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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Lixívia 23

Tabela Anti-Lixívia
Benfica..... 56 (-5) = 61
Corruptos.. 57 (+22) = 35
Sporting... 46 (+14) = 32

Aquilo que se passou na Luz foi a prova provada que este campeonato, ultrapassou em todos os indicadores, os níveis mais básicos de decência!!! Não existe qualquer explicação séria, que defenda a não marcação do penalty sobre o Pizzi. Se os avençados do Nojo, defendem que não existe penalty (um até defende que o Pizzi fez falta!!!), isso é completamente irrelevante... Essa gente não tem um átomo de honestidade em todo o corpo!!! Quando o VAR, bem, diz que foi penalty... e o Mota depois de rever as imagens na televisão, diz que não houve nada, é porque não tem condições de ser árbitro... tal como o Veríssimo na Taça da Liga!!! É demasiado evidente...
Esta gente nem a 'roubar' são competentes... os mais experientes ladrões, facilmente explicariam a estes 'novatos' que é preferível 'roubar' aos bocadinhos, para passar despercebido, do que à descarada!!!

Mas este não foi o único erro. Por exemplo, no 3.º golo do Benfica, o Seferovic é claramente empurrado... Até me parece que o empurrão, faz com que o Seferovic 'dê' mal na bola, e acaba por enganar o guarda-redes!!! Agora, pela não reacção nos média, tenho a certeza absoluta que se não tivesse sido golo, nem sequer teriam discutido a existência da falta...!!!

No resto do jogo, o critério do costume: nos últimos 25 metros, não existe faltas a favor do Benfica... Qualquer jogador do Chaves, que vá ao chão nos últimos 50 metros, falta contra o Benfica... para potenciar as bolas aéreas, na área do Benfica!!!

Ficou ainda outro penálty por marcar sobre o Félix, com 1-0 no marcador: o Maras antes da bola chegar ao Félix, dá claramente uma cotovelada nas costas do Félix... Esta é daquelas faltas que fora da área, são quase sempre marcadas...
Outro dos lances mais absurdos, foi a recuperação 'limpa' do Rafa sobre o Costinha, que iria dar um jogada de golo ao Benfica... A recuperação é claramente 'limpa', o jogador do Chaves até se pode ter lesionado mas não houve qualquer falta...

Até no apito final, o Mota conseguiu fazer merda... pois terminou o jogo, quando o Benfica estava a construir mais um jogada de perigo!!!


Em Tondela, não houve Casos de golo ou penalty... com influência directamente neste jogo. Mas houve um critério disciplinar absurdo que protegeu os Corruptos... inacreditável como o Herrera chegou ao fim sem Amarelo!!!
Isto quando o Herrera facilmente 'forçava' o Vermelho no final da partida para jogar contra o Benfica, cumprido o castigo no jogo da Taça com o Braga (adiado com este propósito...)!!!
Mas uma realização do PorkosTV à medida, a esconder à descarada as repetições mais susceptíveis a polémica!!!

Nota para os foras-de-jogo dos Corruptos: os fiscais só levantam a bandeirola mesmo no final da jogada, nem que seja 1 minutos depois...!!! Cobardes, todos...

Comovente a forma como Ricardo Costa, depois de perder um jogo, se despediu dos 'seus' Super Dragays... isto num jogo, onde dois dos seus alívios deram golo do adversário... onde 'impediu' um golo da sua equipa... e ainda outras 'infantilidades'!!!!


Nos Barreiros, mais uma monumental choradeira Lagarta no final da partida!!! Afinal, nem o Tiago Martins conseguiu 'dar' a vitória ao Sporting!!!
Sim, o Marítimo fez anti-jogo... como qualquer outra equipa... Mas o Sporting voltou a ser beneficiado pelo apitadeiro: o Gudelj devia ter sido expulso... e o Coates deveria ter sido expulso, mais cedo: então qual é a diferença entre a jogada do Ferro na Vila das Aves e o 1.º Amarelo do Coates nos Barreiros?!!!
Sendo que aparentemente ninguém se preocupou em saber se a falta foi cometida dentro ou fora da área... nem a PorkosTV!!!

O Tiaguinho pelo menos não 'inventou' um penalty para o Bas Dost, parece-me que até os próprios apitadeiros, já não acreditam que o 'seu' Sporting, lute pelo título... agora vão apostar tudo na Taça!!!

Anexo(I):
Benfica
1.ª-Guimarães(c), V(3-2), Pinheiro(Sousa), Nada a assinalar
2.ª-Boavista(f), V(0-2), Mota(Malheiro), Nada a assinalar
3.ª-Sporting(c), E(1-1), Godinho(Sousa), Prejudicados, (2-1), (-2 pontos)
4.ª-Nacional(f), V(0-4), Veríssimo(Xistra), Prejudicados, Beneficiados, (0-7), Sem influência no resultado
5.ª-Aves(c), V(2-0), Rui Costa(Paixão), Prejudicados, (3-0), Sem influência no resultado
6.ª-Chaves(f), E(2-2), Capela(Esteves), Prejudicados, (1-3), (-2 pontos)
7.ª-Corruptos(c), V(1-0), Veríssimo(Sousa), Prejudicados, (2-0), Sem influência no resultado
8.ª-Belenenses(f), D(2-0), Soares Dias (V. Ferreira), Prejudicados, (1-0), Impossível contabilizar
9.ª-Moreirense(c), D(1-3), Almeida(Esteves), Prejudicados, (3-3), (-1 ponto)
10.ª-Tondela(f), V(1-3), Pinheiro(Nobre), Prejudicados, (1-4), Sem influência no resultado
11.ª-Feirense(c), V(4-0), Rui Costa(Mota), Prejudicados, (5-0), Sem influência no resultado
12.ª-Setúbal(f), V(0-1), Xistra(Sousa), Prejudicados, (0-2), Sem influência no resultado
13.ª-Marítimo(f), V(0-1), Pinheiro(Nobre), Prejudicados, Sem influência no resultado
14.ª-Braga(c), V(6-2), Soares Dias(Esteves), Prejudicados, (7-2), Sem influência no resultado
15.ª-Portimonense(f), D(2-0), Mota(Nobre), Prejudicados, Sem influência no resultado
16.ª-Rio Ave(c), V(4-2), Godinho(Sousa), Prejudicados, (4-1), Sem influência no resultado
17.ª-Santa Clara(f), V(0-2), Capela(Rui Costa), Prejudicados, Beneficiados, (0-3), Sem influência no resultado
18.ª-Guimarães(f), V(0-1), Martins(Vasco Santos), Prejudicados, Sem influência no resultado
19.ª-Boavista(c), V(5-1), Rui Costa(Esteves), Prejudicados, (6-1), Sem influência no resultado
20.ª-Sporting(f), V(2-4), Soares Dias(Pinheiro), Prejudicados, (1-6), Sem influência no resultado
21.ª-Nacional(c), V(10-0), Almeida(Pinto), Nada a assinalar
22.ª-Aves(f), V(0-3), Miguel(V. Ferreira), Nada a assinalar
23.ª-Chaves(c), V(4-0), Mota(Esteves), Prejudicados, (6-0), Sem influência no resultado

