Últimas indefectivações

quinta-feira, 29 de março de 2018

Alvorada... do Martins

Três acusações e uma conclusão

"Quando Bruno de Carvalho chama trolha a António Salvador, julgo que a sua ideia não é a de considerar o presidente do SC Braga alguém que tem o mérito de alisar as imperfeições dos outros. Porém, sem que muito provavelmente o presidente do Sporting disso, sequer, suspeite, trolha, ou seja, a mais vulgarmente conhecida como colher de pedreiro, é um símbolo maçónico respeitado, precisamente porque tapa irregularidades de um muro ou de uma parede, torna-se lisa, apaga-lhe as zonas rugosas, prepara-a para pintura que a torna mais bonita para o mundo.
Admito, também, que ao juntar, no que pensaria ser um impropério, o termo labrego, Bruno de Carvalho não terá pensado no substantivo que define um outro utensílio de grande utilidade e que, segundo o arcaico mas ainda válido dicionário da língua portuguesa da Porto Editora, significa um género de arado que abre bem os sulcos e limpa a terra das raízes.
Ambas as suposições de que pode estar ausente uma ideia de bondade, gentileza ou elogio por parte do leonino presidente, é a que advém do facto de ter somado, às anteriores, a acusação de aldrabão, que não dá lugar a dúvidas, porque escolher entre trapalhão, impostor, trapaceiro ou mentiroso venha o diabo e escolha.
Assim sendo, é certo que o que Bruno de Carvalho quis mesmo chamar a António Salvador, seu homólogo e seu colega, enquanto também presidente de um clube de futebol, foi o que de mais pejorativo esses termos encerram. O que deixa o autor das brutais referências em sério risco de se tornar um incivilizável, ou seja, «alguém que não é susceptível de civilização»."

Vítor Serpa, in A Bola

PS: Será necessário dar tantas voltas ao texto, para chamar os bois pelos nomes?!!!

Deixe-se disso Sr. Sampaoli, o futebol não merece

"Não há justificação possível para que alguém nos prive, a nós, amantes do futebol, de apreciar as qualidades de um jogador como Paulo Dybala no maior palco futebolístico do Mundo. Jorge Sampaoli, seleccionador da Argentina, alertou para a possibilidade de não convocar o jogador da Juventus para o Mundial’2018 por entender que Dybala não encaixa com Messi dentro das quatro linhas. Mas será mesmo essa a razão? Ou será que Sampaoli usa do subterfúgio técnico-táctico para evitar um choque de egos? Fugir a algo que possa deixar Messi menos confortável, talvez. É que não me cabe na cabeça que um treinador com a experiência e o conhecimento de Sampaoli não consiga arranjar maneira de ter Messi e Dybala na mesma equipa.
É verdade que podemos identificar algo de Messi em Dybala. É verdade que ambos os jogadores gostam de pisar terrenos semelhantes nas respectivas equipas. É verdade que ambos apresentam um historial de alguma instabilidade mental, veja-se o caso de Messi e o adeus precipitado à selecção ou o choque entre Dybala e o treinador da Juventus Massimiliano Allegri. E é também verdade que Jorge Sampaoli tem pouco tempo para trabalhar a forma de fazer com que estes dois craques joguem na mesma equipa sem que se atropelem um ao outro. Mas caramba, será que o futebol se tornou tão mecanizado e robotizado de tal maneira que impeça que dois jogadores da estirpe de Messi e Dybala possam vestir as mesmas cores? Eu quero acreditar que não.
A Sampaoli foi entregue uma missão: fazer da Argentina campeã do Mundo, algo que não acontece desde 1986, quando Diego Armando Maradona liderou uma equipa de jogadores banais ao título maior do futebol mundial. E é por isso legítimo que o seleccionador tome as decisões que achar mais acertadas para levar o barco a bom porto. Já se percebeu, com a experiência que vamos adquirindo ao longo dos anos, que uma competição como um Mundial tem as suas especificidades. Joga-se num curto espaço de tempo, mas os jogadores passam mais tempo juntos do que o normal. Portanto, mais do que a qualidade do futebol, importa, nestes casos, construir uma equipa onde cada um tenha definido o seu papel. E pode ser aqui que Messi e Dybala não encaixem.
Mas o que não é legítimo, para Jorge Sampaoli, é dizer que está a considerar não incluir Paulo Dybala numa lista de 23 homens porque o jogador é futebolisticamente incompatível com Messi. Não pode ser essa a razão que ocupa a mente do seleccionador argentino e que põe em risco a viagem de Dybala até à Rússia para disputar o Mundial que se disputará nos próximos meses de Junho e Julho. O futebol e os amantes do futebol não merecem tal crueldade. Mais: os argentinos não merecem que o seleccionador castre a equipa de tão genial jogador, até porque nunca se sabe o que poderá acontecer com Messi durante a prova. Aliás, como se viu na pesada derrota da Argentina diante da Espanha (6-1), onde Messi não jogou por razões físicas, Dybala poderia, perfeitamente, ter feito parte da equipa inicial.
Diga o senhor Sampaoli que não quer levar Paulo Dybala ao Mundial porque a presença do jogador da Juventus pode ser um risco para o equilíbrio da estrutura da equipa fora dos relvados e eu calo-me. Tem todo o direito de colocar os interesses do grupo à frente de tudo o resto. O que me custa a entender é que a razão, na base de uma eventual não ida de Dybala ao torneio russo, seja meramente futebolística. Resta-nos esperar pela convocatória final para perceber se prevalece o amor ao jogo e ao lado mais artístico do futebol ou se, pelo contrário, sai por cima a força que insiste em mecanizar e robotizar este desporto de que tanto gostamos."

