Últimas indefectivações

sexta-feira, 20 de março de 2020

Pedrinho

"Quando ainda ninguém sabe a data do final da presente época por causa do maldito vírus, o Sport Lisboa e Benfica prepara já a todo o vapor a temporada 2020/21.
A contratação de Pedrinho ao Corinthians enquadra-se na estratégia que tem permitido ao nosso clube manter a hegemonia no futebol português. Estamos na presença de um virtuoso futebolista, muito dotado do ponto de vista técnico. Pedrinho tem tudo para dar certo e para se transformar numa das atracções da próxima Liga e da Liga dos Campeões. Estou convencido de que o jovem brasileiro rapidamente conquistará a massa adepta benfiquista. Titular da selecção olímpica do Brasil, que se apurou para os Jogos de Tóquio, que deverão ser adiados, Pedrinho está à porta da selecção principal do Brasil. A escolha do SL Benfica, um dos maiores clubes europeus, será o passaporte seguro para chegar ao escrete canarinho. Esta operação secreta, rápida e eficaz que permitiu à SAD contratar Pedrinh enquadra-se numa política desportiva consolidada e cujos resultados falam por si. Os 104 milhões de lucro registados no 1.º semestre de 2019/20 não aconteceram por milagre. Graças a uma política de rigor, transparência e profissionalismo, tem sido possível apresentar lucro nos últimos seis exercícios. Algo que nos deve orgulhar e que nos vai permitir encarar o futuro com mais esperança e confiança numa altura em que somos assombrados por uma crise terrível e de contornos ainda por calcular.
Pedrinho enquadra-se nesta política. Apesar de ter sido cobiçado por PSG, Real Madrid, Barcelona e Borussia de Dortmund, o SL Benfica conseguiu convencer o talentoso brasileiro. O que prova a excelência da nossa prospecção."

Pedro Guerra, in O Benfica

Um por todos! Todos por um!

"Está a ser e vai ser difícil a cada um de nós, benfiquistas, contermos os nossos impulsos nos próximos dias ou semanas. A vontade de muitos será sair e actuar porque é bem certo que o vírus levará mais sofrimento aos mais fracos e excluídos. Mas também é certo que, não sendo visível, poderemos nós transmiti-lo inadvertidamente e causar ainda mais sofrimento ao invés de o combater. Que poderemos fazer então?
1 - Cuidar de nós e restringir as interacções sociais presenciais, potenciando as virtuais.
2 - Não expor a contágio os mais velhos, familiares ou não.
3 - Zelar pelos nossos vizinhos e amigos arranjando formas imaginativas de comunicar e até de lhes fazer chegar bens de primeira necessidade. Neste particular merecem uma atenção particular os mais idosos, e há muitos isolados por esses prédios e por essas aldeias fora. Atenção também aos que vivem nas margens da sociedade como os sem-abrigo, os doentes psiquiátricos, os pequenos delinquentes ou as prostitutas. Adivinham-se situações pessoais dramáticas e crianças pelo meio de tudo isto... Saibamos estar atentos a ver para lá das aparências e das atitudes. Ver e Ouvir são as palavras de ordem...
4 - Não ser egoístas nem açambarcar bens prejudicando os que sabem ser e adoptar um comportamento cívico.
5 - Avaliar se temos condições para isso e colocamo-nos à disposição das autoridades sem as perturbar, mantendo recato e não impor a nossa insistente vontade de ajudar. Pelo contrário, dizer se e quando precisarem de cada um de nós e das nossas organizações.
6 - Estar à altura da promessa anterior na entrega e na resposta.
7 - Preparar, pensar, organizar respostas sociais pós-pandemia para ajudar a recuperar dos impactos sociais que virão. E nessa altura dar o máximo para superar o pesadelo como comunidade funcional que temos cada vez mais de ser. Será talvez no reforço de pertença e na construção de uma sociedade mais solidária que residirá o único legado desta pandemia.
8 - Manter, hoje e sempre, a urbanidade e alimentar a chama imensa para mostrarmos a todos e a nós próprios que sabemos estar a ser Benfica, mesmo na adversidade."

Jorge Miranda, in O Benfica

Reaprender

"Há três ou quadro semanas quem poderia imaginar?... A força do destino impôs a sua regra implacável. Sem lançar aviso. Apenas determinou que subitamente todos nos vergássemos à dureza de uma realidade, cujo desenho ninguém conhecia ou experimentara nos nossos dias.
É verdade que a grande História regista dramaticamente cravadas para sempre, indeléveis marcas de poderosas vagas de doenças que, de tempos a tempos, foram varrendo o mundo inteiro, com impressionantes estórias de horror e dramatismo colectivos a fustigar a vida do homem comum e, ciclicamente, a retardarem o crescimento da Humanidade.
Não esqueçamos que a peste, a doença, a pandemia, a par da guerra, da fome e da morte, representa um dos quatro terríveis cavaleiros do apocalipse da profecia bíblica, que a memória dos homens assumiu como mito universal, reinventado nos séculos que sucederam aos séculos.
Hoje, portanto, voltamos de repente a estar directamente confrontados com o próprio mito... O que, no tempo e no espaço, parecia remoto e distante, afinal, revela-se insidiosamente entre nós. No seio de todos nós. Surpreendeu-me pela rapidez com que nos atingiu tão ferozmente; e, se cada um de nós deixar, aparentemente, também terá chegado para nos desmoralizar, ao escancarar o que seriam (desconhecidas) fragilidades e incapacidades nossas que, na vertigem da vida saudável, porventura despreocupadamente deixáramos adormecer.
Como vamos ficar? Como iremos continuar?
Como conseguiremos superar as dificuldades?
Teremos de reinventar os nossos modos de viver, naturalmente. Teremos de saber escolher as melhores opções e apelar às formas mais profundas daquilo que nos é mais essencial. E, neste momento, o que talvez haja de mais importante seja reaprendermos a conviver melhor uns com os outros, na circunstância que todos partilhamos.
Lembremo-nos de que todos os momentos de dificuldade sempre constituem as melhores oportunidades de superação: o próprio Benfica, a História do nosso Glorioso, nos legou essa sabedoria e essa experiência. E, agora mesmo, a palavra do Presidente Luís Filipe Vieira foi, logo no primeiro momento, uma verdadeira lição, muito firme e oportuna:
'- É a nossa própria sobrevivência que está em causa. E todos nós, sem excepção, estamos na linha da frente desta batalha (...). A forma como, em conjunto, actuarmos para superarmos este momento será sempre o melhor dos títulos para todos nós. E, nesta batalha, somos todos do mesmo clube!'"

