Últimas indefectivações
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Benfica: Nova Vénia
"Na Luz, aconteceu um reinício de alegria e muitos adeptos, na tradicional e sempre desejada apresentação da equipa. A entrada dos jogadores pelo meio dos benfiquistas penso ser algo que se deve manter, tal o bonito efeito que representa. Mais uma vénia simbólica a quem acompanha o clube.
Viveu-se um ambiente saudável de muitas famílias que vêm ao estádio, algumas que aproveitam o regresso em período de férias. As expectativas habituais para ver quem chega e de quem só se conhece o nome. A habitual dedicação dos adeptos no início de mais uma época de esperanças renovadas.
Uma boa atmosfera inspira quem joga e a primeira parte correspondeu, sendo bem prometedora. Destaque para os estreantes, principalmente para a dinâmica ofensiva de Dedic. Ríos e Enzo mostraram o porquê da escolha, mesmo sem conseguirem impressionar na estreia. Dos repetentes, Pavlidis e Akturkoglu regressaram bem, mas foi o jovem Veloso, promovido a titular, quem mais surpreendeu. Uma opção a ter em conta depois desta eleição inesperada. No final, ganhar sabe sempre bem e a participação rara de todos os jovens convocados assinalou mais um dia especial.
Festa feita, o Benfica enfrenta agora verdadeiros e exigentes desafios. O tempo é escasso e o descanso é pouco, para tanta exigência, mas o sinal positivo está dado.
VALOR REAL
Akturkoglu a marcar e a festejar foi uma boa notícia, quando ainda se colocam outros cenários. Espero que fique. Não impressiona esteticamente, mas é muito completo. É agressivo na desmarcação vertical e conclusão dos lances, mas igualmente regular e combativo quando toca a defender. Um avançado esquerdo e não propriamente um ala típico, de drible e confronto direto. Julgo que Akturkoglu vale mais no campo do que em qualquer eventual negócio. É discreto, mas sólido e de grande utilidade, sem o perfil vistoso que impressiona os grandes mercados.
PRIMEIRO POSTE
Não pela sua intervenção na vitória da Eusébio Cup, mantenho expectativas positivas em Henrique Araújo. A verdade é que continuamos a ter por cá poucos avançados de qualidade. As chamadas promessas, de acordo com as suas posições no terreno, conseguem ser ou seguras na defesa, ou esconder-se no esforço a meio campo. Lá na frente, o peso é diferente, a visibilidade também e há normalmente números a cumprir, jogos a decidir. O Henrique está só com 23 anos, os mesmos que eu tinha quando me estreei na nossa Liga, ainda no Portimonense. Fez sete golos no Arouca, na época passada, curiosamente os mesmos que eu consegui nesse meu ano de estreia. Não o conheço enquanto pessoa, mas aquilo que mostra enquanto avançado dá conta de alguém de quem se pode esperar mais. Já sabemos que as caraterísticas que fazem uma carreira de sucesso não se resumem às valências técnicas ou físicas. Como sempre, serão a mentalidade, a persistência, a humildade, mas também a sorte a decidir o que virá depois.
O golo com o Fenerbahçe define uma qualidade importante: a agressividade e o timing de ataque ao primeiro poste. Não era algo em que eu fosse especialmente forte. Pavlidis tem essa virtude e, no meu tempo, havia Nené, Gomes, Manuel Fernandes e outros que o faziam bem. Este movimento de ataque à bola, mesmo que não permita o desvio direto para baliza, provoca o arrastamento da defesa adversária e a criação de espaços que se aproveitam mais atrás.
MERCADO
No Benfica, esperam-se mais argumentos para este complicado início de temporada. A lesão de Bruma e o desvio de Félix acentuam a procura. Um avançado parece obrigatório, pelo menos enquanto Henrique Araújo não se emancipa. Nas alas, embora se abra espaço para Prestianni e Gouveia, poderá ser necessário algo mais. Lá atrás, a condição física de Tomás Araújo poderá ditar um eventual reforço.
Na concorrência, de Gyokeres já muito se disse. O seu sucessor terá a missão quase impossível de o fazer esquecer, enquanto os adversários suspiram de alívio com a partida de um verdadeiro incómodo. Quanto ao FC Porto, investe e reforça-se. Um central experiente era obrigatório conseguir. Na lateral direita, embora aprecie Alberto Costa, o FC Porto mexe na posição que me parecia a mais forte, mantendo ainda Martim Fernandes. Não era prioridade, terá sido uma oportunidade de mercado.
