Últimas indefectivações

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Um truque na manga para Braga

"Afinal, este Benfica de Bruno Lage é de carne e osso. Também tem dias menos bons, comete erros e deixa os adeptos em pânico. Antes do clássico, o meu estado de felicidade era tamanho, que eu nem sequer me incomodava com os sermões da minha mãe para fazer a cama, arrumar o quarto e não comer na sala por causa das migalhas. Depois, à medida que o jogo foi decorrendo, eu fui ganhando cada vez mais vontade de lutar pela legalização da eutanásia. Porém, ao contrário daqueles benfiquistas que após o segundo golo do FCP se levantaram em debandada, eu ali fiquei na Luz, sentado e sereno, ainda à espera de que o Benfica aparecesse em campo para o jogo. Aproveitei para consultar preços de bilhetes de avião para a Holanda, Suíça e Bélgica - onde a eutanásia é legal -, mas entretanto deu-me um clique e apercebi-me de que existem muitos mais motivos para estar animado do que destroçado. Ser do Benfica impõe esta elevada dose de esquizofrenia, onde o céu e o abismo quase se tocam e, no final, uma estranha sensação de êxtase toma conta de nós. Sábado, ao final da noite, eu não colocava de parte a possibilidade de exigir o despedimento de todos os funcionários do Clube - eventualmente o exílio de alguns deles. No domingo já me pareceu mais sensato dar-lhes outra oportunidade e, se o Benfica vencer em Braga, porque não oferecer um contrato vitalício a toda a gente?
O próximo desafio é de um grau de dificuldade muito, muito elevado. No entanto, eu acho que o Benfica vai entrar em campo com uma tremenda vantagem. As camisolas transportam há vários anos o prestigiado patrocínio da Emirates e Portugal inteiro sabe que o Sá Pinto tem uma relação bastante complicada com companhias aéreas."

Pedro Soares, in O Benfica

Força, Paulo!

"Paulo Vaz é um dos melhores funcionários do Sport Lisboa e Benfica. O Paulo exerce com mestria e dedicação exemplar o seu papel na famosa estrutura do futebol profissional, competentemente liderada pelo presidente Luís Filipe Vieira. Conjuntamente com o Luís Santos e o João Valentim, é o responsável pelos equipamentos. Para que nada falte aos nossos heróis, o Paulo, o Luís e o João trabalham de sol a sol. São sempre os primeiros a chegar e os últimos a sair. Sem eles, nada funcionaria como funciona. O profissionalismo deste trio-maravilha é conhecido e reconhecido por todos. Para o Paulo, o Luís e o João só existe uma palavra - dedicação. São eles uns dos principais responsáveis pela actual hegemonia do SL Benfica no futebol português. Os 18 títulos conquistados nos últimos 10 anos devem-se a homens como o Paulo Vaz. Herdou do seu pai, o eterno roupeiro José Luís, o gene de servir o Glorioso como poucos o fizeram. Nesta segunda-feira, o Paulo foi traído pelo destino. Recebeu a pior notícia que um pai pode receber - a sua filha partiu. A menina dos seus olhos apagou-se quando nada o fazia prever. A doce Carolina de 19 anos, era uma jovem fantástica, com um amor enorme pela vida e pelo pai. De um benfiquismo tremendo, a Carolina irrradiava alegria. O Paulo não merecia esta fatalidade. Nesta hora de tanta dor, presto a minha solidariedade a um grande ser humano e a um profissional exemplar. Não sei se o Paulo alguma vez conseguirá recuperar desta trágica situação. Mas há uma coisa que eu gostava de ver em Maio de 2020 - o 38.º Campeonato ser dedicado ao Paulo e à Carolina. Tenho a certeza de que este será mais um motivo que fará com que os nossos briosos atletas consigam oferecer a quem tanto merece o ambicionado título. E como o Paulo é um verdadeiro campeão, irá viver da mesma forma - com paixão total."

Pedro Guerra, in O Benfica

Racismo = Cartão vermelho

"O racismo é um fenómeno global indesmentível que mina os pilares das democracias e dos Estados de direito que professam a utopia humanista da igualdade da condição humana entre os diferentes. Esta visão de paz e justiça social não é apenas ética ou política, ela radica bem fundo nas principais religiões que pintam as diferentes culturas e latitudes. A erradicação do racismo é seguramente um dos imperativos da humanidade mais difíceis de concretizar porque o racismo nasce do jogo elementar da identidade e da diferença, e ganha força e aceitação social no jogo, sempre presente no devir da História, entre maiorias e minorias, dominantes e dominados. É como é e parece um fatalismo, mas a História das Civilizações demonstra bem que não existem impossíveis e que se é possível retroceder socialmente em momentos de grandes crises e convulsões na ordem mundial, como bem sabemos e assistimos, também ocorreram grandes avanços e mudanças sociais que ultrapassam sonhos e utopias de povo de outrora. A condição humana nos países desenvolvidos do mundo de hoje mostra isso mesmo quando se comparam esses países com as regiões mais deprimidas do planeta actual, ou consigo próprios séculos atrás. Os direitos humanos não são inatingíveis, mas urgentes e necessários.
A mudança demográfica e climática, combinadas nos seus efeitos nefastos, tornam incontornável, urgente e indispensável que as sociedades humanas os organizem de forma sustentável, não apenas ambiental, mas também socialmente. Isso é hoje uma verdade cada vez mais universalmente aceite, e as novas gerações não deixam que as gerações do poder ignorem este facto. É assim por toda a parte, e num futuro não muito distante e generalização e a massificação de migrações com escala continental, como a que temos já hoje às portas da Europa, terão efeitos de miscigenação tão impactantes e abrangentes, que misturarão ainda mais o caleidoscópio de culturas e cores de pele por todo o planeta. A educação e o acesso à informação oferecem pontes para esbater as diferenças no futuro em benefícios de todos, mas não chegam por si só. É preciso actuar desde já a garantir que os espaços e símbolos de pertença capazes de unir milhões se ocupam de sarar feridas e construir futuro. Entre eles, nesse jogo de gigantes onde se aposta o futuro da humanidade, também o grande jogo das paixões, que une culturas e ergue heróis sem olhar à cor da pele, esse desporto omnipresente que é o futebol, pode e deve assumir um papel fundamental na união dos povos. No campo e na vida, todos somos iguais, e o Benfica sabe bem que assim é, por isso está na linha da frente para mostrar cartão vermelho ao racismo."

Jorge Miranda, in O Benfica

93

"Esta semana foi um ver se te avias com os corifeus do desatino vergados à tontice que nem sequer sabe o que é o Benfica, nem (ainda menos!) terá a menor ideia do que seja a História do Sport Lisboa e Benfica.
Por muito que alguns se queiram fazer passar por essa condição sublime em ocasiões como esta, não foi certamente de benfiquistas autênticos que ouvimos e lemos toda a caterva de disparates que nos foi dado observar com profundo nojo e desprezo, na maior parte das catastróficas pseudo-análises que atulharam as televisões, as páginas de jornais e bastantes minutos de rádio: ainda que a surpresa ou a tristeza diante de uma adversidade inesperada os faça soçobrar temporariamente, os verdadeiros benfiquistas não se deixam abater. E são eles - como foram, de novo - os primeiros e reerguer-se, sempre com veemente indignação, perante os hipócritas que, então, costumam pregar a miséria da desunião, da dúvida e da incerteza.
A nossa equipa não jogou sozinho. E não jogou bem. Foi concludentemente derrotada perante um adversário que, desta vez, lhe foi superior. O que mais nos custou foi que tenha sido surpreendida diante de nós.
Em todo o caso, perante uma situação tão profundamente desagradável como inesperada, não nos resta senão começar de imediato a tirar partido da circunstância de termos sido confrontados com o peso dos nossos erros, equívocos e insuficiências, quando se jogava apenas a terceira jornada do campeonato. Isto é, que certamente não os voltaremos a repetir. Tanto mais que, para a definitiva questão dos pontos, a verdade objectiva é termos agora pela frente um total de noventa e três pontos para disputar com aquele rival e com todos os restantes...
Noventa e três pontos não serão coisa pouca, quando, de um momento para o outro, as nossas expectativas aumentaram fortemente e os nossos encargos se terão melhor definido na adversidade temporã. Mas noventa e três passou a ser outro número mágico para os verdadeiros benfiquistas, que jamais descrêem do Benfica.
Os benfiquistas de raiz, os benfiquistas genuínos jamais vacilarão no esforço que há de empurrar a nossa equipa de elite para a consagração da grande vitória final. Essa determinação de unidade em torno dos nossos atletas e técnicos, em todos os campos e em todas as modalidades, não se nos desvanceceu. E mais do que nunca, não lhes faltará a eles, em circunstâncias alguma.
Com os outros (ainda mais claramente isolados e que, agora, cada um de nós passou a conhecer até bem demais...) já nós não contávamos. Porque não prestam. Só servem para reforçar as ilusões dos nossos inimigos e dos nossos adversários e rivais."

José Nuno Martins, in O Benfica

Comunicado do DCIAP

"Esta comunicação do DCIAP não suscita um comentário público, um debate televisivo, uma análise especializada. Já os arrotos de Francisco Marques, ou as ameaças de Fernanda Madureira a propósito de violência no futebol, têm todo o destaque. Pois bem, melhor que uma investigação sobre doping no futebol português, só mesmo esta extensão do mandado de detenção europeu do "dragão" Rui Pinto. O Estado Português tem agora a oportunidade de investigar sem restrições a responsabilidade de Rui Pinto nos crimes cometidos contra o Benfica, contra o funcionamento da justiça e, porque não dizê-lo, contra a verdade desportiva. As formiguinhas não param... e no futebol português os carreiros costumam andar ligados..."