José Nuno Martins, in O Benfica

Contingências da Covid-19

"Esta e as próximas edições do jornal de todos os benfiquistas serão especiais. Porque ocorrem numa situação da mais absoluta excepcionalidade, devido à crise pandémica do coronavírus e no âmbito de um amplo e rigoroso plano de contingência que o Benfica implementou e que levou centenas de colaboradores a manter as suas funções a partir de casa.
Só assim é possível chegarmos a casa dos nossos dedicados leitores e manter duradoira ligação entre o jornal e os benfiquistas que nos honram, todas as semanas, com a sua preferência. Devido à forma profissional e de enorme competência como o Benfica consegui operacionalizar o seu plano de contingência, foi possível continuar a produzir os conteúdos, proceder à sua paginação e posterior envio para a gráfica, sem quebras de produtividade e sem riscos de não se completar esta e as próximas edições.
Trata-se, portanto, de uma edição histórica e, sobretudo, reveladora do nível de sofisticação a que chegou o Benfica, que lhe permitiu, em poucos dias, elaborar um plano de contingência e executá-lo de forma que a actividade dos seus colaboradores se possa manter sem quebras. Poucas organizações, em Portugal e no mundo, terão esta capacidade para manter o essencial da funcionalidade de uma grande parte das suas estruturas laborais.
De resto, cabe-nos continuar. A produzir conteúdos, a estar atentos a toda a actualidade, muito dominada pela actual crise pandémica, e a manter o habitual rigor com que nos dirigimos aos nossos leitores. E, finalmente, desejar que todos se encontrem de boa saúde e que não ignorem os sucessivos apelos das autoridades de saúde e segurança pública."

José Marinho, in O Benfica

10 jogos do SL Benfica a não rever nesta Quarentena

"Numa altura em que a humanidade atravessa um momento complicado e todo o mundo desportivo está parado, a quarentena revela-se uma excelente oportunidade para rever jogos que ficaram na nossa memória. Os grandes jogos, os grandes golos, os grandes momentos e as grandes conquistas. 
Contudo, hoje trago-vos precisamente o contrário. Reuni dez jogos que não trazem, com certeza, boas memórias a nenhum benfiquista. De goleadas históricas a títulos perdidos. De jogos marcados pelo azar a humilhações europeias. Esta lista não tem propriamente uma ordem especifica.
Não me responsabilizo por qualquer ataque de raiva provocado pela lembrança destes desaires…

Primeira Liga 2012/2013
FC Porto 2-1 SL Benfica – Esta lista consegue compilar jogos que vão de 1986 a 2017. No entanto, há aqui dois jogos separados apenas por 4 dias… Esta semana ficará para a história como a pior semana do Benfica moderno.
Depois do empate em casa frente ao GD Estoril Praia, o Benfica chegava ao Dragão a precisar apenas de um empate para entrar na última jornada em primeiro. As águias até entraram melhor e colocaram-se na frente por Lima: nesta altura o Benfica era virtualmente campeão.
O Porto empatou rapidamente na sequência de um autogolo de Maxi Pereira (irónico). Avançamos para o minuto 90′, o jogo permanece empatado. No último suspiro dos dragões, Liedson (sim, esse mesmo…) coloca a bola em Kelvin, que ultrapassa Roderick (até hoje todos os benfiquistas imploram a Roderick que ponha fim à jogada) e realiza o melhor remate da sua carreira para bater Arthur Moraes… O FC Porto era campeão (quase).
Há algo mais doloroso do que ver um ex-Sporting CP assistir um jogador com pouca ou nenhuma história em Portugal, este subsequentemente ultrapassar um miúdo da formação e finalizar a jogada para dar o título ao FC Porto? Dificilmente.

Taça UEFA 2008/2009
Olympiacos FC 5-1 SL Benfica – Fase de grupos da Taça UEFA. No grupo do SL Benfica estão as potencias futebolísticas FC Metalist Kharkiv, Galatasary SK, Olympiacos FC e Hertha de Berlim SC. Perante estes adversários, os encarnados conseguiram apenas um ponto, obtido num empate frente à equipa alemã (é de salientar que apenas se realizava um jogo com cada equipa do grupo).
Como cereja no topo do bolo, os encarnados conseguiram sofrer cinco golos da equipa grega do Olympiacos FC, num jogo onde aos 24 minutos o SL Benfica já perdia por três bolas a zero… Mas, sinceramente, uma equipa que jogue com Javier Balboa, Urreta e Binya não merece mais.
Nesta época, a única “conquista” do plantel foi a Eusébio Cup…

Primeira Liga 2015/2016
SL Benfica 0-3 Sporting CP – Perder em casa com o eterno rival por 3-0, ainda por cima com o ex-treinador do outro lado da barricada, deixa marcas em qualquer adepto. Neste jogo, o Sporting foi superior desde o primeiro ao último minuto. Jorge Jesus deixou bem patente no seu discurso a facilidade com que a sua equipa derrotou o rival.
O único ponto positivo desta partida aconteceu nas bancadas, quando milhares de adeptos se ergueram e proclamaram o seu amor incondicional ao SL Benfica. Um momento mágico que iria conduzir o Benfica ao 35º título de campeão nacional.
Tudo o que se passou dentro de campo foi penoso de assistir.

Liga Europa 2012/2013
SL Benfica 1-2 Chelsea FC – Se a final contra o Sevilla FC já foi dolorosa (Beto…), esta rebenta qualquer escala de nível de dor. Ao longo de toda a época vimos um Benfica absolutamente demolidor, mas aquelas duas últimas semanas da temporada irão ficar imortalizadas na memória de qualquer benfiquista (e nesta lista).
Depois do desastre no Dragão (maldito Kelvin), a época poderia ser salva conquistando o tão aguardado troféu europeu. No entanto, a esperança esbarrou na cabeça de Ivanovic, que pôs fim a um equilibrado jogo com uma cabeçada cirúrgica já para lá dos 90’…
Nunca se saberá o que teria acontecido no prolongamento, mas na cabeça de todos os benfiquistas paira a certeza de que aquele troféu viria para Lisboa.