MENOS CARREIRA
Um caso estranho este de Félix. Muito talento, todos o sabem, sem rendimento. A opção pela Arábia é muito discutível, imagino que definida pelos valores que o Chelsea recupera e muito pela influência de quem negoceia. Ainda mais dinheiro, mas ainda menos carreira. Adiada fica, mais uma vez, a sua retoma competitiva e, eventualmente, colocada em causa a sua futura convocatória para a Seleção. A fuga da Europa não me parece a melhor solução. Mais milhão, menos milhão, não será isso que o fará mais feliz ou realizado. Uma honra, sim, jogar com Cristiano Ronaldo, mas também há a obrigatoriedade de um maior esforço quando toca a defender. Não sendo dado a grandes correrias, imagino que vá estranhar, mas pode ser que lhe faça bem. Uma equipa pode ser equilibrada de maneira a poupar um dos seus jogadores. Dois é demais.
LENDAS, MAS NÃO MUITO
Sucedem-se os eventos desportivos a que os antigos jogadores naturalmente aderem, acredito que não tanto pelo que ganham, mas pelas saudades que muitos têm de uma atividade marcante. No entanto, quando se intitula um torneio de Legends eleva-se o nível de um produto onde o fair play e as boas práticas estão teoricamente garantidas. Sabemos que a malta não gosta de perder nem a feijões, mas há limites. Cuidar do espetáculo é dar uma boa imagem. Uma vez sarrafeiro, sarrafeiro para sempre? Não se justifica e ninguém aprecia."
Supertaça: o que Raúl de Tomás tem a ver com isto?
"Dérbi será marcado pela nostalgia de quem partiu e de quem não chegou; só agora assistiremos à verdadeira impressão digital de Rui Borges, já o padrão de Bruno Lage parece repetir-se com João Félix na equação
«Ei-los que partem
Novos e velhos
Buscar a sorte
Noutras paragens
Noutras aragens
Entre outros povos
Ei-los que partem
Velhos e novos»
Não será a primeira nem a última vez que aquilo que deveria ser o arranque oficial de uma nova época, com renovadas expectativas e sorrisos largos a vislumbrar o futuro esteja ainda preso a um sentimento de perda. Sem tirar nem pôr, Sporting e Benfica têm esta particularidade de se defrontarem tendo como denominador comum um manto de nostalgia e saudade que irá pairar no Algarve quando a bola começar a rolar ao som da famosa música de Manuel Freire.
No caso dos leões será uma nostalgia do que já não têm; nas águias, a nostalgia do que podiam ter. De um lado, o adeus ainda fresco do melhor avançado que passou no futebol português depois de Mário Jardel, formalizado nesta semana; do outro, o sentimento de homem traído por aquele que poderia ajudar a resolver (na perspetiva do seu treinador e não só) lacunas que ainda são evidentes na equipa.
É um destino que está traçado nos clubes portugueses e do qual não vale a pena fugir, mas que ganha maior expressão na proporção dos respetivos protagonistas. Se os sinais fossem animadores, mais facilmente o pessimismo desapareceria, mas o que se viu até agora permite levantar muitas questões.
No caso do Sporting, não é só perguntar o que fará Conrad Harder ou Luis Suárez (injusto tentar fazer comparações individuais com o panzer sueco), mas fundamentalmente o que fará o treinador. Afinal de contas, é a partir de agora que os verdes e brancos terão uma verdadeira impressão digital de Rui Borges, havendo essa curiosidade de como irá o técnico de Mirandela fazer crescer todos os que ficaram para compensar a perda daquele que partiu.
No Benfica, a discussão é de outro nível: como irá Bruno Lage pôr a sua equipa a jogar depois de um defeso em que foi ele a escolher reforços e não o antecessor Roger Schmidt. Fazia sentido a chegada de João Félix, mas depois de falhada a operação-regresso o clube anunciou a contratação de um ponta de lança de características bem diferentes.
