Últimas indefectivações

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

De regresso a casa!

"O Benfica volta esta noite a disputar um jogo da Liga Europa na Luz… 1764 dias depois! O último duelo em casa a contar para esta competição já foi a 24 de Abril de 2014. Passaram quase 5 anos!
Daí para cá o Benfica esteve sempre na Liga dos Campeões, mas hoje, quando forem 20 horas, a Liga Europa estará mesmo de regresso ao nosso estádio. As memórias desse último jogo na Luz para esta competição não poderiam ser melhores: vitória frente à Juventus por 2-1, quase 60 mil espectadores nas bancadas e qualificação para a final.
Desta vez, o contexto é diferente, mas o objectivo é exactamente igual: seguir em frente. O Benfica vai iniciar diante do Galatasaray a “segunda parte” de uma eliminatória muito exigente e onde, para já, está em vantagem – após essa vitória inédita em Istambul, na passada semana.
A qualidade do adversário obriga, sabemo-lo bem, a uma nova exibição de grande responsabilidade, com muita prudência e máxima concentração. Tem sido essa, aliás, uma das imagens de marca da equipa nos últimos tempos. Treino a treino, para melhorar. Jogo a jogo, para crescer.
Só mesmo um Benfica de qualidade superior será capaz de chegar aos oitavos de final desta Liga Europa e manter o projecto nesta linha do sucesso. A equipa está preparada. A onda vermelha fará o resto."

Hoje se verá

"Sporting e Benfica entram em cena em Villarreal e em Lisboa, partindo em situações diferentes para a segunda mão da Liga Europa.

A noite de ontem da Liga dos Campeões não foi tão deslumbrante quanto a da véspera. Mas, ao contrário, houve golos, e quando assim acontece o futebol transforma-se numa festa.
Mesmo passando por dificuldades, o Manchester City deixou Gelsenkirshen com o apuramento para as meias-finais praticamente garantido. Daqui por 15 dias, na Inglaterra, a equipa de Bernardo Silva não deixará certamente de confirmar a vantagem agora adquirida.
Em pior sentido dirige-se agora a Juventus a segunda mão da eliminatória ontem iniciada em Madrid. Parecendo a certa altura ter o adversário colchonero controlado, a Juventus acabou por se deixar surpreender e em escassos cinco minutos quase deitar tudo a perder.
Surpreendida por um 2-0 difícil de remontar, a vechia signora vai sentir muitas dificuldades em Turim, no próximo dia 2 de Março, em justificar o favoritismo que lhe era atribuído.
Cristiano Ronaldo não conseguiu ser desta vez o carrasco do Vicente Calderón, tendo agora de aguardar pelo segundo jogo para conseguir aquilo que ontem não foi possível. 
E hoje é o nosso dia.
Sporting e Benfica entram em cena em Villarreal e em Lisboa, partindo em situações diferentes para a segunda mão da Liga Europa.
Dos encarnados o que se pode dizer é que a qualificação está praticamente garantida. Depois de uma vitória indiscutível na Turquia, Bruno Lage até se poderá dar ao luxo de voltar a mexer (saudavelmente) na sua equipa. Pelo aviso que ontem deixou, caras novas poderão logo à noite pisar pela primeira vez o majestoso relvado da Luz.
Quanto ao Sporting vai suar as estopinhas para conseguir dar a volta ao resultado negativo de Alvalade. Não tendo sido capazes de aproveitar em Alvalade o favoritismo que lhes era atribuído, os jogadores lisboetas terão de atuar como autênticos leões, para deste modo conseguir submergir o submarino amarelo.
A vitória, e sobretudo a exibição de domingo frente ao Braga, deixaram bons indícios de que pode estar a caminho um Sporting diferente.
Para melhor, evidentemente. Só pode…"

Só que não basta olhar para um fenómeno, é preciso compreendê-lo: este é Bruno Lage

"É a grande figura de um Benfica de “chama imensa”, de volta à luta pelo título. Em poucas semanas, passou sucessivamente de nome na sombra de Rui Vitória – talvez por culpa do clarão anedótico visto por Luís Filipe Vieira durante a noite de reflexão no Seixal – a interino, primeiro, depois a “técnico principal até final da temporada” e agora, com a renovação, a treinador com a cláusula mais alta da história dos encarnados. Só que não basta olhar para um fenómeno, é preciso compreendê-lo: é o que Luís Mateus tenta fazer, com a ajuda de quem conhece Lage desde os primeiros pontapés numa bola

'Participávamos num torneio internacional em Madrid. Como já estava há muitos anos no Benfica, eu tinha sempre muitos equipamentos, que nestas alturas levava para trocar com jogadores de outras equipas. Tento ficar com uma camisola do Real Madrid, mas não consigo. Então, o Raphael Guzzo vem ter comigo e diz-me para não me preocupar, que o Nélson recebeu uma do Barcelona e não se importa que fique para mim, dá-ma em Lisboa. Nos dias seguintes, o Bruno Lage vem ter comigo e pergunta: ‘Já viste a camisola?’. Respondo-lhe que não e mais tarde volta a perguntar o mesmo. Claro que quando chegámos não há camisola nenhuma, é tudo tanga, e o Bruno tinha feito parte da brincadeira’.
João Nunes conhece o actual treinador do Benfica há 20 anos, tinha o central, hoje convertido no melhor lateral direito da liga polaca, “apenas 5 ou 6”. Aprende na escola de Quinito, que compete com o nome 1º de Maio da Varzinha. Daí ao Benfica, onde Lage passa a treinar pouco depois, é um instante, porque “na altura era fisicamente mais desenvolvido e podia defrontar jogadores mais velhos”. Lage leva-o para as escolas de competição dos encarnados e cruzam-se em vários momentos da carreira de ambos. Esperem, há aqui outra história que o futebolista quer contar.
“No mesmo torneio surge um dia de folga. Apanhamos o metro. Puerta del Sol, centro, Plaza Central. Ali, no meio, está uma loja provisória da Nike, que tem um campo de três-para-três e um barbeiro. O Bruno quer fazer uma aposta com o [Gonçalo] Guedes: ele corta o cabelo como o Cristiano Ronaldo se ele fizer o corte do Balotelli. Ao início, o Guedes recusa, mas depois acaba por aceitar, embora mudando as regras: faz apenas a meio da cabeça, provavelmente a pensar que depois conseguiria disfarçar com o cabelo restante. Claro que ao fazer-se o penteado do Ronaldo a diferença não é muita, enquanto o do Balotelli já não é bem assim. É uma festa na barbearia, no hotel. No metro, todos olham para o Guedes, o Bruno senta-se ao seu lado, encolhe os ombros e diz ‘miúdos!’. O Guedes não tem outro remédio que não rapar a máquina zero.”
Nunes conta-nos estas histórias para que percebamos a forma como Lage interage no balneário, como mantém o equilíbrio. “Trabalhei com o Bruno em várias ocasiões, foi meu treinador nas escolas e nos juvenis do Benfica e posso dizer que o conheço bastante bem. Claro que não se pode comparar o relacionamento com miúdos de 5, 6 anos, mas nos juvenis já era muito a sério. Foi sempre muito organizado e sabia manter um relacionamento saudável no balneário. Toda a gente sabia quando era para brincar ou para trabalhar - e quando era para trabalhar era muito a sério. Os treinos eram sempre levados ao mais ínfimo pormenor. Cada jogo era preparado com um cuidado extremo.”