Supertaça 1996
SL Benfica 0-5 FC Porto – Sim, o SL Benfica perdeu duas vezes por cinco bolas a zero frente aos dragões nos últimos 25 anos. Na primeira mão da Supertaça (o troféu era jogado a duas mãos), o Porto venceu o Benfica por 1-0, no Estádio das Antas.
Na segunda mão, os encarnados pensavam poder virar a eliminatória com a ajuda dos seus adeptos e do “temido” terceiro anel. Na verdade, o que estava para vir era uma demonstração de poder da grande equipa do Futebol Clube do Porto. Os azuis e brancos contavam com jogadores como Rui Barros, Sérgio Conceição, Jorge Costa ou Mário Jardel. Esta equipa do Porto viria também a ser campeã nacional no mesmo ano.
Já o Benfica tinha Martin Pringle no plantel: é parecido.

Primeira Liga 2007/2008
SL Benfica 0-3 Académica OAF – Derrotas europeias ou contra grandes rivais é o que não falta na história de todos os clubes europeus. Agora, perder por três bolas a zero, em casa, contra uma equipa que terminou o campeonato em 12º, é inaceitável.
A equipa do Benfica até tinha alguns jogadores de qualidade (Petit, Rui Costa, Luisão, Cardozo, Nuno Gomes, Di Maria, Maxi Pereira), mas os encarnados viviam um período de transição complicado.

Primeira Liga 1986/1987
Sporting CP 7-1 SL Benfica – Este resultado desafiou a lógica da época. Era a 14ª jornada do campeonato nacional. Os encarnados seguiam sem uma única derrota na liga aquando da visita ao Estádio de Alvalade. O Sporting CP marcou cedo, por Manuel Fernandes, e o 1-0 manteve-se até ao intervalo. Nada fazia esperar o desaire que estava para vir. Manuel Fernandes bisou aos 50 minutos, mas pouco depois o SL Benfica reduziu. A partir daí, foi o desastre total. Cinco golos dos leões sem qualquer resposta.
Esta seria a única derrota da fortíssima equipa dos encarnados em todo o campeonato e logo contra a equipa que terminou em 4º lugar. Não é incrível o futebol?

Primeira Liga 2010/2011
FC Porto 5-0 SL Benfica – A grande equipa do SL Benfica do primeiro ano de Jorge Jesus tinha sido desmantelada, sendo apenas uma sombra do que já fora. O FC Porto, à data comandado por André Villas-Boas, contava com uma das melhores equipas do século.
Os encarnados estavam numa forma penosa, levando já três derrotas nos primeiros nove jogos. A equipa de Villas-Boas ganhou os nove primeiros desafios e ia embalada para uma das melhores épocas de sempre no campeonato português. Tinha tudo para correr mal.
Correu mesmo. Poderia resumir o jogo, mas limito-me a dizer isto: os encarnados alinhavam com Roberto na baliza e Alan Kardec na frente de ataque, sendo que as opções no banco eram Júlio Cesar (o mau) e Franco Jara. O FC Porto dava-se ao luxo de não colocar no 11 inicial James Rodríguez e Otamendi. Alguém acreditava que era possível uma vitória do Benfica?

Liga dos Campeões 2017/2018
FC Basel 5-0 SL Benfica – Um desaire bem mais recente. Depois da surpreendente derrota frente ao CSKA Moscovo, o SL Benfica esperava regressar ao melhor rumo na Suíça. O que aconteceu? Aos 20 minutos, o Basileia já vencia por 2-0. A expulsão de André Almeida, aos 62 minutos, ainda “ajudou mais à festa”. Este jogo deu para tudo. Até tivemos direito a um golo de Ricky Van Wolfswinkel…
A campanha europeia de 2017, só por si, poderia compor metade desta lista, mas perder 5-0 com o campeão suíço e não fazer um único remate à baliza parece-me o cúmulo. 

Taça UEFA 1999/2000
RC Celta de Vigo 7-0 SL Benfica – Pois… um dos desaires mais históricos do SL Benfica. Os encarnados deslocavam-se ao país vizinho com a esperança de se colocarem em vantagem na eliminatória da Taça UEFA. O que aconteceu… bem… ficou para a história. Uma goleada humilhante frente uma equipa que contava com jogadores como Claude Makélélé, Mostovoi (ex-Benfica), Albert Celades ou Benny McCarthy.
Em Lisboa, o resultado foi um empate a uma bola. O golo do Benfica foi obtido através de um autogolo de Caceres: isto diz muito sobre a qualidade da equipa das águias."

O dérbi que mudou a vida de (,,,): o meu carro ficou sem pneus, com portas e capô riscados. Fui cuspido várias vezes na rua

"O dérbi, escaldante como quase todos, terminou tarde. Entre as burocracias relativas ao envio do relatório e a saída do balneário, passou seguramente mais de uma hora.
Sentíamo-nos derrotados. Mais derrotados do que, porventura, qualquer uma das equipas, que em campo até dividiram os pontos.
À partida, aquilo tinha tudo para correr mal: um árbitro impreparado para aquelas andanças; um ambiente exterior crispado, potenciado por tudo e todos; adeptos distanciados por um ódio inimaginável, como se de inimigos se tratassem; e alguns jogadores bem matreiros que, diga-se de passagem, nada fizeram para fazer parte da solução.
Perante esta receita, difícil seria o cozinhado que resistisse.
Naqueles noventa minutos de jogo aconteceu um pouco de tudo: lances polémicos nas áreas, protestos excessivos, conflitos constantes, amarelos sucessivos, cartões vermelhos, erros e mais erros, pressão hostil, empurrões, discussões e contestação generalizada.
Foi um vê se te avias de tudo o que um verdadeiro espectáculo de futebol não pode nem deve ter. 
Quando chegámos cá fora, parecia que estávamos dentro de um carro funerário. O ambiente estava pesadíssimo, os semblantes carregados, as expressões faciais perdidas.
Alguém ainda esboçou um ténue "devíamos comer qualquer coisa", mas o que todos queríamos mesmo era ir para casa, trancarmo-nos nos nossos quartos e ficarmos lá fechados até que o pesadelo terminasse.
Os tempos eram outros mas a fúria da opinião pública - movida por declarações irresponsáveis e por uma imprensa francamente oportunista -, encarregaram-se de fazer com que um erro de análise, um erro apenas, ganhasse proporções dantescas, como pouco se vira até então.
No epicentro do terremoto o suspeito do costume, esse ladrão sem vergonha.
O day after foi inenarrável.
Desde o cozinheiro da messe do meu local de trabalho (!!) ao vizinho mais simpático do prédio onde vivia, todos queriam bater-me. Bater-me a sério. Literalmente.
A doença psicológica da clubite é, tenho a certeza, mais patológica que qualquer outra que exista de verdade.
À porta de minha casa, umas dezenas de energúmenos, de cor bem identificada, incendiaram todos os contentores de lixo que encontraram. O meu carro ficou sem pneus, com portas e capô riscados, os pára-brisas desapareceram e, como se não bastasse, os pontapé na porta da minha casa quase a deitavam abaixo. Isto às 4 horas da manhã.
A GNR foi chamada e andou a fazer "patrulha preventiva" durante umas semanas, dada a credibilidade das ameaças que entretanto recebi.
Nas semanas que se seguiram, as coisas não acalmaram como se previa. Fui cuspido várias vezes na rua (vezes sem conta, acreditem) e insultado a toda a hora, de perto e à distância, por garotos, adultos e idosos. A ameaça e o palavrão vinham de todo o lado, mesmo de onde menos esperava.
O senhor do quiosque, onde comprava os jornais há anos, deixou de me falar e a senhora do café, onde quase sempre tomava o pequeno-almoço, disse-me que só não me chamava nomes horríveis porque o patrão avisou-a para se controlar.
O futebol é assim, espantoso. Tem a capacidade de dar, às pessoas, a maior de todas as alegrias mas, ao mesmo tempo, de transformá-las em animais ferozes, desprovidos de alma e sequiosos de sangue. 
A memória desse jogo, o primeiro do género que alguma vez arbitrei, devia ser bonita mas é feia, muito feia.
A culpa será sempre do árbitro que foi enganado num penálti, não do batoteiro que o enganou. Esse disse que "apenas faz o seu trabalho".
Dizem que faz parte. Eu digo que não devia fazer."


