caio Lucas (mais um extremo), é casaco.
6. Quando vemos um jogador do Sporting com o símbolo do clube ao contrário na camisola, é legítimo questionarmo-nos se algum dia o clube vai endireitar-se. E enquanto pensamos na metáfora, Tomané marca de trivela (!) e lá se vai a figura de estilo.
7. Quando vemos um jogador do Belenenses sem o símbolo do clube na camisola, percebemos que para Rui Pedro Soares e Patrick Morais de Carvalho o filme Casablanca é das mais belas histórias de terror do cinema.
8. Os salários em atraso estão para o V. Setúbal como o caramelo está o Mars, apesar dos doces comunicados.
9. Nenhum jogador do SC Braga entra de caras nos onze dos três grandes. Que grande trabalho de Abel.
10. Acabou agora o FC Porto - Nacional. Qualquer dia é mais fácil acompanhar as provas sul-americanas.
11. Caro Júlio Mendes, este artigo foi escrito ao abrigo do Artigo 85.º - A do Regulamento Disciplinar da LPFP. De resto, alguma novidade no mercado?"

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Cadomblé do Vata (Dragartices!!!)

"Havendo no horizonte próximo um Clássico por disputar, já era de prever tentativas de desestabilização azuis e verdes ao SLB. Como a safra de "emails de interesse público" se esgotou na exposição do criminoso roubo das bolachas da Magda e na demonstração de como o Benfica adulterou de forma inenarrável a verdade desportiva recorrendo a um bruxo guineense, os da Aliança tiveram que recorrer ao plano B, chamado Francisco J. Marques, colocando-o em directo num canal usurpado pelo FCP à cidade do Porto, aos portuenses e porque não dizê-lo, aos outros clubes do Porto, a tecer críticas veladas ao canal televisivo que o Benfica fundou de raiz.
O argumento utilizado nem foi novo no seio do Mundo Às Riscas: as transmissões em directo dos jogos caseiros do SL Benfica na Liga de futebol, desvirtuam a competição. Por razões que ainda estão por apurar, tal efeito negativo não se verifica nas que os canais Riscados realizam nas modalidades de hóquei, futsal (só o Sporting), basquetebol (só o FC Porto), voleibol (só o Sporting), andebol, equipa B de futebol (só o FC Porto), equipa de sub 23 de futebol (só o Sporting), futebol feminino (só o Sporting) e escalões de formação nas diversas modalidades. Uma longa lista de modalidades que o SL Benfica pratica e que os campeões do ecletismo têm à vez.
O que ninguém ainda entendeu bem é se a desfaçatez com que os nossos rivais colocam em causa umas transmissões e aplaudem outras é apenas anti-Benfiquismo primário salteado com cogumelos de falta de vergonha, desvalorização absurda das chamadas modalidades (como se o futebol não fosse uma também) ou a mais básica demonstração de hipocrisia.
No caso do Porto Canal as coisas até são mais "dinâmicas": entrevistas ao Pinto da Costa e programas do director de comunicação, são feitos "no canal do FC Porto"; transmissões em directo e financiamento ilícito junto do Turismo do Porto são coisas "do canal fundado pelo Bruno Costa Carvalho que agarrou no dinheiro e fugiu para Angola com os No Name Boys que atacaram a Academia de Alcochete"."

Ecléctico - episódio 6

A prova inequívoca

"A notícia de que pelo menos um dos escritórios de advogados que trabalha para o Benfica foi vítima recente do crime de violação e divulgação da sua correspondência privada, por parte do blogue que desde a primeira hora nos atacou, vem provar de forma inequívoca que estamos perante uma estrutura criminosa altamente organizada, profissional e acaba com todas as dúvidas sobre a origem e quem está por trás do roubo dos nossos emails, eliminando em definitivo a tese de que tal roubo poderia resultar de uma fuga interna.
Como se sabe, a face visível dessa rede criminosa tornou-se pública quando, através do Porto Canal, o director de comunicação do FCP surgiu como porta-voz do roubo dos emails, num crime que está sob investigação e que já levou à sua constituição como arguido, bem como de todos os administradores do FC Porto, neste caso pelo crime de ofensa a pessoa colectiva.
A coincidência de, na mesma altura, surgirem como figuras de destaque no Porto Canal elementos com ligações de amizade a um reconhecido hacker integrado numa rede internacional de cibercrime (e que se encontra em parte incerta) bem como o recente surgimento num canal de televisão, como elemento afecto ao FC Porto, do advogado desse hacker no passado, são sinais que tornam cada vez mais evidentes as ligações e as razões porque a alegada correspondência privada do Benfica foi ter às mãos do director de comunicação do FCP.
As motivações, o empenho no tempo, a estratégia meticulosa – com alvo (ou alvos) muito claro(s) – que não olha aos danos que provoca, seja de foro privado ou de direitos ao abrigo do segredo profissional, e ainda os meios alocados por esta rede criminosa, tornam óbvio que não se trata de um trabalho gracioso, até porque este tipo de cibercrime institucional e empresarial é encarado como um negócio por estas redes criminosas.
O cerco aperta-se e estamos certos que, a cada dia que passa, as autoridades estarão mais próximas de conseguir apurar todas as responsabilidades.
Mas também aumentam as preocupações. Porque uma rede criminosa que invade instituições também é capaz de facilmente ter acesso a correspondência privada dos mais diversos agentes desportivos – o que, somado a invasões de centros de treinos de árbitros e ameaças físicas e patrimoniais a eles e suas famílias, pode explicar muitos dos erros incompreensíveis a que temos assistido ultimamente.
São suspeitas legítimas perante o crime organizado que perdeu toda a vergonha, que se sente impune e que tem motivações e porta-vozes conhecidos."

Benfiquismo (MLIX)

Verdade...

