Últimas indefectivações

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Mistério Catão !!!



"Há cerca de um mês, Vítor Catão ameaçou e coagiu o empresário César Boaventura, alegadamente, com uma arma de fogo. O crime foi filmado e transmitido em directo na sua página de Facebook. Posteriormente foi difundido em todos os canais informativos nacionais e Vítor Catão chegou mesmo a ter palco na CMTV. Honra que aproveitou para lançar mais um lote de insinuações, inverdades e mentiras.
Segundo a nossa interpretação jurídica, foram vários os crimes praticados: difamação, sequestro, coacção, crime de ofensa à integridade física e ameaça. Ainda a questão da arma de fogo que, a ter existido, alarga o leque de crimes. Os vídeos servem de prova, tendo o estatuto de crime público, não estão dependentes da apresentação de queixa.
Partindo do princípio básico que nenhum cidadão se encontra acima da lei, o Polvo das Antas não pode deixar de apontar para os Artigos 143º, 153º e 154º do Diário da República n.º 63/1995, Série I-A de 1995-03-15:
Ofensa à integridade física simples:
1 - Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
Ameaça:
1 - Quem ameaçar outra pessoa com a prática de crime contra a vida, a integridade física, a liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou bens patrimoniais de considerável valor, de forma adequada a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de determinação, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.
Coacção:
1 - Quem, por meio de violência ou de ameaça com mal importante, constranger outra pessoa a uma acção ou omissão, ou a suportar uma actividade, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
2 - A tentativa é punível. 
Até à data, incompreensivelmente, ainda não foi detido para interrogatório.
Ontem, sem surpresa devido ao sentimento de impunidade que as autoridades lhe têm conferido, Vítor Catão voltou aos directos na sua página de Facebook. Intimidou novamente César Boaventura, ameaçou André Ventura dizendo que lhe irá «dar um estalo» e referiu-se à sua mulher e mãe de modo totalmente inaceitável. 
Francisca Van Dunem, ministra da justiça, e António Costa, primeiro-ministro, foram também visados. Ao chefe do Governo da República Portuguesa chegou mesmo a expressar o desejo de que este caísse «abaixo da ponte da Arrábida».
Até quando vamos permitir que este indivíduo continue livremente a ameaçar, coagir, difamar e insultar a seu bel-prazer sem que sofra qualquer consequência pelos seus actos?
Será que goza de um regime de excepção devido à sua ligação ao FC Porto? Ligação essa que, até ao momento em que deu a entrevista que aqui publicamos um excerto, não passava de um mero adepto. Afinal, segundo o próprio, trabalhou lá «durante 25 anos».
Investigue-se."

Vai ser agora!

be"Rio Ave - senhor da rasteira pregada ao FC Porto - e Benfica (que Benfica?...) decidirão este título. Champions: uauuuuu!!!