PS: O problema é que o jogo não se resumiu ao penalty final, a expulsão do Andrade, a não expulsão do Babb, a não expulsão do Tello entre muitos outros erros... O facto é que depois de ter assinalado um penalty favorável ao Benfica, no início do jogo, o árbitro, sem 'tomates' acabou por sentir a 'obrigação' de 'compensar' os coitadinhos dos Lagartos... o resto é história!!!

Aquisição de equipamentos para o Serviço Nacional de Saúde

"Na nossa história e na nossa identidade esteve sempre presente um profundo sentido de solidariedade e responsabilidade social. Vivemos, como todo sabemos, um momento de emergência, que de todos nós exige acções e contributos concretos de apoio, sobretudo a quem está na linha da frente do combate a este tão grave flagelo.
Nesse sentido, juntando esforços e no âmbito de uma iniciativa conjunta com a Câmara Municipal de Lisboa e Universidade de Lisboa, o Sport Lisboa e Benfica e a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informam que decidiram contribuir com a doação de uma verba de um milhão de euros destinada à concretização de uma grande aquisição de equipamentos médicos, nomeadamente ventiladores, máscaras e outro material de protecção, para oferecer ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O Grupo Sport Lisboa e Benfica espera que esta e outras iniciativas da sociedade civil possam ajudar a combater esta terrível calamidade pública e expressa uma forte e sentida palavra de solidariedade a todos os portugueses e um profundo agradecimento a todos os incansáveis profissionais da saúde ou os que diariamente nos asseguram os bens básicos e a segurança."

O Derby da Vida

Mensagem do Capitão do Hóquei em Patins, Valter Neves

"Tendo em conta a situação actual que o nosso País e todo o mundo vive devido à pandemia da COVID-19, o Sport Lisboa e Benfica encerrou momentaneamente as actividades das suas modalidades de pavilhão e como tal, neste momento, encontramo-nos em casa numa situação preventiva com as nossas famílias.
No nosso caso, com dois filhos, temos tentado garantir uma variedade de actividades, mas também criar algumas rotinas de tarefas que é importante manter para os mais novos e também para nós enquanto pais.
No meu caso particular, e sendo eu atleta de alta competição, tenho uma forma física a manter e como tal foi-nos prontamente enviado um plano físico que temos de cumprir para que, quando esta situação se resolva (esperemos que o quanto antes), possamos voltar à competição e recuperar os índices de forma o mais rápido possível. Para além disso, já tivemos também algumas indicações por parte da nossa nutricionista para mantermos a nossa alimentação adequada ao momento.
Aproveito para deixar uma mensagem de força para quem se encontra neste momento infectado, desejando-lhes as rápidas melhoras e faço um apelo a todos para que cumpram as normas de segurança e prevenção da DGS, para que consigamos vencer esta epidemia rapidamente. Está mais que visto que só o vamos conseguir se todos cumprirmos a nossa parte.

Valter Neves"

Cadomblé do Vata (o problema foi o 2.º jogo!!!)



"Taça UEFA 92/93 - Quartos de Final 1ª Mão - 04/03/1993 - Estádio da Luz
SL Benfica 2-1 Juventus FC
1. Não é segredo para ninguém que Vítor Paneira é um jogador rapidíssimo, mas é bom que peguem nos cronómetros... pelo menos uma daquelas duas corridas para o gradeamento após golo, deve ser recorde Mundial.
2. Uma equipa chamada "Juventus", patrocinada pela "Danone"... mais "cheiras a leitinho" do que isto, não deve haver.
3. Bem sei que a vitória do SL Benfica deve ter surpreendido os mais incautos, mas vamos lá a ver... andamos nisto de ganhar a equipas às riscas desde 1904.
4. De um lado Mozer, do outro Jurgen Kohler... inexplicável como ao fim de 90 minutos ninguém saiu com uma tíbia a apontar para o céu.
5. No banco da Juventus, esteve um tipo de cabelo branco constantemente de pé e a assobiar para os jogadores italianos... não percebi porque é que durante o jogo todo, o árbitro nunca mandou sentar o Ravanelli."

Viagem #2 - Astana

Vítor Catão, o d’Artagnan do FC Porto.



"A Autoridade Tributária já efectuou as devidas diligências às contas bancárias e movimentações financeiras deste indivíduo, ou continuará a deixá-lo passar entre os pingos da chuva da justiça portuguesa?
Aparentemente, ser membro activo da rede clandestina do FC Porto dá os seus frutos."

Benfiquismo (MCDLXXVII)

Iluminado!

O Brinco do Baptista #32 - Por detrás da bandeira

Conversas... Diogo Carreira!