Um sério aviso

"Nicolas Rainville e Sébastien Moreira. Estes nomes dizem-lhe alguma coisa? Foram, respectivamente, o videoárbitro e videoárbitro assistente do Portugal, 0 - Holanda, 3 disputado em Genebra. A razão de não falarmos deles é porque não houve ninguém a lembrar o que ambos fizeram no verão passado. Esta é a grande vantagem das semanas de selecções: o futebol jogado passa a estar no centro da discussão. De repente, passamos a discutir coisas como: na ausência de Pepe, quem é o central líder desta equipa?; João Cancelo consegue ter inteligência emocional proporcional ao seu talento ou o relógio suíço de Ricardo Pereira não é mais fiável no plano técnico e táctico?; Adrien e André Gomes merecem estar neste grupo no final de Maio se não derem os sapatinhos nos meses que faltam? A manter este registo, Rafa ainda se candidata a um lugar na Rússia?
Para muitos, isto será pouco, é verdade. Porque o espaço público passou a ser dominado por gangsters da palavra que parecem ter três sonhos na vida, por esta ordem;
1) assistir à queda dos seus adversários;
2) que os seus clubes percam o menos possível;
3) trabalharem no Cambridge Analytica.
Todos os avisos caem em saco roto, mas não resisto a partilhar o que disse o presidente da NOS (patrocinador da Liga), Miguel Almeida, em entrevista ao Expresso, em duas ideias fortes:
1) Que a renegociação dos contratos está «fora de questão» (um recado para Luís Filipe Vieira, por exemplo), porque, «ao contrário do que pensam alguns agentes do futebol, não existe procura para suportar estes custos»;
2) A perda de valor do campeonato: «Se me perguntarem se estamos satisfeitos com o estado do produto que temos estado a promover, não estamos (...). Ninguém com interesses no futebol, sejam económicos sejam desportivos, pode dizer que está satisfeito com o estado actual das coisas»."

Fernando Urbano, in A Bola

PS1: E o relógio 'Lisboeta' do André Almeida, não é mais fiável, do que qualquer outro...?!!!

PS2: A renegociação de contrato, não exige um aumento do valor total... existem outros pormenores que podem ser alterados, se calhar o abatimento da dívida bancária que o Viera anunciou, tem alguma ligação ao contrato com a NOS!!! Se calhar o 'recado' não foi para o Vieira...

PS3: E já agora, se os supostos 'recados' para o Vieira, são dignos de serem registados na Coluna, porque não nomear os tais que têm contribuído para o 'estado' deplorável do produto?!!!