Ainda é cedo e talvez prematuro fazer já uma antevisão do que vai ser a equipa e o plantel das águias, mas não deixa de ser curioso haver aqui uma semelhança com o que aconteceu há seis anos quando saiu João Félix e veio Raul de Tomas, um avançado de área (apesar de ter uma mobilidade maior que Seferovic) que obrigou o Benfica jogar em 4x4x2. Os encarnados venceram a Supertaça frente ao Sporting (ou melhor, golearam por 5-0) mas o tempo mostrou que a escolha de um jogador com um perfil diferente tornou a equipa mais previsível, sem conseguir revalidar o título.
O tempo dirá se a insistência no padrão é a melhor solução. O que se sabe para já é que as virtudes e defeitos de Lage já são conhecidos; já os de Rui Borges só agora serão verdadeiramente expostos."
A gozarem o prato!
Depois da nomeação de Rui Caeiro, novo responsável máximo pela arbitragem FPF, da nomeação de Fábio Verdissimo para a Supertaça...
— Porto ao Colo (@PortoaoColo2019) July 30, 2025
Tiago Martins no VAR da Supertaça Europeia.
Lobbying da FPF para premiar a atuação de Tiago Martins no dérbi da final da taça.
A gozarem o prato! pic.twitter.com/P0yV0SPGj9
Xico-espertices!
Não dá para levar o futebol português a sério haha pic.twitter.com/npeJFdjH9I
— Nuno Xavier Picado (@npicado) July 30, 2025
Votar...
Voto electrónico vs voto presencial. Explicado de forma simples e transparente em mais um excelente conteúdo de informação. pic.twitter.com/Rlx67f11Ak
— Joao Maria Borges (@JoaoMariaBorges) July 30, 2025
Preparação intensa
"São vários os temas nesta edição da BNews.
1. Prossegue a pré-temporada
Ritmo e intensidade caracterizam os trabalhos de pré-época do plantel às ordens de Bruno Lage.
2. Nos bastidores da Eusébio Cup
Veja imagens exclusivas dos bastidores da vitória benfiquista na Eusébio Cup.
3. Informação clínica
O Sport Lisboa e Benfica esclarece a situação do atleta Bruma.
4. Inspiradoras mais completas
As internacionais portuguesas regressaram à atividade após um período de férias.
5. Vice-campeã da Europa
A futebolista do Benfica Cristina Prieto sagrou-se vice-campeã da Europa por Espanha.
6. Ambição renovada
Os campeões nacionais de futsal iniciaram trabalho de quadra na pré-temporada.
7. Reforços
O central brasileiro Kelvin Geovani junta-se ao plantel de voleibol benfiquista. E o base canadiano Koby McEwen passa a integrar o plantel tetracampeão nacional de basquetebol.
8. Mais dois anos de águia ao peito
Marlene Sousa, capitã da equipa feminina de hóquei em patins do Benfica, há 12 anos no clube, renovou o contrato até 2027. "Quero continuar de corpo e alma no Benfica", afirma.
9. Recorde nacional
Diogo Ribeiro terminou em 4.º lugar na final dos 50 metros mariposa no Mundial de natação, estabelecendo o novo recorde nacional da distância (22,77 segundos).
10. Bom desempenho
Nadadores do Benfica em destaque nos Campeonatos Nacionais Juvenis, Juniores e Seniores em piscina longa. Foram alcançados 41 pódios, incluindo 16 medalhas de ouro.
Natação | Recorde nacional e 41 medalhas em Coimbra
11. Museu
Veja como foi celebrado o 12.º aniversário do Museu Benfica – Cosme Damião.
12. Sport Newark e Benfica e Casa Benfica Romont
Estas embaixadas do benfiquismo estiveram representadas na Eusébio Cup realizada no Estádio da Luz."
12.º aniversário...
Rewind ⏪ 12.º Aniversário #MuseuBenfica 🔴⚪
— Museu Benfica - Cosme Damião (@museubenfica) July 30, 2025
Comemorações especiais com adeptos e glórias do Clube!#EPluribusUnum pic.twitter.com/Gb4kSMIOl2
Estádio da Luz, esse conceito vago
"O “projeto” Benfica District tem tudo o que de pior existe no urbanismo contemporâneo: betão, padronização e função. Um edificado em Helvetica, tamanho 12. Um delírio imobiliário com uma águia e uma roda de bicicleta como selo de autenticidade. Esta direção do Benfica quer tudo. Mas não sabe o que isso é. Nós, os sócios, queremos tudo: mas o nosso “tudo” é, afinal, outra coisa. É o Benfica a jogar como nos tempos de Eriksson. Bola no pé. Sempre ao ataque
Ainda o eco das declarações de Noronha Lopes não se dissipara, já o comunicado da Direcção do Benfica aterrava nas secretárias das redacções. O que estava em causa era aquela coisa em forma de delírio que, em atenção às necessidades da filial Sport London and Benfica, alguém resolveu chamar Benfica District. Um nome tão saloio quanto trágico.