Conversas... Vítor Fortunato!

Crónica de um benfiquista em casa que não quer o Benfica campeão

"Pediram-me um texto para mantermos a máquina a funcionar e uma aparência de normalidade, apesar de estarmos todos ligados a outras máquinas, neste caso aos ecrãs que nos permitem acompanhar contagens meio doentias que parecem transformadas num desporto: dizem-nos quantos são, de onde são, que idade têm, qual poderá ser a sua sorte.
Estamos todos um bocadinho sem saber o que fazer, à espera de uma boa notícia ou de um indicador que nos dê ânimo. É um tempo especialmente complicado para os Goalpoints da vida, que em vez de expected goals gostariam de conhecer taxas de comorbidade.
Não está fácil. Ontem à tarde dei por mim, de pantufas calçadas, à procura de um link para assistir a um jogo da liga nigeriana. Sinto que foi um dos momentos mais degradantes dos meus 38 anos de vida. Foi bom ver o Enugu Rangers regressar às vitórias fora de casa frente ao Dakkada FC. Hoje à tarde, amigos, há liga bielorrusa e joga o BATE Borisov, uma daquelas equipas que parecem uma invenção da UEFA para perderem contra equipas portuguesas na fase de grupos da Liga Europa.
Se dormir bem esta noite e conseguir acordar cedo, há dois jogos emocionantes da liga australiana. Não brinquem. Eu ia citar aquela canção e dizer que “hoje há conquilhas, amanhã não sabemos”. Mas é que nem isso.
Pensem assim. Hoje há brócolos. Amanhã não sabemos.
Uma parte de mim pensa: antes assim. Não vou mentir. Estes dias sem futebol português têm sido um bálsamo. Por um lado, falta a bola a rolar. Por outro, não há foras de jogo polémicos. Não sou insultado nas redes sociais há quase duas semanas. É um recorde desde que comecei a participar n’O Dia Seguinte.
Estão a ver aquela imagem do smog antes e depois do coronavírus numa cidade da China? É o que acontece ao futebol português quando não há polémica estéril para fazer isto tresandar a esgoto.
Não há futebol, é certo, mas também não há como estragá-lo.
Ainda não sei o que vos diga porque tudo isto continua a acontecer e porque, enquanto escrevo isto, o meu filho mais novo me pede para regressar às brincadeiras com legos enquanto o mais velho exige saber o que acontecer às pokéballs que eu já não consigo ver à frente.
Não sei se isto fará de nós pessoas novas, mas, já que temos tempo para pensar, espero por exemplo que a estrutura do Benfica aproveite estes dias em casa para reflectir acerca do tal projecto europeu. 
Espero que o Lage não se tenha desgraçado em maratonas de canal Panda e consiga descobrir as respostas para algumas das perguntas que nos apoquentam. Espero que o Gabriel se ponha fino. E espero acima de tudo que o meu clube se recuse a tentar ganhar este campeonato na secretaria. Quero lá saber quem é o campeão. As taças ganham-se dentro de campo. Se não há jogos, não há campeão. Se outros quiserem mesmo ir por aí, levem a bicicleta à vontade.
Eu aguardarei, conforme instruções superiores, no sofá, até que a bola volte a rolar."

O amigável mais oficial que (...) arbitrou: a inauguração do novo Estádio de Alvalade, quando um jovem chamado Ronaldo partiu tudo

"Hoje proponho uma viagem até ao dia da inauguração do Estádio Alvalade XXI.
Não sei se, cá de fora, têm noção, mas garanto-vos que o jogo de estreia de um estádio é um momento memorável na carreira de um futebolista. Aliás, é-o também para todos os que têm a felicidade rara de participar num evento assim, tão especial e único.
6 de Agosto de 2003
Como já aqui vos disse, há jogos e jogos.
Todos são iguais na importância, no respeito, dedicação e profissionalismo que exigem, mas há uns mais especiais do que outros. Naturalmente.
Quem tem o privilégio de estar envolvido num espectáculo desta dimensão não tem sensações de calhau. É tudo gente que sente. Gente incapaz de ficar imune à envolvência distinta que momentos como este representam.
Tive o privilégio de passar por todas essas sensações, porque fui o árbitro desse inesquecível "Sporting CP-Manchester United".
Quando recebi a nomeação estava no Algarve, a aproveitar os últimos dias das férias desportivas. 
Lembro-me que, logo ali, comecei todo o processo de preparação para o amigável mais oficial que alguma vez arbitrara.
Regressei a Lisboa na véspera, dia 5. Descansei e, no dia seguinte, almocei com a minha equipa. Vestimo-nos a rigor e tínhamos um sorriso estampado na cara. Estávamos felizes. Muito felizes. 
Entrámos no estádio duas horas antes da hora do início da partida (21H30). Acompanhámos, com ansiedade crescente, todo aquele frenesim, aquela agitação de luz e cor em torno daquele momento. As bancadas estavam cheias de gente, as coreografias repetiam-se. Sentíamos aquele nervoso miudinho, típico de quem está prestes a fazer algo que nunca fez antes. Os craques subiram para o aquecimento e começaram a desfilar, com a facilidade dos predestinados, todo o seu talento. Coisa bonita de se ver.
A inauguração teve a presença do então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio. Do balneário, acompanhávamos tudo, ainda que à distância e com o profissionalismo possível.
Os convidados maestros de luxo: Barthez e Gary Neville, Roy Keane e Paul Scholes, Ryan Giggs, Rio Ferdinand e tantos, tantos outros.
O Sporting, com vários nomes consagrados também, entrou em jogo com atitude vencedora, a dominar e a ditar as regras, como que dizendo: "Em casa, mandamos nós!".
Venceu e venceu bem, para loucura de mais de 50 mil fervorosos adeptos.
Luís Filipe ficou na história como o primeiro a marcar um golo na nova casa. João Vieira Pinto bisou e Hugo, central, marcou na própria baliza, fazendo assim o golo de honra do "dream team" comandado por Sir Alex Ferguson.
Mas, naquela noite, o resultado foi o menos importante. Melhor, muito melhor, foi a exibição portentosa de um jovem madeirense, de apenas dezoito anos de idade.
O então (quase) desconhecido Cristiano Ronaldo não jogou. Partiu. Partiu aquilo tudo, vezes sem conta. Meus amigos, acreditem no que vos diz quem esteve lá dentro: que qualidade!!!
O puto ziguezagueava, fugia para a esquerda, para a direita, acelerava, travava, cruzava, rematava, cabeceava, enfim... cansava só de ver. Que pulmão, que atitude, que talento dos pés à cabeça. 
Enquanto árbitro, lembro-me de só ter visto algo parecido quando arbitrava jogos de um pequeno Deus chamado Deco (que era, também ele, qualquer coisa de indescritível!).
Naquele dia, Ronaldo apresentou-se ao mundo e logo teve o mundo a seus pés. O mundo e, diz-se, o rim direito de Rio Ferdinand.
Mesmo num jogo de faz de conta, ninguém ficou indiferente à qualidade e potência que saía dali, daquele miúdo ainda franzino.
Às tantas, já não era apenas um adversário a marcá-lo. Eram dois ou três.
Ferguson, que já o tinha debaixo de olho, nunca pensou que teria pela frente um diamante tão valioso. Não me parece que os seus jogadores tenham tido depois muita dificuldade em convencê-lo.
Naquele dia, o Sporting escreveu uma página muito bonita da sua história. Cristiano Ronaldo escreveu outra, na história do futebol mundial. E eu, arraia miúda, tive a sorte de lá estar.
Há dias felizes, não há?"