Filhos, vou mostrar-vos os cromos dos meus Mundiais (parte I)

"Pois é, meus filhos. Está a chegar o primeiro Mundial da vossa vida. Ainda tão curta e já tão bela. Pelo menos aos olhos do vosso pai, sempre babado e capaz de sorrir até para uma fralda vossa. Suja. 
Hoje é o dia de uma lição sobre memória. Uma lição sobre os retalhos que preservo dos meus oito primeiros Mundiais. Levo-vos oito Mundiais de avanço, já viram? Ao nono, está combinado, vamos estar juntinhos e a sofrer por Portugal. Com a mamã.
Sem pesquisas apressadas, sem perguntas a amigos enciclopédicos entendidos na matéria, viajo convosco de forma instintiva aos meus Campeonatos do Mundo. E, não se preocupem, levo comigo as cadernetas de cromos. Para nos rirmos de umas quantas personagens.
Qualquer desculpa é boa para ter o vosso sorriso à minha frente.

México 86
Em Estugarda o Carlos Manuel fez o Torres sonhar. E a mim também. Vocês têm de ver esse golo, um milagre. Bola ao ângulo superior esquerdo do Schumacher e depois os postes da baliza do Bento a defenderem tudo. E lá fomos nós para Saltillo.
Eu tinha oito anos e conheci o D10S Maradona nesse verão. Já vos falei dele, lembram-se? Era aquele senhor que pegava na bola e driblava ingleses como quem limpa o rabinho a meninos. Não se riam, o exemplo é completamente inocente.
Maradona, sim, numa final que vi em casa dos vossos avós. 3-2 contra os maus da Alemanha. Também gostava muito do Burruchaga e do Valdano, mas esses eram habitantes aqui do nosso planeta. Diego era outra coisa.
Portugal? Nem queiram saber. Eu e o vosso avô Sérgio ficávamos acordados até tarde, para nada. Ainda ganhámos à Inglaterra, mas depois houve para lá umas confusões e viemos cedo embora. Perdemos contra a Polónia e Marrocos.
Para começar foi bom. Pelo menos lembro-me de algumas coisas. Dos Mundiais de 78 e 82, népias, nadinha.
Itália 90
Vi em casa do Pedro Moisés, sim o dentista, o jogo inaugural. O Omam-Byik, dos Camarões, marcou de cabeça e a Argentina perdeu. Frangalhada do Pumpido. Camarões, sim. É um país africano, também nunca ouvi falar dele até 1990.
Portugal não foi lá e tive de falar com sotaque brasileiro durante um mês. Um mês em que todos os dias são domingo. Valdano, lembram-se meninos? Fui com o Brasil até aos oitavos-de-final, mas depois eles beberam água estragada – vamos dizer assim – e fiquei sem selecção.
Passou a Argentina do meu Maradona. E do Cannigia, um tipo que corria muito e que depois jogou no Benfica.
Mas sabem de quem eu gostei mesmo? De um velhote chamado Roger Milla, avançado daquele país esquisito que ganhou à Argentina. Camarões, isso.
O Milla marcava e bailava nas bandeirolas de canto. Num dos jogos roubou a bola ao doido do Higuita, o guarda-redes da Colômbia, e foi por lá fora. Ganda Milla! Na noite de São João vesti a camisola dele, mas perderam contra Inglaterra.
Por falar em Inglaterra. Foi por estes dias que comecei a gostar de jogadores alternativos. Como explicar…? Daqueles que jogam poucas vezes e não chegam aos jornais. Uma espécie de Will Grigg, aquele irlandês do Euro2016. Coisas de miúdos.
Steve Bull, da Inglaterra, Nico Claesen, da Bélgica, Frank Mill, da Alemanha. Maluqueiras.
Ah, a Alemanha foi campeã do mundo e em Itália nasceu um novo herói, o Toto Schillaci. Há uns tempos entrevistei-o para o Maisfutebol, bom tipo.
O Maradona? Acabou a chorar, sem taça. Desgraçado do Andreas Brehme.
EUA 94
O vosso velhote tinha 16 anos e teve autorização paterna para uma viagem a Vigo. Muito antes de Vigo conhecer Benni McCarthy. Foi lá que vi o Roberto Baggio a atirar um penálti para os céus de Los Angeles e o Brasil a festejar o tetra.
E lá fui eu com os amigos Daniel e Nelson para as calles galegas.
Meninos, não vos quero mentir, mas acho que vi todos os jogos desse Mundial. Vi uma Roménia deslumbrante, comandada pelo Maradona dos Cárpatos, Hagi; e uma Bulgária incrível, com o Kostadinov do FC Porto no ataque, o doido do Stoichkov a jogar muito e ainda dois jogadores do Sporting, o genial Balakov e o Iordanov.
Foi um mês espectacular, cheio de grandes jogos. O melhor? Brasil-Holanda, miúdos. 3-2 nos quartos-de-final, com o meu amigo Bebeto a fazer dois golinhos. Amigo, sim senhor. Entrevistei-o 22 anos depois disso, em casa dele, lá na Barra da Tijuca.
Esse Brasil tinha o Branco, o Raí, o Cafu, mas tinha sobretudo o Romário. Um craque, meninos, um bom malandro.
Portugal? Tivemos de esperar até 2002 para ter o nosso país num Mundial. Vocês são uns privilegiados. Isto dantes não era assim.
França 98
A bola vinha em balão, longa e incontrolável. Mas não para o Bergkamp, miúdos. O Dennis levantou o pé direito, a bola beijou-lhe a chuteira e ficou lá, até ser rematada para dentro da baliza da Argentina. Isto ao minuto 90, vejam bem!
Que momento, meninos. Estávamos mais de dez amigos, numa tarde de muito sol e calor, em frente a uma televisão pequena, lá em Pedras Rubras, terra dos vossos bisavós.
Essa Holanda tinha uma equipa excelente, com o Bergkamp, que eu adorava, mas também o Kluivert, o Davids, os manos De Boer, o Overmars, o Seedorf e o Van Hooijdonk.
Ficou no quarto lugar, atrás da melhor Croácia de sempre, a Croácia do Davor Suker. É agora dirigente da federação e falou com o vosso pai há uns tempos. Um craque, um pé esquerdo delicioso. 
Mas o melhor de todos era o Zidane. Esse, o careca treinador do Real Madrid. Meninos, esse senhor era um génio. Elegante e perigoso. O Materazzi que o diga. Na final desse Mundial fez dois golos e estragou o dia ao Brasil. O Ronaldo teve convulsões no quarto do hotel, tudo muito mau.
Foi o Mundial dos 20 anos e o último sem o nosso Portugal.
Miudagem, está quase a começar. Acreditem, é um dos melhores meses do ano. Apertem bem os cintos, o papá vai levar-vos a uma viagem maravilhosa. Já compraram a vossa caderneta?"