A Obsessão Pelo Detalhe
Se Bruno Lage era obcecado pelo jogo seguinte, quer tal dizer que o adversário se sobrepõe ao processo? João Nunes assegura que não, é precisamente o contrário: “Sempre teve a sua filosofia, ideia de jogo. O adversário, as dificuldades que pode criar ou as fragilidades que tem e podem ser exploradas, eram sempre enquadradas dentro do modelo. Não mudava, ajustava”.
Uma imagem que liga um pouco com a forma como o técnico preparou a visita ao Desportivo das Aves, com um quadrado desenhado pelo paralelismo de Pizzi e Rafa, mais à frente, em relação ao duplo-pivot formado por Samaris e Gabriel. Já tinha anunciado na conferência de antevisão da véspera e cumpriu: sente ser preciso apresentar sempre nuances diferentes para impedir que os adversários se adaptem e também para explorar fraquezas rivais.
Lage gosta de estar preparado para tudo. Os exercícios do treino são extremamente variados e procuram colocar problemas que possam surgir durante as partidas. “Gosta de trabalhar e não quer, de maneira nenhuma, ser apanhado desprevenido. Chegávamos a treinar situações em que uma das equipas jogava com menos um, para que pudéssemos saber o que fazer se ficássemos com um jogador expulso ou lesionado e não houvesse já hipótese de substituição”, recorda, para sublinhar a qualidade das sessões orientadas pelo treinador: “Tinha exercícios muito diversificados, era um nível bastante elevado. Muitas vezes as pessoas do lado de fora não têm noção da forma em que se enquadra um determinado exercício, mas todos diziam respeito a vários momentos do jogo”.

O Trabalho nas Transições
Enquanto os adeptos destacam, em qualquer vox pop que se preze, uma atitude diferente dos jogadores em campo com o novo treinador, o que realmente se verifica é um aumento da intensidade, sobretudo no processo defensivo e especificamente na reacção à perda. Um problema identificado durante praticamente toda a passagem de Rui Vitória pela Luz e nunca resolvido.
“O Bruno está sempre muito atento aos dois processos, seja o ofensivo ou o defensivo. Preocupa-se especialmente com as transições, seja defesa-ataque, com a capacidade de gerar contra-ataques e apanhar o adversário desprevenido, ou a defensiva. Gosta de ter preparado cada momento do jogo”, assegura João Nunes.
Se o treinador do Benfica é alguém preocupado com o detalhe, afasta-se do perfil do antecessor, que permitia mais liberdade aos jogadores. Será assim? “Dá liberdade, mas dentro do modelo de jogo. Com o Sporting, por exemplo, soube bloquear os pontos fortes do adversário, que eram a posse e o jogo entrelinhas. Isso faz-se com estratégia, embora depois os jogadores se sintam livres o suficiente para colocarem em campo a sua criatividade”, explica o defesa.

Todos Preparados Para a Oportunidade
Ferro, Florentino, Yuri Ribeiro, Gedson, João Félix e Rúben Dias, todos made in Seixal, fizeram parte do 11 do Benfica em Istambul, uma decisão de risco de Bruno Lage, que não só mostrou manter a porta aberta para os mais jovens como lhe permitiu fazer a gestão física de alguns elementos mais desgastados. O triunfo por 2-1 sustenta a ideia de que há muito boa gente pronta para enfrentar desafios maiores e que o técnico também a tem sabido preparar psicologicamente.
“Na formação não há, obviamente, o nível de competição que há numa equipa A. No entanto, já na altura havia uma preocupação por parte do Bruno em ter-nos prontos para podermos entrar no lugar de um colega. Tocou-me a mim, por exemplo. Na equipa da geração de 94 estava com os mais velhos e era natural que jogasse menos. Havia o João Cancelo, o Fábio Cardoso. Mas o Pedro Torrado lesionou-se e tive a minha oportunidade. Houve sempre a preocupação do treinador de que todos os jogadores estivessem preparados. Isso nota-se também hoje em dia.” A aposta vai manter-se, não há dúvidas. “O futebol português tem de continuar a direcionar-se nesse sentido”, assegura João Nunes, que lembra que “a situação financeira dos grandes obriga a vendas recorrentes de jovens”.

O Gosto de Discutir Futebol, Presente e Futuro
Bruno Lage tem dado cartas também no contacto com a imprensa, mostrando-se disponível para discutir o jogo e um pouco as suas ideias. O defesa acredita que isso vem do gosto que tem pelo futebol no estado mais puro. “Na formação não há esse contacto frequente com a imprensa, mas sempre que existia uma conversa no balneário gostava de discutir o futebol pelo futebol, o futebol em si. Um pouco na linha do Luís Castro e do Renato Paiva. O Bruno é assim. Quando o assunto é futebol, é o jogo que o motiva. Não há motivo para não falar de tácticas, de dinâmicas, não há que esconder alguma coisa. E não falava só de futebol connosco - falava da vida, preparava o lado humano. Não é fácil para os miúdos terem esse contexto.”
O actual lateral-direito do Lechia Gdansk sempre acreditou que o salto do técnico “seria uma questão de tempo”. O facto de Bruno Lage ter começado este ano na equipa B foi “um passo importante”, permitiu-lhe ajudar jovens, prepará-los para o salto, e desde que subiu à equipa principal “tem estado à altura”.
A pergunta não é fácil, mas quem o acompanhou vários anos deve ter a noção do que Lage ainda precisa de resolver para ser ainda melhor treinador. João Nunes não vê defeitos no antigo técnico: “Sinceramente, não vejo. Obviamente, todos evoluem com a experiência. Ficamos todos com melhor leitura de jogo e preparamos os encontros também melhor quantos mais jogos jogarmos ou orientarmos. Há esse processo e, tal como um jogador, também um treinador aprenderá a ler cada vez melhor um encontro”.
A preocupação constante com o equilíbrio da equipa, numa mistura perfeita entre estratégia e liberdade criativa. A riqueza do treino, com atenção ao detalhe e a mil situações que podem ocorrer durante o jogo. O trabalho exigente e a aposta nas transições e na reacção à perda. O gosto de estar no meio de um balneário e de fazer parte do mesmo. De falar com os jogadores, sem perder a liderança e até o papel de formador. O contar com todos, premiando o trabalho, que lhe garante uma imagem salomónica que só pode manter o grupo unido. A confiança no processo. O prazer do jogo e de discuti-lo. Este é Bruno Lage, o treinador que revolucionou o Benfica e convence todos à sua volta. Um fenómeno de afirmação, apenas atrasado por uma luz e alguma falta de estratégia por parte da SAD encarnada."

