Últimas indefectivações

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Parábola do sapo que queria ser burro

"Presunção e pretensões nunca faltaram aos néscios.

Sei de uns que agora, então, inflados de ilusão por meia-dúzia de penaltis e arbitragens mal paridas, antes uns contendores de segundo pacote, lhes valendo mais apalermadas bazófias do que nos últimos quarenta anos, já se julgavam até mal empregados para jogar no Campeonato português...

Empertigados, tendo perdido a noção das distâncias e o sentido da medida, passaram à fase seguinte: como naquela história do sapo que queria ser tão grande e tão gordo como o burro, puseram-se a 'comer uvas'. Alarvemente. Tal como o ambicioso sapo que, embora tivesse a boca quase tão grande como a do asno, se pôs a comer cachos e cachos inteiros de uva madura, para inchar ainda mais depressa, com os eflúvios de fermentação inevitável.

Pobre anfíbio, porém! De tanta uva comer sem se conter (triste é a sina dos estúpidos!), inchou tanto, até que rebentou, numa formidável explosão de gases, que o deixou todo escavacado e inerte, ainda não burro e já nem sapo...

Estes que eu conheço (que tal como o visconde, dizem que são de alta estirpe, mas acolhem o lumpen nazi), levando à letra a história do anfíbio, puseram-se a fazer o que fez o sapo. Só que as 'uvas' deles eram a própria saliva das vanglorias que bolsavam entre si e das cuspidelas de ousadias, lançadas para o ar que os cobre...

À falta de resultados firmes, a jogar com a pequenada internacional, primeiro choraram-se de arbitragens. E depois, já bem inflados dos primeiros gases, ainda um mês antes de virem tentar uma improvável bênção na Catedral, acabam a inventar manobras de distracção que, pelo sim pelo não, mais tarde lhes justificassem a forradela de táctica que, no fundo, temiam vir aqui levar.

Cumpriam-se o mesmo destino do sapo. Mas, bastando-lhe o ácido fermento das falácias que os faziam espumar cada vez mais, incharam afinal mais rápida e desmesuradamente do que alguma vez teriam sonhado. Presumidos, requisitaram mais bilhetes do que as posses. E os poucos que quiseram vir ao castigo, ainda assim beneficiaram, pacóvios, de cuidadas condições de conforto e segurança bem mais apropriadas do que as que podem oferecer no viscondado, onde, volta não volta, desabam que nem sapos, para dentro uma fossa qualquer que os faz ali felizes.

No fim, a frágil pele viscosa de sapos não lhes aguenta a formidável ceva e explode de vez! Ora, ante a realidade da reles derrota desportiva (que os seus próprios atletas reconhecem), vai de se vingarem. Sem escrúpulos, nem cortesias de visconde. Despedem-se à cacetada, com toda a brutalidade e a piromania do seu estratégico back office nazi.

Moral da história: assim recolhem eles de novo ao patético viscondado, quais sapos estoirados pela engorda, sem terem sido sequer capazes de provar inteligência para chegarem ao patamar dos burros..."


José Nuno Martins, O Benfica

Ó bófia, tens aí lume?

"Há gente que tem uma tendência inata para a tarouquice que parece quase científica. No mesmo momento em que o Merceeiro Analfabeto escreve nas páginas desacreditadas do seu panfleto que desde que D. Palhaço surja providencialmente em algum lado - provavelmente com a aura de alguma Nossa Senhora de Fátima (não com a Fatinha da joelharia de joelhos) - tudo muda, tudo mudou mesmo para um pobre profissional da Imprensa falada, que viu a vida a andar para trás enquanto se sujeitava à linguagem poluída do labrego da Madalena e às bofetadas de alguns paus-mandados de vão de escada. Que o Merceeiro Analfabeto é um génio da escória já toda a gente sabe. Por onde se esconde, já é mistério. Nalguma lura húmida na qual fungos como ele se sentem em casa.

Por seu lado, o Bófia Paleolítico Inferior foi à bola. Ao contrário do merceeiro na lura, não é lugar onde se sinta à vontade. Ficou por ali, espreitando o jogo por entre os quadrados da rede, ele que tanta gente deixou a ver o sol aos quadradinhos, sem perceber grandemente o que se passava lá por baixo pelo relvado, mas compreendendo em absoluto todos os insultos que lhe eram gritados em coro aos ouvidos como se de música se tratasse. O Bófia Paleolítico Inferior sentiu-se importante. Quando o jogo acabou sentiu-se meio perdido. A seu lado, um rapazito desdentado, habitual frequentador da Mitra de Lisboa, deu-lhe uma cotovelada compincha:

-Ó Bófia, tens aí lume?