Tempo de véspera no Benfica

"Bem sei que treinador despedido é, nos dias seguintes, treinador esquecido. Como benfiquista, porém tenho o dever de gratidão

1. Tem sido um fartote! Abro a televisão, faço um rápido percurso pelos canais de informação e desportivos, e é um ver se te avias. Fala-se especula-se horas a fio sobre o futuro treinador do Benfica. De supetão, há-o para todos os gostos. Vejamos: em regime de solução doméstica temos Bruno Lage (para um jogo, talvez para 15 dias, quem sabe se até ao final da época), Luís Castro e Abel Ferreira. Sobre portugueses emigrados, o cabaz é bem maior, a começar no inevitável Jorge Jesus (com 'sondagens' pró e contra à esquina de casa ou do café e quase apresentadas como ciência exacta), passando até por José Mourinho, e não esquecendo Marco Silva, Paulo Fonseca, Leonardo Jardim, Rui Faria, Vítor Pereira (!), Paulo Sousa (!). Ouvi, ainda que em jeito de relâmpago, um extensa fileira de estrangeirados: Arsène Wenger, em estilo de reforma, Laurent Blanc, Philippe Cocu, Zidane, António Conte e até - imagine-se - o 'saudoso' Lopetegui!
Rui Vitória tinha o destino traçado. Homem discreto e sensato, não mostrou o carisma necessário para o que chamava a 'retoma'. Por ingenuidade ou boa-fé, aceitou ser readmitido depois de despedido em regime 'overnight' e, a partir daí, a única variável não era se, mas apenas quando sairia. A luz que guiou o presidente do Benfica não adivinha de energias renováveis. Era uma artesanal espaço de poucas semanas, se esgotaram.
Bem sei que treinador despedido é, nos dias seguintes, treinador esquecido. Como benfiquista, porém, tenho o dever de gratidão. Foi ele que comandou a equipa no tricampeonato e no até então inalcançavel tetra, foi ele que alcançou os quartos de final da Champions só sucumbindo pela diferença de um golo frente ao Bayern, foi ele que conquistou, no espaço de dois anos, todos os troféus internos além dos campeonatos (Taça de Portugal, Supertaça(2) e Taça da Liga). Foi ele que trouxe para primeiro plano, jogadores jovens como Ederson, Nélson Semedo, Renato Sanches, Lindelof, Gonçalo Guedes, André Horta (todos transferidos com largo retorno financeiro), a que se juntam, entre outros, João Félix, Gedson e Rúben Dias.
Nos dois primeiros anos no clube, Rui Vitória ganhou tantos campeonatos como o Sporting em 36 anos. Glosa-se abundantemente sobre as conquistas de Sérgio Conceição no Porto que, no primeiro ano, ganhou o campeonato e é provável que o volte e repetir no segundo ano. No entanto, que diferença comunicacional entre as constantes loas ao técnico portistas e a ingratidão a Rui Vitória que fez exactamente o mesmo (ganhando, provavelmente, até mais troféus nas duas primeiras épocas...)! E já agora, porque também é factual, Vitória, ao ganhar dois campeonatos nas suas 4 épocas (ou melhor 3 e meia), superou Jorge Jesus que, no mesmo período, só ganhou na primeira temporada e, verdade seja dita, com plantéis muito melhores do que agora.
É por demais evidente que a partir da 3.ª época tudo correu mal. Ainda hoje, tenho dificuldade em compreender por que razão o clube desinvestiu brutalmente na época em que poderia ter chegado ao pentacampeonato. Provavelmente, Rui Vitória, por feitio ou opção, não foi suficientemente forte para 'dar um murro na mesa' e não se resignar a um plantel sofrível, sobretudo se comparado com épocas anteriores. É, além de erros comunicacionais, foram mal geridos o 'folhetim Luisão' e a arrastada, 'novela Jonas'.

2. Nesta fase de estertor, a equipa não melhorou. Teve um jogo em que tudo lhe correu bem (contra o Sp. Braga) e alguns outros em que tudo lhe correu mal (designadamente contra o Belenenses SAD). Atípico foi um arrastar triste de uma equipa que verdadeiramente não acreditava em si própria.
Em Portimão, foi a 'retoma' do jogo cinzento, chato e lento do Benfica e a aposta num sistema táctico de 4-3-3 totalmente previsível, proporcionando ao adversário mais uns 'borregos', tais como terem chegado ao fim de um jogo terem chegado ao fim de um jogo caseiro sem sofrer golos (curiosamente face ao ataque com mais golos marcados) e terem batido o SLB pela primeira vez na sua história.
Curiosamente, os três melhores jogos foram com os mais chegados rivais: Sporting (apesar do empate), Porto e Braga. Ao invés, 11 dos 13 pontos perdidos foram em partidas contra equipas em que se suporia vencer (Chaves, Belenenses, Moreirense e Portimonense) e onde, no total, se marcaram 3 golos e se sofreram 10! A equipa não entrou devidamente concentrada em jogos aparentemente mais fáceis e abusou da crença de que, tarde ou cedo, resolveria as partidas.
Este ano, as contratações foram (ou aparentam ser) um fiasco, a que Vitória não é alheio. De 9 ou 10 recrutados ou regressados, só o guardião Vlachodimos é titular. A vinda de dois argentinos para o eixo central da defesa foi, ab initio, destinada ao fracasso, quando, na pré-época, o treinador anunciou publicamente que Jardel e Rúben Dias seriam sempre os titulares. Havia necessidade de tal proclamação, que, decretada praticamente no minuto zero dos 'reforços', diferenciou jogadores de primeira e de segunda? Ferreyra é um enigma. Não tendo nós, de fora, outros elementos, como se aceita que um jogador com um apreciável currículo tenha sido ostracizado sem mais, ao ponto de nem ir para o banco ou jogar contra o Montalegre? Gabriel - creio que vindo para a Luz por insistência de Rui Vitória - não tem tido sucesso, de tal forma que obriga o menino Gedson a horas extraordinárias e a um desgaste que foi evidentíssimo em Portimão. Corchia será assim tão distante de André Almeida que tem atravessado períodos de notória falta de forma? E porquê contratar Castillo para substituir o emprestado Jiménez que tem brilhado em Londres? Por sua vez, João Félix tinha - até sábado - jogado apenas uns minutinhos fora do seu lugar natural e com a responsabilidade (que ainda não pode ou não deve arcar) de ser o salvador perante resultados negativos. Por fim, Samaris eclipsou-se, sem que tal situação se possa explicar facilmente.
Desde a sua readmissão, Vitória não rodou minimamente a equipa, mesmo nos jogos da Taça de Portugal e da Taça da Liga. Legitimamente, direi eu. Pois se o homem passou a estar sempre na corda bamba, ao menos subconscientemente procurou defender-se. Mas isso provocou desgaste desnecessário em jogadores como Rúben Dias (ao que parece o jogador que na Europa e esta temporada tem mais minutos na pernas!), Pizzi, André Almeida e Fejsa.