Mas que disse Noronha assim de tão grave? Disse o óbvio. Perguntou como seria financiado o projecto; que entidade do grupo Benfica o assumiria; que contrapartidas seriam exigidas; e qual a viabilidade de construir um centro comercial ao lado do... — calma..., esperem..., aqui vai: ...maior centro comercial de Portugal (!).
Mas depois veio a frase fatal. Filipe Anacoreta Correia, o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, deixou-a cair como quem revela o poliéster que forra o interior da cartola de um ilusionista: “de momento trata-se apenas de uma noção, de uma ideia, de um vago conceito que um dia será um projecto.” Ui… E então Noronha concluiu o que havia a concluir: aquela apresentação faraónica com o Presidente da Câmara, Ministros e projecções de slides em esteróides era, afinal, “uma mão cheia de nada”. Com o pequeno acréscimo de uma informação perturbadora: Jaime Antunes, Vice-Presidente para o Património, que saiu há seis meses, disse que não fazia ideia do projecto que estava a ser preparado há dezoito. Eis a arte da prestidigitação institucional em todo o seu esplendor: seis meses de silêncio sobre dezoito meses de planeamento.
Temos, pois, uma manobra eleitoralista. Mal pensada. Mal cozinhada. Mal partilhada com os sócios. E, pelos vistos, sem garantias de aprovação camarária. Mas como se atreve alguém a dizer tal coisa? Vai daí, a Direcção, ferida no seu orgulho de projeccionista de slides, defendeu-se, de pronto, com a celeridade que não teve quando perdeu a final da Taça. Aí, demorou dois longos meses a reagir. Agora, bastaram dois parágrafos de Noronha para se pôr a disparar à maluca. Há nome para isto em português: chama-se campanha eleitoral.
E o que disseram? Disseram que em 2001 João Noronha Lopes se opôs à construção do novo estádio. Que já nessa altura se opunha ao arrojo, à ambição e à modernidade. Palavras insufladas para esconder ideias vazias: arrojo; ambição; modernidade. Como se crítica fosse o antónimo de progresso. Como se todo o conservador fosse um troglodita. Como se todo o benfiquista exigente fosse um traidor.
Mas essas categorias não nos servem. O que está em causa é benfiquismo. Se Noronha se opôs em 2001, fê-lo por isso. Por ser benfiquista. A mesma razão que levou Diamantino, num serão televisivo, aqui há dias, a confessar que também torceu o nariz à demolição do lugar onde, em tempos, brilhou. Uma demolição que lhe torcia a alma; como a todos nós. Mas lá se anuiu. O Benfica não podia ficar de fora do Euro, dizia-se. O Benfica não podia dizer não ao futuro, dizia-se. Até hoje, nem o mais contundente dos anti-vieiristas foi capaz de articular isto: o pior de tudo o que Vieira fez (porque irrecuperável) foi mandar abaixo o Estádio da Luz. É a alegoria mais eloquente do seu consulado. É duro, mas só aqui entre nós que ninguém nos ouve: fomos enganados.
Por isso, quando me falam em “padrões de conforto”, experiências imersivas ou nas regras da FIFA, eu só penso: Fuit Ilium.
Aquilo que se ergueu em 2003 é uma sombra que escurece o que em tempos estava iluminado, a nossa verdadeira casa. Tem a ver com versos, amigos. Uns versos que os Ultras ainda entoam, como se quisessem acordar o gigante que alguém, um dia, ousou derrubar:
“Estádio da Luz, o maior de Portugal
Tua beleza real
Dá-te um valor tão profundo.“
O Estádio da Luz — o verdadeiro, o único — era um orgulho muito nosso. Os rivais papagueiam que o Benfica era o clube do antigo regime- Mas o Estádio da Luz era a prova viva do inverso. Ao contrário de outros, não beneficiou de ajudas públicas para o construir. O Benfica teve de se financiar sozinho. Um empréstimo bancário com o aval pessoal dos dirigentes. Uma obra popular, nascida da nossa carne e dos nossos bolsos. Feito com o empenho dos sócios. Com o seu tempo. A sua dedicação.
