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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
3 pérolas baratas para o ataque encarnado | SL Benfica
"Qual destas três pérolas gostarias de ver na Luz?
Depois dos últimos resultados do SL Benfica e da falta gritante de golos, comparada com o número de oportunidades criadas, só um pensamento vem à mente dos adeptos do clube encarnado: precisa-se de um ponta de lança “a sério”.
É certo que o SL Benfica é a equipa com mais golos marcados no campeonato, mas também é certo que o atual terceiro classificado precisou de 81 chances claras de golo para marcar 50, enquanto os azuis e brancos tiveram 70 chances claras e efetivaram 48 delas.
Nelson Veríssimo admitiu a falta de eficácia depois do empate a uma bola frente ao Moreirense, e que deixou as águias a nove pontos do FC Porto e a seis do Sporting CP. 16 remates foram disparados pelo SL Benfica, e apenas um entrou.
Já contra o FC Paços de Ferreira, o clube encarnado tinha feito 22 remates, e acabou por ganhar apenas por 2-0. Ou seja, em apenas dois jogos as águias fizeram 38 remates, marcando três golos. É muito mau.
O facto do SL Benfica ter algumas goleadas esta época mostra que quando a eficácia está no ponto, as coisas acontecem. Contudo, a atual posição do clube na liga e o afastamento da Taça de Portugal mostra que, na maioria dos casos, não é isso que se vê.
Assim, numa tentativa de solucionar este problema, destaco três avançados da Primeira Liga que encaixariam que nem uma luva na equipa de Nelson Veríssimo.
1. Mario González
O avançado do SC Braga, que na época passada apontou 15 golos pelo CD Tondela, seria uma boa opção para jogar na frente de ataque em parceria com Darwin Núñez ou Yaremchuk.
Dono de uma facilidade incrível em marcar golos, foi umas das revelações da época passada e encaixaria que nem uma luva na tática de Veríssimo, pelo que seria uma opção menos dispendiosa para ajudar o SL Benfica a resolver um dos seus maiores problemas, a eficácia.
2. Fran Navarro
Outro avançado do Gil Vicente em destaque. O atual número nove da equipa de Barcelos, proveniente do Valência, já conta com 11 golos na liga, apenas atrás dos monstros Luis Díaz e Darwin.
Apelidado de “Toro” pelos colegas, pela forma destemida com que enfrenta todas as jogadas, Navarro é dono de uma técnica de remate acima da média e promete ser revelação nesta liga controlada pelos três grandes. Seria uma excelente contratação por parte do clube da Luz.
3. Samuel Lino
O jovem avançado do Gil Vicente fez uma época de estreia muito boa, em que marcou 11 golos, e esta época já vai com mais seis no campeonato. Bom tecnicamente, tem a mais valia de poder fazer todas as posições no ataque e, aliado à sua velocidade, tem um bom remate. Seria uma boa adição ao futebol do SL Benfica."
Os 4 nomes a sair para limpar o balneário | SL Benfica
"Concordas com a saída destes 4 nomes da Luz?
O mercado de transferências está quase a fechar e o SL Benfica tem estado relativamente parado no que toca a saídas e entradas do plantel.
Após a saída de Jorge Jesus era expectável que existissem mudanças não só no onze, mas também nos jogadores que compõem atualmente o plantel encarnado.
Muito se tem falado de jogadores que têm voz demasiado ativa dentro do balneário e que acabam por ter impacto direto no trabalho de quem que seja o treinador. No artigo de hoje, apontarei 4 nomes de jogadores que deveriam ter ordem de marcha de modo a “limpar” o balneário.
1. Gil Dias
A contratação de Gil Dias sempre foi um bocado dúbia para mim, apenas porque não lhe reconheço qualidade suficiente para envergar a camisola do SL Benfica.
Se a ideia era fazer com que o Grimaldo se preocupasse minimamente com a competição pela titularidade, a vinda de Gil Dias teve um efeito oposto.
Não percebo o porquê de se ter contratado este jogador e ter “despachado” o Nuno Tavares.
Um vai sendo titular no Arsenal, na liga inglesa, outro vai tendo uns minutos para a Taça da Liga porque o Grimaldo também merece umas folgas.