3. Estreou-se Bruno Lage. Com uma vitória saborosa e declarações sensatas. Em similitude numérica: 4-2 através de um 4-4-2. João Félix 'en su sitio'. Ferreyra ressuscitado. Atrás, ainda muito a melhorar...
No momento em que escrevo, falta o novo treinador. Não entro no jogo de apostas. Mas que, pelo menos, não seja nenhum máximo divisor comum nem um tão-só mínimo denominador comum...

Contraluz
- Treinadores: Nos últimos dez anos (incluindo esta época) e excluindo treinadores interinos, o Benfica teve 3 treinadores (já contando com o próximo), o Porto teve 8 e o Sporting chegou a 14.
- Taça da Liga: A tal que o FC Porto (e Sporting até há um ano) amesquinhava. Pois não é que para ver se é desta que a conquistam, a batota se travestiu de pseudo explicação intelectual? A Liga e o seu pressuroso presidente não perderam um segundo ao afirmar que não havia nenhuma irregularidade no facto de o jogador do FCP Bruno Costa não ter completado 45 minutos em campo. O 'motivo de força maior' previsto nos manhosos e mal concebidos regulamentos da Taça foi o expediente certo para classificar a saída aos 38 minutos do tal jogador por motivos - óbvios... - de lesão. Será caso para perguntar perante uma lesão tão invisível por que razão Conceição não o deixou lá estar mais 7 minutinhos para que o alarido não se levantasse. É claro que a 'estória' está mal contada. O técnico não sabia ou ninguém o informou de tal parte regulamentar (que, diga-se de passagem, é mal redigida e destituída de senso) e, por isso, lá amanhou a tal lesão. Pergunto: e se fosse o Chaves (que nem mugiu, nem tugiu) a ser apurado e a alegada irregularidade fosse convertida em lesão, o que teriam já dito os 'senhores da bola'(?) que bem pode sair logo no primeiro minuto por impeditiva ou oportuna lesão. Sempre a inovar, o futebol doméstico!
- Histórico: Belenenses e Estrela jogaram na Reboleira para os distritais. Mais de 5000 espectadores, número bem acima da larga maioria dos jogos do campeonato nacional se excluirmos os grandes!
- Negativo: Nélson Évora, um grande campeão, não precisa de exibir o seu acirrado ciúme perante o seu colega de profissão Pedro Pichardo, nem de exprimir processos de intenção ao recrutamento pelo SLB deste atleta, que tem a melhor marca mundial do ano. Nem de falar da sua naturalização, ele igualmente naturalizado."

Fernando Seara, in A Bola

A vida continua na Luz

"Saiu Rui Vitória, com a imagem impoluta de um homem sério. Entrou Bruno Lage, um ilustre desconhecido. Aposta de risco? Como todas as outras

Rui Vitória só deve queixar-se de si mesmo. Não foi capaz de acabar a obra que lhe fora perdida por manifesta insuficiência na liderança, na argumentação, na gestão do plantel e na qualidade do produto.
É verdade que o céu apenas começou a ficar nublado no último ano e meio, mas a um treinador de grande clube exige-lhe que ganhe sempre e jamais se lhe aceita que, para equilibrar o deve e o haver, tente contrapor aos ruídos provocados pelas derrotas de hoje as palmas suscitadas pelos triunfos de ontem.
Não foi por causa de alegado desinvestimento no futebol, nem da luz presidencial que se apagou em Portimão, nem por outro motivo que brote de subtil campanha pré-eleitoral em início de erupção que Vitória esboroou num ápice dois anos de relevante trabalho e assinaláveis conquistas. Foi culpa dele. Por teimosia, por recusar reflectir, ver, ouvir, ler ou sentir. Fechou-se no seu casulo, mais os dois adjuntos, uma novidade esta época, com a afectuosa ideia de se sentar entre ambos no banco de suplentes e entregando a Minervino Pietra a tarefa de fazer as substituições, uma desconsideração que Bruno Lage deverá corrigir...