O Bófia Paleolítico Inferior emprestou-lhe o isqueiro Dupond. Nunca mais o veria. Não foi preciso esperar muito para lhe chegar à pituitária um cheiro a plástico queimado. O fumo escuro e grosso quase não o deixava respirar. O Bófia Paleolítico Inferior olhou em volta. Tal como o profissional da Imprensa falada, os soldados da paz que procuravam apagar o fogo eram tratados à bofetada. Assobiou para o lado, meteu as mãos nos bolsos e fugiu da confusão. Mais tarde haveria de se armar em valente..."


Afonso de Melo, in O Benfica

A lira de Nero

"Não eram necessários dotes divinatórios, nem poderes extrassensoriais, para admitir que o Estádio da Luz iria pegar fogo. O ambiente desportivo foi o doutras épocas, com resultado imprevisível até ao derradeiro minuto. Nem o Benfica deslumbrou, nem o Sporting se acabrunhou como os desígnios deixavam a adivinhar. Temos campeonato a três ou a quatro, caso se perceba exatamente o que quis dizer Leonardo Jardim após a derrota com o Porto.

Depois de perder por 3-2, e de colocar apenas nos últimos minutos os jogadores que estabeleceram a diferença, o madeirense justificou o desempenho da equipa com um “faço o meu trabalho dentro daquilo que posso”. Depois do susto que pregou ao campeão nacional, mas somente a um quarto de hora do fim, pôs-se a jeito de todas as suposições.

Ainda tarda entender o que se passa com a condição física do plantel do Sporting. É exagerado o número de lesionados que condicionam a ambição de Domingos para os diversos compromissos, ainda todos, em que o clube está envolvido.

Regressemos ao dérbi de sempre. As medidas de segurança impostas pelo Benfica vieram a revelar-se insuficientes e incapazes de dominar aquelas criaturas que me recuso a admitir como adeptos do Sporting. Não são incendiários, arruaceiros, neonazis e agressores de bombeiros que a direção do Sporting defende, quero crer. Bastava ter optado por dialogar, em vez de se indignar, para criar as pontes com os responsáveis pelos encarnados, que aparentavam uma era de entendimento, ainda recentemente observada na gala da Confederação do Desporto de Portugal.

Aliás, a gritaria no túnel dos balneários da Luz – outra vez no mesmo sítio – de Luís Filipe Vieira a vociferar com Luís Duque, a propósito da arbitragem, denotam a paz hipócrita em que vivem os dois emblemas de Lisboa. Os dois de Lisboa? Todos. Dirigentes que teimam em governar os seus clubes como se os adversários fossem alvos a abater, e menos como um parceiro neste negócio em falência iminente.

Ainda esta semana foi destaque no “Diário de Notícias” os subsídios – salários??? – das modalidades amadoras do Porto. Com o desempenho tão irregular da equipa de futebol pergunto se também o futebol foi atingido por esta praga?

Talvez tal justifique o nervosismo que levou Pinto da Costa ao aperto verbal ao jornalista Valdemar Duarte, e consequente agressão física, por outros, após o FC Porto-Braga. Realmente é insuportável aguentar uma época com um plantel avaliado em 125 milhões de euros, fora da Taça de Portugal e com a Liga dos Campeões em risco.

Afinal, há cadeiras a arder em todos os estádios, e os Neros cantam e tocam, inconscientemente, a sua lira."