Diga-se o que se disser de Vale e Azevedo — e será sempre pouco, amigos, sempre muito pouco — nunca lhe passou pela cabeça demolir o estádio. Era picareta, era ardiloso, mas era benfiquista. O mesmo não se pode afirmar do que veio a seguir: o Vieirismo, um sistema que fez de Vale e Azevedo o espantalho ideal para justificar duas décadas de paparrotice e charlatanaria. Como se o simples facto de lhe ter sucedido conferisse legitimidade eterna. Como se antes dele só existissem escombros. Naquele tempo, bastava fazer o contrário de Vale e Azevedo para ter razão. Transformou-se o Benfica noutra versão de si mesmo. Um espelho baço da liderança de Pinto da Costa. Que, por trás de palavras como “arrojo” e “ambição”, ousou destruir um templo para erguer em seu lugar uma coisa anódina, genérica, cinzenta, literalmente igual a outros estádios de outros clubes. Essa sim, uma verdadeira obra de regime. O de Vieira e da especulação imobiliária. Desde 2003 que chamar-lhe “Luz” é um insulto. O Estádio da Luz não existe.
Querer ampliar o que não existe é martelar no erro. O “projecto” Benfica District tem tudo o que de pior existe no urbanismo contemporâneo: betão, padronização e função. Um edificado em Helvetica, tamanho 12. Um delírio imobiliário com uma águia e uma roda de bicicleta como selo de autenticidade. Um reflexo automático desses escritórios de arquitectura que se esqueceram de uma verdade simples, que os Ultras ainda guardam e cantam na sua sabedoria: o que faz uma casa é a beleza. Uma palavra com bê maiúsculo e que se podia encontrar na história que as suas pedras — aquelas pedras — guardavam bem guardada.
Esta Direcção comporta-se com desespero. Quer tudo. Mas não sabe o que isso é. Nós, os sócios, queremos tudo: mas o nosso “tudo” é, afinal, outra coisa. É o Benfica a jogar como nos tempos de Eriksson. Bola no pé. Sempre ao ataque. É ver Félix irmão em campo. Ou Henrique Araújo que, desde a primeira vez que tocou na bola, se percebeu que, se o deixarem, será o novo Nené. É a história que as pedras guardam. Nesses edifícios a que pudemos, um dia, chamar casa."
De João Félix aos grandes de Portugal: o futebol é sempre contexto
"Vai ser curioso ver João Félix do lado dos favoritos do povo, de Cristiano Ronaldo, o herói intocável, e Jorge Jesus, o mestre da tática. Vou deixar a minha previsão, em contraciclo com o que tenho lido e ouvido: Félix desatará a marcar golos e a brilhar com regularidade não por ter passado a estar mais focado ou com nova atitude – que será a explicação generalizada – mas essencialmente porque jogará na posição certa para ele (a de segundo avançado, que Jesus valoriza muito) e num campeonato com espaço para finalizar, o que favorece quem define acima da média, como é o caso.
No contexto tático certo e num campeonato desequilibrado, Félix só pode funcionar. Daí será um pequeno passo até à discussão sobre a titularidade na seleção (finalmente!), até pelo entrosamento com Ronaldo. Mas claro que o mérito nunca será do jogador que amamos odiar, antes será atribuído ao profissionalismo contagioso do CR7 ou ao rigor de liderança imposto por JJ. Ou seja, se eu estiver certo, serei acompanhado por um exército dos que «sempre admiraram o talento do jogador», só que não. Claro que se esta previsão falhar, cá estarei a admiti-lo. Sozinho, provavelmente.
Na linha do talento de Félix surgiu recentemente Rodrigo Mora, na mesma afirmação exuberante de quem executa melhor que os outros e encerra jogadas como se finalizar não fosse afinal a mais difícil das artes em campo. Sucede que o futebol é mesmo contexto e no sistema preferencial de Farioli (o 1.4.3.3. que se esboça) não está fácil encontrar espaço para quem não é tão agressivo a atacar (e a assumir o 1 para 1) como Borja Sainz nem a defender (e a assumir também os solicitados duelos individuais) como Gabri Veiga ou Froholdt.