Vitória foi vítima da sua obstinação. Enredou-se em sucessivos equívocos e jamais libertou um pingo de humildade para aceitar que o caminho por ele escolhido estava errado. Não se tratou de uma questão de tácticas. O problema residiu ao nível do relacionamento humano, ou da falta dele, deixando que se tivesse chegado a um estado de saturação sem retorno, a um ponto em que os jogadores, provavelmente, ou já não o escutavam ou já não acreditavam no que escutavam. O que para mim constituiu surpresa tamanha, por considerá-lo homem de valores, tolerante e justo na concessão de oportunidades em função do único critério que o adepto verdadeiramente reconhece: o desempenho dos jogadores e a sua disponibilidade física e mental em benefício do colectivo.
Ao recusar essa evidencia Vitória entrou em circuito fechado e de cada vez que resolveu surpreender geralmente correu mal, na medida em que na maioria dos casos se tratou de falsas oportunidades aos ignorados do plantel, fartos de saberem que, jogassem bem ou mal, no compromisso seguinte voltariam à condição de suplentes ou seriam até chutados para a bancada.
Ao tapar os olhos com as mãos, Vitória transformou-se num embaraço e em vez de sair pela porta da frente, sujeitou-se a usar a porta de trás e com a sensação de alívio de quem se libertara de um sarilho, porque, sejamos claros, a seguir ao colapso de Portimão Rui Vitória teve a sensatez necessária para não se atrever a encarar a família benfiquista no Estádio da Luz, neste jogo com o Rio Ave.

Vitória falhou no penta e nesse ano, em que tanto se atacou o presidente por ter desinvestido, com as vendas de Ederson, Lindelof e Nélson Semedo, o treinador jamais veio a terreiro solidarizar-se, afirmando, no mínimo, que os objectivos desportivos não seriam prejudicados.
Se nesse ano o penta fugiu não foi por culpa de defesa. Deveu-se ao novo ordenamento táctico, legítimo e até apropriado, mas deficientemente aplicado e grotescamente desenvolvido, sobretudo após a lesão de Krovinovic.
Em vez de trabalhar um sistema que avaliasse e valorizasse as características dos jogadores, procedeu em sentido inverso: desenhou a táctica e obrigou-os a caberem nela, sem soluções alternativas, como se viu. Percebo que o tenha feito, mas não desta maneira desajeitada, em que foi preciso vê-lo abdicar para João Félix alinhar onde deve e Ferreyra fazer prova de vida, por exemplo.
Vitória chegou aos quartos de final da Champions, mas falhou na época transacta ao ficar a zero, uma classificação humilhante e de qual nunca apresentou um pedido de desculpas à massa adepta. E quando resolveu falar, em vez daquela tirada de «há vida para além da Liga dos Campeões», o melhor teria sido nada dizer. Aliás, um erro colossal foi nunca ter dispensado o devido cuidado à comunicação.

Saiu Rui Vitória, com a imagem impoluta de pessoa séria, a vida continua, como ele diria. Entrou Bruno Lage, ilustre desconhecido, que faz a ponte como futuro. Aposta de risco? Como todas as outras, sendo certo que conhece de olhos fechados o mundo da formação benfiquista e experimentou exigente tirocínio em Inglaterra. Creio, por isso, que nenhum mal virá ao mundo se ficar até ao final da época, devidamente protegido, como é óbvio. Até para colocar ponto final nesta epidémica conversa fiada. Bruno Lage é jovem, sim, mas às vezes os bilhetes de lotaria são prémio.
Sobre as cenas dos próximos capítulos, acerca desta matéria, repito-me: Luís Filipe Vieira vai vendo e ouvindo e decidirá quando e como entender."

Fernando Guerra, in A Bola

O Luís e a Cristina a falarem do José

"Cristina Ferreira recebeu Luís Filipe Vieira como primeiro convidado do programa que a popular apresentadora inaugurou, ontem, na SIC. Em cena esteve, mais do que o presidente do Benfica, um cidadão típico de um tradicional e pobre bairro lisboeta, o exemplo de um sucesso que, como diria o povo, não lhe subiu à cabeça. Sensível, humano, com orgulho nas suas raízes de infância mal remediada, Luís adaptou-se bem ao estilo de conversa amigável com Cristina, jogou às cartas, confessou custar-lhe andar pelo mundo de fato e gravata, enfim, foi ele próprio, sem fronteiras.
Talvez que a cativante proximidade com a apresentadora tenha levado Vieira a baixar a guarda na sua função presidencial. Especialmente quando falou de José Mourinho e confessou que, se o special quiser, será ele o próximo treinador do Benfica.
O que disse e, sobretudo, a forma como o disse, fizeram de Mourinho não apenas um candidato oficial à substituição de Rui Vitória, mas o candidato número um. Ficou claro que a decisão está, apenas, do lado do amigo José e nem sequer depende das condições, uma vez que, segundo Vieira, «dinheiro não é problema para o Benfica».
Um programa de televisão, com as características daquele que recebeu o presidente do Benfica, tem especificidades que obrigam a um redobrado trabalho de comunicação. Porque se está em directo, porque impõe genuinidade, porque exige cumplicidade com o entrevistador. Ora, é muito difícil, sobretudo a quem não é do meio, controlar as emoções e controlar as afirmações. Ficámos, assim, a saber que, ou Mourinho vem para o Benfica, ou virá, sempre, uma segunda escolha."

Vítor Serpa, in A Bola

Salvio...

Derrota inesperada...

Benfica 1 - 2 Portimonense


A equipa tem demonstrado alguns problemas, mas tem quase sempre conseguido ultrapassar as dificuldades. Hoje, sofremos dois golos de Livre Directo, e 'permitimos' que o melhor jogador em campo fosse o guarda-redes adversário!!!

Benfica: Bruno Lage não se escondeu

"Jaime Graça fez muitas coisas no Benfica. E antes disso também. Aliás, foi por estas mesmas que chegou à Luz futebolista consagrado. Eusébio marcou quatro golos à Coreia do Norte, em 1966, mas foi o «Catalunha» quem encheu o campo. O jogo completo está por aí, é só conferir. Outra das coisas que Graça fez foi levar Bruno Nascimento para o Benfica. E aí começou a história do Benfica-Rio Ave de domingo.
Lage assumiu o comando das águias. Falou um minuto com Rui Costa, outro com Luís Filipe Vieira e depois virou-se para aqueles que, necessariamente, mais importavam no momento.