Vila do Conde, só duas semanas após ter rasteirado o FC Porto, volta a ser chave da conquista do título quando permanece de gritos o já curtinho sprint para a meta. Faz lembrar nada longínquo e tão empolgante despique entre Benfica (Rui Vitória) e Sporting (Jorge Jesus), quando foi batido recorde de pontos num campeonato!
Agora, para haver reviravolta, o Rio Ave terá de pegar ao Benfica rasteira ainda mais violenta do que aquela com que mimoseou o FC Porto - isto, claro, desde que o Nacional, quase, quase despromovido, não provoque máximo escândalo travando o FC Porto! Evidente: Rio Ave, confortável no 7.º lugar, está em alta. Nos últimos 4 jogos, 3 triunfos (2 fora de casa, face a Belenenses e Moreirense...) e o tal empate que tanto abalou o reino portista. Mesmo assim, questão de fundo é esta: que Benfica, no previsto seu derradeiro dia de sim ou sopas?
Pertinente questão porque o líder - frise-se: detentor de intenso mérito na espectacular recuperação sob égide de Bruno Lage - tem andado a provocar fortíssimas acelerações cardíacas nos adeptos. Empate em Vila do Conde deve bastar-lhe... Mas será que vai entrar em campo com esse objectivo, como fez - e tão mal lhe correu! - noutros dias D, vide 2.ª mão da Taça (Alvalade) e da Liga Europa (Frankfurt), quiçá ainda mais chocantemente na 1.ª parte em Braga? Esse Benfica que desatou a vaguear entre insólitos quase nada e súbitos/brilhantes tudo... (último exemplo frente ao Portimonense, na Luz, acordando ao cabo de uma hora ultra penosa) muito se arrisca, se insistir em tal erro de cálculo, a ver cumprido o ditado de que tantas vezes o cântaro vai à fonte... até que se parte.
Bruno Lage construiu Benfica que brilha na vertigem ofensiva (65 golos nas 17 jornadas com ele ao leme, média de quase 4 por jogo!, mais 28 do que o FC Porto no mesmo período!). Absoluta verdade: equipa forte candidata a campeã tem de possuir equilíbrios tácticos e estratégicos ao longo dos jogos, sendo fundamental defender bem (sem isso, ganha-se vários jogos, não se ganha campeonato). Mas compreende-se mal que ressuscitado Benfica tenha vindo, nos últimos tempos, a abdicar do estilo audaz que o projectou para o topo, somando confrontos em que arranca receoso, encolhido, assim permanecendo muito tempo - e daí... cair nas aflições de estar mesmo subjugado, grosso desaire muitíssimo à vista. Depois, acaba por reagir, atira-se para a frente e é um ver te avias... aplicando goleadas (no campeonato...) quando já ninguém tal esperava! Porém, em fria/objectiva análise, isso não faz esquecer tão intensos, e prolongados, ataque de treme-treme.
Depois do enorme susto benfiquista durante uma hora de firme superioridade portimonense na Luz (podia ter feito 0-2 e 0-3!), ouvi e li justificações com inexperiência dos jovens. Sim, Ferro (20 anos), Florentino (19), João Félix (19) e Gedson (20 - suplente utilizado já com triunfo definido) não possuem a maturidade competitiva existente no FC porto, sendo naturalíssimo acusarem tremenda pressão psicológica de o tão ambicionado título lhe estar nas mãos... (ai o medo de falharem!).
No entanto, para além disso, vejo, no Benfica, um problema táctico...: sistema com apenas 2 médios centrais (e sem a capacidade atlética de Danilo-Herrera - amiúde, também Otávio - no FC Porto) cria buracos no meio-campo quando a global dinâmica se esvai - défice numérico na zona crucial para controlo do jogo; em simultâneo, a quantidade de corpo perdidos, dando imediata posse de bola ao adversário, é enorme! Por regra, tudo muda quando Pizzi se assume mesmo como médio e o sistema passa a 4-3-3... (João Félix mais num flanco, agora normalmente o direito - era o esquerdo no tempo em que Rui Vitória começou a lanço-lo).
Actual Rio Ave longe de ser pera doce... Ele e, sobretudo, o Benfica - lá está: que Benfica?... - decidirão este título.

Champions fabulosa! Liverpool e Tottenham, o poderio do futebol inglês cavalgando para grande final com empolgantes reviravoltas que ficarão históricas= Magia! Épicos festivais de alma, grande futebol e, sim, magia!
Liverpool, mesmo sem 3 titularíssimos (sobretudo Salah e Firmino, máximas estrelas atacantes), arrasou Barcelona! Carismático treinador Jurgen Klopp e carismático público no lendário inferno de Anfield fizeram excelentes jogadores acreditar no necessário 4-0!!!
Tottenham, em casa de estupendo Ajax, a perder 2-0 ao intervalo (3-0 nos 2 jogos...), foi buscar garra, técnica, poder atlético e... sem o ponta de lança Kane, virou tudo com 3 golos! Épico, como fora no 4-3 que eliminara o City. Também o líder Pochettino tem de possuir muito especial carisma! Viva a magia deste futebol fantástico espectáculo!"