Portugal uma vergonha

"Uma vergonha de jogo que teve uma segunda parte a arrastar-se e que acabasse o mais rápido possível. Um jogo para esquecer que põe em causa a moral de Portugal e de Ronaldo que vinha embalado de uma série de jogos sempre a marcar.
Fernando Santos já fez muito pela selecção portuguesa, mas não pode começar a inventar. Quem é campeão europeu tem responsabilidades acrescidas. Fernando Santos sempre foi melhor gestor de jogadores e de egos, do que treinador propriamente dito. Os seus critérios na feitura da selecção contra a Holanda foi desconexo. Não se pode jogar sem um trinco de raiz.
Portugal já não é uma equipa qualquer, tem que ter o realismo de se apresentar com profissionalismo e prestigiar o seu nome.
Foi um jogo que se tornou um suplício para quem foi campeão europeu e, é só, o 3.º do ranking Mundial! Achei este jogo uma vergonha, uma humilhação, uma desgraça, um enxovalho e um embaraço.
A expulsão de João Cancelo ficando Portugal com 10, tirou qualquer veleidade de recuperar do 0-3. A falta de João Cancelo no meio-campo mostra desorientação e ausência de traquejo para estas andanças. Jogar no Inter de Milão não é porta de entrada para esta selecção.
O ânimo da selecção foi destruído. A vitória nos minutos finais contra o Egipto levantou a moral, porque o jogo em si, mostrou Portugal com muitas debilidades.
Pepe faz muita falta para ordenar a nossa defesa. Este jogo de preparação é um aviso sério que as coisas têm que mudar para Portugal não chegar à Rússia e ser esmagado.
A primeira parte foi uma humilhação em jogo jogado que não me recordo de ver Portugal tão pequenino, e nós portugueses passarmos por isto.
João Mário e Adrien têm jogado pouco e não estão com ritmo de jogo. Manuel Fernandes esteve ausente do jogo. Será importante para a integração da nossa selecção em Moscovo, mas tem que mostrar a sua utilidade, de outro modo, não se justifica.
Ronaldo merece uma equipa melhor e à sua imagem. Portugal tem que fazer uma gestão de continuidade e deixar-se de experiências sem sentido. Contra o Egipto foi o que se viu e só o santo Ronaldo nos livrou de perder.
Fernando Santos tem que deixar de inventar e apostar na equipa de sempre. As mudanças drásticas não são boas conselheiras. Em relação ao jogo, uma referência às bancadas com enormes clareiras, à invasão de campo de vários adeptos para tirar uns selfies e dar uns abraços a Ronaldo.
Jogou-se na Suíça para os nossos queridos emigrantes, mas parece que não resultou de todo.
Um dia, para esquecer e esperemos que as coisas mudem para melhor. Fernando Santos é engenheiro não é inventor, um engenheiro tem que ser pragmático e eficiente
Abdiquemos de experiências e honremos e prestigiemos a nossa selecção com os melhores jogadores. Espero que não passemos de campeões europeus a simples figurantes no Mundial. A Portugal exige-se atitude, concentração e postura. O que se viu foi invenção, amadorismo, desalento, falta de garra e intensidade."