2. Adel Taarabt
Confesso que quando assinou pelo SL Benfica fiquei muito surpreendido. Era um jogador que havia brilhado na Premier League, no Queens Park Rangers FC e estava cá, em Portugal.
Contudo, e como era esperado, o Adel Taarabt que jogou no SL Benfica era uma sombra daquilo que havia sido em tempos. De ano para ano, de jogo para jogo, Taarabt prejudica mais que o que ajuda.
É, atualmente, um jogador completamente banal! Não tem espaço neste SL Benfica e está apenas a “roubar” a oportunidade a outros que por terem menos estatuto, têm, consequentemente, menos oportunidades.
3. André Almeida
Sei que parece que estamos a despachar os capitães, mas não é, de todo, essa a ideia. André Almeida simplesmente não tem futuro no SL Benfica. Ponto.
É um jogador que já deu muito às águias e os adeptos serão sempre gratos por tudo o que fez, no entanto é tempo de se inteirar e perceber que a sua presença prejudica mais do que ajuda.
É uma pena, pois, a continuar assim, vai sair pela “porta pequena”. Nunca foi um craque, mas é um jogador que tem muito SL Benfica dentro dele e por isso mesmo deveria ter noção da realidade.
4. Pizzi
O prazo de validade de Pizzi de águia ao peito já expirou há alguns anos. Pizzi não tem qualidade suficiente para se manter útil a jogar ao mais alto nível numa equipa como o SL Benfica.
Ainda que seja um dos capitães da equipa, Pizzi não tem sido opção e a sua saída seria o ideal de modo que pudesse ainda ter possibilidade de jogar noutro clube, bem como libertaria espaço para outros jogadores que estão “tapados” pelo transmontano.
Foi uma excelente ajuda para a equipa nos seus primeiros anos no SL Benfica, mas, neste momento, manter Pizzi no plantel é apenas desnecessário."
Premier Lage e um duende português
"Bruno Lage está a fazer um trabalho impressionante em Inglaterra. Depois dos anos competentes de Nuno Espírito Santo, foi decerto com expectativa que os Wolves receberam mais um português guiado pela mão amiga de Jorge Mendes. Neste momento, na tabela, segue logo após os multimilionários, que são vários, mas o jogo impressiona ainda mais que os números. A equipa não só manteve a segurança defensiva das épocas anteriores como reforçou competências ofensivas. E sem deixar de explorar o espaço, está agora mais paciente com bola. Com isso, controla melhor os jogos, por estar mais vezes a circular no meio-campo contrário e menos dependente dos bons posicionamentos defensivos, que mantém. E um jogar assim é ainda melhor para Ruben Neves e João Moutinho, dois intuitivos de qualidade superior que dominam o centro do terreno e do jogo, porque percecionam antes dos demais a decisão certa a tomar e a prolongam com eficácia em passes de qualidade. Rúben é uma bússola, o elemento que indica o caminho certo a dar à bola, distinguindo com facilidade se curto ou longo, e por via dela à equipa, que nunca se desorienta. João Moutinho é o metrónomo, o marcador de ritmos ofensivos e defensivos, que pode estar menos rápido de pernas mas que nunca vi mais fulgurante de pensamento. Se o futebol é um jogo de conquista e ocupação de espaços, e é muito, ver Moutinho jogar continua a ser como ler a sebenta de um catedrático. Está lá tudo sobre o tema.
Na ausência do explosivo Pedro Neto, na parte final da recuperação de uma lesão das piores, aplaudo que seja Trincão a opção primeira em cada jogo. Nada contra Adama Traoré, o raro velocista espanhol, tão exuberante nos músculos como nas arrancadas e que se torna depressa no herói de resumos televisivos ou lances recortados para redes sociais. Mas na opção por um ou outro - e o elogio é só técnico-tático, nada nacionalista - Bruno Lage mostra a coerência da sua proposta de jogo. Numa equipa que pretendeu subir a percentagem e qualidade da posse, é fundamental juntar jogadores que se associem, que falem a mesma linguagem, pois é só no campo, e através dos homens, que a melhor ideia adquire identidade. Ou então não consegue, simplesmente. Que, como alguém dizia com graça, “a teoria na prática é outra coisa”. Adama tem sido, mesmo assim, muito útil a Lage, que o lança regularmente nos momentos em que o cansaço acumulado faz o relvado parecer maior e os metros disponíveis são pasto ideal para velocistas puros. E a correr em campo aberto não há outro como ele, no mundo. De início, quando o espaço ainda rareia, avança Trincão, que tem, além dessa capacidade natural para se relacionar com a equipa, qualidade técnica diferenciada, talento natural para superar rivais em curvas apertadas e ainda uma tendência inata de passar bem no último momento.
