"Normalmente utilizo esta minha crónica semanal para falar de casos de jogo ocorridos nas competições nacionais, mas este fim-de-semana trouxe-nos uma situação insólita da final da Taça da Liga Inglesa da qual vale a pena falar. Por duas razões: primeiro, porque nos diversos comentários que ouvi, verifiquei desconhecimento face a algumas nuances desta forma de desempate que se denomina por “pontapés da marca de penálti” (Lei 10, determinação do resultado do jogo, página 91, das Leis do Jogo 2018/19); segundo, porque os próprios intervenientes do jogo, a segundos de acabar a partida, desconheciam eles próprios se podiam ou não substituir o seu guarda-redes durante os penáltis ou se o tinham de fazer antes de o jogo terminar.
Vamos por partes. Este procedimento, também em Junho de 2016, sofreu algumas alterações importantes e é de salvaguardar que em quase todos os países onde se disputa esta competição, porque não dá acesso a nenhuma prova sob a égide da UEFA, ela apresenta regulamentações próprias e específicas, que são da responsabilidade da própria Federação ou Liga, e como tal, podem divergir em algumas particularidades de país para país.
Contextualizando, o que aconteceu no domingo, em Wembley, foi que Kepa, guarda-redes do Chelsea, aparentemente se lesionou e o seu treinador, o italiano Maurizio Sarri, preparou a sua substituição por Caballero. Contudo, o guarda-redes espanhol supostamente recuperou e disse que não queria sair. O seu treinador, contudo, já tinha a ideia da substituição e queria mesmo fazê-la, só que o jogador recusou-se terminantemente a sair. Resultado: no fim do jogo, foi ele que foi para a baliza aquando da marcação dos penáltis.
Considerações em relação a todo este processo, sob o ponto de vista da arbitragem e das leis de jogo, pois no que diz respeito às questões de disciplina, liderança e relação de autoridade treinador/jogador eu não vou, obviamente, pronunciar-me. O primeiro aspecto a destacar é que a equipa de arbitragem nada pode fazer, já que a Lei 3 (Os Jogadores, página 48) estipula claramente: “Se um jogador que vai ser substituído se recusar a deixar o terreno de jogo, o jogo continua…".
O segundo aspecto importante é saber se um guarda-redes, em caso de lesão e havendo ainda uma substituição para fazer, tinha de sair antes de o jogo terminar ou se o podia fazer, por exemplo, no decurso dos penáltis. Uma vez mais, a página 93, da lei 10, ajuda a esclarecer esta situação: “Um guarda-redes que esteja impossibilitado de continuar antes ou durante os pontapés da marca de penálti pode ser substituído … se a sua equipa não tiver usado o número máximo de substituições autorizadas, por um suplente inscrito…”
Estes eram os dois aspectos mais relevantes deste caso, mas há mais alguns pontos interessantes que mudaram. Dantes, o capitão ou o delegado da equipa tinha de dizer ao árbitro quais eram os cinco jogadores que iam executar os penáltis e a ordem pela qual o iam fazer. Isso já acabou, deixando assim à equipa e ao seu treinador a possibilidade de, durante a execução, alterar ou não estas premissas. É uma ligeira alteração de natureza táctica, mas que pode ser importante. Eis o que determina o texto da lei actual: “… Cada equipa é responsável por seleccionar os jogadores que vão executar os pontapés da marca de penálti de entre os jogadores habilitados no terreno de jogo no final da partida, assim como por decidir a ordem pela qual esses jogadores os vão executar. O árbitro não tem que ser informado dessa ordem (...)”.
Outra alteração interessante prende-se com a escolha da baliza. Antigamente era o árbitro que decidia em qual se executavam os penáltis e houve um tempo também em que o capitão que ganhasse o sorteio de moeda ao ar veria a sua equipa a começar a marcação. Também isso mudou, porém. "(…) O árbitro efectua um sorteio por meio de uma moeda para decidir qual a baliza em que vão ser executados os pontapés… o árbitro procede a um novo sorteio com uma moeda e a equipa vencedora decide se pretende executar o primeiro ou o segundo pontapé…”, pode ler-se.
Finalmente, outra nuance que pode causar estranheza a muita gente é que nesta marcação de penáltis ambas as equipas têm de ter o mesmo número de jogadores. “(…) Se no final do jogo, e antes ou durante os pontapés da marca de penálti, uma equipa tiver mais jogadores do que a equipa adversária, deve reduzir o seu número de jogadores para ficar igual à equipa adversária (…)".
Estes são alguns dos aspectos mais relevantes deste procedimento para se encontrar um vencedor e que normalmente acontece em jogos a eliminar. Importa, no caso, que treinadores, jogadores e dirigentes dos clubes tenham o devido conhecimento de todo o processo, assim como quem faz os comentários dos jogos."
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