Jardel, 32

Tácticas...!!!

Benfiquismo (DCCXCI)

46 !!!

Lanças... D'Arrasar!!!

Antes da Rússia, Portugal

"Os maiores clubes continuam a acumular dívida com o silêncio ensurdecedor das autoridades financeiras, como a CMVM.

Inter Selecções
Uns dias de pausa no futebol de clubes, preenchidos por muitos jogos amigáveis de selecções que vão ou que gostariam de ir ao Mundial de Putin. Uma oportunidade para mais uma mão-cheia de neófitos internacionais que, de outro modo, nunca lá chegariam apesar da inflação urbi et orbi de seleccionados. E também um momento para fingir pequenas mazelas que impeçam o desgaste de alguns jogadores em jogos a feijão, certamente em implícita coordenação entre os seus clubes e as suas selecções...
Tenho para mim que estes jogos são dispensáveis. Formam-se onzes que nunca serão os titulares nos jogos a doer. Fazem-se experiências que talvez fosse melhor realizar no recato dos treinos. Nestas duas partidas suíças viram-se resultados de tanta fartura experimental. Contra  Egipto (desfalcado do p), ainda tivemos Ronaldo e Quaresma para disfarçar a pobreza do jogo. Contra a Holanda, vieram ao de cima os problemas com a nossa defesa maioritariamente pré-reformada e a notória ausência de um ponta-de-lança matador que, notoriamente, nunca serão André Silva ou Paciência.
Quanto ao contributo do Benfica, registo aqui a presença de 36 atletas formados no Seixal e distribuídos por todas as selecções que actuaram durante estes últimos dias (sub-17, sub-19, sub-20, sub-21 e selecção A). É um impressivo sinal do investimento sustentado e progressivo da política de formação do clube e uma garantia de futuro promissor nos vários escalões futebolísticos. No entanto, quanto à selecção principal apenas o jovem Rúben Dias foi escolhido, sendo, neste vasto lote de seleccionados, algo estranha a não inclusão de Pizzi e André Almeida.