Quando uma equipa está bem, todos os jogadores parecem melhores, há muito o sabemos. Por isso, na equipa mais portuguesa de além-Mancha, José Sá está seguro e confiante na baliza como não me lembro de o ver, Nelson Semedo surge de volta ao melhor nível e Fábio Silva vai aproveitando melhor cada oportunidade (porque Jimenez não dá muitas) de demonstrar que está bem a tempo de ser (só tem 19 anos!) o que lhe estava destinado: o melhor ponta de lança português da próxima década. Mas na imensa legião lusa dos lobos, onde agora foi acrescentado Toti Gomes, jovem defesa anteriormente saído anónimo do Estoril para a Suiça, falta referir o mais subvalorizado mas que é bem capaz de ser atualmente o mais decisivo e impressionante no rendimento: Daniel Podence. O que ele tem conseguido mostrar só não entusiasma quem analisa um futebolista pela “envergadura” ou “arcaboiço”, essas palavras antigas do léxico da bola. Podence é tanto soluções com bola como compromisso sem ela. Ataca ligando por dentro, defende fechando por fora. E depois é a coragem com que assume o um para um (e sabe quando o deve fazer) seja qual for a quantidade de centímetros do opositor, o que permite que drible limpo com ambos os pés e até nas proximidades da baliza, assiste com qualidade e variedade, finaliza competentemente. Quando se discute, pensando na seleção desde logo, sobre a necessidade de ligar jogo, de aproveitar as entrelinhas, de encontrar soluções por via da criatividade, é definitivamente injusto não colocar Podence entre as melhores opções. O pequeno duende é, aos 26 anos, um jogador de topo como sempre prometeu e a quem assenta como nunca a camisola 10 de uma das melhores equipas da Premier League nos dias que correm."
"Veia" exportadora
"Com a escalada impressionante do dinheiro envolvido no futebol, temos assistido, ao longo da última década e meia, à proliferação dos mais variados relatórios sobre este setor de atividade económica.
Confesso-me um ávido consumidor destes trabalhos, até porque senti a necessidade, e rapidamente ganhei o hábito, de os ler com atenção ao invés de me fiar, quando sequer existem, nas reproduções descontextualizadas das conclusões destes relatórios pela comunicação social dedicada ao desporto. O mesmo se passa com os relatórios e contas das SAD, cujo tratamento dado pela imprensa desportiva se limita, invariável e acriticamente, à divulgação das conclusões constantes nos próprios relatórios.
Serve esta introdução para referir a minha estupefação ao ter conhecimento de um relatório da Soccerex sobre os clubes com maior poderio financeiro em que FC Porto surge na 61.ª posição e o Benfica na 64.ª, os únicos portugueses neste ranking.
Como é possível que SADs com situações patrimoniais tão díspares não só estejam situadas proximamente no ranking como até em posições inversas face à comparação dos capitais próprios?
Clubismos à parte, isto, em 2021, não faz qualquer sentido, por superficial que seja a análise a ambas as sociedades. O que nem sequer é o caso deste índice da Soccerex, cuja metodologia, discutível em certos pontos, é inequivocamente complexa. Faltou verificar o que já se tornara óbvio: os dados estão ultrapassados, são de 2017/18.
A Soccerex considera cinco variáveis, a saber: valor dos passes de jogadores; ativos tangíveis (estádios, centro de estágio e outros); dinheiro em caixa (ou similares); potencial de investimento dos proprietários; dívida líquida. Mas mais do que os dados concretos, é sobretudo relevante observar as tendências. E essas demonstram claramente que o grande desafio com que os clubes portugueses se deparam é o de se manterem competitivos apesar de serem obrigados, por necessidade ou por menor capacidade de investimento, a serem exportadores."