Santos Neves, in A Bola

Os patrocínios que não temos

"Foi na Folha de São Paulo que li um artigo interessante: como os patrocínios nas camisolas de clubes de futebol representam a evolução da economia do Brasil. Resumindo, o jornal conclui que as empresas de serviços foram substituídas nos últimos 20 anos por empresas ligadas à branca e à área financeira, com incidência nos últimos tempos para as FinTech (empresas de serviços financeiros que usam a mais recente tecnologia para o utilizador). Isto levou-me a ver o que existe em dois países: Espanha (pela proximidade geográfica) e Holanda (por ter um campeonato semelhante ao português). Em Espanha, salta à vista a dimensão internacional: 11 multinacionais, quer tecnológicas (apostas on-line e compras on-line), combustíveis, turismo e uma companhia aérea - a maioria dos restantes patrocinadores pertencem à banca e a empresas altamente exportadoras. Vamos à Holanda: nove empresas de tecnologia (plataformas de venda de roupa on-line, IT, data science), empresas ligadas à energia, logística, cuidados de saúde e uma de limpeza.
E o que temos nas equipas da Liga? Uma companhia aérea multinacional, duas empresas de comunicações (uma delas repetida em três clubes), um banco (repetido em dois clubes), uma marca de automóveis (repetido em dois clubes), uma empresa de eventos japonesa, cinco empresas/instituições locais e três clubes sem patrocínio. E como era em 1989? Dois clubes sem patrocínio, quatro clubes apoiados por entidades públicas, uma empresa multinacional (repetida em dois clubes), duas empresas de dimensão nacional e seis empresas locais. Conclusão: não melhorámos muito em 30 anos e estamos longe do padrão de excelência europeu. Por um lado há muitas empresas descapitalizadas e os novos e velhos Ronaldos da economia (os exportadores) fogem do nosso futebol. Porque será?"

Fernando Urbano, in A Bola

Após Liverpool o país patológico

"Um jogo mágico em Anfield, um espectáculo digno do Bolchoi, uma memorável reviravolta, que percorreu um mundo à procura dos adjectivos certos que a mente humana fosse capaz de produzir. Messi, o deus maior do jogo da primeira mão, derretido pela força e o calor de uma equipa no máximo do prazer de jogar.
Depois do jogo, poucos minutos depois de ouvir o emblemático estádio de Liverpool a cantar a dezenas e dezenas de milhares de vozes o Imagine de John Lennon (...imagine all the people living for today... mudei de canal à procura das análises, das explicações  possíveis para aquele maravilhoso feito dessa muito peculiar equipa, do muito especial Jurgen Klopp. Na A Bola TV, o José Manuel Delgado e o André Pipa aceitavam, com visível prazer, o compromisso de mudar o guião previamente estabelecido e falavam do que tinham acabado de acontecer de verdadeiramente extraordinário no mundo do futebol. Por curiosidade, passei por outros. O assunto inadiável do dia, o assunto apaixonante da sessão, a assunto que desvalorizava a existência de todos os outros, era um escrito desnecessário  infeliz de Pinto da Costa, ao qual uma qualquer newsletter do Benfica respondia no mesmo tom primário e sem virtude.
É assustador. Não ponho em causa que essa patética discussão caseira fosse o tema que, naquele momento, gerasse mais audiências desportivas em Portugal, mas isso inquieta-me e preocupa-me, porque entrega, definitivamente, tais audiências ao domínio do provincianismo patológica, o que também explica como, em matéria de futebol e de desporto, tanta gente se comporta mais redes sociais."

