Últimas indefectivações

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Uma revisão crítica e indiscriminada do ano de 2014

"O departamento clínico de Alvalade receitou o silêncio obrigatório de manhã, à tarde e à noite, numa tentativa de silenciar o presidente.

POLÍCIA DO ANO
- Anónimo
Trata-se do agente da PSP que, naquela noite de Abril em que o Benfica festejou o seu 33.º título no Marquês, tentou prender Jorge Jesus confundindo-o com um adepto, tal era a euforia do treinador e a festiva indumentária com que se apresentou enroupado. Ressalve-se que o agente da polícia libertou o nosso treinador assim que deu conta do erro. Ainda há justiça em Portugal.

APARECIMENTO DO ANO
- Shikabala
O Sporting contratou Shikabala, a vedeta egípcia instável, que até se deu ao trabalho de aparecer em Alvalade para tirar fotografias e, algumas vezes, em Alcochete para se equipar com os colegas. Manuel José ainda disse: «Pode ser que tenha ganho juízo». Mas nunca se percebeu muito bem a quem se referia directamente Manuel José que é, sem dúvida, o mais egípcio dos treinadores portugueses. 

DESAPARECIMENTO DO ANO
- Shikabala
Desde a Páscoa que ninguém sabe de Shikabala em Alvalade. Inevitavelmente, lá veio à liça Manuel José, o nosso maior especialista em temas egípcios: «Se me tivessem telefonado antes…»

MODALIDADE DO ANO
- Hóquei em Patins
Ora cá está, finalmente, a consagração de uma modalidade que, tal como acontece com o bilhar, dispensa os fiscais-de-linha. Talvez por essa razão tem o Benfica vindo a ser imensamente feliz. Sobretudo nas suas deslocações a casa do rival Porto, seja para competições nacionais seja para competições internacionais, sempre, sempre sem fiscais-de-linha.

CONVALESCENTE DO ANO
-Fejsa
Ljubomir Fejsa, continuação de boas melhoras!

VAI-VÉM DO ANO
- Paulo Fonseca
Começou 2014 no Porto e terminou 2014 em Paços de Ferreira. Já em 2013 lhe tinha sucedido precisamente o contrário. Começou 2013 em Paços de Ferreira e terminou 2103 no Porto. Veremos se a coisa fica por aqui.

CANÇÃO DO ANO
- «O Campeão voltou»
Com letra e música de autores anónimos, eis a canção que em 2014 mais encantou uma grande fatia da população. Entra no ouvido que é uma beleza: «O campeão voltou, o campeão voltou, o campeão voltou!»

PERSONAGEM LITERÁRIA DO ANO
- D’Artagnan
«Conheciam tanto o Talisca como eu o D’Artagnan!». E assim, perentório, acabou Jorge Jesus com a prosápia dos tipos do Chelsea que reivindicavam a descoberta do jovem brasileiro. O treinador do Benfica atirou-lhes com um personagem de um romance francês do século XIX e o baiano, em jeito de agradecimento, desatou a marcar golos.

ESTÁTUA DO ANO
- Cristiano Ronaldo
A Madeira homenageou em bronze o seu filho mais célebre. Cristiano Ronaldo tem a partir de agora uma estátua sua numa avenida principal do Funchal. Toda a família Aveiro compareceu em peso à inauguração do monumento de 800 quilos. Quanto à altura, são 3 metros e 40 centímetros de Cristiano Ronaldo. O que importa é que todos estavam felizes. A estátua também parecia estar muitíssimo feliz, certamente por ver tanta gente bem vestida à sua volta.

MÁRTIR DO ANO
- Carlos Mané
«Temos de dar a vida pelo presidente!» foi, sem qualquer espécie de dúvida, a proclamação mais impressionante de 2014 no capítulo da martirologia.

SAMBA TRISTE DO ANO
- Selecção
No Mundial do Brasil, a selecção nacional sambou pouco e mal, regressando a casa muito rapidamente. Valeu-nos a miserável campanha do escrete a jogar em casa para nos livrar de uma nova antologia de anedotas brasileiras a gozar com os portugueses da bola quadrada.

LIVRE À PANENKA DO ANO
- Gaitán
O momento artístico dos momentos artísticos vividos no Estádio da Luz aconteceu no jogo com o PAOK, para a Liga Europa, quando Nico Gaitán cobrou um livre e de tal forma que a bola, quando entrou na baliza, parecia ainda não ter saído do pé do argentino.

