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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Lá se acabou com o 'blackout' porque o presidente fazia anos

"Quero crer que o presidente do Sporting tomaria igual decisão se tivesse ganho. Seria indecente aproveitar algo lamentável para criar um facto que desvie atenções de resultado 'frustrante'

«Olé! Olé! Olé! Olé! Olé! Olé! Olé!... Oh!»
Público em Alvalade, domingo, 8 de Fevereiro.
NÃO derby que não fique com um epíteto para a História. Este último, o de domingo passado, será sempre lembrado como o derby dos olés.
Para uma impressionante maioria de místicos das nossas cores foram até os benditos olés que despertaram a equipa para aqueles valentes 6 minutos à Benfica.
E assim se somou em Alvalade um ponto menos insatisfatório do que seria admissível de véspera tendo em conta as circunstâncias em que foi obtido. Nisto estaremos todos de acordo.
A três meses do fim do campeonato este derby não servia para definir o campeão mas poderia servir para contabilizar o número de candidatos efectivos. Título discutido a dois ou título discutido a três? - era esta a questão antes de o árbitro apitar para o início do jogo.
Perante o noticiário do rescaldo que nos revelou «as lágrimas dos jogadores» na cabina e nos alertou para «a dura tarefa» que Marco Silva tem pela frente, que é a de «recuperar o moral do grupo», alguns apressados podem concluir que o resultado do jogo afastou efectivamente o Sporting da luta e que o título, a partir de agora, vai ser discutido apenas a dois e pelos dois do costume.
Se acreditam que o campeonato acabou para o Sporting, já podem voltar a torcer à vontade pelo Porto todos aqueles sportinguistas que vêm gratamente no emblema do dragão o anjo vingador das suas maleitas. 

«Passo à vossa frente de cabeça erguida. Honesta e erguida.»
Artur Moraes, domingo, 8 de Fevereiro.
ESTE campeonato, no entanto, não acabou. Nem sequer para o Sporting. E muito menos para o Benfica. 
Aliás, houve logo quem acusasse os jogadores do Benfica de exagerar nos abraços e na boa disposição com que regressaram à sua cabina quando o árbitro deu por encerrada a sessão.
Se, de um lado, não há certamente motivo para chorar um campeonato que ainda não se perdeu, já havia, do outro lado, motivo e inspiração para correr a abraçar um colega de equipa que passou a semana inteira a ser achincalhado pública e sonoramente.
Em termos práticos não lhes valeu de nada. Nem as tochas que lhe atiraram da bancada o perturbaram.
O espectáculo também não valeu grande coisa. As duas equipas ocuparam tão bem os espaços que o jogo propriamente dito só começou aos oitenta minutos quando o cansaço geral passou a consentir erros individuais que sempre provocam desequilíbrios e animação.
A diferença, basicamente, esteve nos guarda-redes. Artur teve perante si cinco situações e resolveu quatro com primor enquanto Patrício teve uma única situação para brilhar e não brilhou. Resultado: 1-1. O Benfica para voltar a ser campeão tem de fazer mais. Ou de fazer diferente.
No domingo, das três equipas em campo a melhor foi, e de longe, a equipa de arbitragem. Trata-se de um acontecimento notável.

«O Jardel vai marcar de cabeça.»
Matic, quarta-feira, 4 de Fevereiro.
E marcou. Ninguém me tirará nunca a ideia de que o golo de Jardel no domingo foi de cabeça. E de martelada porque a decisão que tomou, a de fechar os olhos antes do estrondo, foi o momento mais cerebral da exibição do Benfica nos primeiros 88 minutos do derby.
No entanto, note-se bem que, ao contrário do convencionado, o Benfica não teve grande sorte em Alvalade sendo verdade que foi mais feliz do que em Paços de Ferreira onde mandou três bolas aos ferros e desperdiçou um penalty.
Sorte, sorte teria tido o Benfica no domingo se o Sporting em vez de ter marcado o seu golo em cima dos 90 minutos, permitindo pouquíssimo tempo para recuperação, o tivesse apontado logo no primeiro quarto-de-hora da primeira parte.

«E amanhã também faço anos.»
B. de Carvalho, sábado 7 de Fevereiro.

«Hoje é dia de derby e este ano até coincide com o meu aniversário.»
B. de Carvalho, domingo 8 de Fevereiro.

«Em primeiro lugar quero agradecer a todos as milhares de mensagens de aniversário que me enviaram.»
B. de Carvalho, segunda-feira 9 de Fevereiro.
NA véspera do derby foi formalmente anunciado pelo presidente o fim do blackout que vinha serenando o Sporting desde 22 de Dezembro. Bruno de Carvalho reapareceu, historiou o caso com José Eduardo e apelou aos adeptos para se manterem focados «nos temas essenciais».
Questionado sobre a oportunidade do momento escolhido para acabar com o silêncio de um mês e meio, o presidente do Sporting avançou «também» com o facto de a data do seu aniversário calhar no dia do derby. São as curiosidades do calendário.
No dia seguinte, o dia propriamente do derby, e para os mais distraídos, o presidente do Sporting voltou a relembrar o tema cadente do seu aniversário. No dia seguinte aconteceu a mesma coisa mas já em jeito de agradecimento pelos «parabéns» recebidos que só podem ter sido muitos mas que poderiam ter sido muitos, muitíssimos mais.
Está no seu pleníssimo direito. É o presidente e fazia anos. E certamente tinha conhecimento da festa de anos de Cristiano Ronaldo em noite de derby madrileno e quis associar-se com a sua efeméride num duplo mega-evento peninsular.
Fica, no entanto, a pairar no ar a sensação de que, em termos práticos, o fim do blackout não teve outro objectivo senão o de anunciar que o presidente fazia anos no dia do derby.
Tivesse o Sporting conseguido ganhar o jogo, como esteve tão perto de conseguir, e a data do aniversário do presidente ainda passava a «tema essencial» na vida do clube.