Vítor Serpa, in A Bola

Mens sana in corpore sano

"Fugir com o rabo à seringa. Ora aí está um ditado que, por estes dias, não pode fazer parte do vocabulário dos nossos heróis. Estão demasiado perto de fazer explodir de alegria milhões de benfiquistas. Uma explosão que atingirá os quatro cantos do mundo. E os golos, esses, podem também surgir de cantos, que nós cantaremos o vosso nome até que a voz nos morra. Não me lixes, Benfica.
Numa altura destas o que não pode faltar é motivação. Quando se está tão perto de alcançar o principal objectivo da época, cada um dos jogadores tem a obrigação de se transcender em todos os aspectos do jogo. Deve estar fisicamente bem, concentrado, saber o seu papel dentro de campo e conhecer o seu adversário. Actualmente, todos os jogos são preparados ao mais pequeno detalhe, e são esses detalhes que os podem decidir: um passe bem feito e o golo fica perto; uma recepção falhada e está o caldo entornado. Nas duas finais que faltam (ou talvez uma) nada pode falhar, mas sabemos que os jogadores que correm em nosso nome são humanos e os erros podem acontecer. Nesse momento só temos de os apoiar e puxar ainda mais por todos eles. Por eles e pelos adeptos que estão ao nosso lado. Pelos que estão ao nosso lado e pelos que estão numa qualquer tasca, numa qualquer terriola deste país. Esse é o espírito que se pede nos Arcos e depois na Luz.
É nossa responsabilidade, e prazer, fazer das tripas coração pela nossa equipa, mas não somos nós que, fisicamente, corremos pelos relvados. Cada um dos que entrarem em campo no domingo terá de desempenhar as suas funções sabendo da responsabilidade que tem aos ombros. A pressão é real e de alguns jogos para cá, principalmente em Braga e frente ao Portimonense, a equipa tem acusado um pouco dessa pressão. É natural, já que alguns nunca estiveram nesta posição, como Odysseas, Ferro, Florentino ou Félix. Até mesmo os mais experientes têm cedido um pouco. O nervosismo quando entram em campo tem sido palpável e o medo de falhar tem sido gritante. Acredito mesmo que haja alguma tensão. A época já vai longa, teve altos e baixos, mudança de treinador, críticas e assobios, mas estamos tão perto... Nos Arcos, é necessária muita concentração e deixar o nervosismo negativo dentro do balneário. Importante também a gestão de expectativas. É preciso ter mente sã em corpo são. Os mais velhos no clube têm de assumir, sem rodeios e devaneios, o papel de líderes. Jardel, Salvio, Almeida, Pizzi e Jonas, entre outros, terão de puxar dos galões. Rúben Dias, que parece ter nascido para capitanear o Benfica, terá de assumir a defesa. Se remarem todos para o mesmo lado, se estiverem todos a pensar no mesmo, há bem mais do que 37 razões para ganharem o jogo.
Benfica, a gritar por ti, quando o autocarro arrancar de Lisboa, quando chegar a Vila do Conde e durante o jogo, estará uma incomparável massa adepta que nunca vai desistir de ti. Que dará tudo o que tem para que fim festejemos em conjunto."

A fúria dos “diabólicos super-latinos” e a “invasão spuriana com fases de autêntica loucura”: em 62, o Benfica travou o Tottenham

"No dia 5 de abril, o Tottenham recebeu o Benfica, no White Hart Lane, para a segunda mão da Taça dos Campeões Europeus. A vertigem e o querer, para dar a cambalhota à eliminatória, não foram muito diferentes do que se viu na Johan Cruijff Arena na quarta-feira à noite, contra o Ajax

uma imagem assombrosa que resiste aos escombros do Ajax-Tottenham. Parece retirada de um cenário de guerra ou da ressaca a quente de um qualquer desastre natural. Há homens pelo chão, destroçados, na alma e na carne. Derrotados. Nicolás Tagliafico, o lateral argentino que diz que no clube holandês olham de lado para quem dá chutão na frente, ficou de pé a sentir aquela brisa de desesperança.
Os spurs, orientados pelo honesto Mauricio Pochettino, rasgaram o coração dos rapazes de Amesterdão, que sonhavam imitar o que homens como os Johan, Cruijff e Neeskens, os irmãos de Boer, Kluivert e Finidi fizeram nos seus tempos. Aquela segunda parte furiosa, sem Wanyama e com Llorente, roubou a serenidade ao caos holandês, transformando-o em mero caos e dúvida. Os londrinos, que já tinham feito algo especial nos “quartos” contra o City de Guardiola, voltariam a fazer história, com um golo de Lucas Moura aos 96’. A gravidade, claro, foi mais pesada do que nunca e os homens de branco e vermelho, desolados, beijaram a relva com o corpo todo.