Liverpool nos pés de Beto

"O dia é 7 de Março de 2006 e nesta terça-feira solarenga um grupo de benfiquistas parte em viagem para acompanhar o Glorioso em mais uma jornada europeia. O plano parecia simples, sair de Lisboa em direcção a Granada para apanhar um avião que nos levaria directamente a Liverpool onde o Benfica jogaria na noite seguinte a segunda mão dos oitavos-de-final da Champions League frente ao campeão em título, Liverpool.
O caminho era longo e por isso tínhamos muito tempo para colocar a conversa em dia. Recordações de outras deslocações europeias, jogos clássicos do Benfica pelo velho continente, estórias engraçadas de camaradas de viagem… enfim, o bate papo clássico de todas as deslocações. Estes serão porventura os momentos mais alegres e descontraídos das viagens porque por esta altura ainda não sabemos se vamos a caminho de um Arsenal x Benfica de 91 ou de um Celta x Benfica, mas à medida que a hora do jogo se aproxima a ansiedade instala-se e a coisa só piora até a partida finalmente terminar. Mas para já o ambiente ainda estava calmo, mal sabíamos o que nos esperava… 

De Espanha nem bons ventos...
A viagem até Granada decorreu de forma tranquila e chegámos ao aeroporto perfeitamente dentro do prazo estabelecido. Mas algo não estava bem. À medida que íamos avançando pelo aeródromo reparámos que muitos benfiquistas tinham tido a mesma ideia que nós, mas existia alguma agitação no ar. Chegados ao local do check-in percebemos o problema: voo cancelado!
Por esta altura os ânimos já estavam muito exaltados com dezenas de benfiquistas junto ao balcão da companhia a demonstrar a sua indignação enquanto muitos mais iam chegando. Pouco tempo demorou até começarem a voar objectos. Havia uma expressão de revolta e impotência na cara de todos, o voo foi cancelado devido a uma greve dos controladores aéreos em França e não nos apresentaram alternativas que permitissem chegar a tempo de ver o jogo nessa noite.
Muitos camaradas voltaram para Lisboa, outros optaram por passar essa noite no aeroporto e rezar que existissem alternativas quando os balcões das companhias aéreas reabrissem na manhã seguinte. 
Na manhã seguinte conseguimos arranjar um voo para o Reino Unido que nos permitia chegar algumas horas antes de o jogo começar, mas teríamos de partir de Málaga e aterrar em Manchester, a cerca de 50km do destino pretendido. De repente uma viagem relativamente tranquila transformou-se numa autêntica corrida contra o tempo. Desistir não era opção, apesar de tal nos ter passado pela cabeça, e assim partimos rumo a Málaga.
O grupo onde me incluía ficou reduzido a 4 elementos, dois rapazes e duas raparigas, e durante a viagem para Málaga os telemóveis não pararam de tocar. Recebíamos mensagens de companheiros que tiveram de voltar para casa, ora por falta de fundos, porque a companhia não devolvia logo o dinheiro do cancelamento, ora porque já não existiam mais lugares nos voos que chegavam antes do jogo. Felizmente muitos conseguiram arranjar alternativas e por esta altura havia benfiquistas espalhados por todos os aeroportos do sul de Espanha. Era inevitável pensar que esta viagem começava a parecer amaldiçoada. E se em Málaga nos acontece o mesmo? – ouviu-se no carro. Pior, e se depois disto tudo chegamos lá e o Benfica perde ou é goleado?

Málaga, duas horas depois
Cidade bonita, costeira e com praias engraçadas. Se as circunstâncias fossem outras diria que seria um local a visitar posteriormente, mas a ansiedade era tanta que nem parámos para ver as vistas. Fomos directos para o aeroporto para tentar perceber o nosso destino.
Aleluia, habemus voo! Primeiro problema superado, mas o mais difícil ainda estava para chegar. As nossas reservas num hotel em Liverpool implicavam que o check-in teria de ter sido efectuado na noite anterior, pelo que já estavam perdidas. O risco de ficarmos sem local para dormir passou a ser enorme, mas uma coisa de cada vez. Se o Beto tinha conseguido marcar ao Manchester United alguns meses antes, também nós haveríamos de arranjar solução.
Não me lembro de nada do voo, o que significa que deve ter sido óptimo porque odeio andar de avião. Lembro-me sim de invejar um dos meus companheiros de viagem por ter adormecido ainda antes de o avião levantar voo. Como é possível?

Manchester, ou quase-Liverpool
De Manchester não tenho nada a dizer. Só me lembro de entrar directamente para o comboio que ia para Liverpool, uma viagem de 1h30 para fazer os cerca de 50km que separam as duas grandes cidades. Não admira que a rivalidade seja tão grande, são os dois clubes mais representativos da região norte inglesa e a distância é curtíssima. Se Everton e Man City não existissem quase que se poderia considerar o Liverpool x Man Utd um derby.

Más notícias em Liverpool
Chuva, pois claro. Depois de tudo o que já tínhamos passado só nos faltava uma recepção molhada, mas surpresa seria se assim não fosse ou não estivéssemos nós em Inglaterra. Primeiro, a boa notícia: tínhamos chegado a tempo de ver o jogo. Infelizmente, e tal como suspeitávamos, as reservas tinham ido à vida e teríamos de tentar arranjar solução depois do jogo. Adiante, a esperança era a última a morrer porque o Beto marcou ao Man Utd. Malas deixadas na gare e siga para Anfield!

Os 90 minutos
Sabem aquele misticismo todo à volta de Anfield Road, a Kop, os portões antigos? Esqueçam, o estádio é horrível por fora e feio por dentro (isto antes das obras de ampliação recentes, hoje não sei como estará). Passámos pelas traseiras da bancada Kop em direcção ao nosso sector no lado oposto do estádio e por esta altura o ambiente ainda estava muito tranquilo. Aparentemente os ingleses preferem ficar a beber nos pubs quase até à hora do jogo, prática que também adoptei há uns anos porque me permite evitar a confusão da entrada no estádio.
Ao chegar à rua paralela à nossa entrada, a primeira surpresa: um mar de benfiquistas preenchia a estrada de uma ponta à outra. Só se ouvia falar português, os equipamentos eram do vermelho com o tom correcto e o ambiente já estava a escaldar. Chega o autocarro do Benfica. Euforia total e as centenas de benfiquistas presentes cercam o veículo entoando cânticos de apoio. Parecia que estávamos na Luz! Creio que os nossos jogadores ficaram tão admirados como nós quando chegámos à rua e nos deparámos com aquele cenário, mas que dizer… é o Benfica.
Bem, estou certo que todos se lembram do que aconteceu depois. Simão e Miccoli, foi o que aconteceu (com assistência involuntária do grande Beto). Que loucura! Obviamente tínhamos esperança de um bom resultado, até porque uma derrota por 2-1 servia para passar, mas nem nos nossos melhores sonhos imaginávamos uma vitória por 0-2 no campo do campeão europeu em título. Foi um jogo de sofrimento, mas os nossos jogadores foram autênticos heróis. Nas bancadas mais uma surpresa: um apoio absolutamente estrondoso durante todo o jogo que, estou perfeitamente convencido, ajudou os nossos atletas a superar os momentos de maior pressão do adversário.
Nunca me esquecerei dos festejos do golo do Simão. Nunca. Tudo me passou pela cabeça quando o vi alçar a perna em posição frontal à baliza. Na verdade, eu já sabia o que ali vinha. Estava escrito, todas as dificuldades que passámos para chegar ali só podiam acabar numa vitória carregada de justiça poética. O cansaço, os anos de miséria benfiquista que ainda estavam bem presentes na nossa memória, tudo isso foi renegado para segundo plano. Naquela noite o Benfica voltou a ser Benfica! E poder assistir a isto ao vivo, nem sei… foi absolutamente inigualável e inolvidável.
Heróis foram também alguns benfiquistas que tinham estado em Granada e só chegaram no intervalo do jogo. Felizmente ainda tiveram direito a assistir a um golo do Miccoli em pontapé moinho para selar a eliminatória.
Despedimo-nos em êxtase dos ingleses cantando “our eagle is bigger than your bird” a plenos pulmões enquanto eles nos aplaudiam com enorme fair-play. Se arquitectonicamente o estádio é feio, é justo que se diga que em termos de ambiente e cultura futebolística dificilmente haverá igual. Enfim, foi um jogo absolutamente épico.

Acabou o jogo, e agora?
Lembram-se de ter escrito que tivemos de apanhar um voo de Málaga para Manchester porque era o único disponível? O que não vos expliquei é que o voo de regresso partia de Londres. Ou seja, teríamos de chegar à capital inglesa, a cerca de 500km de distância, a tempo de apanhar o voo de regresso na tarde seguinte.
E arranjar hotel para passar a noite? Se o Beto marcou ao Man Utd e assistiu o Miccoli neste jogo também nós nos iríamos safar, certo? Errado. Não havia uma única cama disponível em Liverpool nessa noite. Tentámos de tudo, mas aparentemente é sempre assim quando a equipa joga em casa porque a cidade é invadida pela enorme comunidade de adeptos irlandeses que fazem a viagem para apoiar o seu clube.
Vou poupar-vos os pormenores, mas fiquem a saber que passámos a noite num pub nada turístico junto à estação de comboios a convite de um cavalheiro very british que nos viu sentados, isolados, abandonados, mas com um sorriso de orelha a orelha, à porta da estação onde iríamos, pensávamos nós, apanhar o comboio no dia seguinte. As paredes gordurosas desta espécie de café destinado a taxistas e trabalhadores nocturnos eram uma homenagem aos horríveis cachecóis 50/50 comemorativos de uma qualquer final: do lado esquerdo, dezenas de adereços do Everton; do lado direito tudo Liverpool. Nada de misturas, cada um no seu canto.
Na manhã seguinte agradecemos a hospitalidade dos Srs. e demos graças a todos os deuses por nada nos ter acontecido lá dentro (os enormes ingleses olhavam-nos com um misto de desconfiança e cumplicidade, dependendo do clube que apoiavam) e partimos rumo à estação para apanhar o comboio. Mas não, claro que não. As coisas não podiam ser assim tão simples… o Benfica ganhou e alguém tinha de pagar bem caro! Aparentemente em Inglaterra o comboio é visto como um transporte de luxo e uma viagem Liverpool – Londres é mais cara do que uma passagem de avião entre Málaga e Manchester. Plano alternativo: ir de autocarro, uma solução bem mais barata apesar de mais demorada.
Da viagem de autocarro não me lembro de nada, só sei que demorou cerca de 5h e não fiquei nada nervoso porque não era um avião.