Corruptos
1.ª-Chaves(c), V(5-0), Almeida(Vasco Santos), Beneficiados, Impossível contabilizar
2.ª-Belenenses(f), V(2-3), Xistra(Capela), Beneficiados, (2-2), (+2 pontos)
3.ª-Guimarães(c), D(2-3), Veríssimo(Paixão), Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Moreirense(c), V(3-0), Malheiro(L. Ferreira), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Setúbal(f), V(0-2), Manuel Oliveira(Vasco Santos), Beneficiados, Impossível contabilizar
6.ª-Tondela(c), V(1-0), Godinho(Malheiro), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
7.ª-Benfica(f), D(1-0), Veríssimo(Sousa), Beneficiados, (2-0), Sem influência no resultado
8.ª-Feirense(c), V(2-0), Rui Oliveira(Vasco Santos), Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)
9.ª-Marítimo(f), V(0-2), Xistra(Sousa), Beneficiados, Sem influência no resultado
10.ª-Braga(c), V(1-0), Soares Dias(L. Ferreira), Beneficiados, (+2 pontos)
11.ª-Boavista(f), V(0-1), Hugo Miguel(Veríssimo), Beneficiados, (2-1), (+3 pontos)
12.ª-Portimonense(c), V(4-1), Mota(Pinheiro), Beneficiados, (1-2), (+3 pontos)
13.ª-Santa Clara(f), V(1-2), Godinho(Esteves), Beneficiados, (2-1), (+3 pontos)
14.ª-Rio Ave(c), V(2-1), Martins(Malheiro), Beneficiados, (2-2), (+2 pontos)
15.ª-Aves(f), V(0-1), Pinheiro(Soares), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
16.ª-Nacional(c), V(3-1), Rui Costa(Vasco Santos), Beneficiados, Impossível contabilizar
17.ª-Sporting(f), E(0-0), Miguel(Martins), Prejudicados, Impossível contabilizar
18.ª-Chaves(f), V(1-4), Almeida(Godinho), Nada a assinalar
19.ª-Belenenses(c), V(3-0), Godinho(L. Ferreira), Beneficiados, (2-1), Impossível contabilizar
20.ª-Guimarães(f), E(0-0), Rui Costa(Rui Oliveira), Beneficiados, Impossível contabilizar
21.ª-Moreirense(f), E(1-1), Sousa(L. Ferreira), Beneficiados, (2-0), (+ 1 ponto)
22.ª-Setúbal(c), V(2-0), Almeida(Rui Oliveira), Beneficiados, (2-1), Impossível contabilizar
23.ª-Tondela(f), V(0-3), Godinho(Xistra), Nada a assinalar

Sporting
1.ª-Moreirense(f), V(1-3), Martins(Miguel), Nada assinalar
2.ª-Setúbal(c), V(2-1), Manuel Oliveira(L. Ferreira), Beneficiados, (2-2), (+2 pontos)
3.ª-Benfica(f), E(1-1), Godinho(Sousa), Beneficiados, (2-1), (+1 ponto)
4.ª-Feirense(c), V(1-0), Rui Oliveira(Esteves), Beneficiados, (1-1), (+ 2 pontos)
5.ª-Braga(f), D(1-0), Soares Dias(Veríssimo), Beneficiados, Sem influência no resultado
6.ª-Marítimo(c), V(2-0), Almeida(Sousa), Beneficiados, (1-0), Impossível contabilizar
7.ª-Portimonense(f), D(4-2), Miguel(L. Ferreira), Nada a assinalar
8.ª-Boavista(c), V(3-0), Xistra(L. Ferreira), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
9.ª-Santa Clara(f), V(1-2), Mota(V. Ferreira), Beneficiados, (1-0), (+3 pontos)
10.ª-Chaves(c), V(2-1), Martins(M. Oliveira), Beneficiados, (0-1), (+3 pontos)
11.ª-Rio Ave(f), V(1-3), Xistra(Malheiro), Beneficiados, Prejudicados, (2-3), Impossível contabilizar
12.ª-Aves(c), V(4-1), V. Ferreira(L. Ferreira), Beneficiados, (4-3), Impossível contabilizar
13.ª-Nacional(c), V(5-2), Veríssimo(Miguel), Beneficiados, Prejudicados, (3-2), Impossível contabilizar
14.ª-Guimarães(f), D(1-0), Godinho(Sousa), Nada a assinalar
15.ª-Belenenses(c), V(2-1), Capela(Esteves), Beneficiados, Impossível contabilizar
16.ª-Tondela(f), D(2-1), Almeida(Malheiro), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado
17.ª-Corruptos(c), E(0-0), Miguel(Martins), Beneficiados, Impossível de contabilizar
18.ª-Moreirense(c), V(2-1), Rui Costa(Capela), Beneficiados, (1-2), (+3 pontos)
19.ª-Setúbal(f), E(1-1), Malheiro(V. Santos), Nada a assinalar
20.ª-Benfica(c), D(2-4), Soares Dias(Pinheiro), Beneficiados, (1-6), Sem influência no resultado
21.ª-Feirense(f), V(1-3), Mota(Esteves), Prejudicados, Beneficiados, (2-3), Impossível contabilizar
22.ª-Braga(c), V(3-0), Sousa(Martins), Prejudicados, Sem influência no resultado
23.ª-Marítimo(f), E(0-0), Martins(Rui Oliveira), Beneficiados, Impossível contabilizar

Anexo(II):
Benfica:
Sousa: 0 + 5 = 5
Esteves: 0 + 5 = 5
Rui Costa: 3 + 1 = 4
Pinheiro: 3 + 1 = 4
Mota: 3 + 1 = 4
Soares Dias: 3 + 0 = 3
Nobre: 0 + 3 = 3
Godinho: 2 + 0 = 2
Capela: 2 + 0 = 2
Almeida: 2 + 0 = 2
Xistra: 1 + 1 = 2
V. Ferreira: 0 + 2 = 2
Veríssimo: 1 + 0 = 1
Martins: 1 + 0 = 1
Miguel: 1 + 0 = 1
Malheiro: 0 + 1 = 1
Paixão: 0 + 1 = 1
V. Santos: 0 + 1 = 1
Pinto: 0 + 1 = 1

Corruptos:
Godinho: 4 + 1 = 5
V. Santos: 0 + 4 = 4
L. Ferreira: 0 + 4 = 4
Almeida: 3 + 0 = 3
Veríssimo: 2 + 1 = 3
Xistra: 2 + 1 = 3
Malheiro: 1 + 2 = 3
Rui Oliveira: 1 + 2 = 3
Miguel: 2 + 0 = 2
Rui Costa: 2 + 0 = 2
Capela: 1 + 1 = 2
Martins: 1 + 1 = 2
Sousa: 0 + 2 = 2
Esteves: 0 + 2 = 2
M. Oliveira: 1 + 0 = 1
Mota: 1 + 0 = 1
Soares Dias: 1 + 0 = 1
Sousa: 1 + 0 = 1
Paixão: 0 + 1 = 1
Pinheiro: 0 + 1 = 1

Sporting:
Martins: 3 + 2 = 5
Sousa: 1 + 4 = 5
Miguel: 2 + 2 = 4
L. Ferreira: 0 + 4 = 4
Malheiro: 1 + 2 = 3
Xistra: 2 + 0 = 2
Godinho: 2 + 0 = 2
Almeida: 2 + 0 = 2
Soares Dias: 2 + 0 = 2
Mota: 2 + 0 = 2
V. Ferreira: 1 + 1 = 2
Veríssimo: 1 + 1 = 2
M. Oliveira: 1 + 1 = 2
Pinheiro: 1 + 1 = 2
Rui Oliveira: 1 + 1 = 2
Esteves: 0 + 2 = 2
Rui Costa: 1 + 0 = 1
Capela: 0 + 1 = 1
V. Santos: 0 + 1 = 1
Épocas anteriores:

Apenas se...

"Félix Bermudes foi companheiro do meu bisavô Acácio de Paiva na boémia lisboeta do seu tempo. Mas sobretudo companheiros de poesia e de teatro. Mas Félix gostava ainda de tudo o que era desporto.