Ó Corona, devolve-nos a Futebolite!

"Isto do coronavírus está a dar-nos cabo do modo de vida, mas também do futebol, maldito seja. Não lhe bastava ter parado as principais Ligas mundiais, agora também conseguiu cancelar o Euro 2020. Satisfeito, ó palhaço?
Pois que te falte o papel higiénico e abundem as cólicas, é o que te desejo, ó palerma!
Pronto, agora que soltei a minha raiva contra o coronavírus, a verdade é que o seu impacto nas nossas «vidas futebolísticas» é muito maior do que imaginávamos, senão vejamos.
Ir ao café ver futebol.
De uma cajadada, três das nossas maiores tradições foram cortadas pela raíz: ir ao café, tomar café e ver apaixonadamente futebol no café desapareceram num estalar de dedos. O sacana está a tornar-nos suecos.
Falar com os amigos também já não é a mesma coisa. Não só porque agora a conversa já não pode ser feita cara a cara, mas também porque já não há temas de conversa. Sem futebol, falamos sobre o quê? Como vamos culpar o árbitro e o VAR por erros nas partidas e por tudo o que está mal nas nossas vidas? Isto não se faz.
Sem futebol, na última semana dei por mim a falar ao telefone com os amigos sobre o tempo, como se fossemos vizinhos que se encontram no elevador e não têm nada para dizer. Foi horrível. Nesse momento chorei baixinho e limpei as lágrimas. E depois fui a correr autoflagelar-me com toalhetes, porque usei as mãos para limpar as lágrimas.
Outro aspecto que muda drasticamente nas nossas vidas futebolísticas é a ausência de programas de futebol à noite na televisão. O Covid substituiu a clubite, e agora só se fala nele. E o debate futebolístico, viril e altamente tendencioso, onde anda?
Para nós a vida não faz sentido sem ouvir alguém dizer, em directo, aos adversários, que foram beneficiados em dois penaltis, três foras-de-jogo e um canto duvidoso, mas escandaloso na mesma! Tudo culpa do imbecil do Corona.
Portanto, Covid, Corona ou lá como é que te chamas (Corona parece o seu nome artístico de drag queen, não parece?), vê lá se te atinas e nos devolves o nosso Portugal com futebolite aguda que tanto amamos. Se for preciso, não hesitaremos em recorrer a medidas extremas para te expulsar, tipo música do Toy.
Depois não digas que não te avisámos.

PS: Agora muito a sério. Afastados fisicamente, mas juntos na perseverança, como enorme povo que somos vamos vencer este maldito vírus de goleada. 15 a zero. Nada nem ninguém ganha à equipa da Humanidade. Todos por Todos."

Ainda a formação de treinadores

"Tem sido constante ultimamente notícia o facto de treinadores exercerem estas funções sem terem o curso de treinadores exigido por lei, argumentando-se com os seus resultados ou o seu currículo. No entanto, a um bom condutor não lhe é permitido conduzir na via pública sem carta de condução… 
Recorrendo a ex-jogadores, o currículo de Paulo Futre como jogador é excepcional mas Paulo Futre não tem currículo como treinador.
Paulo Futre é um daqueles génios da bola que teve a felicidade de, depois de ter deixado de jogar, ter tido alguém que, em Espanha, lhe tenha dado a mão. Teve a felicidade de não ser um daqueles três em cada cinco futebolistas com salários superiores a 140 mil euros por mês que terminam a sua carreira falidos, ou acabam nesta situação em apenas cinco anos (sim, é um estudo realizado em Inglaterra com 30 mil jogadores). É uma pessoa que provavelmente aufere de rendimentos daquilo que escreve nas suas crónicas semanais num diário desportivo e que de certeza aufere de rendimentos provenientes de publicidade televisiva – o que não é extensivo a todos os ex-jogadores excepcionais. 
Paulo Futre é uma das pessoas que defende que um jogador internacional, com uma carreira relevante, e exactamente por ter sido isso, possa ser automaticamente um treinador. Como se o facto de ser um bom jogador desse origem automaticamente a um bom treinador… mesmo sem ter competências a nível de metodologia de treino, de fisiologia do esforço, de pedagogia do desporto, de… (a lista seria longa, muito longa). Um bom jogador pode não ser por natureza um bom condutor de homens, e aí esvai-se toda a sua capacidade técnica, todo o seu rendimento, toda a sua percepção táctica. Salvo erro foi Olímpio Coelho – e cito de memória – que disse algo parecido com isto: alguns treinadores falham nas suas funções e objectivos por deficiente preparação técnica mas a maioria dos insucessos devem-se a uma deficiente preparação psicopedagógica.
Ao invés, um bom treinador pode nem sempre ter sido um jogador de relevo. O futebol está cheio destes exemplos. Alguns entre nós, outros lá fora. Neste lote poderemos incluir José Mourinho e Jorge Jesus. Estes, para além de revelarem competências técnicas e pedagógicas revelam também competências de planeamento, de gestão, de execução, de avaliação e competências de liderança. A maior parte destas não foram adquiridas no relvado enquanto jogadores.
Claro que também há jogadores excelentes que são excelentes treinadores. Josep Guardiola é um deles…
Ter sido um bom jogador e ter um currículo de relevo não capacita ninguém a orientar treinos e a obter bons resultados. Há uma linha bem definida entre o que é e o que faz um jogador e as funções do treinador. Mesmo que esse treinador de encontre rodeado de terapeutas, de nutricionistas, de “preparadores físicos”, de treinadores adjuntos disto e daquilo.
Um bom jogador não é necessariamente um bom treinador. A prova provada é exactamente confirmada pelo próprio Paulo Futre na sua coluna de opinião de 8 de Março do corrente ano, na página 13 do «Record», quando afirma: “quando estiver com um médico de Medicina Desportiva vou perguntar-lhe por que razão um profissional de futebol canhoto, por muito que treine o pé direito, não consegue ganhar potência no remate”. Um jogador de eleição não sabe isto mas um treinador sabe. 
Esperemos que quem tutela a formação de treinadores de facto não embandeire por essa via – a de transformar óptimos jogadores em treinadores por decreto.
Ignorar este assunto não fará desaparecer o problema."