Londres e o bairro português
Chegámos umas horas antes da viagem de regresso e por isso decidimos passear um pouco pela capital inglesa e depois ir à rua portuguesa para comer um bitoque e recuperar forças. Fomos recebidos com grande simpatia num café tipicamente português, com paredes cheias de recordações da pátria e do Rei Eusébio, e pagámos quase €4 por uma cerveja Sagres ilegal (não tinham autorização para a vender e estava escondida num local especial). Foi o castigo por ter dito ao homem que “sim, era mesmo português” quando me perguntou se vínhamos de Portugal. “Eu também sou português, caraças!”. Calei-me e aprendi a lição.

Málaga – Lisboa ao som de música popular benfiquista
A viagem de avião não teve história para além de ter chegado vivo e com a dignidade intacta, mas ainda faltava uma deslocação de carro entre Málaga e Lisboa e já não dormíamos há praticamente 2 dias. Foi tudo feito com muita calma porque o importante era chegar a casa, mas ao passar por Sevilha fizemos de questão de abrir as janelas, aumentar o volume e deixar ecoar o nome do Benfica pelas ruas espanholas.

Finalmente Lisboa
Chegámos inteiros, podres de cansaço, mas muito felizes. Foi uma jornada absolutamente louca sem qualquer garantia de um bom resultado no relvado, mas não é isso que importa, certo? Importante é estar presente, representar o nosso clube e os nossos camaradas, os que estão ao nosso lado na bancada e os que não puderam fazer a viagem.
O Benfica podia ter perdido 5-0 e mesmo assim continuaria a dizer que faria tudo igual. Não sei explicar o motivo, mas deixei de tentar perceber. Hoje em dia limito-me a aceitar que é mesmo assim. É o Benfica!

Vira minhoto da UEFA

"Ontem, a Liga Europa dançou o vira minhoto, com música do SC Braga letra do V. Guimarães, e Portugal passou a ver uma luz ao fundo do túnel que têm sido estes anos de submissão ao futebol russo no ranking da UEFA. Neste particular, a proeza dos arsenalistas, frente a um rival moscovita, foi particularmente relevante, além do gosto de ver a equipa de Ricardo Sá Pinto a sentir-se como peixe na água, dando ares do SC Braga que encantou a Europa no início da década. Hoje anda à roda na UEFA e oxalá os deuses da sorte ajudem FC Porto e Sporting (pote 1), SC Braga (pote 2) e V. Guimarães (pote 4), numa demanda de pontos que poderá fazer, num futuro próximo, toda a diferença para o nosso futebol.
Quanto à Liga dos Campeões, o Benfica caiu num grupo em que as possibilidades de cada equipa são absolutamente claras: 25 por cento para cada, ou seja, tudo pode acontecer, dado o equilíbrio teórico entre os competidores. Será obrigação dos encarnados, a única obrigação, aliás, encarar a Champions com a responsabilidade de quem tem um nome a defender, deixando de ser aceitável a filosofia que desvaloriza a competição internacional em favor das provas internas.
É certo que, da exibição com o FC Porto, decorreram dúvidas quanto ao estado de prontidão da equipa de Bruno Lage para medir forças com os emblemas mais fortes da Europa. Mas a resposta essa questão nunca poderá ser dado com palavras, apenas ganhará relevância se tiver expressão no comportamento em cada 90 minutos de Liga dos Campeões.

PS - Depois de Yashin, Beckenbauer e Cannavaro, Virgil van Dijk. Histórico."

José Manuel Delgado, in A Bola

Exige-se competência

"O nosso país entrou neste ano desportivo futebolístico com cinco representantes nas competições europeias. Três teriam sempre acesso directo às fases finais, uma na Liga dos Campeões - Benfica - uma na Liga Europa - Sporting - e outra em uma das duas - FC Porto.
Exceptuando o desaire do FC Porto frente ao Krasnodar na Liga dos Campeões, que atirou os dragões para a fase de grupos da Liga Europa, este ano tem-se visto que as restantes equipas portuguesas que aspiram à fase de grupos da segunda competição de clubes mais importante da Europa têm sido competentes nessa luta por um lugar.
Primeiro, o Vitória SC, que iniciou a sua caminhada com os luxemburgueses do Jeuness Esch, venceu com relativa facilidade, com um agregado de 5x0 e eliminou a seguir os letões do Ventspils de forma ainda mais expressiva (9x0). Nesta última fase antes da fase de grupos, a equipa de Ivo Vieira defrontou o "histórico" romeno Steaua Bucareste, que embora não seja bem o Steaua, a certeza é que o FCSB (história parecida à do "nosso" Belenenses...) está a defender as cores do Campeão Europeu de 1986. Depois do empate na Roménia, o Vitória carimbou a passagem à fase de grupos da Liga Europa ontem à noite vencendo pela margem mínima. Já o SC Braga disputou menos uma eliminatória que os vimaranenses, por força do quarto lugar obtido na liga e despachou os dinamarqueses do Brondby com duas vitórias, 2x4 e 3x1. Ontem à noite confirmou a passagem à fase de grupos com uma vitoria por 1x2 na sempre difícil deslocação ao terreno do Spartak Moscovo, depois de há 8 dias ter vencido os russos em Braga por 1x0.
Assim, SC Braga e Vitória SC juntam-se a Sporting e FC Porto na fase de grupos da Liga Europa. 
Penso que será esta a primeira vez que Portugal tem todos os representantes nas fase de grupos das competições europeias e isso, por si só, deve-nos orgulhar de o nosso país estar a desenvolver equipas competitivas na Europa do futebol. Este facto vai ajudar, com certeza, a recuperar um lugar no ranking UEFA, fazendo com que o nosso país obtenha mais um lugar na Liga dos Campeões e na Liga Europa na temporada 2021/22.
Obviamente que tudo isto tem um custo com quatro equipas na Liga Europa. Algo que tem sido bastante criticado nos últimos anos são os jogos à segunda feira e o que é certo é que isso vai acabar por acontecer esta temporada. A Liga terá de ter um papel proactivo neste assunto e ser sensível a adiamentos de jogos, terá que gerir muito bem toda esta situação, a bem destas equipas para não serem prejudicadas nas competições nacionais e europeias.
Analisando os sorteios e começando pelo campeão nacional, o Benfica terá um grupo extremamente equilibrado. Apesar de ter saído em sorte a equipa do pote 1 teoricamente mais fraca, o Zenit, a verdade é que Lyon e Leipzig não são "pêras doces" e podem muito bem dar dores de cabeça a Bruno Lage e companhia.
Na Liga Europa, o Sporting é claramente favorito, a par do PSV, para passar à fase seguinte, embora Rosenborg e principalmente o LASK Linz possam ter uma palavra a dizer. O Vitória SC terá uma tarefa hercúlea ao defrontar Arsenal, Eintracht Frankfurt e Standard Liège. Não será fácil aos comandados de Ivo Vieira a passagem aos 16 avos de final. O FC Porto é o claro favorito do grupo, mas terá três ossos duros de roer. Dois históricos, Feyenoord e Rangers e o bicampeão suíço Young Boys. Por fim, o SC Braga terá aspirações a passar à fase seguinte. É claramente superior ao Slovan Bratislava, apanha um Besiktas em claras dificuldades financeiras e desportivas e uma equipa que poderá chegar muito longe nesta competição, o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo.
O que se pede a todos estes representantes portugueses é que sejam competitivos e competentes. Obrigatoriamente, Benfica, FC Porto e Sporting devem passar à fase seguinte, esperando que Braga e Vitória o façam também."

Da janela do meu quarto em Porbandar

"Em Porbandar o futebol não existe. Alguns gostam de espreitar pela televisão o campeonato inglês. Há t-shirts com a cara do Ronaldo à venda nas lojas de quinquilharias. Na rua, as paredes das casas estalavam ao sol. De vez em quando, a Índia chama-me. E eu vou, obediente e deslumbrado.