ALIANÇA DO ANO
- Sporting-FIFA
Enquanto, por cá, Benfica e Porto estabeleceram uma aliança muito criticada que conduziu Luís Duque à presidência da Liga, lá por fora o Sporting dá cartas estabelecendo com a FIFA uma aliança que vai acabar com os fundos de investimento. Blatter não dá um passo sem telefonar para Alvalade.

PALAVRA DO ANO
- Peanuts
Corria o mês de Fevereiro e na sua conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Vitória de Guimarães, questionado sobre a «pressão» que caía sobre a equipa, Jorge Jesus respondeu: «Pressão? Isso para nós são peanuts!». Foi um sucesso de proporções ainda hoje incalculáveis.

GAFFE CINEMATOGRÁFICA DO ANO
- Bruno de Carvalho
Comentando a ausência de Shikabala do seu local de trabalho, o presidente do Sporting disse: «Ele não é o Rambo, o Shikabala está desaparecido mas não está desaparecido em combate.» Ora, qualquer pessoa minimamente instruída sabe muito bem que o protagonista da série de filmes «Desaparecido em Combate» não é o Rambo, é o coronel James Braddock interpretado por esse grande actor chamado Chuck Norris. Elementar!

NOME DO ANO
- Manel
Corria o mês de Janeiro e, sendo iminente a saída de Matic para o Chelsea, o treinador do Benfica viu-se confrontado pela imprensa com a perda do importante jogador. Ao que respondeu: «Se não jogar o Matic, joga o Manel.» De tal modo causou impacto esta afirmação que, para muita gente, o título de 2013/2014 ficará para sempre como o campeonato dos Manéis, tantos e tão bons foram os Manéis chamados a participar.

ADVERSÁRIO DO ANO
- Rio Ave
Em 2014 o Benfica ganhou três finais ao Rio Ave. Começou pela Taça da Liga, seguiu-se a Taça de Portugal e terminou com a Supertaça. Nenhuma delas foi fácil, antes pelo contrário. Com a embalagem com que íamos foi uma pena o Benfica não ter jogado a final da Liga Europa com o Rio Ave.

MUSEU DO ANO
- Museu Cosme Damião
A Associação Portuguesa de Museologia atribuiu ao Museu Cosme Damião o prémio para o Museu Português do Ano de 2014. Três «vivas!» a Cosme Damião e aos sonhadores, dinamizadores e trabalhadores do Museu do Benfica!

FALHA DO ANO
- Equipamento alternativo
Passou-se mais um ano. Um ano civil que é igual a duas meias-temporadas futebolísticas. E, mais uma vez, aliás, mais duas vezes, o Benfica não conseguiu impor aos seus ideólogos do marketing o mais belo dos equipamentos alternativos, aquele que está determinado nos Estatutos redigidos pelos fundadores do clube e que, passo a descrever: camisola branca, calção branco e meias brancas.

LANÇAMENTO LATERAL DO ANO
- Maxi Pereira
Corria o minuto 35 do Porto-Benfica a contar para a Liga 2014/2015 quando Maxi Pereira, à força braçal, meteu a bola na anca de Lima que se encontrava liberto de marcação na área dos visitados. Foi golo. 

ENGENHEIRO DO ANO
- Lopetegui
Julen Lopetegui trouxe a modernidade para o futebol português. Para melhor observar a evolução dos seus jogadores durante os treinos, o treinador do Porto mandou erguer uma torre com 7 metros de altura. É muito metro. Tem a torre de Lopetegui, por exemplo, mais 3 metros e 60 centímetros em altura do que a estátua de Cristiano Ronaldo inaugurada no Funchal que só tem 3 metros e 40 centímetros de altura como já foi referido nesta resenha do ano.

MOMENTO JUDICIAL DO ANO
- Pinto da Costa
No nosso futebol que, num passado ainda próximo, foi tão impiedosamente devassado pela actividade judicial, há que dar graças por um ano tranquilo e sem investidas. A única notícia assinalável do foro da justiça terá sido a visita do presidente do Porto ao estabelecimento prisional de Évora dois dias depois da visita de Lima ao Dragão.