A bruxa e o mago
"Sempre se soube do hábito de certa gente do futebol - muitos mais do que se possa pensar - entregarem, de olhos em alvo, generosas quantias nas mãos de bruxos e bruxas, crentes que estão que há certos meios, obscuros e eficazes, de manipular e condicionar os resultados dos jogos.
Porquê? - perguntar-se-á. Aqui vai uma resposta - múltipla, como múltiplos são os motivos que levam tanta gente a recorrer a estes serviços:
Desde logo e acima de tudo, a este tipo de práticas subjaz a universal crença no radical desvalimento do ser humano: impotente e incapaz de assumir o poder ontológico que, pela sua divina condição, lhe é inerente, lança mão de qualquer expediente que acredite possa minorar-lhe as dores e alisar-lhe o pedregoso caminho que o destino parece ter-lhe reservado. O recurso ao arsenal do mundo esotérico é correlativo da concepção da vida como “vale de lágrimas “ - tudo o que possa ajudar a enxugá-las, ou dar disso uma convincente esperança, e afanosamente procurado e, sem regatear, generosamente pago.
Depois, no que concerne ao futebol, dois factos decisivos contribuem para a generalização de práticas esotéricas: o seu constitutivo carácter aleatório e a gigantesca e compensadora indústria em que se tornou. São tão volumosos e irresistíveis os interesses que tão teratológica indústria comporta que, em seu redor, toda uma multidão de seguidores de Maquiavel se acotovela em rija disputa do osso.
Vem isto a propósito de notícias, nunca desmentidas, de que responsáveis do FCP teriam integrado no seu quadro de funcionários a denominada “bruxa de Matosinhos “, contemplada com principesco salário mensal, muito acima do tecto correntemente praticado.
Primeira e única dedução: se tanto se dispõem a pagar, com recurso ao mágico “saco azul”, é porque são considerados amplamente vantajosos os serviços por tão misteriosa personagem prestados. Melhor: porque como tal são projectados e percepcionados.
Com efeito, nada acontece neste nosso mundo tridimensional sem que seja antes imaginado e crido - absolutamente nada!
E, sobre estes modernos alquimistas de vão de escada, nada mais adequado e lapidar do que o sapientíssimo dito de nossos vizinhos: “brujas? no me lo creo, pero que las hay, las hay”.
Sim: ninguém admite ir ou ter ido à bruxa, mas barcos, a abarrotar de gente de todos os estratos sociais, atravessavam o Tejo diariamente fazendo filas que evocavam os tempos pós-guerra da senha do racionamento, fazendo filas à porta do “Joãozinho de Alcochete”. E o”bruxo de Fafe”nem no pico da pandemia registou qualquer quebra na procura.
Como afirmou Paracelso: “ não importa se é verdadeiro ou falso aquilo em que se crê, mas sim o facto de se acreditar”: a fé é a catapulta da criação!
Com o bruxedo é a mesma coisa: o efeito não está na materialidade do feitiço, mas na crença que se deposita na sua desejada eficácia. Mora no interior o comando que determina o mundo exterior.
Mas há mais: a ciência confirma que somos energia e estamos todos conectados a um campo energético descoberto por Max Planck, pelo que somos afectados por energias manipuladas e vibracionalmente degradadas. Mas, atenção, o alegado poder manipulatório atribuído aos bruxos só produz efeito se este for previamente objecto da crença quer do emissor quer do receptor.
Eis-nos perante uma inquietante verificação:
Se no Dragão parece prevalecer a crença nos poderes da bruxa, já em Alvalade, parece impor-se a incondicional crença nos inebriantes dotes do mago - um treinador melífluo, mas arrasadoramente eficaz.
Enquanto isso, na Luz mora uma águia depenada, a tiritar de frio e de medo.
E, claro, sabemo-lo todos: a fé cria, o medo mata!"
Reformar o pensamento
"Reformar o Pensamento é o título de um livro de Edgar Morin. Foi editado, em Portugal, pelo Instituto Piaget. Nele recortei o seguinte: “Existe a inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os nossos saberes separados, partidos, compartimentados entre disciplinas e por outro lado as realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, globais, planetários (…). De facto, a hiperespecialização impede ver o global (que fragmenta em parcelas) assim como o essencial (…). Ora, os problemas essenciais nunca são os parcelares e os problemas globais são cada vez mais essenciais”(p. 13).