O meu bisavô materno, Acácio de Paiva, foi uma figura! 'Uma figura! Uma figura!', exclamaria Otto Lara de Resende. Poeta, sobretudo, mas também jornalista, e dos bons!, n'O Século, no Diário de Notícias, na Ilustração Portuguesa.
Desculpem-me estar aqui a puxar a brasa da família, mas já me explico.
No que foi outrora o Lugar do Olival (no tempo em que havia lugares), agora Vila do Olival (vaidosamente), na Casa das Conchas, onde Acácio de Paiva viria a morrer em 1944, há penduradas na biblioteca umas fotografias que retratam bem a vida boémia lisboeta desse meu fascinante antepassado, um mordaz crítico de teatro e que colaborou, igualmente, na escrita de muitas peças. Pois bem. É agora que chego ao que vinha para aqui recordar. Em várias delas, das fotografias, claro, quem se apresenta solene, de bigode à Keiser, é Félix Bermudes. Esse mesmo, o Félix Bermudes.
Eram amigos, compinchas, frequentadores das tertúlias coloquiais e culturais da capital.
Ah! Félix Bermudes teve uma daquelas biografias infinitas que mais valem um livro do que uma croniqueta como esta que vos deixo, leitores pacientíssimos.
Nascido no Porto, no dia 4 de Julho de 1874, o futebol, para ele, seria sempre a coisa mais importante das coisas menos importantes. Mas não o Benfica. Tinha uma vida repleta. No desporto fez de tudo um pouco: atletismo, ténis, ciclismo, tiro, esgrima, hipismo, natação... E a bola, claro! Jogava a meio-campo.
Estava presente quando o Benfica nasceu, e disse sempre presente em todos os momentos complicados desses dias primordiais.
Poeta, dramaturgo, fundador daquela que começou por ser a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses e é a agora a Sociedade Portuguesa de Autores, era dado a tiradas grandiloquentes: 'Sou benfiquista porque ajudei a construir, com uma parcela da minha própria alma, a catedral rubra da Alma do Benfica. Mesmo batido pelas vagas mais alterosas, o Benfica não soçobra!'
Escreveu  hino do clube.
Avante p'lo Benfica
'Avante, avante p'lo Benfica
Que uma aura triunfante glorifica
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!'
O Regime não gostou. Não queria cá avantes. Ainda por cima encarnados. Sim, encarnados, e não vermelhos. O Regime também não queria o vermelho. O hino ficou nas gavetas da memória. Pelo que sei, continua lá.

Poetas!
O meu bisavô Acácio de Paiva não era grande adepto do jogo inventado pelos ingleses (nem do desporto em geral), embora tenha deixado um interessantíssimo poema sobre um Portugal - Espanha.
Ligava-o a Félix Bermudes uma paixão fundamental pelo teatro e pela literatura.
A assinatura de Félix aparece, como autor ou colaborador, em mais de cem peças de teatro, de revista, de opereta. E em novelas e ensaios de filosofia política e espiritual. Talvez a sua maior obra tenha sido A Conquista do Eterno - O Homem Condenado a Ser Deus. Debruçou-se sobre a centalha divina que cada ser humano recebia do Criador. Entrou no caminho da teosofia. E, como era de esperar, esteve na base do nascimento da Sociedade Teosófica de Portugal.
Era um daqueles homens descontentes que investiam na agregação dos que sabiam serem predestinados.
Poeta sempre: Cinzas e Nada.
Mestre da comédia: O Conde Barão; O Amigo de Peniche; A Bicha de Rabiar; Arroz Doce; João Ratão; O Poço do Bispo, por exemplo. Exemplo, curtinho, senão precisava de páginas e páginas deste seu jornal.
Graças a ele, o futebol subiu ao palco do Politeama, juntamente com Ernesto Rodrigues e João Bastos, em 1925, com o Leão da Estrela. Em 1947, veio o filme de Arthur Duarte, com Sporting e FC Porto e sem Benfica.
Nesse tempo, o seu bisavô já partira para essa planície onde crescem as flores da eterna saudade.
Félix Redondo Adães Bermudes veio ao mundo na Rua de Santo Ildefonso, tirou o Curso Superior de Comércio, trabalhou em lanifícios, fez-se homem, meteu-se na política, foi fichado pela PIDE.
Simpatizo com essa faceta de Santo Ildefenso. Afinal, também eu nasci em Santo Ildefonso...
No tempo em que Félix Bermudes e Acácio de Paiva percorriam as madrugadas eléctricas dessa Lisboa malandra e grandeira, soltando para satisfação dos que os acompanhavam, tiradas poéticas de supetão. Félix traduziu If, de Rudyard Kipling. Pela primeira vez em Portugal houve quem tivesse a oportunidade de cair na realidade de uma obra perturbadora e comovente.
Desculpem-me se vos aborreço. Não sei se por ter um bisavô poeta, gosto de poesia e não sei viver sem ela.
E como, por vezes, não tenho mais nada para dar, gosto igualmente de oferecer poemas.
Este é um pedaço de Se. Foi também um pedaço da vida de Félix Bermudes.
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...
Ah! Se... Pois, se puderem, leiam o resto.
E guardem todo o poema por dentro. Não como um. Se, mas como um grito de revolta contra este tempo que teima em matar os poetas."

Afonso de Melo, in O Benfica

O popular Benfica na Feira Popular

"O Pavilhão do Benfica: local de afirmação da popularidade e grandiosidade do Clube.

Inaugurada em 1943, a Feira Popular de Lisboa começou por ser uma feira internacional de amostras, que pretendia demonstrar o que de melhor se fazia no país, antes de se tornar, nas décadas seguintes, num espaço de divertimento. O seu principal objectivo era o financiamento da Colónia Balnear Infantil O Século, fundada por este periódico em 1927, que proporcionava campos de férias às crianças desfavorecidas do concelho.
Por iniciativa de José Pereira da Rosa, director do jornal O Século, do seu filho Carlos Alberto Pereira da Rosa e Joaquim Pavão, administradores da Feira Popular, o Benfica abriu o seu primeiro pavilhão neste espaço de diversão lisboeta em 1953.
A construção do Pavilhão do Benfica na Feira Popular de Lisboa esteve a cargo do arquitecto João Simões, que também projectara o Estádio da Luz. Na exposição era possível conhecer a história do Clube, as suas filiais e o ecletismo, bem como vislumbrar a maqueta do que viria a ser o Estádio da Luz. No entanto, o maior foco deste espaço era a enorme exposição de troféus que o Clube conquistara ao longo dos seus 49 anos de vida. No Pavilhão do Benfica havia ainda um mealheiro onde os visitantes podiam colocar a sua contribuição para a construção do Estádio da Luz que, a par do Sorteio Monumental - cujas senhas também eram aqui adquiridas -, constituiu uma grande fonte de receitas para a concretização da tão desejada obra.
Tal como se previa, o Pavilhão do Benfica foi um dos mais populares da Feira Popular, recebendo milhares de visitantes, o que levou a que o Clube repetisse a experiência no ano seguinte. O Benfica abriu o seu pavilhão na Feira Popular de Lisboa em 1953, 1954, 1956, 1961 e 1962, tendo ainda um pequeno espaço para actividades organizadas pelo Clube e por outras associações, em 1957.
Em 1961, a grande atracção deste espaço foi a recém-conquistada Taça dos Clubes Campeões Europeus, à qual se juntou, em 1962, o bicampeonato europeu e o urso-mascote, oferecido ao Benfica em Amesterdão.
Saiba mais sobre outras actividades culturais do Clube na área 16 - Outros Voos do Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Manana, in O Benfica

Tino – A história de um rapaz que não deixa ninguém tocar na menina

"Na Luz, a história de um rapaz que roubou constantemente a menina aos “maus” para a entregar aos seus.