O meu quarto, em Porbandar, era em esquina. Tinha janelas enormes, frente a frente, e quando o vento soprava com força, vindo do mar, as cortinas enfunavam-se como as velas das caravelas do Gama e um ruído de ondas ribombava por todo o edifício até às fundações. As rajadas eram quentes, parecia que tinham passado por uma selva de labaredas antes de entrarem pelas vidraças escancaradas, e eu espreitava a massa de água castanha, de horizonte a horizonte, para lá de Kuchhadi, a norte, e Odadar, a sul.
Porbandar é a terra do meu querido amigo Nilesh e fui lá, a primeira vez, por causa dele. Também é a terra de Gandhi. Uma vez, num gag de perfeito nonsense, Herman José explicou-nos com uma vareta na mão que nem todos podem ser o Gandhi. O Gandhi aguentava todas as provocações, todas as chibatadas, e mantinha-se impassivelmente Gandhi. O Nilesh explica-nos, todos os dias, que ninguém pode ser o Nilesh senão o próprio. Talvez por causa do seu impossível sorriso de menino eterno.
O Nilesh adora críquete, como qualquer indiano que se preze, e não precisava, para isso, de ter nascido especificamente em Porbandar, no Gujarate ao qual os antigos chamavam de Guzerate. Mas também gosta de futebol e do Sporting. O Gandhi não gostava de desporto. Preferia manifestações de outro género. O Gandhi de Porbandar, Mohandas Karamchand, antes de ser Mahatma. Porque há um Gandhi de Goiânia, no Brasil, que não só gosta de futebol como é profissional, joga no meio-campo, como convém a um Gandhi, pensando o jogo, e de nome completo Mahatma Gandhi Heberpio Mattos Pires. Ainda consigo perceber que um pai baptize o filho como Mahatma Gandhi. Agora o Heberpio já não me parece fazer o mínimo sentido.
O Gandhi, de Porbandar, cidade dos sóis enormes para os quais é impossível olhar de frente, no tempo em que vivia na África do Sul, em Durban, a maior cidade indiana longe da Índia, percebeu rapidamente que o futebol podia ser uma arma temível de apoio à sua atitude de não-violência contra o apartheid. Assim, de forma mais banal, diria que começou a ir à bola. E a entreter-se com os encontros renhidos levados a cabo pelos membros da comunidade indiana de Durban. O seu espírito organizativo e empreendedor não tardou a servir para fundar três clubes: um em Durban, claro, outro em Joanesburgo e, finalmente, o terceiro, logo ali ao lado, em Pretória.
A Índia chama-me e eu vou. Todos os anos, há tantos tantos anos, às vezes duas ou três vezes por ano, sempre em regresso que terá regressos atrás de regressos até ao fim de mim. Há nela uma espécie de abraço largo de mãe, mesmo quando me perco na podridão dos subúrbios das cidades gigantes, bairros em decomposição, gente infectada, animais podres, fogo e fumo, o amarelo incoerente de paredes pintadas com anúncios de detergentes, cães enlouquecidos de cio ladrando a porcos negros e, de repente, flores perfumadas de incenso na beira dos passeios. Índia. Não resisto ao seu chamado.
Gandhi também não. E voltou. Para levar consigo a Liberdade à Meia Noite. Na África do Sul, os clubes por ele fundados tinham todos o mesmo nome: Passive Resisters. Tão passivos que se recusavam a fazer parte das estruturas do futebol local, até das estruturas montadas especificamente para os não-boers, mantendo-os à distância, sempre à distância. Os Resisters de Durban, de Joanesburgo e de Pretória só disputavam jogos amigáveis. Absolutamente não-violentos. As verbas recolhidas pela venda de bilhetes eram destinadas aos prisioneiros políticos do apartheid e suas famílias. Gandhi sendo absolutamente Gandhi.
Em 1893, Gandhi chegava a Port Natal, Durban, como advogado da firma Dada Abdullah & Company. Em 1914, a Índia reclamou-o de volta. Sem ele, os Resisters foram-se dissolvendo em questiúnculas internas. Não, nem todos podem ser Gandhi. E a Índia nunca gostou muito de futebol, sempre preferiu o críquete. No seu caminho para se transformar na Grande Alma, Gandhi deixou o futebol para trás. Vendo bem, só se aproximara do jogo no momento em que sentiu que tinha nele uma alavanca política com a qual combater o segregacionismo sul-africano. Foi visto num estádio em 1922, para receber a visita do Christopher’s Contingent, um clube de Durban composto maioritariamente por indianos e patrocinado pelo seu amigo Albert Christopher, o homem que esteve a seu lado na greve dos trabalhadores que abalou as estruturas do regime branco.
Em Porbandar o futebol não existe. Alguns gostam de espreitar pela televisão o campeonato inglês. Há t-shirts com a cara do Ronaldo à venda nas lojas de quinquilharias. Na rua, as paredes das casas estalavam ao sol. As mulheres embrulhavam chappatis em pedaços de jornal, os homens do chá caminhavam a custo de samovar às costas, as vacas tinham ternura nos olhos de veludo. De vez em quando, a Índia chama-me. E eu vou, obediente e deslumbrado."

Andebol 2019/2020 - Antevisão

"A equipa de andebol do Sport Lisboa e Benfica também irá iniciar a sua época oficial no próximo fim-de-semana. No sábado dia 31 de Agosto, a época 2019/2020 do Benfica irá ter início., com a equipa encarnada a deslocar-se ao reduto do ADA Maia/ISMAI.
Depois de uma época que foi um fracasso em todos os aspectos, a maioria das alterações no plantel tornaram-se públicas ainda antes do final da época anterior. A saída de Alexandre Cavalcanti para o Nantes foi anunciada ainda em 2018. O lateral-esquerdo de 22 anos dará assim o salto para um clube de topo onde poderá atingir o seu potencial máximo.
No último jogo da época em casa, foram anunciadas as restantes saídas do plantel: Hugo Figueira rumou ao Luxemburgo, Stefan Terzic partiu para a Roménia e Arthur Patrianova regressou a Espanha. Os brasileiros João da Silva e Ales Silva também receberam guia de marcha.
Para além destas saídas, houve ainda uma série de empréstimos a clubes do Andebol 1, fruto da extinção da equipa B que competia na 2ª divisão. Só o Belenenses recebeu seis jogadores emprestados pelo Benfica: Diogo Valério (guarda-redes), André Alves (ponta-direita), Gonçalo Nogueira (lateral-direito), Pedro Santana (lateral-esquerdo), Tiago Ferro (ponta-esquerda) e Pedro Loureiro (pivot). O ponta-esquerdo Pedro Côrte-Real e o pivot Valter Soares foram emprestados ao Boa-Hora FC. E o guarda-redes Tiago Silva, o lateral-direito Joaquim Nazaré e o lateral-esquerdo Tiago Costa foram emprestados ao Vitória FC, clube que foi promovido à 1ª divisão após a exclusão do CCR Fermentões devido a questões financeiras.
A primeira aquisição a ser anunciada foi a do internacional dinamarquês René Toft-Hansen. O pivot de 34 anos chegou oriundo dos húngaros do Veszprem, clube onde se sagrou vice-campeão europeu, tendo ainda conquistado o título mundial pelo seu país este ano, competição na qual contraiu uma lesão grave da qual recuperou no resto da época.
Mais tarde, foi anunciada a contratação de Carlos Molina aos alemães do Madeburg, lateral internacional espanhol que chega referenciado como um especialista defensivo. Pouco depois seria anunciado o sérvio Petar Djordjic. O lateral-esquerdo de 28 anos chega dos bielorussos do Meshkov Brest, destacando-se pelo seu poderoso remate. O clube ainda anunciou os regressos do guarda-redes Gustavo Capdeville e do central Francisco Pereira, que estiveram emprestados ao Madeira SAD na última época. Destaque ainda para a presença do Primeira Linha Daniel Neves e do lateral-direito Guilherme Tavares para integrar os trabalhos da equipa principal.
Por último, seria ainda anunciada a contratação do central internacional angolano Romé Hebo. Esta contratação surge no âmbito de um protocolo estabelecido com o 1º de Agosto, que envolve a transferência de jogadores angolanos para o Benfica, e a ida de treinadores do Benfica para Angola para formar os treinadores do clube. Acredito que esta parceria vai ser muito benéfica para o clube, visto que permitirá trazer jogadores angolanos de qualidade, à imagem do que o FC Porto faz com os atletas cubanos.
Quanto ao FC Porto, depois de uma época em que superou as expectativas, teve um Verão bastante tranquilo, mantendo-se praticamente inactivo no mercado. As únicas mexidas no plantel foram a saída do cabo-verdiano Leandro Semedo, que rumou à Liga Asobal, e o regresso do lateral-esquerdo Rúben Ribeiro após empréstimo ao AA Avanca.
Já o Sporting CP, depois de ter falhado a conquista do Tricampeonato, optou por mudar de treinador, com Hugo Canela a ser substituído pelo francês Thierry Anti, ex-treinador do HBC Nantes. No plantel, também houve poucas alterações de relevo. Saíram os veteranos Pedro Solha, Cláudio Pedroso e Bosko Bjelanovic, e ainda o ponta-direita brasileiro Fábio Chiuffa. Foram contratados para a primeira linha o jovem português Gonçalo Vieira e o sérvio Nemanja Mladenovic. Regressou ainda o ponta-direita Francisco Tavares, após empréstimo ao Boa-Hora FC.
Nesta temporada, também o Benfica irá competir na Taça EHF, que os próprios já assumiram que é um objectivo chegar longe na competição. Ao contrário do que se verificou nas épocas anteriores, nesta época o terceiro classificado do Andebol 1 entra directamente para a segunda ronda da competição. As boas prestações dos clubes portugueses nas competições europeias nos últimos anos valeram a Portugal a subida para o oitavo lugar no ranking da EHF, que garante a entrada de dois clubes portugueses na Champions mais um para a 2ª ronda da Taça EHF.
Na minha opinião, partimos para esta época ainda um passo atrás dos rivais. Enquanto o Benfica mudou grande parte da sua espinha dorsal estrangeira, tanto o Sporting como o FC Porto têm equipas feitas, mais rotinadas e experimentadas, sendo que no caso do rival lisboeta, o treinador Thierry Anti poderá introduzir ideias novas na equipa, mais a altura da qualidade individual do plantel.
Do lado do Benfica, a forma como os reforços se irão integrar é que irá ditar se seremos reais candidatos ao título. Neste início da época, a equipa já sofreu um duro revés, quando um clube emitiu uma nota oficial no seu site sobre a lesão de Belone Moreira. O lateral-direito internacional português fracturou o antebraço no Torneio de Estrasburgo e apesar do clube não ter avançado pormenores quanto ao tempo de paragem, presume-se que a recuperação seja longa. Caso tal situação se confirme, o clube deveria ir ao mercado procurar alguém para a posição, de preferência, de alguém que sobressaia na defesa, visto que Kévynn Nyokas é um lateral-direito que só ataca.
O processo defensivo sempre foi uma das imagens de marca de Carlos Resende enquanto treinador. No entanto, esse foi um aspecto de jogo em que a equipa apresentou um grande declínio na última época. A meu ver, esse declínio pode ter-se devido a dois motivos: primeiro, devido à falta de profundidade do plantel causada pelas lesões, que resulta num maior desgaste dos jogadores mais utilizados; e segundo, o facto do plantel saber dos jogadores que iam sair ainda durante a época pode ter causado um impacto negativo no balneário, que viria a resultar em momentos de falta de concentração, de empenho ou de motivação.
Como tal, o processo defensivo é o aspecto de jogo no qual a equipa vai ter de mostrar mais progressos, principalmente nos jogos de maior nível. Sendo que este é um aspecto em que os reforços René Toft-Hansen e Carlos Molina poderão ter um papel influente, mas para o qual precisarão de tempo para se integrarem e se entrosar na equipa.
Já no ataque, o reforço Petar Djordjic já tem começado a mostrar o que vale. Um jogador com este nível irá fazer muitos estragos nos pavilhões nacionais. Por outro lado, espera-se que Kévynn Nyokas tenha um rendimento mais consistente, aproximando-se do nível que mostrou antes do calvário de lesões.
Em suma, esta será a época do tudo ou nada para Carlos Resende. E espero que no final da época as coisas corram de feição e que haja razões para sorrir.
Plantel 2019/2020:
Nº 3 - Davide Carvalho
Nº 7 - Pedro Seabra
Nº 8 - João Pais
Nº 9 - René Toft-Hansen
Nº 10 - Kévynn Nyokas
Nº 11 - Belone Moreira
Nº 12 - Miguel Espinha
Nº 13 - Paulo Moreno (capitão)
Nº 14 - Ricardo Pesqueira
Nº 16 - Borko Ristovski
Nº 17 - Guilherme Tavares
Nº 18 - Carlos Molina
Nº 19 - Carlos Martins
Nº 22 - Nuno Grilo
Nº 34 - Fábio Vidrago
Nº 41 - Gustavo Capdeville
Nº 44 - Petar Djordjic
Nº 50 - Francisco Pereira
Nº 55 - Daniel Neves
Nº ? - Romé Hebo"