Por palavras minhas direi que não pode conhecer-se, separando o cognoscente do cognoscível. Por outro lado, ninguém conhece sozinho. Mas, na esfera do conhecimento, há um crime que demasiadas vezes se esconde e, no meu entender, é de todos o primeiro: precisamente a ignorância produzida pelos regimes opressores. No Portugal, sob o domínio de Salazar, Marx não se estudava, nas licenciaturas de Filosofia, “por imposição superior”. O mesmo acontecia, na Europa pró-soviética. Numa universidade polaca, em 1976, perguntei a um professor desta mesma instituição, se conhecia o “Ópio dos Intelectuais” de Raymond Aron (1905-1983). Confidenciou-me, imediatamente: “É um autor marginalizado pelo regime”. Quem promove a ignorância e a cegueira políticas impõe, quase sempre, arrebatamentos populares que manipulam e alienam. Como é possível um corte epistemológico e político, a partir das bases, sem bases conscientemente formadas, para a ciência, para a filosofia, para a política? Sem um escol esclarecido, não há pensamento, no campo teórico, que acompanhe e desenvolva a revolução, no campo político. Um conhecidíssimo revolucionário deixou-nos o aviso; “sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionario”. Por isso, no estrito campo universitário, sejamos elitistas, contra uma sociedade elitista. O ser humano não é um ser puramente económico, mas um ser que, pelo movimento intencional e solidário da transcendência, produz e reproduz o caminho do Absoluto. Este movimento da transcendência, portanto, não é como categoria epistemológica que deverá estudar-se tão-só, pois que a transcendência é matéria e vida e espírito, simultaneamente. Para mim, toda a dialética é materialista, quando no seu radical posicionamento não se vislumbra a mediação humana, como espírito.
“O maior contributo do século XX foi o conhecimento dos limites do conhecimento” (Reformar o Pensamento, op. cit., p. 61). Portanto, estudar uma área do conhecimento é dialogar com a incerteza. E, diante da incerteza, “todos somos irmãos”. Muitas vezes cito o Hegel da Ciência da Lógica: “A Verdade é o Todo”. E leio agora o José Barata Moura: “A totalidade encontra-se intimamente ligada ao concreto. Enquanto forma categorial subjectiva de reflexo da realidade objectiva, ela visa precisamente, avançar já no sentido de melhor determinar, de um ponto de vista estrutural o concreto de que o saber parte e aonde regressa finalmente, num estádio sintético superior (…). O característico de uma visão imediata do real é precisamente esta permanência do disperso, no separado, no isolamento dos diferentes elementos que a experiência nos fornece ou impõe” (Totalidade e Contradição – acerca da dialéctica, Livros Horizonte, Lisboa, 1976, pp- 120/121). Portanto, há sempre uma visão abstracta da realidade numa hiperespecialização que esquece o todo de um fenómeno, ou seja, que faz do parcelar, do imediato, do unilateral o absoluto. Descambam na absolutização do parcelar aqueles antigos praticantes de uma modalidade desportiva que desconhecem a “plurideterminação do concreto” da prática de um desporto. A verdade do que o desporto é supõe o todo. E, porque “não há jogos, há pessoas que jogam”, a pessoa que o jogador é desempenha o papel nuclear na análise (por exemplo) de um jogo de futebol. Que o mesmo é dizer: sabendo muito do futebol que faz, um ex-jogador profissional de futebol pode saber muito pouco do futebol que faz um seu camarada de profissão. De facto, na análise de um jogo de futebol, no todo que é o futebol, há muito mais do que futebol. Na nossa sociedade do conhecimento, o conhecimento supõe a informação e a informatização, que rivalizam com o próprio capital. Ou seja, na análise de um jogo de futebol, ou de qualquer outra modalidade, deverá apelar-se para todas as estruturas envolvidas, em qualquer instância prática de intervenção da motricidade... humana!