Sensacional:
"

"
FernandoRedondo, in Lateral Esquerdo

Confiança

"A vitória sobre o Desportivo de Chaves permite ao Benfica entrar em Março bem posicionado nas três competições: na corrida pela liderança do campeonato nacional, à espera do embate com o Dínamo Zagreb na Liga Europa e a um mês de discutir a presença na final da Taça de Portugal.
O jogo de ontem merece ser sublinhado por diversos motivos. A equipa voltou a exibir-se a um nível alto e a confirmar todas as boas razões que a levaram a reconquistar os adeptos. Golos, espectáculos de qualidade e, no final, outra vez a vontade de que o próximo jogo chegue rapidamente.
A conclusão que se deve tirar é a mesma que é recomendada nos desenhos animados do Canal Panda – os agora famosos ‘Super Wings Equipa’: o mérito está sempre no bom funcionamento geral. Ou como dizia Di Stéfano, “nenhum jogador é tão bom como todos juntos”.
É exactamente por existir um colectivo forte e com consciência solidária que tem sido possível o aparecimento de destaques individuais: Seferovic a marcar nas últimas 8 jornadas da Liga; Rafa com a melhor série goleadora; os registos históricos de João Félix; as estreias positivas de Corchia e Florentino como titulares em jogos do campeonato; a lição de profissionalismo (e de qualidade) de Gabriel; Jonas a marcar de novo; ou o baptismo de Jota no Estádio da Luz. E muito mais haveria para destacar num plantel onde todos, sem excepção, contam.
O momento é bom, mas o foco não se desvia do essencial: o jogo de ontem valeu 3 pontos e representou mais um passo na longa caminhada. O próximo objectivo é o jogo de sábado, no Porto, às 20h30. Um adversário de grande qualidade, que exigirá ao Benfica a sua melhor versão."

Outros escritos

"Foi publicada no local respectivo a declaração de insolvência proferida pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, Juízo de Comércio de Lisboa - Juiz 5 de Lisboa, no dia 18-02-2019, às 16:00 horas, de Controlinveste - SGPS, SA, NIF 507195515, com sede na Rua Abranches Ferrão, n.º 10, 12.º, 1600-001 Lisboa.
São administradores da sociedade insolvente Joaquim Francisco Alves Ferreira de Oliveira, Rolando António Durão Ferreira de Oliveira.
A sociedade que participa nas várias sociedades anónimas desportivas é antes a Olivedesportos SGPS, SA.
Confesso que não me debrucei ainda sobre quantas sociedades pertencem aos administradores da sociedade que agora foi declarada insolvente e se a sociedade insolvente participa no capital da Olivedesportos e mesmo quantas Olivedesportos existem!
O que poderei já adiantar é que o número de sociedades pertencentes, digamos, aos mesmos accionistas, directa ou indirectamente, é enorme.
A seu tempo debruçar-nos-emos sobre toda esta estrutura, porque, cada vez que temos de nos debruçar sobre estruturas destas, caminhamos horas e horas por caminhos tortuosos, maçudos e complicados, ou não fora a engenharia societária e financeira que o mundo moderno em que vivemos criou.
Até lá, fica este sentimento de juventude num Benfica revigorado, espero que contagioso para todos os que trabalham, vivem e respiram Sport Lisboa e Benfica.
A todos os que trabalham para o Benfica."

Pragal Colaço, in O Benfica

Disfuncionalidade e Funcionalidade

"Disfuncionalidade
Infelizmente, no mundo actual, cada vez constatamos mais pessoas que não possuem uma relação muito harmoniosa com a funcionalidade.
Funcionalidade concebida, ou pensada, como uma harmonia equilibrada entre um lado e o outro lado.
Vem tudo isto a propósito da incapacidade que os raciocínios jurídicos cada vez possuem mais, quando escrevem, escrevem, escrevem e concluem totalmente diferente do que escreveram.
Existe uma ânsia 'danada' de encher páginas e páginas com letras, provocando ao leitor, mesmo que técnico, um cansaço inusitável, o que permite que as conclusões sejam absorvidas pelo leitor de forma pacífica.
Se fizermos um exercício de leitura seguida, facilmente verificamos que, quando chegamos a um determinado momento da leitura, já nos esquecemos do que estava para trás. Esta limitação tem que ver com a capacidade de aprendizagem do nosso cérebro, quando o mesmo trabalha online.
Esta é a razão pela qual, se decidirmos fixar o significado de 10 palavras do dicionário por dia, ao fim de 365 dias, não nos conseguimos lembrar do significado das 3650 palavras que supostamente havíamos fixado, mesmo que achemos que elas estão no nosso subconsciente.
Foi esta a técnica utilizada no acórdão que puniu em 4 jogos à porta fechada o Sport Lisboa e Benfica, pela prática de 7 infracções. Na verdade, poderiam ter sido 10, como 2, como somente 1. O conceito de infracção continuada que se estuda quando se tira o curso, afinal, é algo que só serve para os professores chumbarem alunos!
O(a) relator(a) do processo deve ter estudado esse conceito na faculdade, mas, munido(a) do 'canudo' e conferido um poder divino de condenar os outros, esqueceu-se dele!
Afinal, a verdade ou consequência é apenas um jogo que marotamente se adere em nome de um poder atribuído pelos humanos em nome de uma organização que afinal é ela própria desorganizada!

Funcionalidade
Por sua vez a funcionalidade é ver jogar esta equipa do Benfica, jovem, rejuvenescida, harmoniosa, movimentada, agressiva, acutilante, cintilante, luminosa e, essencialmente, unida.
Desconheço, no momento em que escrevo esta artigo, qual será o resultado da 2.ª eliminatória da Liga Europa frente ao Galatasaray. Confesso que, qualquer que seja o resultado, a opinião que tenho sobre esta equipa do Benfica não vai mudar.
(...)
É este o meu estado de alma, e penso que o estado de alma de muitos e muitos benfiquistas.
Funcionalidade significa no dicionário português algo como 'qualidade do que desempenha correctamente a função para a qual foi desenvolvido'.
É somente esta premissa que me preocupa e me engrandece ao mesmo tempo - fazer parte desta enorme alma benfiquista. É inquestionavelmente uma dádiva divina."

Pragal Colaço, in O Benfica

Sim, o caminho a seguir deve ser esse...

"Varandas, ao assumir a formação como bandeira, mostrou que está para servir o Sporting e não para servir-se do Sporting...

Frederico Varandas não tem aquilo que convencionou definir-se como o dom da palavra. Comunicar não é o seu forte e as pessoas que o acompanham na aventura de liderar o Sporting pós-Bruno de Carvalho também não são dotadas de verve que move multidões. Na comunicação sobre o estado da nação leonina, este handicap ficou à vista de todos.
Não obstante, a mensagem de que eram portadores ia muito além da forma, e a coragem para pegarem, pelos cornos, vários touros que assombram Alvalade há muito tempo, merece respeito e elogio. O que foi dito, na última sexta-feira, pelo presidente do Sporting e aqueles que lhe são mais próximos, deverá ser preservado para memória futura, porque foram capazes de colocar o dedo nas várias feridas que impedem o Sporting, de há muitos anos a esta parte, de cumprir um destino que não pode nem deve conformar-se com a conquista de quatro campeonatos nacionais de 1974 para cá.
É claro que Bruno de Carvalho fez parte da comunicação de Frederico Varandas. Mas o ex-presidente é caso para o Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting e para as demais instâncias judiciais que forem chamadas a intervir. Por mais ruído que, a cada derrota, os brunistas fizeram, não será isso que terá peso nas decisões mais importante da vida do Sporting.
Determinante, para os leões, será a capacidade da equipa de Frederico Varandas recuperar a formação como bandeira do clube, respeitando décadas de história e honrando João Rocha e quem com ele trabalhou nesse sentido (!!!) e também José Roquette, que viu mais além e teve a capacidade de ser pioneiro nas Academias. Se Varandas, num momento de carência financeira, tomar a formação como prioridade, estará a dizer urbi et orbi que está na presidência para servir o Sporting e não para se servir do Sporting. Porque estará a ser paladino de uma causa sem retorno imediato, todavia estruturante para o clube, in saecula saeculorum.
Depois, Frederico Varandas teve a coragem de dizer, alto e bom senso, que a liderança de uma das claques, a Juventude Leonina, não serve o clube de forma desinteressada, e recusou ser refém de qualquer grupo organizado em torno do clube. Desde que Joan Laporta, no Barcelona, com custos que quase duas décadas volvidas continua a pagar, enfrentou os Boixos Nois, que não se via coisa assim...