Desporto global

"A globalização económica ajudou a alterar, nas últimas décadas, uma realidade que esteve estável durante muito tempo. O desporto tem vindo a ganhar cada vez mais importância na sociedade global. Hoje, em praticamente todos os locais do globo, temos notícias sobre as actividades desportivas locais, quando só eram referidos os acontecimentos de maior dimensão.
Claro que esta alteração, fruto de uma sociedade de informação, comunicação e imagem, também provoca outro tipo de problemas, nomeadamente uma dimensão superior de qualquer conflito. A resolução, ou a minimização, desses mesmos problemas tornou-se um dos grandes desafios das estruturas responsáveis pela gestão e direcção do desporto. O desporto tem que continuar a ser uma escola de valores. A sua dimensão global não pode ser utilizada para adulterar os princípios básicos que regem esta grande escola de vida.
Por outro lado, torna-se fundamental criar condições para que todos tenham oportunidades de potenciar as suas capacidades. Cada um decide qual o processo que entende mais adequado, a forma como o implementa, o modelo que pretende. Contudo, é necessário que quem dirige ajude a criar condições para o sucesso.
Nenhum de nós sabe onde nasceu, ou vai nascer, o próximo, ou próxima, praticante de nível elevado de uma qualquer modalidade. Mas todos sabemos que só com condições podemos potenciar o talento, aumentar o nível de praticantes, colocar um número maior de cidadãos a ter actividade física. Os nossos indicadores são baixos, têm que ser melhorados. Um desafio para todos nós, com responsabilidades na gestão de modalidades desportivas."

José Couceiro, in A Bola

Lebres desportivas (1)

"O que tinha de correr mal com o desporto aconteceu. Não existe uma visão, nem um programa e impera a dispersão de que tudo é possível.

No Expresso de 10 de Agosto de 2019 Jorge Calado fala da situação da Cultura referindo ‘Como no poema de Pessoa, “Tudo é incerto e derradeiro./ Tudo é disperso, nada é inteiro”’. O estado descrito por Jorge Calado sobre a Cultura é equivalente ao do Desporto, o que realça como os limites críticos são transversais aos sectores sociais e económicos e, ao citar os versos de Fernando Pessoa, diagnostica uma situação crónica que a actual legislatura cumpriu, mais uma vez. Fernando Pessoa e António Calado terminam exclamando que “É a hora!”.

I
Esta foi uma legislatura desportiva triste porque foi nula do ponto de vista da política pública. O desporto tinha uma expectativa real de reforma e ansiava por uma transformação do velho Modelo de Desporto Português que condiciona a produção desportiva dos clubes, associações e federações. O anseio encontra-se na publicação em 2016 pela Federação Portuguesa de Ginástica do livro sobre o Desenvolvimento do Desporto: Gestão, Economia, Regulação, e, em 2017, na concepção pelas federações do projecto Plataforma do Desporto Federado.
O Governo ignorou a expectativa dos clubes, associações e federações e no início da legislatura pôs a circular que não iria governar o desporto porque a geringonça podia cair no dia seguinte. Este tipo de inverdades é recorrente no início das legislaturas à esquerda. O seu objectivo é deixar para o fim a pseudopolítica desportiva com que pretende ganhar as eleições seguintes. O ministério da Presidência e o das Finanças mostraram que não se preocupavam com a saúde da geringonça e tinham ideias consolidadas sobre o Simplex redutor e acerca da austeridade inclemente. O medo da geringonça acabar, podendo ter sido real, foi a mentira habitual para nada fazer no desporto durante os 4 anos seguintes.
O velho Modelo de Desporto Português, que está em vigor, não promove instituições públicas competentes, nem a existência de um líder desportivo reconhecido a nível nacional. O que tinha de correr mal com o desporto aconteceu. Não existe uma visão, nem um programa e impera a dispersão de que tudo é possível. Para suportar o nada fazer da legislatura, o desporto distraiu-se com encenações promovidas na comunicação social.

II
Uma entrevista do primeiro-ministro ao canal televisivo do futebol, em 6 Agosto de 2019, aqui, mostrou o desejo de passar a mensagem de uma legislatura de sucesso no desporto.
Os assuntos abordados foram: a violência das claques e o Benfica, a prática desportiva dos portugueses, a candidatura de Portugal e Espanha à organização do Mundial de Futebol em 2024, a viciação de resultados desportivos e a popularidade da selecção de futebol de mulheres. Observam-se duas preocupações principais de política: a jurisdicionalização através das novas leis que tudo vão resolver em relação à violência das claques, sobre os protestos do Benfica e no combate à fraude dos resultados desportivos; e, a indicação da importância da educação, transporte, turismo, ambiente e saúde na actividade física da população contrapondo que o desporto não é uma actividade física normal.
A jurisdicionalização crescente da política pública é a arma dos governos, que os líderes desportivos aceitam pacificamente. A desconsideração da produção de desporto e do associativismo desportivo como sector nacional tem sido feita pela valorização de outros sectores como o entrevistado profere quando valoriza a educação, transporte, turismo, ambiente e saúde na actividade física, sem os graduar face ao desporto.
Por fim, parece confundir os campeonatos e o conceito universal de desporto enquanto sector formador de mulheres e homens. Questionado sobre a possibilidade da selecção feminina arrastar multidões como a masculina, diz que o importante é o futebol, não é o género. Nenhum líder desportivo lhe terá dito que em Portugal a desigualdade da prática entre homens e mulheres é das maiores a nível europeu. Caso o tivessem dito, o momento jornalístico seria aproveitado para enaltecer o crescimento da prática desportiva das mulheres devido às suas políticas públicas. Naturalmente, não havendo uma política desportiva na legislatura, alicerçada numa ambição e num programa a vários ciclos legislativos e olímpicos, as respostas de senso comum seguiram as perguntas sem as dominar e criar a empatia para os seus programas desportivos, o pretérito e o novo.
Observa-se que o entrevistado foi um homem-só, ele mesmo à flor-da-pele. A sua maior dificuldade esteve no deserto de matérias fundamentais de política desportiva que não se criam no último dia da legislatura e que são maturadas durante os ciclos legislativos como se observa nos países europeus com os melhores indicadores desportivos.

III
A pergunta a fazer é a de saber que parte da responsabilidade do que acontece no desporto cabe aos primeiros-ministros portugueses?
A cultura de política desportiva dos primeiros-ministros portugueses é por norma exígua, tapando a crise do sector com o imediato da comunicação social.
A responsabilidade cabe aos líderes associativos do desporto. Sem uma estrutura de liderança ambiciosa que assuma um novo Modelo de Desporto Português, o sector soçobra e a comunicação das suas políticas pelos primeiros-ministros é banal, falhando a coerência pública, roçando inverdades que a comunicação social credibiliza. Não é assim que se cria uma população desportivamente activa, nem é assim que a juventude se torna campeã para a vida.
Cabe aos dirigentes federados elevarem a política pública desportiva que depois é proclamada pelos responsáveis nos mais altos cargos da nação acerca da qualidade da prática desportiva da população e para a excelência dos grandes atletas nacionais. O fracasso dos líderes federados é o que explica os escândalos que surpreendem um alto magistrado da Nação, como o fenómeno do match-fixing referido na entrevista.
Pela perspectiva horizontal que tem do país sobre os sectores da actividade, todo o primeiro-ministro está ciente da condicionalidade de certos líderes desportivos. Todos sabem, que todos sabem, que o valor das políticas desportivas sendo aparente é a regra do jogo que deve ser jogada. Há muito que o desporto não goza de políticas públicas coerentes com as necessidades dos clubes, associações e federações. As políticas públicas desportivas tornaram-se lebres falsas (2), seja na sua feição jurisdicional, seja na manutenção das coisas do costume.
A população e os mais altos cargos nacionais necessitam de líderes desportivos visionários, competentes e corajosos. Para as federações, associações e clubes desportivos “É a hora!”.
(1) A lebre desportiva é o atleta que logo de início corre à frente de todos os outros. Vai aumentar a velocidade de todos os que acompanhem o seu ritmo. A lebre vai ficar extenuada e sair, quando os restantes se posicionarem para o recorde. A lebre é paga para correr parte da corrida, para aumentar o valor do espectáculo e a derrota está implícita no seu contrato.
(2) Há estratégias de marketing em que a qualidade do produto não corresponde à imagem projectada. Este marketing é uma falsa lebre lançado aos consumidores que os reguladores económicos condenam por extraírem um valor excessivo acerca da qualidade do produto transaccionado."