O nosso futebol em pinceladas
Em boa hora, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e a consultora EY (Ernest & Young) estabeleceram uma parceria estratégica com vista à elaboração de um anuário sobre a sustentabilidade do Futebol Profissional em Portugal.
A semana passada foram conhecidos os dados relativos à época desportiva 2016/17. Um documento bem ilustrativo e que nos possibilita um enquadramento bastante adequado sobre o panorama do futebol português. Se a este estudo acrescentarmos a comparabilidade com o restante futebol europeu que nos foi revelado num exaustivo documento da UEFA em Janeiro passado, temos um magnífico suporte para analisar e reflectir.
Evidentemente que só a sua leitura mais aprofundada nos dá uma integral fotografia, pelo que, aqui e agora, me limito a chamar a atenção para alguns aspectos.
O nosso futebol profissional (Liga e Liga 2) contribuiu com 456 milhões de euros para o Produto Interno Bruto, ou seja, 0,25% da riqueza nacional, por via de infra-estruturas, emprego e impostos directos. Este valor significa um notável acréscimo de 44% relativamente à época anterior. Claro está que seria largamente superior se a ele adicionássemos os impactos indirectos, em sectores como o turismo, os transportes, a comunicação e as apostas desportivas. Em qualquer caso, é apreciável o seu quinhão para a felicidade nacional bruta a preços de mercado e o facto de ser um actividade em que exportamos, com qualidade, vitórias, jogadores e técnicos.
As SAD geraram 680 milhões de euros em volume de negócios, o que significou um aumento de 31% face à época anterior, em fatia importante devido ao substancial aumento dos direitos de transmissão e à presença do SLB nos quartos-de-final da Champions. A disparidade entre os dois campeonatos é enorme: a Liga foi responsável por 97% do, o que evidencia o fosso que a separa da Liga 2 (3%), malgrado a intensa competitividade desta última.
Quanto a algumas dessas receitas, o quadro é ilustrativo e fala por si:

Receitas (em milhões de euros)
Liga: 157 (Direitos dos Atletas); 120 (Direitos Televisivos); 72 (Participação em Competições); 67 (Actividade Comercial); Total = 416
Liga 2: 6,7 (Direitos dos Atletas); 4 (Direitos Televisivos); 1,3 (Actividade Comercial); 1,1 (Estado e outros); Total = 13,1
Direitos dos Atletas: 163,7; Direitos Televisivos: 124; Participação em Competições: 72; Actividade Comercial: 68,3; Estado e Outros: 1,1; Total = 429,1

Olhando para a assistência aos jogos, a média na Liga foi de 11726 espectadores, o que traduz uma ocupação de 48% da lotação global dos estádios. Evidentemente que esta média não revela o brutal desequilíbrio entre os grandes, a que se juntam num plano seguinte o Vitória de Guimarães e o Sp. de Braga, face a todos os outros clubes. Registe-se a posição do Benfica que, segundo o relatório da UEFA, atinge o 9.º lugar europeu com uma média de 55952 espectadores, à frente de clubes como o Manchester City, Liverpool, PSG, Atlético de Madrid e todos os clubes italianos.
Já na Liga 2, a média de espectadores por jogo apenas chegou a um valor reduzido de 1081 pessoas, ou seja, 20% da utilização dos estádios.
Benfica, FC Porto e Sporting concentraram 76% da globalidade das receitas totais e 79% das despesas globais. Esta assimetria tem-se acentuado em todos os vectores. Aqui apenas destacaria a enorme diferença entre os seus direitos televisivos que são 14,9 vezes maiores dos que os que são detidos pelos clubes a meio da tabela, conforme nos indicou o relatório da UEFA a que atrás aludi e que pode ser explicado no gráfico em anexo.

Receitas de TV dos grandes clubes 'vs.' clubes médios
Áustria: 1,3x
Inglaterra:1,3x
Suécia: 1,8x
Suíça: 1,9x
Roménia: 1,9x
Polónia: 1,9x
Bélgica: 2,1x
Alemanha: 2,3x
Rússia: 2,3x
Noruega: 2,3x
França: 2,4x
Escócia: 2,5x
Dinamarca: 2,7x
Turquia: 2,8x
Itália: 3,3x
Holanda: 3,7x
Grécia: 3,8x
Espanha: 4,x
Chipre: 4,7x
Portugal: 14,9x
- Em Portugal os principais clubes ganham quase 15 vezes mais que os outros emblemas.