Quer isto dizer que nos lugares que a nova estrutura pode reservar a Mora - médio interior mais ofensivo ou falso extremo a partir da esquerda – estão os principais reforços do FC Porto até agora. Daí que ou Farioli muda o sistema para acomodar Mora ou muda Mora para encaixar no sistema. O treinador parece acreditar mais nesta última, mas não será parto sem dor.
No Benfica não se percebe ainda qual é, afinal, a nova ideia tática. A mesma equipa que sonhou juntar Félix e Thiago Almada acredita agora que é possível um onze sem nenhum jogador desse perfil. O valor investido em Ivanovic (e a sua qualidade indiscutível) sugere titularidade ao lado de Pavlidis, e claro que dois bons jogadores são sempre compatíveis, mesmo se nenhuma equipa de topo na Europa alinha com um par de pontas de lança declarados. Mas o problema essencial está taticamente a montante: quem vai alimentar a capacidade finalizadora da dupla greco-croata?
Isto num onze sem alas/extremos de topo - os titulares no arranque de época serão Aursnes e Akturkoglu, o que é curto para a ambição anunciada – e em que o médio que liga jogo por dentro não existe propriamente. Kokçu já não está e Di María não surgirá da direita a pedir a bola para ser ele a escolher o rumo das jogadas. Sim, há Richard Ríos, encantador para quem aprecia o médio maratonista e combativo, mas ver no colombiano um organizador de jogo é tão desajustado como considerar que a velocidade é o melhor atributo de Otamendi.
Do outro lado na Supertaça estará um Sporting em busca de uma identidade alternativa, mas já com um ponta de lança, Luis Suárez, para combater as saudades de Gyokeres e render, no imediato, o que Harder, pese todo o voluntarismo, está longe de garantir. Prevejo o colombiano titular frente ao Benfica, para ver se o novo finalizador disfarça a insegurança do 1.4.2.3.1 em que Rui Borges insiste. Não me parece que o novo desenho favoreça nem os maiores talentos – Trincão e Quenda – que precisam de mobilidade (por não serem exatamente velocistas) e têm vantagem em pisar mais terrenos interiores, nem os mais competitivos Catamo e Maxi Araújo, jogadores mais de aceleração que de definição (a despeito da veia goleadora de Geny) e que teriam vantagem em partir de terrenos mais recuados. A decisão deste troféu frente ao Benfica pode bem ser o teste do algodão: se corre bem, Borges insistirá na nova via, se fracassar lá irá de regresso ao formato Amorim. Porque o contexto tático conta, sempre e uma vez mais.
PS: Podem dizer o que disserem, mas as três melhores equipas do atual futebol brasileiro – as que seguem no pódio - têm indelével marca portuguesa. Lidera o Flamengo, que o diretor desportivo José Boto dotou de um plantel de luxo, seguido do Cruzeiro, a quem Leonardo Jardim devolveu competitividade, e de um Palmeiras que Abel Ferreira mantém altamente competitivo (e ganhador) ao sexto ano em São Paulo. Só pode haver mesmo competência, porque não há coincidências."
O João Félix hipotético é o maior craque do futebol português
"«E agora, com o número 10, o nosso menino de ouro… JO-ÃO!» E 65 mil gargantas responderiam em uníssono: «FÉ-LIX!»
Seria assim, não?
Até ao início da tarde de sábado, havia a justificada expectativa de que, nessa noite, a Luz viveria o momento mais aguardado da pré-época, com Rui Costa a apresentar, mais do que um reforço, um fortíssimo trunfo eleitoral.
Mais do que a estreia de Richard Ríos, a presença de José Mourinho ou a disputa da Eusébio Cup, as atenções mediáticas e dos adeptos do Benfica foram embaladas pela sempre encantadora história do regresso a casa do filho pródigo.
Porém, por pressão do Chelsea ou de Cristiano Ronaldo e Jorge Jesus, a verdade é que João Félix falhou ao encontro, deixando pendurado um estádio inteiro, e mais de um mês de namoro se esboroou em poucas horas.