NBA solidária em tempo de coronavírus

"O Comissário da NBA, Adam Silver, anunciou recentemente a suspensão da época desportiva por um período de um mês, atendendo a que um dos jogadores da equipa de Utah Jazz tinha sido infectado pelo coronavírus. De acordo com a mensagem tornada pública no dia 12 de Março, esta decisão tem como objectivo a salvaguarda da saúde e bem estar dos adeptos, jogadores, treinadores, árbitros, jornalistas, dirigentes, funcionários e todas as pessoas ligadas ao basquetebol profissional e público em geral. A interrupção terá a duração mínima de um mês e o reatamento da competição estará dependente da evolução da situação. De qualquer modo, a NBA está a estudar diferentes opções para ainda poder concluir a época desportiva antes do verão.
Na data da suspensão, com cerca de 64/65 jogos já efectuados por cada equipa na primeira fase da competição (regular season) e que tem 82 encontros previstos para cada uma, já há 4 formações apuradas para os playoffs; Milwaukee Bucks, Los Angeles Lakers, Toronto Raptors e Boston Celtics. Isto significa que ainda faltam apurar 5 equipas na Conferência do Este e 7 na Conferência do Oeste. Para um melhor entendimento vejamos as actuais classificações das duas conferências:
Conferência do Este
1º Milwaukee Bucks (53 vitórias-12 derrotas), 2º Toronto Raptors (46-18), 3º Boston Celtics (43-21), 4º Miami Heat (41-24), 5º Indiana Pacers (39-26), 6º Philadelphia 76ers (39-26), 7º Brooklyn Nets (30-34), 8º Orlando Magic (30-35), 9º Washington Wizards (24-40), 10º Charlotte Hornets (23-42), 11º Chicago Bulls (22-43), 12º New York Knicks (21-45), 13º Detroit Pistons (20-46), 14º Atlanta Hawks (20-47) e 15º Cleveland Cavaliers (19-46).
Conferência do Oeste
1º Los Angeles Lakers (49 vitórias-14 derrotas), 2º LA Cllippers (44-20), 3º Denver Nuggets (43-22), 4º Utah Jazz (41-23), 5º Oklahoma City Thunder (40-24), 6º Houston Rockets (40-24), 7º Dallas Mavericks (40-27), 8º Memphis Grizzlies (32-33), 9º Portland Trail Blazers (29-37), 10º New Orleans Pelicans (28-36), 11º Sacramento Kings (28-36), 12º San Antonio Spurs (27-36), 13º Phoenix Suns (26-39), 14º Minnesota Timberwolves (19-45) e 15º Golden State Warriors (15-50).
Assim, verificamos que para além das quatro equipas já classificadas existem outras que estão à beira do apuramento para os playoffs: LA Clippers, Denver Nuggets, Utah Jazz, Oklahoma Cty , Houston Rockets e Dallas Mavericks (conferência do oeste) e Miami Heat, Indiana Pacers e Philadelphia 76ers (conferência do este). Se este prognóstico se vier a confirmar com o apuramento destas equipas, apenas ficarão disponíveis duas vagas no Este que, em nossa opinião, podem ser preenchidas pelos Brooklin Nets e Orlando Magic e uma vaga no Oeste, que está ao alcance dos Memphis Grizzlies. À distância, não vemos que haja dificuldades de maior para encontrar as 16 equipas (8 por conferência) que irão disputar os playoffs, no período em que NBA entender ser o mais conveniente.
A época desportiva, em termos económicos, não começou bem para a liga profissional norte americana, face à proibição das autoridades chinesas de transmitirem os jogos da NBA como represália ao apoio público manifestado pelo Director Geral dos Houston Rockets relativamente às manifestações em Hong Kong, quando a equipa se encontrava na China a efectuar os habituais encontros de início de época. Segundo consta a proibição implicou um prejuízo na ordem dos 500 milhões de dólares. A suspensão agora efectuada significa mais um abalo financeiro para a NBA. De qualquer modo, aconteça o que acontecer, a NBA não vai desistir. Pelo passado histórico da organização e pelo correspondente entusiasmo dos adeptos norte americanos pela modalidade, acreditamos solenemente que com a colaboração de todos os intervenientes, serão encontradas soluções ajustadas que irão devolver o basquetebol profissional à normalidade.
Entretanto, a saúde pública é prioritária e, nesse sentido, os clubes e jogadores da NBA já anunciaram publicamente a sua solidariedade para com os mais desfavorecidos na actual situação. Os Golden State anunciaram um donativo de 1 milhão dólares para um fundo solidário para apoio às pessoas infectadas pelo vírus. Brooklyn Nets, Washington Wizards, Dallas Mavericks e Golden State Warriors assumiram o pagamento dos salários dos funcionários dos pavilhões onde realizam os seus jogos.
O campeão mundial norte americano Stephen Curry (Warriors) assumiu o pagamento de refeições a 18 mil crianças dependentes da alimentação fornecida nos refeitórios das escolas que foram encerradas. O internacional grego ,Giannis Antetokounmpo (Milwaukee Bucks) e o seu colega de equipa Chris Middleton vão contribuir com 200.000 doláres para o pagamento dos salários dos funcionários do pavilhão onde a sua equipa joga (FiServ Forum) que, neste momento, se encontram sem trabalho (desemprego técnico). O internacional francês Rudy Gobert, primeiro jogador infectado da NBA, vai atribuir meio milhão de dólares para o combate ao coronavírus no seu país. O mais consagrado jogador dos Minnesota Timberwolves, Karl-Anthony Towns atribuiu 100.000 dólares à Clínica Mayo que vem desenvolvendo importante tarefa na detecção do coronavírus passando, com esta contribuição, a realizar 1000 testes diários em vez dos 200 que vinha fazendo. Os jogadores internacionais norte americanos Kevin Love (Cleveland Cavaliers), Blake Griffin (Detroit Pistons) e a nova estrela Zion Williamson (New Orleans Pelicans) já se comprometeram (100.000 dólares cada) em ajudar os funcionários das instalações desportivas que se encontram em desemprego técnico.
O desporto sempre foi, ao longo da sua existencia, uma actividade humana solidária com as crianças e pessoas mais desfavorecidas, pelo que a atitude destes desportistas da NBA está em consonância com o papel desempenhado, desde sempre, pelos grandes homens do desporto na construção de um mundo melhor."