Ambição Europeia

"Ditou o sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões que o Benfica faça parte do grupo que é considerado, pela generalidade dos analistas, o mais equilibrado da presente edição da prova. O objectivo, como não poderia deixar de ser, passa por lutar pela vitória em todos os jogos e, assim, amealhar o máximo de pontos possível de forma a garantir o apuramento para os oitavos de final da prova.
A primeira partida será já no dia 17 de Setembro, na Luz, às 20 horas, frente ao Leipzig. Os alemães contam, esta época, com duas vitórias nas duas primeiras jornadas da Bundesliga e garantiram o apuramento direto para a Liga dos Campeões ao classificar-se na terceira posição do campeonato alemão na época passada. Liderado por Julian Nagelsmann, o treinador mais jovem de sempre da Bundesliga e que levou o Hoffenheim à principal competição europeia, conta com vários jogadores bem cotados, entre os quais se destacam Timo Werner, Ibrahima Konaté e Yussuf Poulsen. Benfica e Leipzig nunca se defrontaram em competições oficiais.
Seguir-se-á o já bem conhecido Zenit na segunda jornada. Nas últimas oito temporadas, defrontámos o clube russo em seis ocasiões, todas na Liga dos Campeões. Se, na fase de grupos em 2013/14, não fomos felizes, com duas derrotas, em 2011/12 e 2015/16 conseguimos o apuramento para os quartos de final. Malcom, Azmoun, Barrios e Dzyuba são os nomes mais sonantes.
Finalmente o Lyon que, na temporada passada, alcançou o apuramento para os oitavos de final da prova e teve, no início do milénio, o seu período de maior fulgor ao sagrar-se heptacampeão francês. Memphis Depay, Houssem Aouar, Moussa Dembelé e o guarda-redes da nossa Selecção Anthony Lopes são, talvez, os jogadores com maior cartel na equipa francesa. Ficou na memória o embate, na Luz, em 2011/12, com a vitória por 4-3 para a nossa equipa.
Em suma, esperam-se jogos muito difíceis como, aliás, já era expectável na competição em que marcam presença as melhores equipas da Europa e, por conseguinte, do futebol mundial. A nossa equipa procurará a melhor participação possível e nós cá estaremos para apoiá-la.
Relativamente à Liga Europa, compete-nos salientar e dar os parabéns a Braga e V. Guimarães pelo apuramento para a fase de grupos da prova, na qual serão acompanhados por FC Porto e Sporting. Os triunfos de ambos os clubes do Minho e subsequente apuramento são importantes para o futebol português, nomeadamente pelo significativo contributo para melhorar o posicionamento português no ranking da UEFA, em que discute palmo a palmo com a Rússia a possibilidade de contar com a participação de três equipas na Liga dos Campeões.
E, por falar em Braga, indiscutivelmente um candidato ao título, é o adversário que se segue no Campeonato Nacional. O jogo será realizado no domingo, às 21 horas, em Braga.
Naquela que é tida como uma das deslocações mais difíceis do campeonato, a nossa equipa procurará obter os três pontos ante uma equipa que tem deixado bem patenteada, desde o início da temporada, a sua qualidade. O forte apoio dos Benfiquistas que consigam marcar presença no estádio será fundamental para que a nossa equipa regresse a casa vitoriosa.

P.S.: A aposta de longa data no Benfica Olímpico continua caracterizada pela sua vitalidade e pela qualidade dos atletas que integram este projecto. Tóquio 2020 é, neste momento, o objectivo supremo. As duas medalhas de bronze conquistadas por Fernando Pimenta, na canoagem, e a medalha de prata garantida por Bárbara Timo, no judo, em Campeonatos Mundiais destas modalidades realizados recentemente, enchem-nos de orgulho e redobram o nosso optimismo quanto à participação de atletas do Benfica no principal certame do desporto mundial a realizar no próximo ano."

Fácil, não é. Difícil, também não parece ser. Mas é muito complicado

"Não sendo o pior grupo que podia calhar ao Benfica (no pote 1 evitou equipas muito superiores ao Zenit), este Grupo G está longe de ser um grupo fácil. São três equipas com qualidade, e principalmente, com qualidade individual bastante superior aquela que o Benfica enfrenta em quase todos os jogos do campeonato português. Só um Benfica ao seu melhor nível, tanto ofensivamente como defensivamente, poderá qualificar-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões.

Zenit
Treinador: Sergey Semak
Sistema de jogo: 4x4x2 ou 4x2x3x1
Não sendo uma equipa particularmente criativa a nível ofensivo, o Zenit gosta de construir de forma apoiada desde trás, utilizando em muitos momentos uma saída a três, com um dos médios (preferencialmente é Wilmar Barrios) a baixar para o meio dos centrais (Ivanovic e Rakitskiy). É precisamente por Rakitskiy que o Zenit consegue chegar ao meio campo ofensivo com mais qualidade, uma vez que o central ucraniano é muitíssimo competente no passe vertical.
No meio campo ofensivo, os dois médios (Wilmar Barrios e Ozdoev) aparecem muitas vezes lado a lado, posicionados em cobertura, fora do bloco defensivo adversário. Os médios-ala (Driussi e Malcom deverão ser os titulares quando recuperarem de lesão), tanto aparecem no corredor central (espaço entre defesas e médios adversários), como nos corredores laterais para combinar com os respetivos defesas laterais.
O conjunto russo, tem demonstrado neste início de época ser uma equipa muito perigosa quando explora o jogo exterior, procurando muitas vezes servir a dupla de avançados (Azmoun e Dzyuba são ambos muito agressivos em zonas de finalização) através de cruzamentos.
A nível defensivo, o Zenit de Sergei Semak organiza-se preferencialmente em 4x4x2, num bloco médio. Apesar de apenas terem sofrido três golos nas sete jornadas já disputadas, têm demonstrado alguma dificuldade em manter o seu bloco defensivo compacto, permitindo em vários momentos que o adversário entre no espaço entre linhas com relativa facilidade.
Também no controlo de cruzamentos tem apresentado algumas lacunas, concedendo muito espaço entre os três jogadores (centrais e lateral do lado oposto) que defendem a baliza. 
Principais figuras
Yaroslav Rakitskiy (30 anos)
O central ucraniano é fundamental na primeira fase de construção do Zenit. Destaca-se pela qualidade com que liga o processo ofensivo através do passe vertical, muitas vezes feito logo para o espaço entre a linha defensiva e a linha média adversária. Com a saída a três aparece muitas vezes descaído para o lado esquerdo.
Malcom (22 anos)
O extremo brasileiro - contratado esta época ao Barcelona - ainda só disputou 64 minutos com a camisola do Zenit (neste momento encontra-se lesionado) mas tem tudo para ser uma das principais figuras da presente época. A sua velocidade e capacidade no 1x1 ofensivo serão certamente uma dor de cabeça para os defesas laterais adversários.
Sebastián Driussi (23 anos)
O extremo argentino é um dos principais desequilibradores do ataque do Zenit. Muito forte em condução e com muita qualidade técnica, Driussi oferece criatividade ao processo ofensivo, tanto pelos corredores laterais, como quando aparece no espaço entre linhas do adversário.
Sardar Azmoun (24 anos)
O avançado internacional iraniano tem sido um dos destaques deste arranque de época, contando já com 4 golos nos oito jogos disputados. Além do que oferece em zonas de finalização, onde é muito competente tanto com os pés como com a cabeça, Azmoun é também um avançado que participa na fase de criação, aparecendo muitas vezes no espaço entre linhas do adversário.

Lyon
Treinador: Sylvinho
Sistema de jogo: 4x3x3
O conjunto francês é ainda uma equipa em construção, uma vez que mudou de treinador e perdeu alguns jogadores muito importantes, como Fékir e N’Dombélé. Até ao momento, a imagem que o Lyon tem deixado é a de uma equipa que procura jogar um futebol apoiado e paciente desde zonas recuadas (construção entre defesas e médios), mas que também gosta de acelera em direção à baliza adversária, principalmente quando a bola chega ao trio da frente composto por Traoré, Dembélé e Depay.
Na fase de construção, é muito comum vermos os laterais (Dubois e Koné) na mesma linha dos centrais (Andersen e Denayer). O médio defensivo (Tousart) posiciona-se atrás da primeira linha de pressão adversária, enquanto os interiores (Thiago Mendes e Aouar) aparecem mais subidos, muitas vezes no espaço entre os médios e os defesas adversários, mas sempre a apoiarem os respetivos extremos.
Traoré, mais encostado ao corredor lateral direito, e Depay, que partindo da esquerda aparece muitas vezes no corredor central, são os principais desequilibradores, e procuram muitas vezes servir os movimentos de rotura de Dembélé, que é um avançado muito forte a explorar a profundidade.
A nível defensivo, o Lyon tem-se organizado em 4x1x4x1 num bloco médio. A principal lacuna diz respeito ao espaço que concedem entre os médios interiores e a linha defensiva, espaço esse que muitas vezes é demasiado grande para ser ocupado apenas pelo médio defensivo Tousart.
Principais figuras
Thiago Mendes (27 anos)
Depois de duas épocas ao serviço do Lille, o médio brasileiro transferiu-se para o Lyon e tem sido titular absoluto neste início de época. Destaca-se pela qualidade técnica com que executa e pelo critério com que decide, sendo também um médio com muita visão de jogo. Já leva 3 assistência nas três primeiras jornadas da liga francesa.
Houssem Aouar (21 anos)
O médio francês é um dos jogadores com mais qualidade e potencial do plantel do Lyon. Qualidade técnica, critério, criatividade, não há nada que falte a Aouar, e por isso, seja em zonas de construção seja já na criação, é um dos jogadores com mais recursos individuais para desequilibrar a organização defensiva adversária.
Memphis Depay (25 anos)
O internacional holandês é uma dor de cabeça para qualquer defesa adversária. Seja em ataque posicional ou em transições rápidas, Depay é sinónimo de velocidade, qualidade técnica e irreverência. Esta época, em apenas três jornadas, já leva 3 golos marcados e três assistências realizadas.
Moussa Dembélé (23 anos)
Avançado tremendamente difícil de parar. Fortíssimo nos duelos ofensivos, muito rápido, capaz de explorar a profundidade e muito forte tecnicamente, Dembélé é uma seta apontada às balizadas adversárias. O ano passado, na sua época de estreia no Lyon, fez 20 golos, e está época já leva 3 golos em três jogos realizados.