Ás
Bruno Lage
O treinador do Benfica remeteu à insignificância que se justificava as insinuações sobre a boa condição física dos encarnados. E lamentou, até, que os treinos no Seixal não fossem à porta aberta para que todos pudessem ver a intensidade do trabalho. Pobre Liga que é destratada por todos os lados, sem que dê um murro na mesa...

Ás
Bernardo Silva
A vitória do Manchester City na muita táctica final da Taça da Liga Inglesa teve impressão digital de Bernardo Silva, que concretizou um dos pontapés dos onze metros decisivos. Aliás, nos penáltis, os ex-jogadores do Benfica estiveram na berlinda: Ederson defendeu um, David Luiz falhou outro e Bernardo não perdoou.

Duque
Kepa Arrizabalaga
Cena caricata em Wembley com consequências ainda por conhecer. À beira do fim do prolongamento, Kepa recebeu assistência e Sarri decidiu substituí-lo. Porém, o guarda-redes basco disse que estava bem e não quis sair, para desespero do treinador italiano. E foi preciso até a intervenção do árbitro para que o jogo continuasse...

Bruno na versão, depois de mim o dilúvio...
«Ainda existem muitos atletas que considerava e considero meus filhos que ainda continuam em contacto...»
Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting
Estava claro que o livro de Bruno de Carvalho era sobretudo uma tentativa de ajuste de contas com o mundo. Depois da última intervenção de Frederico Varandas, mais claro está a ficar ainda que o ex-presidente tudo fará para desestabilizar o clube de Alvalade, lançando areia em todas as engrenagens a que tiver acesso. Uma patologia para a medicina explicar...
Uma imagem icónica, mas...
Leo Messi, em Sevilha, onde assinou exibição de rei, foi protagonista de uma foto tirada a papel químico de uma imagem icónica do rei Pelé. Com a 'pequena' diferença que vai de um jogo da Liga espanhola para a final do Campeonato do Mundo de 1970. Aliás, Messi marcou, há uns anos, também na Liga de Espanha, um golo semelhante ao de Maradona à Inglaterra no Mundial de 1986. O problema é do palco e a verdade é que o astro do Barcelona precisa de brilhar numa competição global (CR7 já tem um Europeu...) para pedir meças aos 'outros'.

Videoárbitro anos luz à frente do futebol
O País de Gales derrotou a Inglaterra, após 80 minutos de râguebi do mais alto nível, em partida a contar para o Torneio das Seis Nações, onde continuam a ser dadas lições de bem arbitrar, que deviam ser aproveitadas pelo futebol. No râguebi, o VAR é, passe o chavão, um espectáculo dentro do espectáculo..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Florentino? É doping ou tem 30 anos, vamos lá ver o que inventam, mas ponham duas bolas em campo que ele recupera-as

"Vlachodimos
Mais do que as poucas intervenções para proteger a baliza, importa destacar a forma esclarecida como lança a jogada que resulta no golo de Seferovic. Sim, poderá parecer a um olho menos treinado que Vlachodimos chuta simplesmente para onde está virado, mas isso seria ignorar o trabalho que tem sido desenvolvido, a cumplicidade hoje existente entre ele e os colegas e o talento redescoberto para fazer omeletes até quando parecem faltar ovos, limonada com toranjas verdes, gente que aproveita todas as oportunidades como se fosse a primeira, até mesmo os restos de um pontapé mal gizado, para dar aos adeptos um espectáculo. E quem não vê isto é cego ou de outro clube. 

Corchia
Exibição muito competente. Depois da sua fase Rui Vitória, Corchia aparece em campo perfeitamente alinhado com a restante equipa e até é mesmo capaz de demonstrar alegria na prática da modalidade, mesmo sabendo que a titularidade vitalícia pertence a André Almeida.

Rúben Dias
No fim do jogo olhou embevecido para os meninos Jota, Félix e Florentino, e terá pensado "#?%&-se, eu só tenho 21 anos, porque é que estou a olhar para estes putos como se fosse pai deles?". Felizmente, aconteceu uma coisa a Rúben Dias chamada Benfica, que o obrigou a crescer.

Samaris
Um pequeno deslize no início do jogo não o impedirá de constar no melhor onze da jornada, e logo na posição de central, que não desempenhava na perfeição desde uma célebre joga em São Petersburgo que o levou a aparecer no onze da semana da UEFA. Não sei se aquela braçadeira de capitão significa que já renovou contrato, mas a jogar assim é bom que seja esse o caso.

Grimaldo
Uma mão cheia de incursões pelo lado esquerdo do ataque que deviam cobrar novo bilhete já a partir de amanhã no Centro de Arte Moderna.

Florentino
Deve ser doping, ou então tem 30 anos. Veremos o que inventam. Seja como for, o próximo passo será colocar uma segunda bola em jogo e obrigar Florentino a recuperar as duas - em nome da evolução do jogador e do espectáculo.

Gabriel
Quer-me parecer que os passes teleguiados de hoje, ainda mais teleguiados do que é habitual, a planar até chegarem aos pés de um colega, resultaram de intervenção divina. Um abraço, Gabriel.

Pizzi
Pode dizer-se que perdeu algum do protagonismo excessivo que chegou a ter nesta equipa, mas é hoje um digníssimo actor secundário no meio da miudagem sedenta de holofotes, um Michael Caine do meio-campo, livre para desempenhar diferentes papéis e quase nunca desapontar.

Rafa
Se houve coisa que aprendemos ao longo das últimas semanas, foi esta: nunca duvidem de Bruno Lage. Foi ele quem, perante a insistência dos jornalistas face à aparente escassez de avançados no final de Janeiro, explicou que Rafa era uma das opções disponíveis para essa posição. Estamos quase em Março e Rafa continua a marcar golos como se não houvesse amanhã. É certo que também falha muitos e existe um amanhã que não se compadece com isso, mas o miúdo tem-se safado muito bem. O Tiago Fernandes que lhe agradeça, se ele não tem falhado uns quantos lances o Chaves teria saído da Luz com um autocarro rebocado e mais de meia dúzia no bucho.

João Félix
Eu sei que o jogo começou tarde, mas ainda não eram dez da noite quando assistimos ao primeiro momento de pornografia da noite, uma recepção de bola plena de intenção que fez o autocarro do Chaves deslizar por uma ribanceira abaixo. Alguns minutos depois, novo momento de sexo ao vivo, a passe de Seferovic, com um duplo remate que até soube melhor assim. Aquela recarga de João Félix é um gesto que o comum dos mortais só tenta quando a bola já entrou pelo menos uma vez na baliza e queremos exibir aquela raiva eufórica de quem está a ganhar. O mais provável é o comum dos mortais falhar a baliza em ambas as tentativas, mas João Félix não se tem revelado um comum mortal.