ROUBO DO ANO
- Pedro Proença
Vítima dos poderosos lobbies internacionais, que não se comparam em perfídia aos nossos simpaticíssimos lobbies nacionais, Pedro Proença viu-se roubado da sua tão ansiada final do Campeonato do Mundo de Clubes que se disputou em Marrocos. No seu lugar apareceu um árbitro guatemalteco para apitar o jogo. Imagine-se, um guatemalteco! E todo despenteado.

FINAL EUROPEIA PERDIDA DO ANO
- Benfica
Um ano depois de ter perdido a final da Liga Europa para o Chelsea, o Benfica voltou a perder a final da Liga Europa mas para o Sevilha. Uma coisa é certa para 2015: o Benfica não perderá a sua terceira final europeia consecutiva. Mas, mesmo disso, vamos ter saudades.

CLÁUSULA DE RESCISÃO DO ANO
- Shikabala
A fuga de Shikabala está, para já, a prejudicar o Sporting em 45 milhões de euros. Trata-se do valor da faraónica cláusula de rescisão imposta no contrato de quatro anos e meio que liga o egípcio ao clube de Alvalade e que continua em vigor até 2017.

MULTA DO ANO
- Luisão
Ficou por 60 mil euros a brincadeira de Luisão num jogo particular disputado no território da Alemanha, atirando ao chão um árbitro alemão compatriota do outro árbitro alemão que haveria de apitar a final de Turim e que bem tramou o Benfica por solidariedade patriótica.

RECEITA MÉDICA DO ANO
- 'Blackout' do Sporting
O departamento clínico de Alvalade, numa medida profilática que já tardava, receitou o silêncio obrigatório de manhã, à tarde e à noite. Trata-se de uma tentativa de silenciar o presidente englobando-o, discreta e diplomaticamente, no conjunto de funcionários do clube.

PREVISÃO DO ANO 2015
- Jorge Jesus
«Vêm aí dias difíceis», disse o treinador do Benfica depois do jogo com o Gil Vicente que os campeões nacionais se viram aflitos para ganhar. Se o mercado de Verão levou uns quantos titulares indiscutíveis do belo Benfica de 2013/2014, a próxima abertura do mercado de Inverno promete levar mais uns quantos. E o problema é que, à primeira vista, já nem há Manéis."

Leonor Pinhão, in A Bola

Saldo excelente

"Época propícia para fazer um balanço de Natal. Em resumo, a temporada está muito acima das expectativas catastróficas do início do ano e algo abaixo das ambições limitadas dos adeptos (como eu) que querem sempre mais. Jorge Jesus, no entanto, continua a bater recordes, são tantos que já nem se dá valor. Quando foi o último jogo da Liga em que não marcámos um golo? Em que ano chegámos com seis pontos de vantagem ao Natal? Quando tivemos na nossa história, simultaneamente, todos os títulos nacionais em nossa posse? Lembro-me de chegar ao Natal com seis pontos de atraso do líder, porque seis pontos de atraso do líder, porque seis de vantagem não me lembro quando foi a última vez. O saldo é excelente e não o reconhecer é viver fora da realidade presente. Com constrangimentos financeiros, com uma crise generalizada e com o crédito bancário reduzido a quase zero, resta-nos uma grande responsabilidade financeira e ser sagazes na gestão de recursos.
O último jogo contra o Gil Vicente foi dos menos conseguidos da época. Jorge Jesus disse no fim do jogo que os adeptos deixaram a equipa nervosa. Houve então total sintonia, porque a equipa também deixou os adeptos muito nervosos. Há razões que explicam e outros argumentos que justificam. Muitas lesões, sobrecarga de jogos, jogadores importantes fora, alguns castigos a somar, ficamos com um caldo explosivo. Mas contra o Gil Vicente só a vitória foi boa e só os três pontos são recordações de Natal. Numa noite gelada em que tivemos Super-Maxi para nos adoçar a boca. Agora resta abordar a Taça da Liga com ambição. Estamos fora da Taça de Portugal e por isso a Taça da Liga é simplesmente para tentar vencer. Começa na terça-feira contra o Nacional.
Este blackout do Sporting foi uma excelente ideia. Calando o seu presidente diminui em muito a instabilidade do grupo. Como é possível que um presidente que fez tanta coisa bem feita pelo Sporting, arrumou a casa, consolidou prioridades, manteve alguma competitividade e não perdeu ecletismo deite tudo a perder naquilo que é mais fácil? Ter juízo, moderação e algum bom sendo."

Sílvio Cervan, in A Bola