«Aquilo que era importante hoje, além de ganhar, era perceber que tipo de homens tínhamos no balneário, que equipa é que eles podem apresentar em campo»

Essa foi a primeira boa decisão de Lage e é por aí que seguimos.
Tomar decisões é o dia a dia de quem lidera. Os indecisos nunca chegam a lado nenhum. Os pouco corajosos também não. Lage tinha uma oportunidade para deixar marca na Luz e arriscou.
A convocatória fez reset às oportunidades de todo o plantel, simbolizadas pelas chamadas de Castillo e sobretudo Ferreyra. A concorrência interna tinha acabado de aumentar apenas com uma lista. Et voilá, surgiu a melhor exibição de Seferovic pelas águias.
Claro que nem tudo está bem. Aliás, há muita coisa que (ainda) está mal no futebol do Benfica com enfâse no processo defensivo. Lage falou só do jogo do Rio Ave, afinal, o único pelo qual é responsável, mas a ideia podia alargar-se a qualquer outro duelo da equipa de Rui Vitória na temporada.

«Senti que em determinados momentos podíamos ter mais a bola e evitar que a equipa fique exposta às transições (…). A equipa tem de ter mais bola, para não a perder de forma desequilibrada.»

No fundo, o treinador interino explicou facilmente o que é mais urgente melhorar. E encontrar solução, algo que Rui Vitória não conseguiu.
Um triunfo em casa não quer dizer muito. Virar um 0-2 já quer dizer mais qualquer coisa. Ainda é muito cedo para se perceber, sequer, se Bruno Lage pode ou não ser a solução para o banco dos encarnados, pelo menos até final da temporada. Mas para já, uma coisa é certa: o interino não se escondeu e com um punhado de decisões ganhou, pelo menos, tempo para que essa ideia cresça."

Messiânico, bom, normal, Fellaini? Desmitificando os 13 quilómetros de Bernardo Silva