A dívida total das SAD (empréstimos obrigacionistas obtidos) chegou a 1203 milhões de euros (cerca de 0,7% do PIB), mais 14% do que na época anterior. O custo com os juros atingiu 43 milhões de euros, dos quais 96% dizem respeito aos 3 maiores clubes.
A despesa total aumentou 6% e atingiu 585 milhões de euros, muito influenciada pelo pagamento de salários mais elevados a atletas, treinadores e funcionários dos clubes, com os três grandes e serem responsáveis por 79%.
A rubrica de gastos com pessoal subiu 12%, o dobro do aumento da totalidade da despesa. O salário médio mensal que resulta da divisão do valor anual por 12 meses na Liga foi de 16460 euros, valor com um elevadíssimo desvio-padrão em razão da sua concentração nos principais clubes. Já o salário médio mensal dos treinadores foi de 8366 euros e o dos funcionários de 3104 euros, também bem acima da média nacional.
O rácio de solvabilidade teve uma evolução positiva, passando de -2% para 31%, tendo 15 das 18 sociedades apresentado resultados líquidos positivos durante o período, num total agregado de €58 M.
Apesar desta boa notícia, que bom seria que não fosse meramente conjuntural, os maiores clubes continuarem a acumular dívida e passivo ou a antecipar proveitos futuros (algumas vezes, bem para além do mandato eleitoral), com o silêncio ensurdecedor das autoridades financeiras, como a CMVM. Houvesse rating e, por certo, ver-se-iam gregos (até mais do que portugueses) na escala das letrinhas que, implacavelmente, as agências de notação lhes assinalariam.
Em suma, assuntos para reflectir profundamente num tempo em que o poder nos clubes ainda se alimenta de quimeras, emoção e do chutar para a frente as dificuldades. E quem se atreve a exprimir um assomo de maior racionalidade e sã contenção arrisca-se a ser proscrito pela sofreguidão da impaciência do resultado do jogo seguinte.

Contraluz
- Aposta: Os jogadores dispensados da Selecção por lesão estarão aptos no fim de semana. Formidáveis recuperações por milagrosa receita!
- Feito: Gibraltar
Desde que, artificialmente, foi admitido na FIFA em 2016, o rochedo britânico alcançou a sua primeira vitória. Venceu por 1-0 a báltica Letónia! Água mole em rochedo duro, tanto dá até que ganha.
- Disparate: A ideologia do género...
... prossegue na sua onda patética de confundir a essência da igualdade de oportunidade com a mesquinhez de anular tradições ou formalismos dos quais não vinha nenhum mal ao mundo. As grid girls da Fórmula 1 foram banidas. As jovens que estavam no pódio das etapas do Tour de França acabaram. Não sei se na nossa Volta irá acontecer o mesmo... É o insuportável politicamente correcto! Que mais se irá jogar?
- Homenagem: A Germano...
... grande jogador do Atlético e do Benfica, onde se sagrou bicampeão europeu e que vi muitas vezes jogar com a sua classe e serenidade. Foi justo e comovente e reencontro na Tapadinha de glórias e memórias de um futebol que se jogava apenas com bola e sem palavreados dispensáveis."

Bagão Félix, in A Bola

O filho da mulher que ardia

"Dadá Maravilha parava no ar como um helicóptero ou um beija-flor. Foi uma das figuras mais extraordinárias do futebol