Neste desvio para o Al Nassr não deixa de ser significativo que uma das primeiras exclamações que ouvi foi a de que o clube saudita vai agora juntar no plantel os dois jogadores portugueses com mais seguidores no Instagram.
Mesmo com uma longevidade notável, capaz de bater recordes e de adiar a reforma, há uns anos que os media preparam a sua orfandade para o dia em que Cristiano Ronaldo pendurar as chuteiras.
Até há não muito tempo, João Félix era visto como uma espécie de sucessor mediático.
Esse fato à medida não serve a Bernardo Silva, Bruno Fernandes ou mais recentemente a Vitinha, João Neves ou Nuno Mendes.
Todos são artistas com um talento inquestionável, representam os maiores clubes do mundo e podem até levantar os mais cobiçados troféus. Falta-lhes, porém, a atitude de vedeta e preencher os requisitos de ícone da imagem, apelativos a marcas e a redes sociais, transversal a vários públicos, mesmo àqueles a quem o futebol jogado pouco diz.
Além do fato, falta-lhes também os saltos de diva. Falar só mesmo por favor e o esgar de enjoo a cada aparição em público. Falta-lhes levantar o queixo e dar ares de contrafeito. Nos dias de hoje, tudo isso funciona como íman para as objetivas.
Mais do que culpado, Félix é vítima de um processo de crescimento acelerado, como um fruto colhido da árvore antes de ter amadurecido.
Uma vertigem absurda fez-lhe o ego entrar em órbita. Mal foi considerado «Golden Boy» não tardou a fazer uma assunção extemporânea de que mais tarde ou mais cedo seria um sério candidato à Bola de Ouro.
Félix joga, ainda hoje, com o peso de 120 milhões de euros às costas e como treina não sabemos.
Soubemos é que Diego Simeone, que via os treinos e tem fama de implacável com a falta de compromisso, foi quase excomungado por cá pela forma como o excluiu.
A verdade é que, além do Atlético de Madrid, Félix também não vingou no Barcelona, no Chelsea, no Milan… Em diferentes contextos, não faz mais de dez golos por época desde que saiu do Benfica em 2019 (aí, fez o dobro), o que é um registo medíocre para qualquer avançado.
Parecia, portanto, lógico esse regresso às origens, ao sítio onde foi feliz, para relançar a carreira e potenciar todo o seu talento. Por estes dias, ouvi António Simões, antiga glória do Benfica, aconselhá-lo de forma lúcida: «Que ele saiba ter o brio de aproveitar o dom que Deus lhe deu.»
Para ouvir Simões, Félix teria de olhar para Bernardo Silva e Bruno Fernandes, que mesmo mais consagrados e num momento mais avançado das suas carreiras, recusaram exílio dourado das Arábias. Ou, então, poderia ter aprendido a lição do reforço do FC Porto Gabri Veiga.
Há duas épocas, num verão quente que levou várias estrelas do Velho Continente para o Médio Oriente, os sauditas fizeram questão de contratar também uma das maiores promessas da Liga Espanhola.
Agora, aos 23 anos, Gabri, que é do Celta antes de ser portista, abdicou de quase todo o salário de 12 milhões por época que tinha no Al Ahli. Quis voltar para perto de casa e jogar no Dragão, onde, há um ano, havia recuperado da sua lesão
Convenhamos, mesmo sendo benfiquista, Félix tem todo o direito de querer jogar ao lado de Ronaldo, de ser treinado por Jesus e de auferir um contrário milionário inimaginável para qualquer um de nós, comuns mortais.
No entanto, não estamos também impedidos de assinalar que essa opção é incompatível com o futuro brilhante que lhe parecia destinado nos tempos de «wonderkid».
Posto de outra forma, fosse Félix um «perna de pau» e ninguém se importaria com este desperdício absurdo de talento.
Talvez o que custe mais aos adeptos seja essa desilusão de ver um jovem de uma qualidade notável minado pela falta de atitude competitiva e pela má gestão de carreira.
Ao assinar contrato com o Al Nassr, Félix firmou também uma moratória na dívida que tem para com o futebol.
Cada vez mais distante está aquele jogador inteligente, habilidoso, entusiasmante que encantou a Luz e só voltou a aparecer a espaços nos grandes palcos europeus.
Enquanto essa memória durar, o maior craque do futebol português continuará a ser o Félix hipotético."
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