"O Manchester City venceu o Liverpool naquele que foi o pior jogo dos comandados de Guardiola contra a equipa de Klopp desde que ambos se juntaram à Premier League. E houve no jogo um dado que impulsionou a histeria colectiva um pouco por todo lado como forma de elogiar a exibição do Bernardo Silva: os quilómetros que percorreu nesse jogo.
Ora, estes foram utilizados de forma unânime por todos para catalogar como estratosférica a performance do médio ofensivo português. Normalmente, a histeria costuma ecoar mas vai encontrando sempre um ou outro foco de resistência, e creio que não houve atritos por se tratar de um jogador tão querido e tão unânime em Portugal – agora que os treinadores apostam nele.
Foram três os argumentos mais utilizados para justificar o elogio à exibição:
1) Que a distância percorrida mostrava que Bernardo tem competências tácticas extraordinárias, porque conseguiu estar sempre no sítio certo, à hora exacta.
2) Que o Bernardo mostrou uma capacidade de adaptação fantástica às incidências do jogo.
3) Que o Bernardo estava a desfazer o mito que os criativos não têm intensidade, e que afinal – por ser um mito – podem jogar no meio campo.
Sobre o primeiro argumento, é certo que o Bernardo esteve muito concentrado nas tarefas defensivas e mostrou-se sempre disponível para apagar todos os fogos da equipa. E, do ponto de vista defensivo, tendo em conta a forma como o jogo estava a decorrer, ele defendeu bem. Mas pode dizer-se que não defendeu da melhor forma porque não conseguiu transformar as situações defensivas em que ficou com a bola em situações que permitiriam aos seus colegas manter a posse, e dessa forma evitaria estar tantas vezes em registo defensivo. Ainda não foi inventada, no futebol, melhor forma de defender do que manter a bola.
E sobre as competências tácticas do Bernardo, sobre a disponibilidade dele para as tarefas defensivas, quem segue regularmente os jogos dos citizens sabe que não são propriamente uma novidade. No futebol moderno, aliás, são poucos os criativos que não se disponibilizam para tal. Já quase não existe aquele jogador criativo, como antigamente, que só atacava. Claro que, cada um com o foco, por ordem de importância, nas tarefas que cada treinador lhes entrega. Por exemplo, para uns é mais importante o momento de pressão colectiva e a reacção à perda, enquanto para outros há uma exigência enorme na recuperação da posição atrás da linha da bola, ou até na questão de não se deixarem ser ultrapassados pelo adversário que foram pressionar. No Manchester City percebe-se a importância das zonas de pressão, mas mais do que isso dos momentos de reacção à perda de bola. E o Bernardo nunca fugiu desses momentos, e dá sempre um pouco mais do que o expectável por perceber muito bem a importância de recuperar a bola rapidamente para que possam fazer o seu jogo.
O segundo argumento valoriza a adaptação do Bernardo Silva às incidências do jogo, mas esquece que essa valorização desvaloriza-o. Isto é, a melhor característica do Bernardo, aquilo em que ele é extraordinário, aquilo que o distingue da maioria, é precisamente a capacidade de manipular o jogo para que ele e os colegas saiam beneficiados. Ou seja: o que o torna ímpar é ele estar a ser apertado com a bola no ar perto da área e ele conseguir encontrar uma solução para sair com ela controlada dali; É ele estar a ser pressionado e as linhas de passe próximas fechadas e ele brincar com o comportamento pressionante de tal forma que de repente consegue tempo e espaço para ele ou para um colega darem continuidade ao ataque; é o jogo estar numa velocidade e ele meter a sua própria velocidade; é os colegas dispararem na frente e ele meter o passe no pé para atrasar o ataque e dar tempo para que os outros cheguem; É ele não dar uma bola a um colega sem garantir melhores condições do que as que tinha antes do passe; é o não deixar que a aleatório e a arbitrariedade tomem conta do jogo da equipa, e não aceitar de forma alguma dividir o jogo quando é ele que tem a posse de bola. Quando ele tem a bola, manda ele.
É este o Bernardo que eu conheço. E quantos de vocês viram este Bernardo no jogo? Eu não vi. E a falta de discernimento que se notou nele (e em toda a equipa) não terá sido por força dessa adaptação ao contexto, por força de não terem tentado sequer enganar o contexto para fossem iguais a si mesmos? Então, poderá mesmo ser elogiosa essa adaptação ou será o resultado final a dar novamente o ar da sua graça?
O terceiro argumento foi utilizado de forma ingénua por quem quer defender que estes pequenos génios podem jogar em qualquer zona do campo, mas é no meio que são preponderantes. E eu, que me identifico com a ideia, creio que há alguma incoerência na valorização dos dados do Bernardo. Há, em primeiro lugar, o problema do argumento que defende que eles podem jogar no meio ser totalmente alheio à questão da intensidade (expressa na capacidade para correr muitos metros). Isto é: a melhor forma de defender que os criativos devem jogar no meio não é a mostrar que eles também podem correr, mas sim mostrando que eles resolvem melhor a maior parte das situações de jogo que enfrentam do que os outros.
O que os diferencia é a capacidade para jogar dentro dos blocos adversários, a capacidade para criar o que não existe – tempo e espaço. E também quando perdem a bola, a capacidade de criar constrangimentos aos adversários no pouco tempo em que a bola está à sua mercê para que a equipa recupere novamente a posse. E correndo muitos metros, a maior parte é corrida para dar linhas de passe e a velocidade a que o fazem nunca é muito alta. O que estes jogadores provam, quando jogam nesses espaços, é serem melhores que os outros pelo que criam e não pelo que correm. Quando valorizamos o que correm, sem ter em conta o que criaram, estamos a colocá-los no mesmo patamar dos outros. E para isso, o melhor é mesmo jogarem os outros porque são melhores a correr. Afinal, é nisso que se especializaram.
O segundo problema prende-se com a afirmação em si. Ao afirmarmos que por correr treze quilómetros se prova que os criativos têm intensidade estamos a dizer que afinal o Xavi e o Iniesta devem correr todos os jogos para apagar fogos como o Bernardo o fez. E isso é um perigo enorme. Reparem, o Xavi e o Iniesta tinham aquela velocidade e aquela só. A atacar, e a defender: devagar, devagarinho. A velocidade deles era mental. E não precisavam de fazer a quantidade enorme de sprints que o Bernardo ou o Modric fazem para serem os melhores do mundo nas suas posições. E mesmo que o treinador lhes pedisse eles não conseguiriam fazê-lo porque a velocidade deles, o jogo deles, não era essa/e. E se para se ser o melhor do mundo não é preciso fazer-se esses sprints, o que é preciso então?
Aquilo que faltou ao Bernardo neste jogo: discernimento. Aquilo que ele foi perdendo cada vez que corria para pressionar à frente, corria para pressionar atrás, recuperava e jogava o mais longe possível. Aquilo que ele perdeu quando fez passes em profundidade sem ver porque não conseguiu refrear o seu próprio ímpeto. Não é que o Bernardo que não deva correr o que correu se ele o pode fazer, se a equipa necessitar disso. Mas correr mais ou menos não o fará mais apto para jogar no meio campo se com bola ele não quiser ser dominador e jogar um jogo que o torna igual aos iguais.
Outro problema é o da valorização do esforço nos momentos defensivos, por si, como condição suficiente para uma exibição de encher o olho. Como é que algo pode ser fantástico quando a sua principal competência não aparece em jogo? Sim, foi dos melhores (ou talvez o melhor) elementos do City em campo. Mas a exibição da equipa foi tão pobre que a fasquia para o melhor em campo estava muito baixa. E o ter sido o melhor da equipa, tendo em conta o nível de jogo apresentado, não significa que tenha estado tão incrível assim. Correu muito, é certo. E também aceito que tenha corrido bem. Mas quanto é que do discernimento dele foi afectado por isso? É que ficaram todos tão doidos com o que o Bernardo correu, com a forma como pressionou, com a forma como recuperou, que se esqueceram que mais importante do que resolver o problema uma e outra vez era prevenir que o problema se desse tantas vezes. E a única forma extraordinária de o fazer era precisamente parando. Parando o jogo da equipa, parando o ímpeto dos colegas, parando o ímpeto do adversário. O Manchester City e o Bernardo Silva já o fizeram de forma incrível no dérbi de Manchester.
O jogo do Bernardo foi de muita abnegação e entrega aos momentos de esforço, mas na realidade, na maior parte do tempo, não fez mais do que correr e aliviar. Nunca o tinha visto aliviar tantas vezes. Não há um único lance, com bola, distinto. Não há um único toque de génio, daquele génio que faz com que o comparem ao melhor jogador de sempre: Messi. Nem sequer no critério com bola, no acerto nas decisões e no passe conseguiu ser o jogador que é. Ter sido o Bernardo a correr estes treze quilómetros não o distingue de nada, nem de ninguém, porque fez um jogo que qualquer jogador cem vezes menos talentoso poderia ter feito. Isso não faz dele melhor, ou mais apto; mão faz dele fantástico. Aliás, o que fez ele de tão bom que o nosso querido Fellaini não seria capaz de fazer? 
Deixo-vos com essa reflexão."