Seferovic
É agora o melhor marcador da Liga NOS. Eu sei. Claro que sim, eu espero. Se quiserem, vão lá fora apanhar ar. Bebam um copo de água com açúcar ou, melhor ainda, celebrem. Os seus golos podem não valer tanto, mas se compararmos as expectativas no início da época com esta realidade paralela em que vivemos, estes 15 golos de Seferovic valem por alguns 60 de Messi. Ou seja, isto ainda vai acabar com uma vitória do Messi, mas saibamos apreciar mesmo assim.

Jonas
Esqueçam Bradley Cooper e Lady Gaga. Ponham os olhos em João Félix e Jonas no lance do quarto golo. Pode não ter a mesma tensão sexual, mas foi o suficiente para deixar 6 milhões de pessoas excitadas, a suplicar por mais.

Jota
Mais uma adição dramática aos Super Wings. As famílias não vão ter dinheiro para comprar a colecção inteira no próximo natal. E quem diz as famílias diz o Real Madrid, o Barcelona ou o Man United

Zivkovic
Entrou em campo sorridente, sabendo que ia jogar meia dúzia de minutos, mas feliz por fazer parte de tudo isto. Foi essa atitude que lhe permitiu participar no carrossel do quarto golo e correr na direcção dos colegas, ainda com aquela estranheza de quem sente que está a festejar os golos com meia dúzia de apanha-bolas."

Cadomblé do Vata

"1. Belíssima primeira parte com 3 secos ao intervalo e segunda parte a gerir... se não tivéssemos levantado o pé na etapa complementar, o filho do Manuel Fernandes ficava já fora do jantar de Natal na casa dos pais.
2. Não é a primeira vez que vejo o Chaves jogar recuadíssimo na Catedral... a diferença é que normalmente estacionam o autocarro à frente da pequena área e hoje meteram a baliza atrás da Serra do Marão.
3. Félix, Gedson, Florentino, Ferro e Jota... esta é a época em que mesmo que não sejamos campeões, se não fossemos pobres éramos bem capazes de estar a garantir 6 ou 7 títulos.
4. Rúben Macedo falhou 3 oportunidades clarissimas... com o empréstimo do puto portista, o Chaves perdeu uma Final Four da Taça da Liga e a possibilidade de pontuar na Luz.
5. Gabriel está em grande forma e ocupa o campo todo com o seu posicionamento... está de facto bastante diferente daquele Gabriel de início de época que ocupava o campo todo com o tamanho do rabo."

A noite incrível de Gabriel Pires

"Bruno Lage elogiou a organização defensiva do seu adversário, e não o fez por simpatia. Mas, se assim foi, como foi possível ao Benfica criar tanto?
Emergiu Gabriel Pires na partida, pela sua importância estratégica. Baixou para zonas com espaço para do seu pé esquerdo provocar constantes constrangimentos ao adversário.
Perceba a importância de Gabriel no jogo da noite de ontem:
* Em Organização as variações do centro do jogo, e a forma como furou por entre linha média do adversário para fazer a bola chegar ao espaço entre sectores;
* Em Transição a forma como acelerou o jogo acentuando vantagem espacial / numérica / qualitativa nos contra ataques encarnados

"
Paolo Maldini, in Lateral Esquerdo

O Golo de Lage – O Reflexo do Treino

"Num jogo marcado pela excelência defensiva do Benfica, a jogada do penalti que antecede o golo de Salvio tem o dedo de Lage pela forma como a equipa encarnada, brilhantemente, saiu desde trás e furou pelo corredor central até ligar com o corredor contrário onde iniciou a construção.
Desde a sua ascensão à equipa principal, temos visto um Benfica muito mais agressivo ofensivamente, provocando com mais frequência desequilíbrios desde a sua retaguarda e mais entradas pelo corredor central que têm permitido chegadas constantes a zonas de finalização com bastante perigo.

“Em termos ofensivos, já contaram a quantidade de vezes em que nós começamos a construir num corredor, ligamos por dentro e chegamos ao corredor contrário?”
Bruno Lage

Curiosamente, na conferência de imprensa antes do jogo contra o Sporting, Lage explicou como iria surgir o lance do penalti encarnado na Turquia que permitiu iniciar a vantagem. A construir desde trás pelo corredor direito, passando pelo corredor central até chegar ao corredor esquerdo, o lance é soberbo e demonstra todo o crescimento ofensivo da equipa benfiquista desde a chegada de Lage. Um jogo mais ligado, mais inteligente com posicionamentos bem definidos para cada momento ofensivo, de modo, a garantir sempre soluções ao portador e a conseguir circular pelos três corredores com qualidade.


O Ataque Posicional do Benfica tem, hoje, uma variabilidade incrível. Por dentro, por fora e na profundidade, a equipa encarnada tem uma facilidade incrível em chegar à baliza adversária que deve ser notada. Os números não enganam! Desde a chegada de Lage, o Benfica soma já 16 golos em Ataque Posicional num total de 32, ou seja, metade dos golos marcados pelo Benfica são num momento do jogo que, nos dias de hoje, é tão mais difícil fazê-lo."

Condolências a Carlos Bossio


"O Sport Lisboa e Benfica apresenta as mais sentidas e profundas condolências a Carlos Bossio e toda a sua família pelo triste falecimento da sua esposa.

Neste momento tão difícil e de dor por que está a passar, fica a mais forte solidariedade e conforto de toda a Família Benfiquista ao nosso antigo guarda-redes,"


Eterno Monstro Sagrado

"Há cinco anos partiu um dos melhores jogadores de todos os tempos. Glória do Benfica, Mário Coluna deixou-nos a 25 de Fevereiro de 2014, um mês depois de Eusébio, devido a uma paragem cardiorrespiratória. Tinha 78 anos.

Nascido em Moçambique no dia 6 de Agosto de 1935, Coluna fez parte de uma geração de grandes ícones do desporto-rei.
Vestiu pela primeira vez a camisola do Benfica no dia 12 de Setembro de 1954, numa goleada frente ao Vitória de Setúbal, a contar para a 1.ª jornada do Campeonato Nacional, no Estádio do Jamor. Para além de se estrear em campo, Mário Coluna também fez os seus primeiros dois golos de águia ao peito (50’ e 65’). Os restantes foram assinados por Arsénio (5’), Salvador Martins (25’) e José Águas (46’).
“Capitão”, “Monstro Sagrado”, ou simplesmente “Senhor Coluna”, como Eusébio insistia em chamá-lo, foram as alcunhas que foi adquirindo ao longo das 16 épocas com as cores do Benfica.
Em 1970, Coluna deixava o seu clube como um dos melhores jogadores em Portugal e mesmo como um dos grandes da Europa, tendo conquistado duas Taças dos Campeões Europeus (marcou em ambas as finais, frente a Barcelona e Real Madrid).
Conquistou ainda 10 Campeonatos Nacionais, seis Taças de Portugal e inúmeros troféus de prestígio nacional e internacional. Foi o capitão da Selecção Nacional no Mundial de 1966, em Inglaterra, onde os Magriços terminaram no 3.º lugar."