Bruno Lage encheu a barriga, caiu nos braços e subiu à cabeça dos benfiquistas

"“Oiça, o que distingue um treinador não é saber mais de futebol. Ó minha querida, todos sabem praticamente o mesmo. O que distingue é o homem”. Assim respondia Manuel Sérgio à Tribuna vai para dois anos, numa entrevista em que explicava que antes dele ninguém do futebol sabia quem era Descartes.
“A diferença está aí, não está na tática. Hoje em dia um homem só não vale nada, tem de haver uma organização. O Benfica está tecnologicamente tão bem preparado como qualquer equipa europeia. Mas os homens é que comandam a tecnologia.” Já então havia um homem.
Vai-se ao Seixal e vê-se a tecnologia, sim, ginásios, tratamento de relvados, gabinetes médicos, maquinaria de ponta, umsimulador ali inventado que passa bolas a 80 quilómetros à hora, no Caixa Futebol Campus não há imparidades nem listas negras no banco patrocinador, há quartos onde os miúdos vivem, encarregados de educação que acompanham os estudos e treinadores, preparadores, educadores, fisioterapeutas...
Quando o Benfica começou a investir no Seixal, em 2006, parecia a léria do costume, a de que vamos apostar na formação e encontrar o próximo Ronaldo. Mas o Benfica investiu a sério (enquanto, aliás, o Sporting desinvestiu a sério) e anos depois os resultados começaram a saltar como milho numa frigideira quente. O Seixal é ninho, berço e incubadora. E já então havia um homem.
Assim começou uma fila de negócios que de tantos e tão bons parecia ao início coisa de agente abocanhando comissões. A fome juntava-se à vontade de comer. A vontade de comer negócios, a fome de dinheiro.
Quando o BES colapsou, em 2014, o Benfica perdeu o “telefone vermelho” para Ricardo Salgado: BCP e Novo Banco, então principais financiadores do Benfica, estavam apertados pelo Banco de Portugal, que conhecia o risco do futebol: bastava-lhe saber o escaldão que os mesmos bancos haviam apanhado no Sporting, na “reestruturação financeira” que escondia um perdão de dívida. 
Desde então, o Benfica (como outros clubes) reduziu passivo e trocou empréstimos bancários por obrigações. Como? Tornou-se uma máquina de fazer receitas. E foi no Seixal que colheu os ovos de ouro da galinha que alimentara. Não foi sorte, foi investimento. E já então havia um homem.
Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Bernardo Silva, Lindelof, Ederson, Ivan Cavaleiro, André Gomes, João Cancelo, Hélder Costa, todos passaram pelo Seixal, foram vendidos por 15, 20, 30, 35 milhões, bateram as asas e abateram a dívida, e neste processo a decisão de substituir Jorge Jesus (que deixava os miúdos na escola primária) por Rui Vitória (que os chamava à equipa A) não foi um acaso, era preciso quem os pusesse na montra maior, a dupla Luís Filipe Vieira – Jorge Mendes tratava do resto. E foi tratando. O Benfica encheu-se de receitas, ano após ano lapidando jogadores sem delapidar a equipa: foi tetracampeão.
E enquanto isto havia um homem.
Chamaram o homem há umas semanas. Nem aqueceria no banco, supunha-se, até porque da última vez que Luís Filipe Vieira tinha dormido no Seixal e reflectido muito durante a noite, o treinador durou pouco. O homem ganhou. E goleou. E ganhou outra e outra vez. E subiu na tabela.
O homem ganhava mal, diziam, trinta mil euros por mês é pouco no futebol num país onde o salário médio não chega a mil euros. Aumentaram-no. Deram-lhe contrato com cláusula de rescisão. Tem novo agente, Jorge Mendes, who else?, está nas primeiras páginas dos jornais, os benfiquistas andam malucos com ele.
O que o homem fez no balneário não se sabe bem, mas sabe-se o que fez em campo. Mobilizou, motivou, teve sorte com os resultados do FC Porto, mas sobretudo arriscou, arriscou muito e pôs os miúdos do Seixal a jogar na equipa principal, seis em onze na Turquia onde o Benfica nunca tinha ganho, e agora há Felix, Ferro, Rúben, Florentino, que estão no campo sem estar no prelo prelo porque a SAD garante que já não precisa de vender jogadores para equilibrar contas..
O Benfica está a jogar bem e bonito, o que em si mesmo gera receitas (mais bilheteira, mais merchandising…). Talvez desde 2009/10 não jogasse tão bem, mas então Jorge Jesus tinha uma equipa de craques. Ainda não sabemos como o homem vai lidar com a derrota, nem com a pressão do primeiro grande jogo, será daqui a dias no Dragão. O homem, que nunca foi jogador, também vem do Seixal, onde aliás a sua promoção desimpediu a escadaria que outros do Seixal subiram. Luís Filipe Vieira prossegue a sua estratégia.
Os jogadores e o treinador atravessaram o Tejo, hoje o estádio do Seixal é a Luz. Se Rinus Michels inventou o conceito de “futebol total”, este homem aplicou no Benfica a “formação total”, como lhe chamou o editor desta Tribuna, Pedro Candeias.
“Não há jogos, há pessoas que jogam”, argumentava Manuel Sérgio, que um dia foi almoçar com Saviola numa tasquinha no Seixal à beirinha da água e lhe perguntou qual tinha o seu melhor treinador. “Resposta do Saviola, que não me respondeu, mas respondeu na mesma: ‘Eles de futebol sabiam todos, o melhor treinador é sempre o melhor nas relações humanas’.”
No “Erro de Descartes”, António Damásio argumentou que, ao contrário da tese cartesiana, a razão não prevalece sobre a emoção. Talvez seja isso que este homem saiba fazer. Enquanto estiver a ganhar, vai ser visto de coroa. Como já aqui escrevemos, vemo-nos dia 3 no Dragão. Lá estará o homem."

Lembro-me de Mirtrídatas do Ponto Euxino

"Os gregos têm um formidável jeito para nomes. Vão para lá da imaginação. No meu tempo de liceu, quando estudava a história da Grécia Antiga, um dos temas mais fascinantes que podem interessar qualquer mente humana para aí virada, deixava-me fascinar por Leônidas, o general espartano da Batalha das Termópilas, por Mitríditas, o Rei do Ponto Euxino, por Xenófanes, Parménides e Zenão, os filósofos de Eleia, ou por Anaxágoras e Anaxímandro, Diotima de Mantineia, Empédocles e Alcibíades, Luciano de Samótasa, Tales de Mileto, Leucito de Apdera, Demócrito e Heródoto de Mileto, já para não falar do santuário dos grandes deuses de Samotrácia. Sinceramente! O que vai para aí de sons que ficarão para sempre presos nas minhas tão estafadas meninges. E havia também Xenofontes, filho de Grilo, amigo de Próxeno, natural de Erquia, escritor da Anábase. Meus amigos: tudo isto são poemas de rimas inimitáveis.
Xenofonte serviu na cavalaria ateniense durante a Guerra do Peloponeso e na expedição contra Artaxerxes II, xá da Aqueménida, e, diz a lenda, que foi encontrado por Sócrates com a cabeça enfiada numa valeta depois de ter levado uma valente carga de pancada. Tornaram-se amigos e Xenofonte seguiu o mestre como filósofo e historiador.
Uma figura interessantíssima, este Xenofonte, mas para já vou falar de outro Xenofonte, menos histórico, como está bem de ver, mas com lugar na ilustríssima lista dos Xenofontes: Xenofonte Castrisos, fotógrafo da Royal Australian Airforce durante a II Grande Guerra e que ganhou uma aura misteriosa quando fez capa de um jornal inglês tendo nas mãos outro jornal, este em cirílico, o Hellenic Harold. Um fotógrafo, fotografado por um jornal, lendo um jornal. Caspité! É mais labiríntico do que aquele nunca mais de corredores que Dédalo inventou para manter entretido o Minotauro em Knossos até ao dia em que Teseu resolveu ir lá pôr um ponto final na proverbial neurastenia do bicharoco.
Os ingleses são dados a whisky e a mistério. A fotografia de Xenofonte foi adquirida em leilão pela John Oxley Library e o bom do John resolveu oferecer um prémio a quem lhe trouxesse informações concretas sobre o moço que se dedicava tão atentamente ao que estava impresso num periódico de provável circulação reduzida.
Avancemos na narrativa. Xenofonte podia ser mais um dessa enorme massa de gente anónima, mas há sempre alguém que conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém. É fruto dessa idiossincrasia dos homens que tem nome de gregaridade. Não tardou que um sujeito desembaraçado surgisse na frente do velho Oxley carregadinho de dados que entregou em troca de um punhado de Libras esterlinas: Xenofonte Haralamnos, Castrisios, há 14 anos residente na Austrália, na 174 Dornoch Terrace, South Brisbane, filho de Maria Castrissios (nascida Freelagus), sobrinho de Christy Freelagus, cônsul em Brisbane, e neto de Kosma Antohny Freelagus de Kythera. Digam-me lá, que mesmo à mistura com os sisudos britânicos, os gregos não têm a arte única de transformar nomes em tragédias e comédias tal como dominavam essa habilidade indesvendável da calipedia, a arte de fazer filhos bonitos?
Muito bem. Não precisam de responder. Mas também não espinafrem as circunvoluções do cérebro a tentar perceber a que propósito o bom do Xenofonte veio ocupar o meu discurso geralmente tão ocupado com coisas daqui e dali. Não é Xenofonte quem quer, mas também não tenho o hábito de me deitar à tarefa de andar por aí à procura de Xenofontes como quem esgravulha na pechblenda em busca do rádio como a saudosa senhora Curie, que pelo meio tinha um Skłodowska com muito que se lhe diga.
Xenofonte Castrisios foi um atleta de mão cheia e dedicava-se a todos os desportos, fundamentalmente ao remo. Lutou ferozmente para obter a nacionalidade australiana, algo que veio a conseguir por valentes e nobres serviços prestados à sua pátria de adoção. Quando resolvi saber mais uns pormenores sobre esta misteriosa figura de fotógrafo fotografado, dei com estas linhas: «I Xenophon Haralambous Crastisios, known as Xenephon H. Castle, of Greek nationality, born at LourençoMarques...».
Uma destas, agora, Começa um homem a desfiar por aí fora o fascínio de tudo o que a Grécia Antiga lhe ofereceu nos felizes anos de liceu ali para os lados dos Olivais-Sul, entre os Viveiros e o Dom Diniz, e tropeça com um Xenofonte nascido do tempo do velho império uno e indivísivel do Minho a Timor. Que me perdoe o outro Xenofonte, o de Erquia, porque este faz-me dizer como o divino Camões: «Cessem do sábio grego...». Sem por isso esquecer que o discípulo de Sócrates era um fascinador de cavalos. Inventor daquilo que um bom britânico chamaria nestes tempos que correm «horse whispering»."