Confirmações

"1. Durante esta semana, a propósito de notícias em recintos desportivos (um conceito que em tempos tanto apaixonou certas hostes) e noutros recintos, confirmou-se mais uma vez que entre nós há justiça formal mas peca a justiça substancial, aquela que reconstitui com coragem e convicção fundada a verdade dos factos e aproxima, no momento da sanção e da sua execução, a aplicação da lei abstrata do sentimento de confiança dos cidadãos – pelo menos na retribuição para com os cumpridores. Se essa justiça substancial peca, vulgariza-se a impunidade, sentimento que começa nas escolas e acaba na rua. Hoje podemos concluir que os poderes legislativo e judicial falharam estrondosamente na prevenção geral. No caminho, a impunidade ganhou o estatuto de uma “expectativa” generalizada e, pior do que isso, construíram-se ilhas com muralhas desafiadoras do direito e da ordem pública. Voltar para trás vai ser mais difícil, mas ainda é possível. Depende do comportamento de muitos e desses muitos ao mesmo tempo. Voltar ao caminho certo está, todavia, condicionado pela tibieza e incapacidade de alguns, poucos mas suficientes para fazer claudicar todo um projeto de sociedade, em que as pessoas de bem ainda têm espaço. O espaço maior na “cidade” de todos.
2. Durante esta semana, a propósito de incidentes e colisões de diversa índole, confirmou-se mais uma vez que entre nós há liberdade de expressão mas, em vários casos, não há liberdade de imprensa nem critério sobre o relevo. A crise é grave. Os canais da comunicação escrita e televisiva compartimentam-se: uns (mais ou menos) independentes (quero acreditar que é a maior parte), outros completamente amarrados às “fontes privilegiadas”, que os ameaçam e constrangem. O espaço público está inundado por “ruído”, ao qual se dá um destaque que consegue abafar a lucidez e a inteligência dos demais intervenientes. Há autores de notícias e de comentários com medo. Os destinatários da informação são manipulados. O pensamento livre é marginalizado. O estado a que chegámos merece uma reflexão atenta e, mais do que nunca, um debate sério. O “quarto poder” não pode ser somente o espelho de outros poderes (ocultos, em especial), quando deveria ser sempre e em qualquer circunstância o vigilante neutro e nutrido de todos os outros poderes. O mundo está perigoso, na política, na economia, na cultura e nas artes, e, por maioria dos factos, também no desporto.
3. Durante esta semana, a propósito de entrevistas sobre o futuro do futebol, confirmou-se mais uma vez que não é líder quem quer e que a falta de liderança não se supre com operações de recato e lições dos especialistas. Há sempre um gesto, um esgar, uma sombra, que tudo denuncia… O confronto entre o “neovalentinismo” (sem berros) de Gomes, aspirante a líder embrulhado em cábulas balbuciadas a custo, e Marta, o “agregador mitigado” excessivamente desconfortado nos apoios ativos e passivos, chegou para perceber algo mais. Os detalhes podem ter sido decisivos na procura do número “43”, a cifra mágica do próximo dia 10. A imagem passada nas cadeiras da TV pode ter dado tudo e… nada."


Metê-la

"From: Domingos Amaral
To: Pablo Aimar

Caro Pablo Aimar
Há vinte e tal anos, em Cascais, havia um bar onde eu e os meus amigos costumávamos ir. Noite fora, jogava-se e bebia-se, e as sempre bem regadas conversas costumavam descambar em fortes polémicas. Então, no meio da algazarra, vinda de um canto do bar ouvia-se a voz rouca de um cinquentão bêbado que, para desempatar qualquer celeuma, vociferava: “O importante é metê-la lá dentro!” Fosse o tema das refregas o sexo ou o futebol (eram sempre esses os temas), e fosse qual fosse o pomo da discórdia, o velho alcoólico urrava sempre a mesma máxima: o importante era metê-la lá dentro!
Diz-se que há uma verdade profunda nas palavras dos bêbados e de facto, no final de qualquer jogo, só contam as que se conseguem “meter lá dentro”. Por exemplo, em Manchester, Ferguson apelidou o encontro de “cruel”, defendendo que a sua equipa merecia mais do que o empate. Pois. Mas tu, caro Pablito, “meteste-a lá dentro”, fizeste o 2-2 e saímos de lá apurados.
Contra o Sporting também ajudaste, marcaste o canto e o Javi “meteu-a lá dentro”. O Sporting jogou bem, andou por ali às voltas mas… É como no sexo: é bom abraçar um rabo, beijar uma boca, apalpar uma maminha mas… “o importante é metê-la lá dentro”. O Sporting entusiasmou-se, roçou-se muito, mas a verdade é que não a “meteu lá dentro” nem uma vez.
Claro que tem dias que também são os outros a “metê-la”. Na Madeira, entraste tarde e a más horas, já o Marítimo nos tinha “metido” duas lá dentro. Tiveste duas boas oportunidades mas não a “meteste” lá dentro e fomos à vida na Taça. É assim a vida. Quem mete, mete, quem não mete bate palmas."