Guia para o desempate por pontapés da marca de penálti

"Normalmente utilizo esta minha crónica semanal para falar de casos de jogo ocorridos nas competições nacionais, mas este fim-de-semana trouxe-nos uma situação insólita da final da Taça da Liga Inglesa da qual vale a pena falar. Por duas razões: primeiro, porque nos diversos comentários que ouvi, verifiquei desconhecimento face a algumas nuances desta forma de desempate que se denomina por “pontapés da marca de penálti” (Lei 10, determinação do resultado do jogo, página 91, das Leis do Jogo 2018/19); segundo, porque os próprios intervenientes do jogo, a segundos de acabar a partida, desconheciam eles próprios se podiam ou não substituir o seu guarda-redes durante os penáltis ou se o tinham de fazer antes de o jogo terminar.
Vamos por partes. Este procedimento, também em Junho de 2016, sofreu algumas alterações importantes e é de salvaguardar que em quase todos os países onde se disputa esta competição, porque não dá acesso a nenhuma prova sob a égide da UEFA, ela apresenta regulamentações próprias e específicas, que são da responsabilidade da própria Federação ou Liga, e como tal, podem divergir em algumas particularidades de país para país.
Contextualizando, o que aconteceu no domingo, em Wembley, foi que Kepa, guarda-redes do Chelsea, aparentemente se lesionou e o seu treinador, o italiano Maurizio Sarri, preparou a sua substituição por Caballero. Contudo, o guarda-redes espanhol supostamente recuperou e disse que não queria sair. O seu treinador, contudo, já tinha a ideia da substituição e queria mesmo fazê-la, só que o jogador recusou-se terminantemente a sair. Resultado: no fim do jogo, foi ele que foi para a baliza aquando da marcação dos penáltis.
Considerações em relação a todo este processo, sob o ponto de vista da arbitragem e das leis de jogo, pois no que diz respeito às questões de disciplina, liderança e relação de autoridade treinador/jogador eu não vou, obviamente, pronunciar-me. O primeiro aspecto a destacar é que a equipa de arbitragem nada pode fazer, já que a Lei 3 (Os Jogadores, página 48) estipula claramente: “Se um jogador que vai ser substituído se recusar a deixar o terreno de jogo, o jogo continua…".
O segundo aspecto importante é saber se um guarda-redes, em caso de lesão e havendo ainda uma substituição para fazer, tinha de sair antes de o jogo terminar ou se o podia fazer, por exemplo, no decurso dos penáltis. Uma vez mais, a página 93, da lei 10, ajuda a esclarecer esta situação: “Um guarda-redes que esteja impossibilitado de continuar antes ou durante os pontapés da marca de penálti pode ser substituído … se a sua equipa não tiver usado o número máximo de substituições autorizadas, por um suplente inscrito…”
Estes eram os dois aspectos mais relevantes deste caso, mas há mais alguns pontos interessantes que mudaram. Dantes, o capitão ou o delegado da equipa tinha de dizer ao árbitro quais eram os cinco jogadores que iam executar os penáltis e a ordem pela qual o iam fazer. Isso já acabou, deixando assim à equipa e ao seu treinador a possibilidade de, durante a execução, alterar ou não estas premissas. É uma ligeira alteração de natureza táctica, mas que pode ser importante. Eis o que determina o texto da lei actual: “… Cada equipa é responsável por seleccionar os jogadores que vão executar os pontapés da marca de penálti de entre os jogadores habilitados no terreno de jogo no final da partida, assim como por decidir a ordem pela qual esses jogadores os vão executar. O árbitro não tem que ser informado dessa ordem (...)”.
Outra alteração interessante prende-se com a escolha da baliza. Antigamente era o árbitro que decidia em qual se executavam os penáltis e houve um tempo também em que o capitão que ganhasse o sorteio de moeda ao ar veria a sua equipa a começar a marcação. Também isso mudou, porém. "(…) O árbitro efectua um sorteio por meio de uma moeda para decidir qual a baliza em que vão ser executados os pontapés… o árbitro procede a um novo sorteio com uma moeda e a equipa vencedora decide se pretende executar o primeiro ou o segundo pontapé…”, pode ler-se.
Finalmente, outra nuance que pode causar estranheza a muita gente é que nesta marcação de penáltis ambas as equipas têm de ter o mesmo número de jogadores. “(…) Se no final do jogo, e antes ou durante os pontapés da marca de penálti, uma equipa tiver mais jogadores do que a equipa adversária, deve reduzir o seu número de jogadores para ficar igual à equipa adversária (…)".
Estes são alguns dos aspectos mais relevantes deste procedimento para se encontrar um vencedor e que normalmente acontece em jogos a eliminar. Importa, no caso, que treinadores, jogadores e dirigentes dos clubes tenham o devido conhecimento de todo o processo, assim como quem faz os comentários dos jogos."

Quem é o campeão?