“Se tivéssemos de escolher um qualificativo, para a sociedade ocidental moderna, não hesitaríamos em considerá-la uma sociedade tecnocientífica e tecnocrata. É óbvio que poderíamos enumerar muitas outras características desta nossa sociedade mas, sendo parcelares, não deixariam de ter, porventura de dependência ou de consequência com o complexo científico-tecnológico que nos envolve como o ar que respiramos” (Mário Pissarra, in AA.VV., A Filosofia Face À Cultura Tecnológica, Associação de Professores de Filosofia, Coimbra, 1988, p. 58). No entanto, a tecnociência e a tecnologia não valem por si, são indissociáveis do mundo humano, onde são meios e não fins. Ambas fazem parte do real, mas utilizam-se num fundo de relação e num horizonte de pertença à totalidade humana que as transcende na sua imediatez. Todo o conhecimento científico, técnico e tecnológico é, como sistema, um conhecimento social e humano. Por isso, não me canso de afirmar que é, como ciência humana que o desporto deverá estudar-se. A psicologia, a sociologia, a economia, a antropologia, a história, a linguística, etc., etc., definidas pela especificidade crescente dos seus objetivos e métodos, são, todas elas, ciências autónomas e diferentes mas procuram, afinal, oferecer-nos a complexidade humana como objeto final da investigação. A constituição das ciências humanas consolidou-se a partir de três correntes do pensamento que, entre os anos 20 e 60 do século passado, provocaram um corte epistemológico, uma revolução científica, na esfera das humanidades: a fenomenologia, o estruturalismo e o marxismo – mas todas referentes a um único princípio sistémico ou organizacional, o ser humano! Reformar o pensamento, no desporto, com consequências iniludíveis científicas, filosóficas, culturais, significa fazer da pessoa humana o radical fundante de tudo o que se diz e faz. Em qualquer equipa de futebol, ou de andebol, ou de basquetebol, desportiva em suma, não pode reformar-se a equipa, se antes não se reformaram as mentalidades, nem previamente reformar as mentalidades, se previamente não se reformaram as equipas. Nos sistemas humanos, a tendência habitual é evitar o “caos”. Mas importante se torna também evitar uma ordem inflexível, que se transforme em dogma. O “limiar do caos” encontra-se presente em qualquer sistema. É numa tensão incessante entre a ordem e o caos que se alimenta a dialética.
“Existem resistências formidáveis a esta reforma simultaneamente una e dupla. A enorme máquina da educação é rígida, endurecida, coriácia, burocratizada. Muitos professores estão instalados nos seus hábitos e nas suas soberanias disciplinares (…). A cada tentativa de reforma, mesmo menor, a resistência cresce” (Edgar Morin, op. cit., pp. 105/106). Por tudo isto, que o Edgar Morin sublinha, com vigor, foi com um discurso sucinto e resguardado que tentei um “corte epistemológico” físico-motricidade humana. Tenho a certeza, porém, que a motricidade humana, como paradigma, está a colar-se a tempos novos e… tem futuro! Este paradigma surge como uma escola de humanidade, repleta de referentes históricos e leituras multifacetadas, capazes de transformar o desporto (um exemplo, entre outros) em teoria e prática inovadoras e urgentes. Aprender, através do movimento intencional e solidário da transcendência e aprender para o movimento intencional e solidário da transcendência parecem-me ser os dois movimentos essenciais da motricidade humana. De ambos emerge a máxima: aprender, jogando, pois que toda a transcendência é um jogo onde me realizo como ser em procura incessante do Absoluto. De ambos emerge Natureza e Cultura. Foi Hegel e, depois dele, Marx que enfatizaram a Cultura como História. Em Hegel, o tempo é o modo como a Razão se manifesta (a religião, as artes, as ciências, as instituições políticas, a cultura). Para Marx, descobre-se em Hegel um erro básico, ao desconhecer que o movimento histórico da Razão se realiza na “luta de classes”. Dando um salto apressado sobre a obra monumental de Hegel e Marx, realço agora que o jogo não é fundamental unicamente na didática da chamada “educação física”, mas até na prática desportiva, altamente competitiva. O desporto profissional é jogo e trabalho: o jogo (como atividade festiva e livre) e o trabalho (como atividade imposta e utilitária). Mas na alta competição, há menos jogo do que trabalho, há mais religião do que indiferente agnosticismo. A história do desporto, como a História em geral, depende, sobre o mais, da liberdade. O determinismo histórico é, para mim, uma falácia, pois que, em qualquer situação, podemos ver sempre um “ponto de partida” e não tanto um “ponto de chegada”. Reformar o pensamento, no desporto, significa, acima de tudo, que o futuro está por escrever. No desporto e na vida…"
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