Mudar para surpreender – e para crescer

"Não existe nada de permanente a não ser a mudança. Simples e verdadeira, esta máxima de Heráclito há muito que passou a ser incorporada no ideário do futebol. Ou não tivesse ele próprio percorrido um caminho tão longo e produtivo, década após década, até chegar ao ponto em que nos é servido com tantas nuances. O que hoje faz verdadeiramente a diferença não é tanto o reconhecimento da necessidade de mudar, mas a velocidade e a eficácia com que se consegue fazê-lo.
Assumir uma inversão de marcha apenas quando chocamos de frente com a parede não é um sinal de inteligência, mas de simples reflexo instintivo. Clarividente é aquele que consegue antecipar o esgotamento da fórmula ainda no pico do sucesso, que desbrava caminhos alternativos e pedregosos mesmo dispondo de uma auto-estrada por diante. Marcel Keizer está (ainda) muito distante deste patamar, mas já começa a deixar indícios encorajadores.
Um sinal importante foi apresentado no passado domingo. Mais do que em qualquer outro duelo interpares já travado nesta época (e refiro-me aos jogos com FC Porto, Benfica e Sp. Braga, na Taça da Liga), o holandês mostrou algum rasgo estratégico e capacidade para confundir o rival, servindo-lhe do próprio veneno.
Sem poder contar com Mathieu, indiscutivelmente o central mais lúcido do plantel com bola, Keizer idealizou duas mexidas importantes no quarteto defensivo. A primeira foi a simples troca de posição dos centrais (Ilori passou para a direita do eixo e Coates para a esquerda), favorecendo as dinâmicas pelo corredor direito; a segunda, e mais impactante das duas, foi a saída a três na primeira fase de construção.
Em si mesma, a saída a três tem sido (e não apenas no Sporting) uma solução recorrente, mas não da forma como foi pensada especificamente para o embate com o Sp. Braga. A regra tem sido baixar um dos médios para o espaço entre os centrais (habitualmente Gudelj) na primeira fase de construção, alargando o campo com a amplitude conferida pela subida dos laterais. Ou seja, em posse a equipa passa a dispor-se em 3x4x3, procurando criar superioridade no sector intermédio.
O 3x4x3 empregado diante do Sp. Braga, porém, acolheu uma nuance que mexeu com o jogo: a utilização de um dos laterais para formar a primeira linha de três. A escolha recaiu sobre o canhoto Cristián Borja, na linha do que fez com sucesso, por exemplo, o Bayern Munique de Pep Guardiola - essa foi uma das múltiplas variantes usadas pelo treinador catalão para encurtar o espaço e garantir uma troca de passes mais rápida e precisa.
Em Alvalade, essa solução teve o condão de não só baralhar as referências de pressão aos avançados do Sp. Braga, que passaram a ter Gudelj disponível para receber nas suas costas, mas acima de tudo de criar superioridade no corredor direito. Foi por aí que o Sporting atacou preferencialmente, porque Sequeira teve de preocupar-se mais do que seria previsível com Ristovski (cujas costas estavam cobertas por Ilori) e Bruno Fernandes, que passou a colocar-se na diagonal, entre o macedónio e Bas Dost. Do lado contrário, o mesmo desenho era garantido por Acuña, que actuava como falso lateral, e Diaby, formando-se um gigante triângulo (quatro médios + três atacantes) que ousou empurrar o rival para o terço defensivo.
Na dicotomia da causa e consequência, esta opção estratégica teve o mérito simultâneo de condicionar a organização ofensiva do rival, ou não se tivesse o Sp. Braga distinguido esta época por uma saída de bola a três utilizando os centrais e o... lateral direito, para permitir maior projecção a Sequeira e acentuar as dinâmicas de corredor com João Novais ou Ricardo Horta (que desta feita começou no banco). Ao dar trabalho redobrado ao esquerdino, que teve de lidar também com os movimentos de dentro para fora de Bruno Fernandes e até de Wendel, o Sporting anulou uma das armas preferenciais do adversário.
Trata-se de um claro (e até agora inédito) upgrade de Marcel Keizer, que acabou por invadir o quintal do Sp. Braga roubando-lhe os trunfos. E esta capacidade de surpreender, de escalpelizar o jogar do oponente e encontrar o antídoto para o aplacar tornou-se um aliado imprescindível de um treinador/pensador/estratega de sucesso.
Porque cada jogo levanta problemas diversos e cada adversário recorre a diferentes ferramentas para erguer a obra que projectou, este não é hoje o desafio de uma época, mas quando muito de uma semana de trabalho (na lógica de um microciclo ou morfociclo dito normal). O que equivale a dizer que o Sporting terá de metamorfosear-se novamente para quinta-feira, para que possa submergir o Villarreal na água fria do planeamento estratégico."

Identifique-se, por favor

"Querem que comece pelas boas, ou pelas más notícias?
Ok, começo pelas últimas. Acho que não devemos deixar de falar de um flagelo que inunda a sociedade e também o futebol português. Aconteceu num jogo da divisão de Honra da AF Viseu e, felizmente, este caso foi difundido com a ajuda das redes sociais. Atente ao vídeo abaixo e acima de tudo, oiça. Já termino o meu raciocínio.



17 segundos de um vídeo de terror verbal que, segundo consta, foi apenas uma ínfima parte daquilo que um suposto dirigente do ACDR Lamelas fez a dois jogadores do Mortágua. Seidy e Duda não merecem nada disto, assim como também nós não merecemos.
Este «senhor» foi identificado? As autoridades estavam presentes? Não deixem morrer o assunto, sob pena de continuar tudo na mesma, fim de semana após fim de semana.
Também esta semana, mas em Inglaterra, Jackson Yamba e o filho de apenas 10 anos viram a porta da nova casa pintada: «No blacks». O pequeno já não queria viver ali, mas um tweet do pai, com milhares de visualizações, levou a polícia a abrir uma investigação e, também, uma captação de fundos (fundraising) permitiu recolher duas mil libras para uma nova porta. As ofertas ainda continuam, mas, mais importante do que isso, o pequeno e o pai perceberam que, afinal, a maior parte das pessoas estava com eles.
Lembram-se de como comecei? Pelas más notícias, passei depois por uma que de má se transformou em boa e finalizo agora com uma boa. Só boa.
O português Filipe Santos, de 30 anos, alcançou o recorde do mundo nos 25 metros mariposa (para atletas com Síndrome de Down 21) no Campeonato Nacional de Inverno de Natação Adaptada, na Guarda. O mesmo onde o meu sobrinho Vicente, de apenas 13 anos, conquistou uma série de medalhas juntamente com a sua equipa.
Vicente, olha para o Filipe, e para os teus colegas, e estás no caminho certo campeão."