"Habitus" pugilísticos

"Também conhecido por pugilismo, o boxe é um desporto de combate que se caracteriza pela arte de defender e atacar usando apenas os punhos. Na Inglaterra, o primeiro regulamento de boxe surge em 1743. Face à brutalidade nos combates, que não é o que mais agrada a um público no seu conjunto bastante aristocrático, é recomendado, em 1747, o uso de luvas e aperfeiçoaram-se as regras. Um primeiro “campeonato do mundo” tem lugar em 1810, com 25 mil espectadores. A federação amadora de boxe é criada em 1884. O boxe masculino entrou nos jogos Olímpicos em 1904. Relegado para segundo plano, o boxe feminino surge apenas como desporto de demonstração. Praticamente invisível, só entrará, oficialmente, nos jogos Olímpicos de Londres de 2012. 36 mulheres, em três classes de peso, competiram nestes jogos, em comparação com os 250 homens em 10 classes de peso.
Existem vários estudos que têm como objecto de estudo o boxe, mas a análise etnológica de Wacquant (2000) é certamente a mais rica sobre a construção dos “habitus pugilísticos” masculinos no domínio do boxe inglês, num bairro negro de Chicago. O autor descreve a importância das aprendizagens técnicas no processo de incorporação das normas e valores no ginásio. De forma detalhada, descreve as relações entre o mundo fechado (o ginásio), o universo pugilístico, a rua, o bairro e o gueto. De forma contrastante de um ambiente hostil, o clube constitui uma ilha estável e ordena as relações sociais, onde os interditos são possíveis. O ginásio não é apenas um espaço de confronto. Ele é protetor, permitindo escapar ao quotidiano e à tentação de os praticantes viverem da ilegalidade. Este espaço regula a violência e permite quebrar a rotina. Os pugilistas distinguem-se dos outros jovens do gueto pela vantagem da integração social e pela ligação a uma família não decomposta e relativamente intacta. Eles provêm de famílias de classes operárias, do sub-proletariado e exercem pequenos trabalhos nos serviços. A grande maioria trabalhava como seguranças, canalizadores, pedreiros, limpezas, nas fábricas. Wacquant colocou as luvas e descreve a aprendizagem das práticas, das codificações e das normas implícitas, afastadas de um investigador branco que nunca antes tinha praticado boxe e pertencia às classes sociais cultivas dos universitários. 
Mennesson e Clément (2009) prestaram especial atenção às mulheres nas práticas pugilísticas violentas, reservada aos homens, até um período recente. Os autores procuram estudar este universo das mulheres no boxe francês de 1997 a 2005. Para isso, realizaram trinta entrevistas às pugilistas que participavam em competições de nível nacional e internacional. Para elas, minoritárias neste espaço essencialmente masculino, a aprendizagem das técnicas pugilísticas e o trabalho de “feminização” de aparência corporal são simultâneas. Os autores concluem que a relação diferenciada com a prática do boxe (num estilo mais “hard” e noutro mais “soft”) inscreve-se nas trajectórias escolares e sociais diferentes. São sobretudo mulheres originárias das classes populares que aderiram ao estilo mais “hard”. As pugilistas “soft”, maioritariamente em situação de sucesso escolar no ensino primário e secundário, começam o boxe pelos 20 anos ou mais e as pugilistas do estilo “hard”, muitas vezes confrontadas com o insucesso escolar, iniciam o boxe com cerca de 15 anos. As primeiras descobrem por acaso os aspectos estéticos da prática do boxe francês, as segundas começam a praticar esta modalidade para exprimir o seu gosto pelo confronto e a sua combatividade.
Em Portugal, o boxe surgiu no início do século XX. Os primeiros duelos de boxe são disputados a partir de 1909, suscitando interesse e curiosidade do público e dos adeptos da modalidade, sobretudo nas grandes cidades. Pouco a pouco, vão-se criando alguns clubes amadores, como, por exemplo, o Ginásio Clube Português, o Clube Arte e Sport, o Sport Cruz Quebradense, o Clube Português de Recreio e Desporto. Da necessidade de se organizar e regulamentar a “nobre arte”, é fundada, em 1914, Federação Portuguesa de Box (FPB). Após o final da Grande Guerra de 1914-1918, o boxe populariza-se. Desde a sua implementação, o boxe português tem tido os seus avanços e os seus recuos, nomeadamente ao nível do número de praticantes. Se olharmos para as estatísticas da PORDATA, verifica-se que já nem se apura os praticantes desta prática desportiva desde 2009 (cf. Figura 1). Constata-se a existência de oscilações ao longo dos anos, atingindo o seu pico máximo, em 2008, com 478 praticantes.
Figura 1: Evolução dos praticantes de boxe em Portugal, de 1944 a 2009
Fonte: Estatísticas do INE, IDP, PORDATA

O desporto não é igualitário. As mulheres não acedem às mesmas actividades físicas e, no quadro da mesma prática, às mesmas modalidades de prática ou de enquadramento que os homens. No caso da Figura 2, que estipula a evolução do número de pugilistas de 1996 a 2009, verifica-se que as mulheres são minoritárias nesta modalidade viril, atingindo as 67 praticantes, em 2007. Em 2009, o número de praticantes foi de 41. Esta realidade numérica contraria a versão publicitária de que os ginásios estão “repletos” de mulheres a praticar esta modalidade.
Figura 2: Evolução do boxe em Portugal, por sexos, de 1996 a 2009
Fonte: PORDATA (1996 a 2009)"

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