"Ao contrário do que se dizia por aí, o Benfica está bem vivo e as desconsiderações e aleivosias de que tem sido lavo até o reforçam.
Teatro de robertos
Grande jogo de campeonato em Braga! Vitória indiscutível do Benfica que, assim, vem evidenciando um desempenho mais conforme com as naturais expectativas de continuar a ser campeão nacional. Um onze finalmente estabilizado, jogadores em melhor forma, uma dinâmica mais sustentada e estável, têm contribuído para que continue a haver uma boa probabilidade de chegar ao fim em primeiro lugar. Difícil? Claro que sim, até porque os rivais vão à frente e cedem poucos pontos. Mas, ao contrário do que se dizia por aí, o Benfica está bem vivo e as desconsiderações e aleivosias de ue tem sido alvo até o reforçam. Aliás, eu, como benfiquista, até os agradeço. Foi assim com Jorge Jesus há dois anos, quem sabe se não será assim com os 'bonecos' do filho de Sérgio Conceição e outros considerandos de outras personagens pagas em redor do futebol. O que o treinador do Porto disse, está dito. Acho até bem que não se deixe envolver em falsas hipocrisias de se desculpar do que no seu íntimo continua a valer (parece, aliás, que o boneco do filho não tem modo e cara de arrependido). E, depois, há esse assomo indiscutível de personalidades. O homem é coerente, como se tem visto. Orgulha-se de ser frontal, dizer tudo o que pensa, logo de tudo está desculpado, tal qual um boneco insuflável. O problema está nos que têm cuidado em pensar antes de falar, isso é que é indesculpável.
Já agora, permito-me tecer algumas considerações sobre as estafadas e inúteis 'conferências de imprensa' que os treinadores têm de fazer antes dos jogos, com honras de tudo interromper nos canais televisivos que quase parecem canais desportivos. E o que lá ouvimos? Três tipos de considerações: as primeiras são as tão inúteis, quanto banais e lapalissianas frases sobre o jogo que se vai efectuar com frases do tipo «vamos procurar ganhar», «sabemos do valor do adversário», «procuraremos entrar fortes», «jogamos sempre para os três pontos», «vamos ver se A joga, logo verão amanhã», etc., etc. As segundas, invariavelmente para assinalar as dificuldades que o adversário vai colocar numa lógica bastante defensiva e quase cautelar, seja o oponente o Barcelona, o último classificado da Liga ou um depenado clube da 3.ª divisão que calhou num sorteio qualquer. Então, logo se diz «conhecemos bem o adversário», «sabemos do seu valor», «temos consciência da dificuldade de jogar naquele ambiente», «temos de correr muito para o levar de vencida», «esta equipa supera-se em jogos como este», etc., etc. Finalmente, o terceiro prato destas conferências, por certo, o mais excitante e guloso. Responder a perguntas (algumas não só expectáveis, como julgo combinadas previamente) sobre tudo menos sobre a jogo que se vai efectuar. Aí se vertem ditames, se expelem ódios indisfarçados, se mandam recados cabalísticos, se amesquinham colegas de profissão, se dá azo a devaneios personalísticos, se insinuam caminhos e atalhos. É o momento zen dos encontros com os jornalistas. É a compita para ver quem produz o melhor sound bite da semana, que depois é reproduzido ad nauseam por tudo o que é informação e redes sociais. E, assim, o jogo é esquecido e os protagonistas são outros. Neste terceiro capítulo - e deixando de lado a arbitragem (essa é o ponto forte das conferências de imprensa depois dos jogos) - há uma secção totalmente dedicada ao Benfica. Isto é, os treinadores do Sporting e do Porto, mesmo sentados para antever um qualquer jogo com outro clube, o Carcavelinhos ou o Alcobaça, não resistem a falar de um terceiro que para ali não é chamado, o Sport Lisboa e Benfica. Já pude constatar que há conferências onde se fala muito mais do Benfica do que do clube que o treinador representa! Eis a prova real do incómodo que o meu clube suscita e da patologia que provoca na atitude dos outros. As conferências de imprensa até poderiam passar a chamar-se simplesmente 'Benfica e outros assuntos menores'.
Em suma, venham mais cinco bonecos em modos distintos, que os jogadores do Benfica agradecem e estão disponíveis para, em modo ricochete, os devolver.