Os problemas estratégicos de Abel Ferreira numa noite em que o Sporting pareceu de Braga

"O pontapé de saída, que normalmente diz pouco em termos posicionais, acabou por ser um indicador claro do que seria o Sporting em termos posicionais: em 1x3x4x3 no momento ofensivo, que se transformava em 1x4x4x2 no momento defensivo, e por vezes em 1x4x3x3, quando Diaby fazia por socorrer Gudelj.
Ou seja, Marcel Keizer montou a equipa como Abel Ferreira costuma montar a sua, e encaixou perfeitamente ao nível das posições e das zonas de superioridade, inferioridade e igualdade.
No Sporting, Acuña e Ristovski foram os responsáveis pela largura e profundidade. O ter sido Ristovski, e não Borja, dever-se-á às características individuais de Acuña, que não é jogador para atuar nos espaços centrais, e também por uma questão de encaixe na dinâmica do Braga.
Isto é, o médio ala do Braga que oferece largura e profundidade é Esgaio e, assim, mantendo Borja na posição, Esgaio ficaria mais ou menos controlado. Do outro lado, Gudelj ficaria sem grandes preocupações com a largura, uma vez que João Novais aparece mais em zonas interiores, sendo Sequeira o responsável pela largura e profundidade desse lado.
Assim, Ristovski, enquanto atacava, teve a possibilidade de controlar as subidas de Sequeira, e colocar-se rapidamente para defender a largura, nunca o perdendo de vista.
As dificuldades defensivas do Braga aparecem por dois factores:
1. A forma como os jogadores do Sporting se esconderam da pressão, ocupando zonas intermédias, que colocavam dúvidas aos jogadores do Braga (quem sai nessa zona?): Diaby e Bruno Fernandes no apoio a Bas Dost, dentro daquele espaço entre quatro jogadores do Braga (Sequeira, Raúl Silva, Novais, Claudemir – Goiano, Bruno Viana, Esgaio, Fransergio); Acuña e Ristovski sempre em largura para abrirem espaços entre a linha defensiva do Braga, fixando os laterais, ou para aproveitarem o espaço em largura.
A dinâmica que o Sporting conseguiu nos corredores foi interessante, sobretudo quando foi utilizada para libertar Bruno Fernandes ou Wendel (que várias vezes trocaram de posição), e depois aceleraram. Foi daqui que Ristovski conseguiu por diversas vezes encontrar espaço para servir Dost dentro da área.
2. As dificuldades individuais dos jogadores do Braga em interpretarem os lances. As abordagens defensivas dos quatro elementos da linha defensiva mostraram as dificuldades que têm, e que Abel tem tentado mascarar.
Em transição defensiva, o Sporting encaixava perfeitamente na estrutura do Braga, excepto nas costas de Acuña e Bruno Fernandes. E era por aí que o Braga poderia ter virado o jogo a seu favor. Colocando um jogador com mais vocação para dar seguimento aos ataques e critério que Fransérgio (que fundamentalmente dá profundidade) - a zona por onde deveriam ter começado os ataques antes de colocar em Esgaio, e explorar a pouca intuição de Borja, ou até atrair para depois colocar nas costas de Ilori, onde Ristovski aparecia atrasado. Para tal, teria necessitado de alguém com mais critério nesse espaço: Novais ou Ryller.
Como se vê pela imagem, Ristovski em transição defensiva tem sempre Sequeira no seu campo de visão, e nunca nas suas costas, assim como Gudelj tem João Novais e Borja tem Esgaio.
Em organização ofensiva, o Braga também não foi capaz de ligar o jogo com a velocidade e qualidade necessárias para colocar o Sporting em dificuldade. Não conseguiu aproveitar em transição Fransérgio, nem Paulinho e Dyego em organização ofensiva.
No final, Abel Ferreira falou da diferença de qualidade que existe entre as duas equipas, que é uma evidência. Porém, com Ricardo Horta (que apenas entrou aos 69’) e Trincão, que não foi opção, fica a sensação que dentro das suas opções, mesmo com a abordagem estratégica, poderia ter mais qualidade e mais desequilíbrio do que aquele que teve no seu onze. Talvez não se possam considerar esses jogadores como abre-latas ao nível de Bruno Fernandes, mas para o Braga talvez sejam os abre-latas do seu contexto.
Houve ainda uma referência importante de Abel ao facto de ter sido surpreendido do ponto de vista posicional pelo Sporting, ao qual não conseguiu reagir. O penálti ao início da segunda parte (por mais uma má abordagem defensiva dos seus defesas) também não ajudou a que a equipa se conseguisse levantar depois de um ou outro ajuste ao intervalo.
E é muito por este tipo de situação que a estratégia e a observação do adversário têm o valor que têm: são complementares e têm um grau de fiabilidade baixo. Porque num jogo do gato e do rato, em que todos se tentam enganar, a equipa pode trabalhar para anular um adversário que depois se transfigura, fica em vantagem, mata-te nos momentos indicados, e... o que te sobra depois de teres trabalhado tanto em função do adversário?"

Fui operado três vezes ao tendão de Aquiles e uma à coluna cervical. Portanto, não, não são apenas os jogadores a sofrer

"Ruptura parcial dos ligamentos? Lesão no menisco? Estiramento? Entorse? Fractura de stress? Contusão? Lombalgia? Bursite? Luxações?
Sim, há uma panóplia de lesões que podem afectar qualquer desportista. São, como diz o povo... "ossos do ofício".
Mas a verdade é que uma “brincadeira” destas pode ser um verdadeiro pesadelo para qualquer atleta. E isso acontece, não apenas pelo que dói (e não se iludam, dói que se farta), mas sobretudo pela consequência que acarreta: a auto-estima baixa, o moral desaparece e o tempo de paragem/recuperação – mais ou menos demorado – pode significar o afastamento da equipa, a não prossecução de determinados objectivos ou a saída para outras paragens.
Não é só chato. É muito, muito chato.
Mas, caro leitor, se pensa que esses "danos colaterais" são exclusivos de quem pratica actividades desportivas... então pense duas vezes. Há quem não se expunha à dureza dos contactos e, ainda assim, não se livre destes sarilhos.
Assim de repente (e vá se lá saber porquê), lembrei-me dos árbitros de futebol.
Sim, é verdade que não dão, nem levam pancada, não fazem remates a 120 km/h nem entram de carrinho, não saltam com adversários nem se esticam para interceptar uma jogada, mas... correm como se não houvesse amanhã.
Correm, correm e correm.
Não sei se têm noção, mas um árbitro de futebol profissional faz, em média, cerca de 9 a 12 Km por jogo. A intensidade, o estilo, a cadência e passada, tudo varia em função do seu estilo e também das características da partida: há muitos sprints, corridas laterais e de costas, jogging, meras acelerações, enfim... há de tudo um pouco em noventa minutos de bola, mas a intensidade é grande, crescente e isso requer muito trabalhinho de casa.
Mas, mais importante do que a resposta física que lhes é exigida dentro de campo, é a necessidade de manterem a lucidez e o discernimento num patamar bem elevado. Afinal de contas, há sempre a forte possibilidade de terem de tomar uma decisão importante na última jogada do desafio. No último lance do encontro. Sobre o apito final. Uma decisão que pode dar uma vitória, um apuramento ou até um título de campeão.
Para manterem esse nível, treinam diariamente. Treinam muito. E fazem provas físicas com regularidade. É dose, acreditem.
Este desenho só facilita a verdade dos factos: os árbitros também se lesionam. E, se ainda têm dúvidas disso, permitam-me o testemunho na primeira pessoa.
Nos dezanove anos que estive na primeira categoria fui obrigado a fazer quatro cirurgias: três ao Tendão de Aquiles (ao mesmo Tendão de Aquiles) e uma à coluna cervical.
Coisa pouca.
Não fui dos mais abençoados, já se percebeu (o cenário habitual é menos mau), mas obviamente estou avalizado para vos confessar que as lesões foram, de facto, o maior obstáculo da minha carreira.
Ainda hoje não sei como consegui mantê-la durante tanto tempo e ao mais alto nível. Deu muito, mas mesmo muito trabalho. E sofrimento.
Se quiserem que troque por miúdos, pensem nisto: por cada cirurgia parei seis meses (a operação à coluna acarretou paragem superior, de quase nove meses).
Antes de chegar à sala de operações, fiz o óbvio, o que toda a gente faz: tentei vários tratamentos conservadores, no sentido de evitar a opção mais difícil. Tomei medicação (paletes de medicação), fiz fisioterapia, mesoterapia, infiltrações, massagens, acupuntura e afins. Sei hoje que apenas adiei o inadiável, mas isso deu-me esperança e despertou em mim forças, energia que nem sabia ter.
Depois de cada cirurgia, a recuperação era forçadamente lenta e mentalmente castradora. Começava com hidroterapia, depois fortalecimento muscular, mais fisioterapia, reintegração gradual ao treino, etc, etc. Um calvário. A parte invisível, porventura a pior, era aquela que acontecia depois, quando a lesão estava aparentemente tratada. O regressar à competição sem medo de pôr o pé no chão, sem receio de correr, de travar ou mudar de direcção.
Percebi que, de cada vez, o estilo de corrida mudava. A forma de pisar o terreno também. Quando se vai à faca, nada fica igual. E se acharmos que fica, está lá a cicatriz para mostrar o oposto. Ad eternum.
O receio de reincidir aumentava a tensão, e a vontade de defender a zona antes fragilizada dava lugar a outras pequenas mazelas: era aí que apareciam as contraturas, as microruturas, as mialgias de esforço and so on, and so on. A luta para recuperar a massa muscular era titânica e fiquei sempre com a sensação que a perdi.
Depois... bem, depois havia a cabecinha, que por muito racional que tentasse ser, tinha sempre tanto de irracional. Lá aparecia o medo de treinar forte, porque o tendão podia voltar a rasgar ou o pavor de fazer um movimento brusco, porque a hérnia podia dar notícias de novo.
Sabem o que vos digo? Um verdadeiro pesadelo. O meu, mas também o de todos os árbitros que passam por processos destes. Safei-me das roturas de ligamentos, mas sem pensar muito, encho duas mãos cheias com nomes de colegas que não tiveram a mesma sorte.
Faz parte, claro, mas muda tudo. O rendimento fica afectado porque a confiança fica abalada. O discernimento parece que está todo lá, mas o subconsciente trava a euforia de fazer tudo sem receios. O foco, a concentração, a predisposição para aquilo que é verdadeiramente importante não são os mesmos. Por muito que nos esforcemos, as coisas não voltam a ser como foram.
A lesão é pior, bem pior, do que o insulto gratuito, a ofensa momentânea ou o isqueiro que voa na direcção errada. Talvez por isso seja cada vez mais importante dar aos "homens do apito" acompanhamento personalizado, que vá ao encontro das suas características de treino, preparação e pós- jogo.
Nesta matéria, a arbitragem do futebol profissional já consegue responder hoje muito melhor do que fazia há uns anos (sem sombra de dúvida), mas, como em tudo na vida, há sempre espaço para melhorar e crescer naquilo que desempenha papel fundamental no sucesso desta actividade.
Isto de acertar e errar, dentro de campo, tem muito que se lhe diga, fora dele."