A História
Na longínqua temporada de 1961/62, o Tottenham do lendário James Greaves chegava pela primeira vez às meias-finais da Taça dos Campeões Europeus e tinha pela frente o campeão em título, o Benfica de Béla Guttmann. A primeira mão sorriu aos lisboetas: 3-1 (Simões, José Augusto-2; Bobby Smith).
Pedia-se uma noite épica para dar a cambalhota no destino e aquela imagem de Tagliafico podia ter acontecido no dia 5 de Abril de 62.
“O Benfica não só não foi recebido com aplausos como foi alvo de um tumultuoso ‘buuu’ quando entrou no terreno: houvera um atraso e a equipa portuguesa saíra dos vestiários com minutos de atraso”, começa a contar a edição do “Diário de Lisboa” de 6 de Abril de 62. “Houvera antes a tradicional e colorida fase dos chefes de claque e dos seus grupos de apoio, com os seus cartazes e slogans. Um desses cartazes era um trocadinho: ‘Portugal grieves tonight.” Era uma referência a James Greaves, que entre 1957 e 1971 marcou 422 golos.
Os visitantes até começaram a vencer esta segunda mão. “Quando [José] Águas marcou o golo português”, continua o diário, “fez-se no estádio um silêncio de morte, que a alegria do número reduzido de portugueses entre a assistência não chegava a abalar”.
Mas aquela fúria, a vertigem, o que vimos na quarta-feira à noite 57 anos depois, corre-lhes no sangue. E tudo, mesmo tudo, até um resultado que parece super-favorável, é colocado em causa. Basta ver o resumo, com a beleza do preto e branco, e transportar para ali as correrias de Dele Ali, Lucas Moura e Son Heung-min. Ou os apertos das defesas, tanto de Ajax como do Benfica, com a verticalidade do futebol londrino.



A “verdadeira trovoada” chegou com o golo anulado a Greaves. O White Hart Lane irritou-se ainda mais. Bobby Smith empatou antes do intervalo, “numa jogada calma”. Costa Pereira, Germano, José Augusto, Simões e Eusébio iam encantando este cronista. Do outro lado, era Dave Mackay, Maurice Norman e Cliff Jones.
“No segundo tempo, houve a grande penalidade que daria o segundo golo aos spurs. Coluna, para travar [John] White, fê-lo deslizar na lama como barco de vela. O remate de [Danny] Blanchflower não perdoou.”
Depois, Simões viu um golo ser-lhe anulado e Águas, que continuaria a ser “uma espinha na carne dos spurs”, voltou a estar perto do golo. Costa Pereira “ainda esteve melhor do que antes do intervalo”. Os londrinos, que levariam uma bola a estalar a barra, continuaram a apertar, a tentar, a tentar e forçar. Mas nada feito: 2-1. Faltou um golo aos londrinos para empatarem a eliminatória e, quem sabe, sonharem com a final de Amesterdão. O cabeçalho da página do “Diário de Lisboa” resume: “Vitória dos homens tranquilos sobre os homens frenéticos”.
O defesa Mackay, “o elemento mais influente” e que até piscaria o olho a jogar no Benfica, esboçou uma explicação para o desaire. “Demos quanto podíamos, em esforço, mas concordo que a equipa poderia ter actuado de forma mais inteligente e mais calma. Mas quando os problemas são grandes nem sempre se acerta com o melhor rendimento.”
Calma e inteligência.
A explicação é curiosa. Não imaginam Ernesto Valverde ou Erik ten Hag a dizer o mesmo? Quando os jogos roçam a loucura, como vimos no Liverpool-Barcelona e no Ajax-Tottenham, os jogadores têm de aprender rapidamente a viver em fast forward e no caos. Normalmente, quando existem equipas menos calmas, digamos assim, é quando o futebol é transformado num tesouro apaixonante, chutando para longe as ideias trágicas de inventar uma elite das elites. Sem consciência e memória.  All-in. Futebol.
“Formidável espírito de luta”, escrevia Fernando Soromenho numa mini-crónica, a desancar nesta coisa de ver um jogo pela televisão, sem a “cor do cheiro do futebol”, com “imagens esborratadas” e uma "espécie de fantasmas londrinos”. “A «invasão spuriana», com fases de autêntica loucura, encontrou pela frente onze rochas de granito. Lutar, lutar, lutar sempre. (...)”. Afinal, “por mais gigantesco que parecesse o querer dos ingleses - que pareciam diabólicos super-latinos -, os homens do Benfica primaram por uma notável presença”.
O Tottenham não mudou assim tanto desde 1962."