Rui Vitória em três atos e as dúvidas por esclarecer

"«Quando fazemos um contrato com um treinador, é para cumprir. E assim será […] Rui Vitória tem feito um trabalho fantástico. Consegue equipas competitivas todos os anos, sem esquecer a formação. É o homem certo para o projecto que o Benfica quer. Por minha vontade, fica até ao final do contrato. [Junho de 2020]»
Entrevista à TVI, 30 de Outubro de 2018

«Há um descontentamento generalizado dos benfiquistas, mas para o projecto é importante que Rui Vitória continue. Nos primeiros dois anos, ganhou seis títulos e foi o treinador do ano. […] A decisão de manter Vitória foi uma luz que me deu. Acredito que é por ali que vamos.»
Conferência de imprensa, 29 de Novembro de 2018

«O Rui... ainda vão ter muitas saudades dele. [Olhando para a câmara] Um abraço para ti! Saiu porque achou que não era a melhor solução para o Benfica. Foi muito fácil, pôs o lugar à disposição.»
Programa da manhã da SIC, 7 de Janeiro de 2019

Se no futebol «o que hoje é verdade, amanhã é mentira», os dois meses e uma semana que medeiam estas declarações do presidente do Benfica sobre Rui Vitória representam uma eternidade.
No futebol, os resultados ditam as regras do jogo, pelo que é perfeitamente possível que uma mudança de percepção do presidente encarnado, as opiniões divergentes na administração ou a pressão dos adeptos tenham ditado a saída do treinador.
Mais do que a mudança de opinião, porém, o que é de relevar aqui é a forma como esta foi sendo formada e comunicada.
Nos últimos meses, Luís Filipe Vieira parecia dar os sinais certos em termos de comunicação: mostrou disponibilidade para enfrentar uma entrevista a sério – daquelas em que têm um jornalista pela frente e não um funcionário do clube – e em seguida assumiu com clareza numa conferência de imprensa de facto – daquelas com direito a perguntas – os passos do processo que levou à demissão e readmissão de Rui Vitória.
Precisamente por esse histórico recente é que, chegados a este momento definidor, era expectável uma explicação cabal para que, depois de um denominado período de retoma – com sete vitórias consecutivas e um apuramento para a final four da Taça da Liga –, a primeira derrota depois da crise desencadeasse a saída de Rui Vitória do comando técnico do Benfica.
Desta vez, porém, Vieira resguardou-se numa entrevista amigável num programa da manhã, espartilhada entre rubricas e chamadas de valor acrescentado, com uma cartada pelo meio.
Não havendo jornalistas na sala, ficaram quase todas as perguntas por responder.
Sem respostas, sobram os enigmas.
A começar pela longa espera da equipa saudita do Al Nassr, previsível destino de Vitória, que está há dois meses para substituir o uruguaio Daniel Carreño no comando técnico e desde então tem sido orientada pelo director desportivo Hélder Cristóvão (ex-treinador do Benfica B). Continuando pela tomada de posição de Rui Vitória, que há um mês dizia ter condições para continuar e terá deixado de as ter ao perder um jogo, após uma sequência de sete vitórias e um empate. Prosseguindo no facto de, apesar de a saída de Vitória ter sido cogitada há um mês, a procura de um sucessor só ter sido aparentemente iniciada esta semana. Até, entre outras questões, culminar com esta mensagem de Vieira, que pode sugerir uma interpretação dúbia relativamente aos destinatários: «Ainda vão ter muitas saudades de Rui Vitória...»
Subsistem, portanto, estas e outras dúvidas sobre o processo que levou à saída de Rui Vitória. 
Esclarecê-las não era um favor que o presidente do Benfica estaria a fazer aos jornalistas. É uma dívida que tem, pelo menos, para com os seus adeptos."

A arte de disfarçar a inferioridade

"É um dos grandes clichés do futebol: “Jogar contra 10 é muitas vezes mais difícil do que jogar contra 11”. Em absoluto, é um raciocínio que contraria a aritmética e a lógica, mas no devido contexto é possível perceber de onde deriva essa sensação. A forma como o Tondela escondeu as suas fragilidades durante praticamente metade do encontro frente ao Sporting é apenas o mais recente exemplo de como a organização colectiva é capaz de reduzir diferenças.
Basta recuarmos até ao início do presente século para identificarmos um ponto de viragem conceptual, ilustrado pela progressiva democratização da defesa à zona. Um “pormenor” que ajudou, por exemplo, a lançar as bases do estrondoso sucesso de José Mourinho no arranque da carreira e que, aos poucos, foi arrebatando seguidores mesmo entre os treinadores que cresceram a ouvir falar na marcação individual como uma verdade indiscutível.
Hoje, é difícil rebater o argumento de que a zona é a forma de organização defensiva que melhor contributo dá para a autonomia da equipa que procura a bola. Na medida em que promove uma ocupação tão racional quanto possível dos espaços, permite definir com precisão onde se quer defender e de que modo, impedindo (quando arquitectada com competência) que o adversário ludibrie um conjunto disperso de jogadores voluntariosos em função das suas conveniências.
No fundo, foram estes os princípios que nortearam o bem-sucedido guião do Tondela na 16.ª jornada da Liga. A partir do momento em que a referência passa a ser a bola e não o adversário, reduz-se quase em definitivo o risco de ser atraído para zonas escuras do campo, com o intuito de abrir buracos em sectores nevrálgicos. Seguindo estes ditames, a equipa que defende passa a agir, em vez de se limitar a reagir às intenções do rival, invertendo de certo modo os papéis: uma defesa zonal eficaz é capaz de cobrir os caminhos para a baliza e de obrigar, no limite, o oponente a circular recorrentemente a bola em terrenos mais recuados.
Não estamos a falar, ressalve-se, em juntar linhas e simplesmente seguir o princípio da aglomeração, no pressuposto de que muitas unidades apinhadas numa parcela de 30 ou 40 metros dificultariam a vida ao adversário. É inegável que esse “desenho” levantaria problemas mesmo a um rival tecnicamente mais capaz, como é o caso do Sporting, mas seria sempre insuficiente para alcançar aquilo que o Tondela conseguiu.
Basta atentarmos no posicionamento agressivo da equipa no lance que deu origem ao segundo golo. A partir do momento em que a bola chegou ao meio-campo ofensivo e foi dominada por Tomané, gerando a possibilidade de sair em apoio, Pité, Hélder Tavares e David Bruno rapidamente criaram uma situação de igualdade numérica no corredor direito, algo que só se tornou possível graças a uma ocupação racional (e ousada) do espaço antes de o Tondela recuperar a posse. Depois, a classe do avançado que cresceu no Boavista e no V. Guimarães fez o resto.
Pepa, um treinador que já deu provas cabais de grande clarividência na abordagem aos jogos com os “grandes”, para citar apenas os mais mediáticos, não cedeu um milímetro no plano de voo aquando da expulsão de Jaquité. Até então a defender em 4x4x2, a equipa reorganizou-se em 4x4x1, perdendo “apenas” a capacidade de pressionar mais alto e de condicionar a primeira fase de construção dos “leões”, na sequência do recuo obrigatório de Hélder Tavares para formar uma nova linha de quatro. Tinha forçosamente de ser assim? Não, mas esta foi a decisão que menos mudanças acrescentou em cima de uma mudança forçada. E deu resultado.
Há treinadores que, em circunstâncias análogas, com uma unidade a menos, preferem reformatar a equipa em 4x3x2, por exemplo. Um plano que fará mais sentido se os dois jogadores mais adiantados forem fisicamente capazes de esticar o jogo e de recuperar posições rapidamente no momento da perda. Ao pressionar de forma mais eficaz o rival na saída de bola (neste cenário com dois elementos), fica-se mais perto de evitar uma construção de qualidade, mas não é menos verdade que, uma vez batida essa primeira linha de pressão, haverá trabalho redobrado (leia-se uma amplitude maior de espaço a cobrir) para o trio de médios.
Longe de ser uma situação desejada, naturalmente, há muito que o condicionalismo de alinhar com um homem a menos deixou de ser uma fatalidade. Esteja a equipa preparada para aplicar com competência os princípios e subprincípios da defesa zonal e estará sempre um passo mais perto do êxito. Assim o treinador seja capaz de vestir o fato de alquimista e avançar com a operacionalização da ideia."