Uma crónica com Dadinho, Zé Pequeno e o antipático Braga

"No filme “Cidade de Deus”, há um miúdo atrevido, Dadinho de seu nome, que acha que está ao nível dos bandidos mais velhos e que recebe destes muita condescendência e bofetadas. A meio da história, Dadinho revela a sua verdadeira natureza e, a partir daí, acaba a condescendência e acabam as bofetadas. “Dadinho é o caralho! O meu nome é Zé Pequeno”, diz o ex-Dadinho na fala mais famosa do filme. António Salvador e o seu Braga têm qualquer coisa de Dadinho, a intrometerem-se entre os grandes, a fazerem voz grossa, a darem murros na mesa, a calçarem os sapatos do pai.
Ficou para a história aquela frase ousada de Salvador – “o Braga tornou-se na terceira força desportiva!” – que tanto irritou os sportinguistas que, à guisa de esclarecimento, convidaram Salvador para uma visita guiada pela sala de troféus dos leões. Mesmo que o presidente tenha ressalvado que o Braga não era o terceiro clube “porque os clubes fazem-se da sua história”, a frase tinha o sabor da impertinência juvenil, do adolescente que, sentado à mesa com os adultos, pede que lhe sirvam vinho. Não era para ser levada a sério.
Sem desprimor para os restantes, sem que isso constitua um menosprezo pelas respectivas histórias e relevância social, há três clubes grandes em Portugal. Isso não vai mudar só porque um dos outros clubes se torna mais competitivo e consegue, de tempos a tempos, quebrar a hegemonia de Benfica, Porto e Sporting, tal como não mudou quando o Boavista ganhou um campeonato, não mudou quando o Braga se qualificou para a Liga dos Campeões, e não mudou quando o Sporting esteve dezoito anos sem ganhar um campeonato. É que a dimensão de um clube vai muito para além dos resultados conjunturais da equipa de futebol.
Vê-se, por exemplo, nas sequelas de um mau resultado. Alguém imagina o treinador de um dos grandes a sobreviver a uma eliminação precoce nas competições europeias e a goleadas como as que o Braga sofreu em casa do Benfica e do Sporting? Em certas circunstâncias, um empate pode valer, num dos grandes, lenços brancos ao treinador, contestação, ameaças. Nos outros clubes, a tolerância ao fracasso é maior porque a bitola também é diferente. Um empate pode ser um mau resultado, mas quase nunca é uma tragédia.
É claro que António Salvador sabe isto melhor do que ninguém. Sabe que o Braga não dispõe das mesmas armas dos adversários e que o nível de exigência tem de se adequar aos meios. Como é que um clube com trinta mil sócios, uma assistência média de dez mil espectadores nos jogos em casa e um orçamento franciscano quando comparado com o dos clubes grandes pode aspirar, não direi a competir de igual para igual, mas a aproximar-se dos três grandes? Bem, com uma escolha criteriosa de treinadores, contratações cirúrgicas e baratas e vendas inteligentes, jogos de alianças e a percepção de que é preciso o envolvimento da cidade com o clube para que, pelo menos, o Braga não se saia tão mal na comparação com o vizinho e rival de Guimarães.
Ah, e também um bocadinho de fanfarronice estratégica (a que os ingleses chamam braggadocio) e o ocasional troféu que funcione como hormona de crescimento. António Salvador, honra lhe seja feita, tem conseguido fazer um pouco de tudo isto no seu já longo consulado, de que o melhor exemplo talvez sejam as missões apostólicas dos jogadores do Braga nas escolas da região a fim de criar laços afectivos fundamentais para que o clube deixasse de ser o segundo clube no coração dos bracarenses.
Esse foi o seu maior mérito. Com Salvador, o Braga deixou de ser o segundo clube dos bracarenses. Hoje pode afirmar-se, com algum grau de certeza, que é o primeiro clube da cidade. Deixou de ser aquele género de clube simpático – como a Académica, o Belenenses ou o Setúbal – cujo passado glorioso desperta a condescendência e a misericórdia dos adeptos dos três grandes que os escolhem como segundo clube. Hoje o Sporting de Braga já é demasiado grande para um segundo lugar no coração dos outros adeptos. É, nesse sentido, um clube “antipático”, com intromissões frequentes em lutas para as quais, apesar de tudo, lhe falta músculo e das quais bastas vezes sai combalido. Mas enquanto não alcança a quimera do tão desejado título – que em si mesmo não chega para que um clube ganhe o estatuto de grande e seja promovido de Dadinho a Zé Pequeno – essas nódoas negras são as medalhas possíveis pelo esforço e a audácia de tentar ser maior do que aquilo que é."