RB LEipzig
Treinador: Julian Nagelsmann
Sistema de jogo: 3x4x2x1
Apesar de estarem apenas duas jornadas disputadas, e de esta ser a primeira época de Nagelsmann ao serviço do RB Leipzig, já é possível identificar perfeitamente a ideia de jogo e as dinâmicas que caracterizam as equipas do jovem treinador alemão.
Uma ideia de jogo cujo objectivo principal é chegar em condições vantajosas ao espaço entre a linha defensiva e a linha média adversária.
Na primeira fase de construção, os três centrais (Konaté, Mukiele e Orban) posicionam-se bem abertos, permitindo aos dois alas (Klostermann e Halstenberg) projetarem-se mais. Os dois médios (Kampl e Demme) movimenta-se muito nas costas da primeira linha de pressão adversária, enquanto Werner e Sabitzer percorrem o espaço entre os defesas e médios adversários, com a intenção de receber a bola e enquadrar em direcção à baliza adversária. Poulsen surge como a referência ofensiva, demonstrando muita capacidade para jogar de costas para a baliza.
Dentro das dinâmicas, destaque para a forma como o RB Leipzig procura sempre variabilidade de movimentos, ou seja, uns baixam para ser apoio e outros pedem a bola em rotura, e para a capacidade que demonstram para variar o centro de jogo, explorando o posicionamento bem aberto dos alas.
A nível defensivo, o RB Leipzig procura quase sempre condicionar a construção adversária logo numa fase inicial, mas tem revelado alguma dificuldade nesse momento do jogo. Com Poulsen e Werner no corredor central, e com uma linha defensiva composta por cinco elementos, os médios são muitas vezes obrigados a descolarem-se para os corredores laterais, o que cria espaço em zonas interiores.
Principais figuras
Ibrahima Konaté (20 anos)
Sendo o RB Leipzig uma equipa que gosta de sair a jogar de forma apoiada, ter um central como Konaté é fundamental. O jovem francês, apesar de ser bastante alto (1.93), é um central muito rápido e muito evoluído tecnicamente, destacando-se pela maneira como sai em condução e pela qualidade no passe vertical.
Marcel Sabitzer (25 anos)
O extremo/médio ofensivo austríaco, tem sido uma das principais figuras deste início de época do RB Leipzig, levando já 3 golos marcados e 3 assistências realizadas em apenas três jogos. Destaca-se pela qualidade de passe, visão de jogo e capacidade em zonas de finalização.
Timo Werner (23 anos)
O internacional alemão, que tanto pode atuar como avançado centro ou como médio ofensivo nas costas do “9”, é um jogador extremamente completo a nível ofensivo. Aparece entre linhas a pedir em apoio, tem capacidade para explorar a profundidade, é forte tecnicamente e finaliza com qualidade. A época passada fez 20 golos e esta época já leva 2 golos em três jogos.
Yussuf Poulsen (25 anos)
O gigante dinamarquês (1.93) é um ponta de lança muitíssimo difícil de parar, uma vez que, para a altura que tem, é bastante móvel. À qualidade e agressividade que oferece em zonas de finalização, junta também muita capacidade para jogar de costas para a baliza e servir de apoio frontal. O ano passado fez 19 golos e esta época leva 1 golo marcado nos três jogos disputados."

Um russo, um alemão e um francês entram na Luz…

"Um dos momentos mais entusiasmantes do calendário europeu de futebol viveu-se hoje, 29 de Agosto, no Mónaco. O sorteio da Liga dos Campeões realizou-se nos moldes habituais e 32 clubes tomaram conhecimento das três equipas com quem vão passar (o que pretendem ser) três belas noites de terça-feira e três belas noites de quarta-feira, entre meados de Setembro e inícios de dezembro. Um desses clubes era o SL Benfica.
O representante português na prova (cada vez mais) milionária ficou a saber que os russos do FK Zenit, os franceses do Olympique Lyonnais e os alemães do RB Leipzig vão ser os primeiros adversários no caminho benfiquista na prova maior de clubes da Europa. Três clubes que, com a aliança encarnada, formam um grupo G bastante equilibrado, tornando-se de vital importância vencer os jogos em casa.
Equilíbrio no presente, mas claras diferenças no passado. Os três adversários do SL Benfica, em conjunto, têm uma presença nas meias-finais da Liga dos Campeões, cortesia do conjunto francês, que em 2009/2010 só foi travado nessa avançada fase da competição, pelo FC Bayern Munique. O O. Lyonnais contribui ainda com uma Taça Intertoto e o FK Zenit com uma Liga Europa e uma Supertaça Europeia. Um historial interessante, mas que fica aquém dos dois títulos europeus e das cinco finais perdidas dos atuais campeões portugueses.
No entanto, são, actualmente, três equipas poderosas (financeiramente talvez até mais do que o SL Benfica), com um equilíbrio muito grande entre experiência e juventude – no FK Zenit, Ivanovic e Malcolm, no O. Lyonnais, Depay e Rafael da Silva, no RB Leipzig, Werner e Forsberg. Valem pelo bom futebol, pelo colectivo e pelas individualidades. Pouco experientes nos grandes palcos europeus e pouco habituadas – O. Lyonnais e RB Leipzig – a lutar pelo título nacional (nos anos recentes, entenda-se, os franceses já dominaram o futebol gaulês), podem revelar alguma imaturidade competitiva. Todavia, também o pode o SL Benfica, dada a falta de jogadores calibrados para estas andanças.
Bem servidas na baliza, bem apetrechadas na defesa, bem equilibradas no setor intermediário. No entanto, é no ataque que “a coisa fica séria”. Dzyuba e Malcolm, no lado russo, Werner, Sabitzer, Forsberg, Poulsen, Lookman e Augustin, no conjunto alemão e Dembélé e Depay, na equipa francesa, têm tudo o que é preciso para transformar a jovem defesa benfiquista numa passadeira (literalmente) vermelha. Velocidade, dinamismo e alta capacidade de finalização (no total, estas três equipas já fizeram 29 golos em 14 jogos, esta época) terão que ser combatidos com concentração, entreajuda e um profundo estudo do adversário (que os erros frente ao FC Porto sirvam de lição). Após esta análise mais alargada, aprofundemos cada adversário.

FK Zenit
O histórico emblema russo reconquistou (perceberam?) o campeonato russo na temporada passada, acedendo directamente a esta fase de grupos. Foi o quinto título de campeão nacional da equipa que começou esta temporada a perder. Frente ao FK Lokomotiv Moskva, uma derrota por 3-2 privou a turma de São Petersburgo de conquistar a Supertaça Russa. Com o campeonato já com oito rondas ultrapassadas, o FK Zenit segue na quinta posição, em igualdade pontual (14 pontos) com os quatro primeiros classificados, tendo alcançado quatro vitórias, dois empates e duas derrotas. Onze golos marcados e seis sofridos é o saldo na Liga Russa do clube que o pote 1 impôs ao SL Benfica. 
Orientada pelo russo Sergei Semak, de 43 anos, a turma azul conta nas suas fileiras com jogadores de valia indiscutível, de que são exemplos máximos Branislav Ivanovic, de 35 anos, sérvio ex-Chelsea FC, Artyom Dzyuba, 31 anos, russo, lenda do clube e Malcolm brasileiro de 22 anos contratado ao FC Barcelona por 40 milhões de euros neste mercado de transferências.
Três exemplos que, além de provarem a valia da equipa, deixam antever algumas das características do campeão russo: velocidade, dinamismo, poder de choque e de desgaste, experiência, jogo aéreo, jogo de corredores, frieza na hora de finalizar.
Perspectivavam-se confrontos difíceis com o FK Zenit, que tem no frio uma potencial arma e que conta com 17 títulos no palmarés, incluindo cinco Ligas Russas, uma Liga Europa e uma Supertaça Europeia, ainda que na Liga dos Campeões nunca tenha ultrapassado os oitavos de final, onde esteve nas épocas 11/12, 13/14 e 15/16.

Olympique Lyonnais
O terceiro lugar na Liga Francesa alcançado na temporada transacta permitiu ao histórico clube francês aceder de forma direta à fase de grupos da edição 19/20 da Champions. A busca pelo oitavo título nacional (que lhes foge desde 2008) não deve atrapalhar a campanha europeia de um clube que em 2009/2010 teve a melhor da sua história: caiu apenas aos pés do FC Bayern Munchen, nas meias-finais.
Em termos de conquistas europeias não-morais, o O. Lyonnais conta com uma Taça Intertoto, sendo este o único troféu europeu na família de 25 títulos que perfazem o palmarés do clube francês.
Com o brasileiro Sylvinho no banco e com jogadores como Anthony Lopes (português de 28 anos), Moussa Dembélé (francês de 23 anos formado no PSG) e Memphis Depay (holandês de 25 anos ex-Manchester United FC) no campo, os franceses prezam pela boa dinâmica dos homens da frente, sustentada pela força coletiva do meio-campo. Neste início de época, o O. Lyonnais leva três jogos realizados (todos a contar para o campeonato), somando duas vitórias e uma derrota por 1-0 em Montpellier. Nove golos marcados e um sofrido contam o resto desta breve história, protagonizada pelo atual 2.º classificado da Liga Francesa. História longe do fim e que ainda vai passar pelo Estádio da Luz.

RB Leipzig
À semelhança dos franceses, também os alemães se apresentam como o 3.º classificado do seu campeonato (versão 18/19). Na atual versão, a turma agora orientada pelo jovem alemão Julian Nagelsmann segue imparável, com duas vitórias em dois jogos, seis golos marcados e um sofrido. A estes jogos junta-se um da Taça da Alemanha, que o RB Leipzig também fez questão de vencer, por 3-2, frente ao VfL Osnabruck.
Com um museu repleto de pó, mas com muita qualidade, a equipa alemã preza pelo talento (quanto talento, quanto!) individual e coletivo que abunda (como abunda!) na sua veloz, dinâmica e mortífera frente de ataque. Aí residem de forma permanente (quem os tira de lá?) futebolistas como Emil Forsberg, sueco de 27 anos, Marcel Sabitzer, austríaco de 25 anos, Yussuf Poulsen, dinamarquês da mesma idade e o alemão Timo Werner, de 23 anos. Ademola Lookman e Jean-Kévin Augustin pernoitam lá, por vezes, mediante autorização dos condóminos mencionados.
Tudo somado, o SL Benfica terá pela frente três adversários bastante valiosos. Para garantir um lugar nos oitavos de final da Liga dos Campeões, Bruno Lage e companhia (bastante) limitada (tantas lesões, ah, tantas lesões…) terão que anular os pontos fortes destas equipas e impor o seu jogo, sobretudo nos jogos em casa, podendo valer-se da força do seu historial para ser superior nos detalhes ínfimos que vão decidir a classificação final de um grupo que se prevê equilibrado. Apesar das dificuldades que vão encontrar, os encarnados encontram-se num grupo que dá esperanças de passagem. No entanto, a esperança por si nada vale. Há que trabalhar – e muito! – para honrar o passado europeu do clube e fazer sonhar quem ainda acredita que a repetição desse passado não é uma impossibilidade utópica, passo a (necessária) redundância."