"Por muita gente que se rebelava, a cada instante, pelas misérias, designadamente políticas, do efémero quotidiano, os séculos XIX e XX projectam-se-nos em vivíssimos quadros de uma luta contra a religião – uma luta ferozmente anticlerical. Recordo os “mestres da suspeita”, no século XIX (e até o nosso Guerra Junqueiro) e, no século XX, estudam-na, como se estudam os quadros de pintores célebres, no sossego de um museu. Porém, este adormecimento da História movimenta-se e anima-se, de súbito, quando passou a ser “proibido proibir”, quando qualquer assomo de normatividade passou a entender-se como sinónimo de séria repressão. Enfim, o indivíduo vê-se coagido a transformar-se na sua própria norma. E, com algumas horas de jogging e uma “futebolada” semanal, o indivíduo “fica com uma saúde de ferro”, assim o garantem a rádio, a televisão, os jornais e até um ou outro entendido que sabe de tudo, menos de si mesmo. E, com uma incontestável pujança, dado que a lei suprema que nos governa é a mudança, a secularização apoderou-se da nossa vida pessoal, social e política. A secularização, quero eu dizer: a imanência sem transcendência, a razão sem a fé, o homem sem Deus. E, sem transcendência, sem fé, sem Deus, a “Náusea” de Sartre é o sentido de uma vida sem sentido. Alfredo Teixeira, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e um ensaísta de originais e eruditos trabalhos de investigação, no âmbito da teologia (e também um temperamento artístico de inconfundíveis feições) escreve, no seu livro Não sabemos já donde a luz mana (Edições Paulinas, 2004): “A religião na Europa moderna tem sido vista sob o signo da secularização, o que, como é sabido, se traduziu, com matizes regionais diversificados, numa diminuição da capacidade dessas igrejas influenciarem a sociedade e num aprofundamento da separação entre Igrejas e Estado (laicidade). O fenómeno tornou-se tão vasto, que afetou a própria fisionomia das igrejas; mais, elas próprias descobriram que o cristianismo trazia em si a semente dessa secularização” (p. 17).
Não sei se Heidegger, com o seu Sein und Zeit (traduzindo: Ser e Tempo) não quis também dizer que a noção de Ser mudava, de acordo com o tempo, com as idades. E assim a religião-superstrutura ser “capaz de sobreviver ao ocaso da religião infra-estrutura. A idade da religião como estrutura encontrou o seu termo, mas seria ingénuo pensar que o mesmo se poderia afirmar da religião como cultura” (Alfredo Teixeira, op. cit., p. 157). De facto, a religião como cultura é uma forma de consciência social, que se afirma sobre uma determinada base sócio-económica (este é um ponto nodal do legado de Marx). Neste momento, ocorre-me a frase de Gianni Vattimo, em tradução castelhana (Ediciones Península, Barcelona, 2002), do seu livro Le aventure della differenza: “La metafísica es historia de la diferencia, tanto porque es regida y hecha posible por la diferencia, como porque sólo en el horizonte de la metafísica de la diferencia permanece vigente y se da. Desde este punto de vista, olvido de la diferencia no es tanto perder de vista el hecho de la diferencia, sino olvidar la diferencia como hecho” (p. 120). Em Marx, tudo tem o seu radical fundante na economia e reside na economia a garantia da continuidade de tudo o que é humano. Enfim, porque o processo histórico é infinita e contínua diferença, o facto de a religião ser mais cultura do que estrutura e a própria virtude ser mais razão do que fé. E, assim, a religião não morre, mas deixa de ter suporte divino: já foi o proletariado; hoje, em época profundamente individualista, o culto hiperbólico do espectáculo desportivo, expresso pelos grandes fazedores de golos da actualidade, os Messis e os Ronaldos. Walter Hugo Mãe, nas “Correntes d’Escritas” do ano em curso, emocionou-se ao afirmar: “A alegria de ouvir as grandes vozes é privilégio que nos moverá sempre”. O adepto do futebol não sabe quem é o Luandino Vieira, o Pepetela, o Rubem Fonseca, a Lídia Jorge, o Miguel Real, o José Eduardo Franco e outros escritores de igual qualidade, mas sabe quem é o Bruno Fernandes, o João Félix, o Rui Patrício, o Pizzi, o Rafa e outros futebolistas que fazem obras-primas com uma bola de futebol. E que no tempo do “crepúsculo do dever” (Gilles LIpovetsky) são célebres pelas suas “performances” predominantemente físicas e, pelas quais, ninguém lhes recusa legítimo aplauso e gratidão. No entanto, o ser humano não é o “homem-máquina”…
A propósito do Bruno Fernandes, do João Félix, do Rui Patrício, do Pizzi, do Rafa (que acima citei e outros nomes poderia lembrar), todos eles são a “prova provada” de que o essencial, numa equipa de futebol, não é a táctica, mas o homem-jogador: é o seu talento, ou o seu génio (e não tanto a táctica) que resolvem os jogos de futebol. Há meia-dúzia de dias, recebi, em minha casa, um telefonema do António Simões, que eu sempre apreciei, como exímio jogador de futebol (ombreando, em habilidade, em arte, com o Albano e o Vasques dos “cinco violinos”, o João Alves e o Chalana do Benfica, o António Oliveira do F. C. Porto e do Sporting e o José Maria Pedroto do F.C.Porto) – que eu sempre apreciei como extraordinário jogador de futebol e que hoje aprecio também, pela coragem, pela dignidade, pela lucidez, como encara a vida e portanto o próprio desporto. Disse-me ele, procurando ser imparcial e sereno: “Quero imitar uma pessoa que não esqueço, porque muito admiro, o Sr. José Maria Pedroto, quando ele, pelo telefone lhe disse, segundo penso, há mais de 40 anos: Professor, preciso de falar consigo”. E acentuou: “Também eu preciso de falar consigo. Acabei de ler três livros da sua autoria e tenho perguntas a fazer-lhe. Há uma que já não faço, é que passei a entender agora porque afirma, há tantos anos, que o paradigma que fundamenta a prática desportiva é uma ciência humana”. E continuou, com a sua habitual visão harmoniosa e cimeira: “Só quem nunca jogou futebol pode discordar da sua tese”. Neste passo, atalhei: “Mas eu também nunca joguei futebol”. E ele: “Eu sei. Mas também é verdade que procurou aprender com treinadores que foram jogadores de excelente nível, a começar no Pedroto, no Fernando Vaz e no Artur Jorge”. O António Simões, o “irmão branco” do Eusébio, sempre subtil e profundo, no exame e observação do mundo, um homem a quem a mesquinhez de espírito indigna e sufoca…
Quem é um campeão?... Um sobredotado e um supertreinado, com a força emocional e a psicológica suficientes às altas performances e à dramatização do espectáculo e ao, como diriam os franceses, “dépassement de soi”, ou a transcendência, como poderia dizer-se em português. O campeão, que atinge e conquista o esplendor supremo do espectáculo desportivo, é ainda um homem preparado para obedecer e sofrer. Isabelle Queval adianta, no seu livro S’accomplir ou se dépasser – essai sur le sport contemporain (Gallimard, Paris, 2004) que “o desporto de alto nível é um laboratório de melhoramento do humano, o espetáculo permanente dum evolucionismo simplificado, em que as “performances” não existem senão para ser ultrapassadas, em que as curvas estatísticas sobem sem descanso, em que a proeza de hoje supõe a proeza do dia seguinte – sempre em movimento, sempre em busca de novos recordes. A fascinação pelo progresso incessante anima o desporto de alto nível” (p. 205). Nietzsche sublinha que o corpo, o grande esquecido da filosofia e da cultura ocidentais, tem agora lugar de destaque, na vida de todos os dias dos europeus. Mas um corpo que, na expressão inesquecível de Teilhard de Chardin, “destila espírito”. O ADN já não pode considerar-se produto do acaso, pois que, nele, há a informação suficiente, que permite a ulterior evolução. E, se o corpo “destila espírito”, como diria depois M. Merleau-Ponty, “eu sou meu corpo”. E nem sempre o treino desportivo respeita o corpo que eu sou! Aliás, o desporto hodierno, já o digo há muitos anos, “reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista”. O “citius, altius, fortius” do olimpismo supõe, actualmente, tecnociência e tecnologia e medicina e cirurgia e apurada dietética e uma disciplina férrea e… a redução do ser a mercadoria! Nunca o efémero foi tão valorizado, como hoje. E é o efémero que demasiadas vezes se realça na vida de um campeão. Quem o vê, no quadro de um projeto humanista renovado? Quem é o campeão?
Quem é o campeão? Vejamos o mundo donde ele nasce: um mundo de verdades e meias-verdades, de adoração a Deus e da “morte de Deus”, do mais adiantado tecnocientismo e do mais bárbaro arcaísmo, em que os valores económicos não são da mesma ordem dos estéticos, éticos, ou espirituais, mas são eles os que parecem satisfazer plenamente o mercado e a concorrência. E, porque a sociedade é um grande mercado onde tudo flutua de acordo com os princípios da Bolsa, ele é a figura primeira da civilização do deus-lucro. A grande batalha, a grande guerra do século XXI será a batalha, a guerra entre o comércio, de um lado, e a cultura e o desporto, do outro. E uma questão se levanta, cortante: qual o futuro da cultura e do desporto, se for o comércio a defini-los e a guiá-los? Demais, ao contrário do que Marx pensava, nem sempre a economia é a infraestrutura. A Europa do carvão e do aço não foi suficiente para construir a Europa. Sou em crer que, desde a Idade Média, há uma cultura europeia, que se fundamenta na filosofia grega, no direito romano, na mensagem judaico-cristã e no espírito crítico do iluminismo. A encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII e a “Quadragesimo Anno” de Pio XI (que chegou a convidar um sociólogo jesuíta norte-americano a preparar-lhe uma encíclica de condenação aberta das ditaduras nazi e comunista); e as “Mater et Magistra” e “Pacem in Terris”, de João XXIII, o Papa do “Aggiornamento della Chiesa”; e todo o pontificado do Papa Francisco, que é cristão, nas palavras e nas obras – assim o registam e o comprovam. Por isso, o campeão desportivo não deve entender e viver a transcendência como uma prática, sem reporte a uma filosofia, a uma política, a uma religião. O campeão, habituado a transcender os outros, deve fazer da transcendência um “modo de vida”, que não seja tão-só um desenvolvimento quantitativo de marcas e recordes mas, sobre o mais, um desenvolvimento qualitativo, visando um humanismo integral… dos outros e de si mesmo! A mundialização do desporto não pode realizar-se apenas nos estádios e nos ginásios e nos pavilhões gimnodesportivos. O desportista, mormente o campeão do desporto, tem de concorrer ao nascimento de uma nova humanidade. Relembro a conhecida frase do pintor Klee: “a arte não reproduz o visível, torna visível”. Parafraseando: o desporto não reproduz o visível, tem de tornar visível um homem novo!"