O Bruno que é a única unanimidade do Sporting

"O Sporting é o clube de futebol mais parecido com um partido político.
Calma! Não acendam já a fogueira! Pousem lá os archotes.
A comparação tem que ver com as distintas facções, ânsias de protagonismo e alianças tácticas que o clube nos habituou nas últimas décadas.
A instabilidade é permanente, agravada pela falta de conquistas relevantes no futebol.
As tendências são múltiplas e raramente convergentes. Basta ver que nas últimas eleições para a presidência surgiram sete candidaturas válidas. Para além destas, mesmo a facção afecta à anterior direcção dividiu-se em duas.
Até quando o assunto é fazer coreografias e entoar cânticos, tudo se balcaniza. Só claques são quatro.
À fragmentação juntam-se figuras eminentes, alguns nomes distintos com consoantes dobradas no apelido, grupos de notáveis… Cada um dando uso ao seu púlpito. Em suma: enquanto FC Porto e Benfica se perfilam atrás dos seus presidentes e cerram fileiras, não falta dissensão ao Sporting.
No futebol, onde táctica é mais relevante que o tacticismo, o Sporting é sempre um foco de instabilidade à espera de emergir.
O presidente Frederico Varandas, eleito há menos de meio ano, não convence uma franja significativa dos adeptos; tal como acontece com o treinador que escolheu, há pouco mais de três meses. Marcel Keizer viveu um curtíssimo estado de graça até ver os lenços brancos e assobios que o seu antecessor, José Peseiro, também já havia visto esta temporada.
Exceptuando as antigas glórias, que ficam para a história, é transversal a falta de consenso em torno de algo no presente do clube. E é aqui que se ergue sobre todos os outros Bruno Fernandes, talvez a única honrosa exceção capaz de fazer sorrir qualquer sportinguista.
Há este Bruno para bem do Sporting. O que levanta a cabeça e faz jogar, o que passa com precisão e remata com igual acerto, o que vê mais longe e corre por todo o campo.
Há este Bruno que lidera em campo. Apesar do ar franzino, é esse rapaz da Maia quem carrega sobre os seus ombros uma equipa inteira e as esperanças de milhares de adeptos, com a naturalidade com que jogava no rinque perto de casa.
Houvesse um momento capaz de resumir o consenso que só o filigrânico futebol de Bruno Fernandes consegue gerar, seria o minuto 33 do Sporting-Sp. Braga da última jornada.
Ainda antes do intervalo, já Alvalade estava em convulsão. Uma das claques entoava «joguem à bola» na bancada, quando no relvado o camisola 8 leonino sofre uma falta, coloca a bola e se prepara para marcar o livre. 
Remate… Golo! E todo o estádio a celebrar sem reservas o que haveria de tornar-se num triunfo claro sobre um candidato ao título.
Unir um clube dividido: esse é o superpoder de Bruno Fernandes, o único herói do Sporting actual."

Quanto mais jogarem, melhor

"Se os jogos constituem arenas de conflitos, entre os jogadores ou simplesmente com o sistema de jogo propriamente dito, podemos utilizá-los como arenas de treino.

jogos para todos os gostos, desde os mais físicos aos mais intelectuais. Independentemente do seu formato, os jogos são poderosas actividades para múltiplos fins.
Existem igualmente imensas definições para jogo. Prefiro a abordagem de Katie Salen e Eric Zimmerman, patente no livro Rules of Play: Game Design Fundamentals, onde nos dizem que: “Um jogo é um sistema em que os jogadores participam num conflito artificial, definido por regras, que produzem resultados de forma quantificável”.
Se os jogos constituem arenas de conflitos, entre os jogadores ou simplesmente com o sistema de jogo propriamente dito, podemos utilizá-los como arenas de treino. Como são artificiais, são controlados e produzidos pela mão humana, sendo direccionados para os objectivos que desejarmos, segundo as regras mais apropriadas. Para ultrapassar e resolver os conflitos, os jogadores têm de fazer determinadas tarefas, associadas a determinadas competências. Ainda por cima, os jogos devolvem resultados imediatos, o que facilita a avaliação da progressão e desempenho.
Curiosamente, na definição anterior de jogo não consta o factor diversão. Mas podemos contar com isso. Os jogos são feitos para dar prazer e diversão, nas suas múltiplas formas. Há uma relação entre o prazer que se retira de cada jogo e o perfil psicológico individual de cada pessoa. Por isso é que se diz que há sempre um jogo perfeito para cada pessoa.
Sendo então os jogos formas de testarmos as nossas competências, melhorando a nossa performance à medida que vamos dominando os próprios sistemas dos jogos, podemos dizer que são plataformas de aprendizagem. Por serem actividades divertidas são ainda mais poderosas, porque a esmagadora maioria de nós deseja a diversão.
Podíamos dizer que apenas seria útil jogar se isso fosse propositadamente direccionado para objectivos específicos, algo que se utiliza nos serious games. No entanto, jogar livremente é muito importante. Quem nos alerta para isso, ainda que indirectamente, é Daniel Kahneman, prémio Nobel da Economia, no livro Pensar, Depressa e Devagar. Diz-nos Kahneman que o treino constante e repetido gera heurísticas, que garantem atalhos mentais para a capacidade de tomar boas decisões rapidamente sobre assuntos complexos e delicados, sem ter de fazer todos os procedimentos de análise e avaliação.
Então se os jogos são plataformas pelas quais podemos aprender e desenvolver competências, directas e indirectas, enquanto nos divertimos, o tempo utilizado no jogo não é tempo perdido. Muito pelo contrário, jogar regularmente pode preparar-nos para desempenhar bem determinadas funções e tomarmos decisões acertadas. Os jogos ensinam-nos a saber fazer, aprendendo com os nossos próprios erros e com os outros jogadores, pois são actividades práticas, de simulação de realidades artificiais em que podemos testar livremente.
Apesar dos jogos terem um enorme potencial como ferramentas de aprendizagem, treino e socialização, existem vícios associados. Esses fenómenos são bem conhecidos, na mesma medida em que sabemos quais os jogos e contextos mais propensos a esse descontrolo.
Joguem mais, com consciência do que isso implica, especialmente quando isso vos trouxer vantagens."

Juventude v.s. Desporto

"Qual a articulação existente entre o Desporto Escolar do secundário e o universitário?! A resposta é óbvia: Zero!!!

Temos para nós que a experiência prática é fundamental quando aliada ao estudo teórico e científico dos problemas e, por isso, somos adeptos que a Universidade devia estar entrosada com o mundo do trabalho, e ser parte obrigatória para a obtenção do primeiro grau académico, conferido pejas Faculdades.
Não é por acaso que os Estudantes-Trabalhadores, por norma, são mais responsáveis que os Jovens de 18 e 19 anos, acabados de chegar às Faculdades.
É com toda a certeza uma questão de maturidade, mas também uma questão de hábitos de trabalho e ainda o divórcio que existe entre o Ensino Secundário e o Superior que, continuam sem qualquer articulação, com dois Ministros diferentes a tutelar cada sector, e que só se encontram no Conselho de Ministros, mas não para defenderem uma articulação, mas tão-só para lutar, pelo orçamento para o sector que cada um tutela, sem que haja quem coordene. E quem Sofre são os alunos acabados de chegar a esse “calvário”.
Começa aqui uma questão inexplicável; qual a articulação existente entre o Desporto Escolar do secundário e o universitário?! A resposta é óbvia: Zero!!! E porquê? Porque vivem em “mundos diferentes’’, e ainda Porque não têm a mesma cultura, no sentido antropológico!
É evidente que quem devia coordenar estas coisas deveria ser o “Gabinete de Estudos” do Primeiro Ministro, órgão que, supomos, ainda não existe, mas era ele que devia definir os perfis dos dois candidatos e não de cada um de “per si”, para evitar esse divórcio, a que sempre assistimos, até hoje...!
A prática do Desporto Escolar deve começar aos 4 anos de idade, no pré-escolar e continuar até ao fim da faculdade.
É evidente que com este percurso de prática do desporto, os cidadãos continuarão a sua prática, no Desporto Federado ou simplesmente em clubes ou ginásios privados, o que se irá traduzir num grande benefício para a saúde e vitalidade dos utentes e grande poupança no “S.N.S.”, no volume, e valor, nas baixas médicas, com uma apreciável redução da despesa nos orçamentos, da saúde, do trabalho, da segurança social etc. ..., e garantindo uma maior longevidade às gerações futuras, que a par da literacia e de um maior rendimento terão, por fim, um maior Desenvolvimento Humano, fugindo ao estigma da expressão criada por George Balandier de “Terceiro Mundo”. 
Somos adeptos, desde sempre (1965), que devem existir duas Secretarias de Estado: uma da Juventude e outra do Desporto, mas ambas integradas e dependentes do Ministério da Educação e de um Ministro único.
Simplesmente, tememos que se repita o que se passa com o Ensino Secundário e o Superior, embora aqui, seja mais fácil, já que o Ministro das Tutelas é o mesmo.
Por fim, afirmar aqui, que há várias Organizações Juvenis que defendem a separação do sector Juventude, do sector Desporto, porque de facto, apesar do seu objectivo ser o mesmo (Formação da Juventude), seguem caminhos específicos, e por isso distintos, implicando Metodologias diferentes e características de cada um dos Sectores.
A não compreensão deste fenómeno e desta leitura, por parte de qualquer Político só revela, e nada mais, que não está preparado para participar na gestão desta Problemática, talvez por razões culturais e antropológicas, que são o que são e não devem envergonhar ninguém nem constituir qualquer motivo de crítica.
O que se pretende, e o que pretendemos, é que possa haver maior Clarividência na escolha de pessoas, atendendo aos seus perfis e, evidentemente, à Integridade de Carácter."