Nós somos humanos

"Pablo Aimar, numa das cativantes entrevistas que vai dando, dizia que o futebol actual é excessivamente analisado. Não podia ter mais razão. Já passámos aquela fase em que ver jogos de qualquer parte do mundo era novidade. Agora, o conhecimento de equipas e jogadores está ao alcance de todos os adeptos, jornalistas ou analistas.
Quem vive o futebol diariamente - as equipas técnicas, entenda-se, que são cada vez maiores e com profissionais de diversas áreas - tem uma quantidade inimaginável de ferramentas para melhorar o processo de treino e estudar os adversários com o máximo detalhe.
"Não sei falar inglês, mas posso falar-vos das 24 equipas do Championship". A frase de Marcelo Bielsa é carismática (como toda a apresentação, aliás), mas não diferencia o louco argentino e a respectiva equipa técnica da maioria. Nesta fase, não é o conhecimento que separa os bons e os maus. É a forma como utilizam o que sabem num determinado contexto, com pessoas e necessidades diferentes (vale a pena ler a entrevista extremamente consciente de Pochettino ao El Pais). 
Recentemente, vi num programa sobre a Bundesliga que o Hoffenheim estava a desenvolver um software que recria o campo de visão dos jogadores e as decisões que tomam num certo momento. O clube alemão está na vanguarda em termos de inovação tecnológica e conta com um dos treinadores mais "modernos" da actualidade. Não há dúvidas de que Julian Nagelsmann é um técnico metódico e bem preparado a nível táctico. Na partida com o Wolfsburgo, por exemplo, o Hoffenheim jogou em quatro (!) sistemas apenas na primeira parte. E os jogadores?
"Não estamos preparados para isso. Não somos robôs, somos humanos. Em muitos jogos não sei em que posição estou a jogar", responde Andrej Kramaric. Entendo as declarações do croata como um apelo. O "overthinking" de alguns treinadores não pode passar por cima de uma das (poucas) verdades universais do futebol: os protagonistas principais são os jogadores.
Tal como Bielsa sabe tudo sobre o Championship, Nagelsmann também deverá conhecer todos os comportamentos tácticos e individuais dos adversários. Mas a quantidade de informação que interessa ao treinador não é igual à que interessa aos jogadores. Nem de perto. Desde logo, porque dentro de campo não existe a mesma frieza para pensar - não é como estar no sofá a observar a variação do 4-4-2 para o 3-1-4-2. Entender até que ponto vai a apreensão de quem joga, tendo o conhecimento da função e o necessário conforto para a desempenhar, é o desafio para os homens do laboratório. A mensagem não pode perder-se no caminho.
O futebol tem uma dimensão inexplicável, que não se encontra no quadro táctico. Talvez no Europeu de 2070 possamos ver um duelo entre os robôs portugueses e os robôs gregos (só para nos vingarem da final de 2004) mas, por enquanto, quem manda no jogo são os humanos que o jogam."