«Sempre juntos. Carrega Benfica!»
Pizzi, segunda-feira, 9 de Fevereiro.
COMEÇOU em Pizzi o golo de cabeça de Jardel. De costas para a baliza de Patrício e de frente para a baliza de Artur, a quem ainda teve tempo de piscar o olho com amizade, Pizzi pontapeou uma bola em arco para a área do Sporting, uma jogada estudada, que resultou no golo do Benfica.
A frustração dos sportinguistas é, no entanto, bem compreensível. A sua equipa só conseguiu estar a ganhar durante 6 minutos ao rival. Sendo que o rival perdeu meia-equipa da época passada e chegou a Alvalade só com meia-equipa da actual temporada. E, imagine-se, ainda queriam que jogássemos ao ataque.

«Não nos resta outra alternativa que não seja o corte de relações institucionais com o SLB.»
Comunicado do Sporting, terça-feira, 10 de Fevereiro.
SE o SLB referido no comunicado é o Benfica então o Sporting cortou relações connosco. Mas, tratando-se mesmo do Benfica, não ficaria mais a preceito em função do esquema mental da actual liderança de Alvalade terminar o comunicado anunciando «o corte de relações institucionais com o visitante»?
Na véspera do grande derby de Alvalade e do aniversário do presidente do Sporting, houve um derby mais pequeno na Luz na modalidade de futsal. No derby do futsal um punhado de sevandijas exibiu uma faixa com referência ao trágico incidente da final da Taça de Portugal de 1996.
A mim não me representam. No dia seguinte a essa tristíssima e já longínqua tarde no Jamor, um largo número de Benfiquistas enviou ao presidente do clube, Manuel Damásio, um abaixo-assinando exigindo o fim do apoio moral e institucional a indivíduos e grupos indignos de se apresentarem a coberto das nossas cores.
Esse protesto foi na altura público e não teve aceitação. O meu nome estava lá entre muitos outros. O que me autoriza, sempre que o tema renasce, a fazer vincar, sem delongas civilizacionais e apresentando provas, que a minha opinião é a mesma desde 1996. E aplica-se indiferentemente a sevandijas de todas as cores. 
Quero crer que o presidente do Sporting tomaria a mesma decisão de cortar relações «com o SLB» se o Sporting tivesse ganho o jogo no domingo. Seria uma indecência o aproveitar de um assunto lamentável como este só para se criar um facto político que desvie as atenções de um resultado menos positivo.
Todos sabemos como um corte de relações com um rival depois de um resultado menos bom com o mesmo rival é garantidamente um sucesso popular. Porque prolonga o necessário destilar e o alívio da frustração em terrenos que não são os do jogo, de quem ninguém quer mais ouvir falar, mas sim os da política onde todos tão estranhamente se sentem à vontade.

PS - O Benfica está na sua sexta final da Taça da Liga. Gonçalo Guedes foi titular e Rúben Amorim regressou. Jonas marcou o seu golinho do costume. Talisca e Pizzi marcaram de penalty. No domingo, o Vitória volta à Luz. Não se esperam tantas facilidades. Carrega Benfica!"

Leonor Pinhão, in A Bola

O 'derby' (II)

"Na era Jesus, jogando em Alvalade, o jogo de domingo terá sido o menos conseguido do Benfica. Apesar disso, os «olés» dos últimos minutos estavam a ser manifestamente exagerados, pois que o Sporting - ainda que melhor - também esteve longe de deslumbrar. O Benfica acabou por ser feliz ao obter um empate com sabor acrescido. Uma espécie de contraponto do da 3.ª jornada, na Luz. Então, o Benfica que só não ganhou por manifesto lance infeliz e o SCP pouco fez para não sair derrotado.
A ironia do futebol esteve bem presente neste derby. Samaris, um dos melhores dos encarnados, assistiu, involuntariamente, João Mário para o lance que viria a dar o golo leonino, marcado na recarga por Jefferson. Este, por sua vez, perante a ameaça de Jonas, dá o ligeiro toque fatídico para a sua equipa e que permitiu ao improvável Jardel fuzilar as redes de Rui Patrício.
Empate que permite ao Benfica aumentar a distância para o SCP (os mesmos 7 pontos, mais o provável desempate a seu favor em caso de igualdade pontual) e manter uma distância superior à barreira psicológica de 3 pontos face ao FCP. Campeonato até ao fim bem difícil, ainda que (teoricamente) as 14 jornadas restantes sejam mais acessíveis para o SLB.
Jorge Sousa esteve magnífico. Independentemente do resultado, que salutar (e quase inédito) é não explicar resultados por força do apito. Claro que, no rescaldo, há sempre uns divertidos programas onde se esgravata, quase patologicamente, tudo até se encontrar um qualquer erro. Mas isso não é futebol, é «descubra as diferenças».
P.S.: Carlos Martins não defronta o Sporting. André André não joga no Dragão. Coincidências."

Bagão Félix, in A Bola