Jogos digitais e de tabuleiro também são Cultura: os preconceitos e o IVA

"Não me venham dizer que estes jogos não são cultura, porque motivos não faltam para os considerar como tal. Seja em que formato for, os jogos são produtos criativos que expressam estéticas e valores sociais, tão antigos como a própria civilização.

As recentes alterações ao regime do IVA para as actividades culturais vieram incentivar algumas “touradas”. Mas os jogos digitais e analógicos não entraram na arena, não tiveram direito à redução da taxa do IVA como os restantes produtos e actividades culturais.
E não me venham dizer que estes jogos não são cultura, porque motivos não faltam para os considerar como tal. Seja em que formato for, os jogos são produtos criativos que expressam estéticas e valores sociais, tão antigos como a própria civilização. São criações intelectuais e produtos das indústrias criativas, associadas a um tipo de indústria que pode apresentar altos níveis de sustentabilidade e opções para todos os públicos e objectivos.
Os jogos contribuem para a expressividade dos próprios jogadores, tal como para uma identificação cultural própria, associada a movimentos e culturas urbanas ou de outros grupos identitários e geracionais. O caso dos jogos digitais representa um elo de ligação geracional identitário para quem nasceu a partir dos anos 70 do século passado. Cada geração tem os seus ícones, plataformas e jogos de culto, numa história que se vai acumulando.
Os jogos são também formas de promover a literacia em vários formatos, incentivando a leitura e a escrita em vários suportes, incluindo a possibilidade de conjugar o domínio de várias línguas e formas de expressão. Os jogos, ao estabelecerem dinâmicas sociais com sistemas de regras comuns aos jogadores, promovem a integração e igualdade entre os participantes, independentemente da sua origem.
Através dos jogos expressamos valores e conhecimentos. Um jogo de vídeo será assim tão diferente da dimensão cultural do cinema? E um jogo de tabuleiro moderno diferente de um livro nos conteúdos que transmite? Estes quatro tipos de criações são produtos culturais por si, mas não é a sua tipologia que define a sua qualidade cultural. Todos podem exprimir altos valores culturais ou não. Por outro lado, os jogos têm o aspecto diferenciador de colocar o seu público no centro da acção, evitando a passividade dos outros formatos.
Estamos então perante legislações desadequadas, carregada de preconceitos perante formatos que já não são novos e que têm contribuído para a identidade e a expressividade cultural das ultimas gerações.
No caso dos jogos de tabuleiro modernos — que é a minha paixão assumida —, posso partilhar algumas experiências concretas. O estigma continua a ser imenso, embora o panorama esteja a mudar. Para além de ser ainda pouco conhecida a imensidão de jogos novos que se fazem em todo o mundo na actualidade, as suas potencialidades ainda não estão devidamente reconhecidas. Assisti, nas nossas actividades dos boardgamers de Leiria, da associação Asteriscos, a crianças que começaram a ter prazer em ler, motivadas pela necessidade de aprender as regras dos novos jogos. Outras que passaram a expressar-se mais e melhor, incentivadas a comunicar dentro do sistema de jogo, enquanto desenvolviam competências de apoio além do jogo. O mesmo tem acontecido para a criatividade e para a capacidade de interagir com os outros, tal como de jogos que levam a conversas e debates sobre assuntos ambientais, de gestão, história, política, filosofia, etc.
Tudo isto que fui elencando representa fenómenos culturais, resultantes tanto da produção dos jogos como na sua utilização. Por isso, não faz qualquer sentido que os jogos não tenham o devido reconhecimento como produtos culturais, tanto simbólica como objectivamente na dimensão fiscal."