Jonas
Todas as palavras serão insuficientes para caracterizar a qualidade deste jogador. Eficaz, fazendo do futebol uma coisa simples nos movimentos, passes e posições. Tem uma leitura integral do que deve ser um jogador moderno a atacar, a desmarcar, a rematar e até a defender, combinando a individualidade com a totalidade. Além disso, jogo sem futilidades, sem adereços parvos ou penteados folclóricos.
Jonas é um jogador inteligente. Sabe criar espaços onde parece não os haver. Sabe dosear o esforço na exacta medida da procura da eficácia que se pede a um atacante. Sabe conciliar, como poucos, o jogo colectivo com as virtualidades da magia individual. É rapidíssimo, a pensar e mais ainda a executar. Pratica sistematicamente a cultura do jogo simples, o que é o mais difícil.
Jonas é um atleta solidário e bastante laborioso. Percorre quase todo o campo em movimentos de elegância e em esquadria de precisão. Tem 33 anos, algumas cãs precoces, mas possui a energia mental e psicológica de um jovem no início da carreira e no dealbar dos sonhos.
Agora num esquema de jogo diferente, continua a ser letal, quer nos golos, quer nas desmarcações, quer nas assistências. Fisicamente parece este ano muito melhor, apesar de um ano mais velho. Assim se mantenha, sem lesões, porque é o jogador mais decisivo para o almejado penta.
Gosto de o ver festejar os golos, sobretudo por duas razões: a primeira, pela alegria e jovialidade que nos contagia, como se fosse o seu primeiro golo; a segunda, porque sempre chama quem lhe proporcionou o passe ou o momento para marcar, assim sinalizando, solidariamente, que não há grandes momentos individuais se não houver capacidade colectiva.
Nesta passagem da primeira para a segunda volta dos campeonatos europeus, Jonas é o melhor marcador da Europa, com 21 golos apontados (em 18 jornadas, só não marcou 2 vezes e só não marcou uma vez - em Chaves - sempre que o Benfica fez golos). Infelizmente, sem hipótese de vencer a 'Bota de Ouro' porque Portugal desceu no ranking e os golos por cá têm agora uma ponderação de 1,5 em vez de 2, como acontecia até à época passada.
Notável jogador e atleta!
Disparidades
Bem sei quão é a subjectividade (não confundir com parcialidade) na apreciação de um jogo ou no desempenho de jogadores. Mas, que diabo, custa crer que, nesta última jornada, os jogadores titulares do Sporting tenham somado 72 pontos para A Bola e os do Benfica se tenham quedado com 63 pontos! No Sporting, que, em Alvalade, até teve dificuldades notórias na primeira parte contra o 16.º classificado, só um jogador (Acuña) teve menos do que 6 pontos e 6 jogadores tiveram mais 7 ou 8 pontos. Pois no Benfica, em Braga, e apesar do título de capa ser elucidativo ('Categoria'), houve 5 jogadores abaixo de 6 pontos (por exemplo, Fejsa!) e 3 com 7 pontos. Será que vimos os mesmos jogos?
Contraluz
- O título que faltava: O Benfica venceu a Taça da Liga em futsal
Bateu, sem apelo nem agravo, o Sporting que, ultimamente, tem dominado a modalidade. A partir de agora, o Benfica tem, no seu historial, o título europeu, o nacional, a taça, a supertaça e a taça da liga. Parabéns a Joel Rocha e a sua equipa!
- O tomba-gigantes: Caldas Sport Clube...
... que chegou às meias-finais da Taça de Portugal. Não sei se é caso único, mas é um feito um clube do 3.º escalão ter chegado tão longe e poder almejar ir ao Jamor defrontar o FC Porto ou o Sporting. Lembro-me de, no final dos anos 50, ver o Caldas na 1.ª Divisão e, até por isso, fiquei contente por este feliz momento do clube.
- Decepção: Real Madrid
Ainda que com um jogo por disputar está a 19 pontos do Barcelona, a 11 do Atlético de Madrid, a 9 do Valência e luta com o Villareal e Sevilha pelo acesso ao play-off da Champions (4.º lugar)! Inexplicável, mesmo tendo em atenção a má forma dos principais jogadores. E, agora, tem pela frente um jogo a eliminar com o endinheirado PSG..."
Bagão Félix, in A Bola