Profetas e Adivinhos

"Vamos lá debruçar-nos sobre este jogo que tanto tem dado que falar.
Não me vou debruçar muito que dói-me as costas.
Mas ainda assim.
Vamos falar dos Adivinhos e Profetas do Futebol.
Então isso é que foi ganhar dinheiro ontem, hãn!
A quantidade de gente que hoje acordou milionária em Portugal.
Tudo a meter no Placard que o Liverpool ia a dar a volta ao resultado.
Acaba por ser normal.
É que eu desconhecia, mas Portugal tem muitos adeptos do Liverpool.
Desde Cabeça Gorda a Pevidém.
Passando pela Casa do Liverpool de Figueiró dos Vinhos.
Todos torciam pelos reds.
É ver malta, que não sabe uma palavra de inglês, partilhar o You’ll Never Walk Alone.
Tudo a prever que o Barcelona, com a sua melhor equipa, ia ser eliminado pela equipa “secundária” do Liverpool.
Sem Salah e Firmino, que eram, para mim, os jogadores mais preponderantes.
Eram e são.
O que faz de mim um ignorante completo.
Porque eu fui o único gajo que não esperava isto.
O único que não acreditava na reviravolta era eu.
De resto, estava tudo mais ou menos a ver que os Reds iam ter uma noite memorável.
Cada vez fico mais desiludido com o meu conhecimento futebolístico.
É que eu ia jurar que o Barcelona já estava na final.
Mais.
Eu jurava que, depois do 3x0, o Barcelona ia marcar pelo menos um golo em Inglaterra a este Liverpool, descrente e conformado, com o destino traçado em Camp Nou.
Klopp para mim é um excelente treinador e dos meus preferidos.
Mas em Espanha, para os “iluminados”, tinha mostrado que nos momentos decisivos não tinha estofo.
Ontem já era tão fantástico que perdeu propositadamente na primeira mão.
Só para mostrar a sua genialidade na segunda.
Mas,então, como explicar o que aconteceu?
Primeiro é preciso perceber que foi uma noite mágica, épica e rara.
Como a que aconteceu quando este mesmo Barcelona virou uma eliminatória de 4x0 diante do Paris SG.
E sabem porque todos nos lembramos disso?
Porque as coisas mágicas, épicas e raras acontecem poucas vezes.
Depois, méritos e deméritos.
Mérito para o Liverpool.
E perdoem-me a franqueza.
Mas não acredito que nenhum jogador antes do jogo acreditasse que era possível.
Nem o próprio Klopp.
Acredito, sim, que no desenrolar da partida.
E principalmente depois do 2x0, a crença apareceu.
Mas como fazer isto sem os tais Salah’s e Firminos.
E com Origis e Shaqiris?
Porque todos estão por dentro do processo.
Todos sabem exactamente o que têm de fazer.
Como pressionar.
Onde estar em cada momento.
Jogam menos vezes.
Mas treinam igual.
E sabem precisamente o mesmo que os outros.
Executam com menos qualidade.
Mas executam.
Agora o Barcelona.
Óbvio que correu tudo mal.
Houve excesso de confiança.
Houve pouca gestão de tempo de jogo.
Houve pouco compromisso defensivo.
O quarto golo ilustra isto mesmo.
E houve pouco Messi.
Mas mesmo com isto tudo junto.
Dificilmente eu dizia que o Barcelona perdia 4x0.
Talvez por isso o Futebol seja o desporto mais imprevisível do mundo.
Hoje é dia de Ajax-Tottenham.
Tenho a minha opinião.
Mas já não me vou deixar enganar.
Por isso, alguém dos que “já sabiam” que me envie o resultado.
É que amanhã gostava de acordar milionário também."

Benfiquismo (MCLXXV)

Só estilo...

Lanças... Confiança...