"ELBASAN - Faltavam cerca de 20 minutos para os adeptos albaneses desatarem a gritar MESSI, MESSI, MESSI, quando senti um puxão no braço esquerdo.
Olhei para trás e esbarrei no sorriso de um senhor já velhote e no olhar fascinado do sobrinho. Não houve cá tempo para bons-dias nem boas-tardes, que o italiano do homem era tão improvisodesenrascado que ele parecia nem respirar. Sorria, e repetia, agora fazendo-se entender: «Quem é melhor, Ronaldo ou Eusébio?» Assim mesmo, de chofre, sem me dar tempo para pensar, logo insistindo, agora pela voz do rapaz, em inglês.
Tenho para mim que Eusébio foi um gigante, mas - eventualmente porque nunca o vi jogar a não ser em imagens de TV sem grande qualidade - entendo que tudo o que Cristiano Ronaldo já conseguiu, o extenso currículo que ostenta, o facto de ser um quebrador incansável de recordes no Real Madrid e na Seleção o torna já merecedor da coroa de melhor português de sempre (e isto sem qualquer desprimor para génios como Eusébio, ou, por exemplo, Luís Figo).
O jovem traduziu as minhas palavras do inglês para o albanês e o olhar do tio alterou-se. Sem respirar, disparou (a sonoridade era parecida e o google tradutor diz que a frase era algo como isto): «Pelé ka thene se ne qofte se ka pasur nje loje kunder nje ekipi marsian dhe Eusebio nuk ka luajtur, ai gjithashtu nuk do te luaje». Percebi, ali pelo meio Pelé, equipa de marcianos e Eusébio, mas tive de esperar que o rapaz explicasse que o Pelé tinha dito que se o Eusébio não jogasse contra uma equipa de marcianos ele próprio não jogaria! Sorri e apreciei o momento. Não rebati - para quê contrariar tão forte paixão? - e desejei-lhes boa sorte, que aproveitassem o jogo. Para eles, foi um dia mágico. Afinal, era só um jogo de futebol e isso, toda a gente sabe como pode ser mais importante que tudo."
Nuno Perestrelo, in A Bola