Aquecimento... lançamento

As Águias #41 - Rescaldo...

Quem 'matou' a mudança? Suspeito 19 - Resistir à tare... (parte 2)

"O Coordenador Smith estava furioso com o que se tinha passado. Caminhava apressadamente, olhando para o chão, enquanto abanava a cabeça, como a dizer “isto assim não”, e os braços estavam esticados, junto ao tronco, com os pulsos cerrados, parecia pronto para lutar com alguém. O que tinha deixado o Coordenador Smith “à beira de um ataque de nervos”, naquela reunião de Coordenação da Academia, que acabara de terminar?
O Detective Colombo tinha estado presente, como observador, e seguia o passo do Coordenador, que entra no seu gabinete e fecha a porta, enquanto o Detective Colombo se esgueirava, para não levar com ela.
“Viu o que se passou?” – disse e perguntou o Coordenador Smith, enquanto parecia que ia explodir. “Há momentos em que parece que vamos explodir, mas já viu alguém realmente a explodir por estar irritado?” – devolveu o Detective Colombo e, depois de fazer uma pequena pausa, perguntou – “Diga-me o que aconteceu Coordenador Smith?”.
Embora mais calmo, a vontade de libertar toda aquela pressão, levou-o a responder sem demora – “viu alguns dos treinadores, poucos é certo, mas alguns, que só veem o que está mal, parece que pensam que as dificuldades nunca vão terminar e acabam por ver as coisas piores do que elas são, como que só vissem a parte sem água, de um copo meio-cheio” – começou por dizer o Coordenador Smith.
“Mas eles só têm coisas negativas?” – tentava perceber o Detective Colombo. “Não, bem pelo contrário. Este pequeno grupo está tão concentrado na tarefa, que acabam por realizar muitas tarefas importantes sozinhos” – dizia o Coordenador Smith e, enquanto fez uma pausa, para beber um pouco de água e respirar fundo, o Detective Colombo disse – “comportam-se como Treinadores do seu quintal, ignorando a Quinta?”.
“Nem mais, Detective Colombo. Este é o segundo problema que lhe tinha falado (ver em https://abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/801781 o primeiro) e gostava de compreender melhor a situação, porque estas pessoas trabalham muito, mas infelizmente sozinhas. Repare que o meu primeiro problema é ter pessoas que não contribuem para os objectivos, comprometendo-os, e este, o segundo, é o de algumas pessoas tanto quererem contribuir para o objectivo, que acabam por ficar aquém, pela forma como contribuem” – disse o Coordenador Smith e perguntou – “pode ajudar-me a enquadrar, a perceber o que se passa, o que pode estar por trás de tudo isto? Gostava de ir um pouco mais fundo do que a superficialidade, entender a situação para, depois, intervir o mais assertivamente possível.” 
“Coordenador Smith” – começou por dizer o Detective Colombo – “recorda-se das primeiras experiências que teve ao trabalhar em equipa, na escola, no Clube em que jogou?”. “Perfeitamente, Detective Colombo” – respondeu o Coordenador Smith.
“Como foram essas experiências?” – perguntou o Detective Colombo. Depois de uma pequena pausa e com o Coordenador Smith muito mais calmo, os seus olhos começaram a brilhar, era evidente que estava a recordar situações da sua juventude e disse – “lembro-me de uma equipa que tinha bons jogadores, quando começámos a época, as expectativas de todos eram muito altas, quanto aos resultados. Contudo, a realidade foi muito diferente dessa expectativa. Ao longo da época e à medida que começámos a jogar com adversários mais fortes, os resultados deixaram de ser os que esperávamos e o clima da equipa passou a ser pesado”.
“Pesado, como assim?” – perguntou o Detective Colombo. Agora, os olhos do Coordenador Smith já não brilhavam, a sua cara parecia dizer que tinha vivido momentos turbulentos e disse – “as discussões, o desconforto e os conflitos passaram a tomar conta do ambiente da equipa, os resultados foram piorando e, confesso, comecei a jogar sozinho, para tentar ajudar a equipa a ganhar”.
“Como se costuma dizer, se queres algo bem feito, fá-lo tu?” – perguntou o Detective Colombo. “Nem mais, Detective” – disse o Coordenador Smith, fazendo uma pausa, que o Detective respeitou, como dando-lhe espaço para traduzir em palavras o que lhe ia na alma, e continuou – “estou a perceber, enquanto jovem, tinha a expectativa do trabalho de equipa ser importante, tentei trabalhar em equipa, mas quer os resultados, quer a relação entre as pessoas foram desastrosos e, como os resultados eram muito importantes, para mim, passei a jogar sozinho, como que a remar contra a maré.”
O Detective Colombo olhou nos olhos e acenou com a cabeça de cima para baixo, como a dizer, excelente trabalho e perguntou – “como é que se passou a relacionar com as equipas em que jogou e com os grupos de trabalho em que participou?”.
“Quando entrava numa outra equipa ou num dos grupos de estudo, recordava todas as discussões, todo aquele desconforto, desencanto, desilusão e no desespero que sentia por não conseguirmos trabalhar em equipa para os objectivos e que comecei a resistir ao trabalho de equipa” – começou por dizer o Coordenador Smith.
“Resistir ao trabalho de equipa” – repetiu o Detective Colombo enquanto franzia o olho esquerdo e perguntou – “o que quer dizer com isso?”.
“Comecei a exagerar nas diferenças com os outros, que não se concentravam na tarefa em mãos, pelo contrário, concentrava-me na tarefa e comprometia a relação com os outros, negava qualquer semelhança com eles e não só trabalhava e jogava independente, como insistia em fazê-lo isoladamente” – o Coordenador Smith fez uma pausa e continuou – “acabava por competir com os colegas de equipa e de grupo em vez de colaborar, sentia-me sobrecarregado por tentar fazer sozinho o que devia ser feito por todos”.
“Como quando se rema contra a maré. Desgastámo-nos muito e é muito difícil chegar onde queremos” – começou por dizer o Detective Colombo que, perante o acenar de cabeça do Coordenador Smith, a dizer que sim, continuou – “Coordenador Smith, mas agora não é assim. O que se passou para ter mudado?” – perguntou o Detective Colombo.
“Detective, a determinada altura, percebi a ironia de toda a situação. Repare, no início, tinha grandes expectativas em relação ao trabalho em equipa, mas ao tentar fazê-lo, sofri a desilusão ou melhor, perdi a ilusão no seu valor. Deixei de acreditar que era possível alavancar os resultados através da equipa. Por isso, “mergulhei a trabalhar sozinho, mas isso acabou por me sobrecarregar, deixar sozinho e por comprometer igualmente os resultados que desejava. Percebi que o problema não estava no trabalho em equipa, mas na falta de competências para colaborar complementar e criativamente, enquanto surgem as diferenças, durante o processo de concretização dos objectivos” – rematou para “golo” o Coordenador Smith.
“O que acontece, quando vê alguém a tentar fazer sozinho, o que compete a todos? Como formar os jogadores e homens na Academia? Como a trabalhar apenas para a equipa do seu escalão, do seu Quintal?” – perguntou o Detective Colombo.
O Coordenador Smith não respondeu de imediato, parecia ter descoberto algo importante. Sentou-se e, depois de uma pausa, disse – “compreendo Detective, fiquei irritado, na reunião, por ter visto alguns treinadores, poucos é certo, a tentarem fazer sozinhos o que compete a todos fazer. Isso recordou-me que fiz isso muitas vezes, mas não funcionou e que trabalhar em equipa passou a ser algo importante para mim, no caso concreto, para a Academia funcionar.”
“Acabou de descobrir mais um culpado de estar a “matar” a mudança” – disse o Detetive Colombo. 
“Detective agradeço-lhe imenso o trabalho que fez. Percebi que há duas coisas que estão a levar as pessoas a resistirem à tarefa de formar jovens e desenvolver homens e que ambas estão interligadas, como se fossem duas faces da mesma moeda, problema, uma das faces é resistir a contribuir, como vimos na nossa última conversa e a outra face, como descobri hoje é resistir à colaboração, à cooperação, ao trabalho de equipa. Se a Equipa Técnica passar a contribuir e colaborar construtiva, complementar e criativamente mente com os seus recursos, então estaremos mais muito mais perto, de conseguirmos os resultados que desejamos e ficarmos satisfeitos com o que fizemos e conseguimos” – sintetizou o Coordenador Smith.
Terminada a conversa, o Coordenador Smith dirigiu-se ao gabinete do Presidente Angie, a quem contou tudo o que se tinha passado, durante a auditoria do Detective Colombo.
Já ao volante e a caminho de casa, enquanto reflectia sobre a conversa com o Coordenador Smith, o Presidente Angie tinha-se apercebido que há pessoas com tendência para manterem a boa relação a todo o custo, mesmo evitando contribuir para a tarefa em mãos, para quem tudo está sempre bem, pelo melhor, uma das faces da moeda e que há outras pessoas propensas para contribuírem para a tarefa, mesmo comprometendo a relação, a colaboração, para quem tudo está sempre mal, pelo pior, que representam a outra face da moeda, a “moeda” de resistir à tarefa. Para além disso, começava a ver os múltiplos benefícios de as pessoas abordarem as tarefas em mãos, quer contribuindo enquanto mantêm a boa relação, quer colaborando e mantendo a contribuição para a tarefa, em vez de lhes resistirem, não contribuindo com os seus recursos ou trabalhando sozinhas, até porque o esforço vence o talento, quando o talento não se esforça e porque o talento vence jogos, mas a colaboração e inteligência vencem campeonatos. Um semáforo fica vermelho, abranda e para e naquele momento parece ter resumido algo muito importante, para a evolução do Clube e das Equipas. Tira um bloco de notas e escreve: Contribuir e Colaborar Construtiva, Complementar e Criativiamente. O sinal mudou e com ele arrancou para uma nova cultura, dos 5 C’s."