"Fernando Gomes foi corajoso ao escolher Fernando Santos, e o seleccionador é o homem certo no lugar certo para Portugal
Em Outubro do ano passado, neste mesmo espaço semanal, deixei cinco elogios a três sócios do Benfica, um sócio do Porto e um do Sporting.
Neles, estavam incluídas duas pessoas que, hoje, e sobretudo com o aproximar do Campeonato Europeu, faço questão de voltar a elogiar, por diferentes motivos, mas com um fim comum: Fernando Gomes e Fernando Santos. Dois homens, que além possuírem a ambição necessária às nossas obrigatórias aspirações, querem - tanto quanto cada um dos portugueses - ganhar. Um, com um projecto com ambição, e outro, com a ambição como projecto!
Fernando Gomes... um projecto com ambição
Fernando Gomes foi reeleito, no passado dia 4, para um novo mandato enquanto presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), até 2020, tendo tomado posse na passada terça feira (... nada é por acaso... ).
Curiosamente, ao contrário do que aconteceu nas eleições anteriores, neste ato eleitoral Fernando Gomes obteve 70 votos dos 76 delegados que exerceram esse mesmo direito. Desta vez, com apenas uma lista candidata, foram só 6 os votos em branco. Ao invés, em 2011, obteve 46 votos - contra os 36 do outro candidato - ganhando, assim, as eleições pela diferença de... 10 votos apenas.
Foi, por isso, eleito com a dificuldade que só quem acompanhou essa eleição saberá avaliar devidamente. Ainda assim, poder-se-á dizer que, em 2011, Fernando Gomes ganhou as eleições, sendo eleito presidente da FPF, mas deixou o futebol português dividido (quase) em partes iguais.
Apesar - diga-se, em abono da verdade - de ter, nessa maioria, clubes que acabaram por fazer a diferença. E que diferença essa diferença fez! Aliás, ao longo do seu mandato, várias foram as vezes em que Fernando Gomes arriscou e ganhou, consolidando a sua posição à frente da FPF, ainda que isso lhe custasse alguns reparos.
Decidido a recandidatar-se, apresentou-se praticamente com a mesma equipa, com excepção para criticadas presidências (apenas constato factos) do Conselho de Arbitragem e do Conselho de Disciplina, sobretudo ao longo da época passada.
Independentemente disso, a verdade é que o seu mandato poder-se-á considerar muito positivo. Pelos resultados, mas, também e até, pela coragem com que o fez. Pelo seu rigor, pela imparcialidade, mas também pela audácia em criar um protejo com ambição. Protejo esse composto por ideias claras e definição de objectivos atingíveis. Estou certo que, face a isso, esta tenha sido a reeleição do reconhecimento e da unidade. Fazendo com que, por um lado, a diferença de ideias tenha servido para valorizar a vitória conseguida - então - à tangente e, por outro lado, o seu percurso tenha servido para ser - agora - o candidato do consenso.
Fernando Santos... uma ambição como projecto
Já tinha dito, aqui, que Fernando Gomes tinha sido suficientemente audaz ao apostar em Fernando Santos. Fernando Gomes foi extremamente corajoso ao escolher Fernando Santos, por, essencialmente, se tratar de uma aposta de risco, uma vez que se encontrava em vésperas de poder vir a cumprir um castigo muito pesado.
Ainda assim, e convicto da sua escolha, Fernando Gomes teve a capacidade de definir uma estratégia - como o foi fazendo com os diversos assuntos com que se foi deparando ao longo do seu mandato - escolhendo gente competente para defender as suas escolhas.
E a verdade é que... ganhou.
Como com Fernando Santos... um homem com uma ambição, com um projecto. Aliás, um homem que tem uma missão com um projecto. E nisso, está em perfeita sintonia com Fernando Gomes, ainda que tenha tido um percurso contrário. De facto, Fernando Santos é um homem que, não obstante ter passado pelos três maiores clubes portugueses, enquanto treinador, não fez o alarido de muitos outros, falando o seu passado de águas calmas por si.
Também por isso, não levantou problemas na sua designação como seleccionador, tendo recolhido a (quase) unanimidade das opiniões expressas na altura da sua entrada em funções. Mas - face a essa personalidade calma e não conflituosa - foi uma excelente surpresa ter ouvido Fernando Santos afirmar que já está na altura de Portugal ganhar um título numa grande competição. E como tem razão... Até porque... tal como ele e muitos outros... eu penso que isso não é impossível.
Já tivemos muito perto desse acontecimento... mas perdemos, na final, para a Grécia, em 2004... quando ninguém colocou a hipótese de que poderiam ser eles os campeões.
Foi uma boa surpresa Fernando Santos assumir essa postura, de querer ganhar. E estou certo de que irá lutar por isso. Uma postura contra o que costuma ser o tradicional português (invejoso, pequenino, sempre com desculpas, por não atingir o que devia, por ter medo de assumir o que quer). Por isso, só posso elogiar o facto de ser bastante ambicioso. Hoje, com Fernando Santos ao comando da nossa selecção, e com o Europeu mesmo ao virar da esquina, finalmente temos a ambição que devíamos ter sempre! Nada mais que a nossa obrigação! Por cada um de nós, portugueses, mas, sobretudo, por consideração ao valor individual e colectivo da nossa equipa.
Temos o melhor jogador do mundo - ou um dos dois melhores - que é, por maioria de razão, o melhor jogador da Europa.
Temos uma equipa experiente, com jogadores de reconhecida qualidade - até pelos clubes onde jogam - ainda que nem todos sejam da mesma galáxia que Cristiano Ronaldo. Por isso, além de assumirmos sem rodeios os nossos legítimos objectivos, temos de estar focados, mais do que nunca, deixando de parte os falatórios, cheio de episódios, que habitualmente emergem, junto da selecção, nestas fases decisivas.
E um desses exemplos recentes foi a campanha que fizeram contra Renato Sanches, num claro, injustificável e mesquinho síndrome de clubite. Como se o facto de se ser jovem demais fosse impedimento de alguma coisa...
Quis o destino que fosse Fernando Santos o escolhido para liderar uma equipa de grandes talentos, nesta fase da competição.
E ainda bem que assim é, porque, efectivamente, é o homem certo no lugar certo, o único - neste momento - capaz de gerir essas campanhas, de manter a equipa concentrada, e de... sonhar.
Ou melhor, ambicionar.
E nisso os dois Fernandos, tanto o Gomes como o Santos, são parecidos. Ambos se encontram unidos no projecto... e na ambição!
Para podermos festejar, por Portugal,... no Marquês (se os outros não levarem a mal)."
Rui Gomes da Silva, in A Bola