Instauração de Processos

"O Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa que, face à gravidade e leviandade de recentes afirmações no Porto Canal proferidas pelo director de Comunicação do Futebol Clube do Porto, Francisco J. Marques, levantando suspeitas totalmente falsas e absurdas de o Benfica estar por trás de uma suposta agressividade dos adversários do seu clube, decidiu avançar com os competentes processos cíveis e administrativos contra o Futebol Clube do Porto SAD, Porto Canal e o director atrás citado. Apresentará também queixas contra a referida SAD e o director de Comunicação junto dos órgãos disciplinares da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portugal e fará uma participação junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Informamos também que o Sport Lisboa e Benfica, tendo tomado conhecimento das declarações proferidas pelo advogado Aníbal Pinto no programa “Pé em Riste” exibido na noite da passada segunda-feira na CMTV, e atento à extrema gravidade de que se revestem, excedendo todos os limites, encarregou o seu departamento jurídico de instaurar os procedimentos que o caso justificar, no sentido de obter uma exemplar condenação do autor das mesmas e a indemnização correspondente à gravidade destas."

Benfiquismo (MCII)

Trio...!!!

Lanças... Lage e o resto...!!!

Silêncio !!!

"Ontem foi terça-feira e como habitualmente, acabamos o dia com a imprensa escrita apinhada de coisas que Francisco J. Marques, disse, explicou e arrasou. No programa da última noite, o director de comunicação disse que o SLB se devia congratular por só ter 4 jogos de interdição, explicou que o SLB paga aos adversários para lesionarem jogadores do FCP como ficou evidente naquele jogador invisível que lesionou Marega sem ninguém por perto e arrasou a FIFA pela multa obviamente injusta.
Tudo isto passou-se numa edição do Universo Porto que era seguido com grande curiosidade pelos adeptos de futebol cá do burgo, tendo em conta as acusações de dopagem no SL Benfica, que o portista advogado do Super Herói Rui Pinto tinha proferido, às quais o Glorioso tinha respondido com pedido de controlo em todos os jogos do Benfica e FC Porto (deixando a dúvida se não vale a pena ligar ao Sporting, ou se considera tudo o mesmo clube). Iria o Ti Chico aceitar o repto encarnado? Iria o Ti Chico dar razão ao comentador azul e branco? Iria o Ti Chico aparecer vestido com uma camisola do Walter Casagrande?
Pois bem, ao "venham de lá as putas das agulhas" do Benfica, o rapaz dos óculos respondeu com um silêncio arrepiante que não se sabe se soa a "sabemos que os jogadores do SLB estão todos limpos e não se fala mais nisso", se era uma mensagem subliminar para o causidico dos emails em forma de "pxiu cala-te carago", ou se quis apenas marcar posição no futebol português "as teorias da conspiração mirabolantes, aqui quem as faz sou eu". Seja como for, a voz oficial do FC Porto perdeu uma bela oportunidade de dar uma imagem de transparência e acabou por deixar no ar a dúvida: se porventura algum jornalista tiver a coragem de lhe perguntar algo sobre esta questão, será que ele responde com um sorriso "amarelo" típico daqueles a quem foi descoberta a "careca"?"

O que Camus tem a dizer a Lage...

"Luís Filipe Vieira arrumou o dossier, que continuava em stand by, sobre o treinador do Benfica e confirmou Bruno Lage até 2013. Não foi, contudo, em processo simples a linear, em primeiro lugar pela aversão que o presidente do Benfica tem a mudar pedras no seu inner circle, e por aí se explica que Rui Vitória tenha começado a época à frente dos encarnados, quando os sinais de esgotamento do projecto que encabeçava era notórios. Depois, decidida a saída de Vitória, o eleito foi Jorge Jesus, que acabou por não querer abandonar a mal o Al Hilal e baralhou os timings a Vieira. Seguiu-se o episódio da luz que deu ao líder encarnado, que retardou decisões mas não salvou quem estava demasiado ferido para prosseguir. Bruno Lage foi então chamado, entrou em funções com o Rio Ave e manteve-se interino até à vitória em Ponta Delgada. Só na viagem para Lisboa Vieira o convidou para ficar com a equipa até ao fim da época..O resto é história recente, o Benfica renasceu das cinzas, os processos de jogo alteraram-se e o bom futebol regressou ao Estádio da Luz. Daí ao prolongamento do contrato de Bruno Lage foi apenas um pequeno e muito avisado passo.
Embora o futebol seja o momento, Bruno Lage tem uma garantia que deve dar-lhe muito conforto: Luís Filipe Vieira não é um presidente permeável às conjunturas e tem dado provas de defender os projectos em que aposta até à exaustão. Quanto a Lage, e sem que se caia em conclusões apressadas, o mínimo que pode dizer-se é que promete muito. Assim seja capaz de cumprir uma máxima de um ex-guarda-redes, o Nobel Albert Camus: «O êxito é fácil de obter. O difícil é merecê.lo»."

José Manuel Delgado, in A Bola

Gajos

"1. Sérgio Conceição voltou a ser multado por não usar a braçadeira de treinador, como se fosse um frasco de cereais ou de frutos secos sem rótulo. A estupidificação do nosso futebol começa e acaba nos regulamentos.
2. Numa festa de aldeia encontraram um lenço com a letra O gravada e perguntaram no palco quem o teria perdido. Logo um senhor levantou o dedo, dizendo chamar-se Orélio. Na história da interdição da Luz, os Orélios são a Liga e a FPF, porque a responsabilidade, essa, foi da Aurélio. Seja ele quem for.
3. Ainda a propósito deste tema, li que o duque de Edimburgo, marido da rainha Isabel II, decidiu entregar a carta de condução aos 97 anos, após mais um acidente. E o Benfica, precisa de mais quantos acidentes com as suas claques para tomar uma atitude?
4. O Sporting reclama €277 milhões de indemnização por Gelson, Podence, Rúben Ribeiro e Rafael Leão. Não será mais fácil jogar no Euromilhões?
5. Salvio, que entretanto teve a infelicidade de lesionar-se, apresentou um comando de consola que o próprio personalizou. Espera-se que seja mais simples de perceber e usar do que o seu futebol.
6. Achava que não podia haver alguém mais revoltado do que o indiano de 27 anos que resolveu processar os pais porque o trouxeram a este mundo sem o seu consentimento. Entretanto, Bruno de Carvalho publicou um livro.
7. O Caixa Futebol Campus está transformado numa espécie de Maternidade Alfredo da Costa para futebolistas. Podem faltar cinco gerações para os homens portugueses partilharem tarefas domésticas (segundo um estudo recente), mas talvez não falte tanto para o tal Benfica made in Seixal. Se não houver desvios.
8. Quando a Bruno Lage, que na flash-interview se enganou e disse «gajos», não sei o que o futuro lhe reserva (para já o Benfica joga com a alegria de uma festa na prisão de Paços de Ferreira), mas sei que o futebol português precisa de gajos assim: competentes e genuínos."

Gonçalo Guimarães, in A Bola