Houve dois aviões muito famosos em Lisboa, por sinal ambos sem voar. Uma destas idiossincrasias próprias deste país magnífico em episódios caricatos. Um deles era o avião do Mobutu, seráfico, imponente como um príncipe da ferrugem, fuselagem branca e verde amarelecendo ao longo de década e meia na sua mobilidade imperial, exibindo o orgulho pátrio: Republique du Zaïre. O outro, bar de alterne, à beira da estrada, na fronteira com os Olivais da nossa adolescência e servindo etéreos serviços femininos (talvez por isso disséssemos que pertencia à Companhia Olivalense de Navegação Aérea), testemunha de um caso macabro de uma bomba explodindo debaixo do lugar do condutor que, não por acaso, era o proprietário da aeronave sem horizontes.
Falei de aviões para ir aos helicópteros e não me recordo de nenhum helicóptero que tenha ficado para a história da capital. Mas recordo-me de um helicóptero que marcou a história do futebol. Chamava-se Dario José dos Santos. Por extenso Dadá Maravilha, o Peito d’Aço. Ele dizia de si próprio: «Só há três coisas que param no ar – o helicóptero, o beija-flor e Dadá quando está na grande-área para fazer golo de cabeça».
Que a infância de Dadá foi uma novela mexicana, isso é algo registado nos anais da história. Tinha cinco anos e viu a mãe suicidar-se. Procurou imitá-la uns anos depois, cortando os pulsos. Safou-se. Viveu num orfanato e dedicou-se a assaltos de rua. Gostava de roubar meninas. «A primeira vez que tive uma bola foi com o dinheiro que roubei de duas mocinhas. Mudou a minha vida».
Foi um jogador estranho em todos os aspectos. Grande, desengonçado, sem habilidade, trapalhão. E, no entanto, marcava golos em catadupa. Diz a lenda que só com a cabeça fez 499. Saltava lá na grande-área inimiga e esperava, sentado no ar, de perna cruzada, talvez bebendo um chopinho e comendo uma linguicinha com palito e tudo, pela bola obediente que empurrava para a baliza. Em seguida, ensaiava uma das suas frases sempre bombásticas: «Não existe golo feio; feio é não fazer golo». As frases fizeram tanto parte da vida de Dadá como os seus golos: «Tecnicamente eu era horrível. Não iria dar nas vistas só pelos meus golos porque eram todos fáceis. Então comecei a dizer frases. Elas me ajudaram a ser o que fui».
Dadá Maravilha foi um ponta-de-lança Robin Hood: juntou a rapidez ganha a fugir da polícia ao jeito de subir às árvores para entrar pelas janelas nos seus assaltos urbanos. Como nunca conseguiu aplicar um pontapé de bicliceta perfeito e irretocável, daquela beleza plástica com que Pelé os desenhava, inventou o velotrol. No Brasil, velotrol é um triciclo. E soltava mais uma frase: «Para mim, na área, é queixo no peito e queixo no ombro». E ficava lá, no ar, asinhas transparentes de beija-flor aqui, hélice de helicóptero ali, parado no espaço como um Mercúrio negro.
Dadá era provocador.
Não perdia a oportunidade para desafiar os adversários, picava o ponto da rivalidade, mexia com o jogo antes do jogo. Fazia apostas com os avançados contrários e dava nomes aos golos que iria marcar. Tinha os seus próprios momentos publicitários: «Com Dadá em campo não há placar em branco». E gostava de sair correndo em zigue-zague com o central atrás, tentando morder-lhe os calcanhares. «Foi assim que comecei a carreira de jogador. Um dia saí com um comparsa para roubar uma mercearia. Roubámos e saímos correndo em zigue-zague. O dono, que era português, pegou na caçadeira e atingiu o meu companheiro no pescoço. Morreu na hora. Consegui fugir. E decidi não roubar mais».
A vida de Dadá merecia um livro e Lúcio Flávio Machado fez-nos o favor de o escrever. Logo no primeiro parágrafo conta a dor que nunca saiu do peito d’aço do Beija-Flor: «Dona Metropolitana, que sofria alucinações, estava na cozinha preparando o almoço; Dario brincava ao lado dela. De repente, num gesto impensado e inesperado, ela jogou querosene por todo o corpo, ateou fogo e saiu correndo pela rua como tocha humana. Vendo aquela cena, na tentativa de acudir a mãe, o menino correu tentando abraçá-la. E num último ato, lúcido e fraternal, ela se desenvencilhou do filho, jogando-o numa vala à céu aberto. E foi de lá, dentro de um esgoto, que ele viu a mãe morrer totalmente queimada».
E repetiu sempre, a cada golo, a cada jogo, a cada festa que se seguia ao momento em que empurrava a bola para cada um dos mais de novecentos golos que marcou na carreira: «Sou alegre mas não sou feliz».
Parece que a rapariga que estava sentada no lugar do morto ao lado de José Gonçalves, o dono de O Avião, não sofreu uma arranhadura apesar da violência da explosão. Talvez fosse como Dadá – parou no ar porque Deus a levava ao colo."

A ordem do Engenheiro

"Fernando Santos não está acima da crítica, mas está acima de qualquer suspeita. Não apenas pelo que já ganhou, mas principalmente pela forma como empurra para longe qualquer desculpa para maus resultados. Pode parecer coisa pouca, mas é uma (boa) prática que não está suficientemente disseminada no futebol português. Frente à Holanda, o seleccionador nacional apresentou um “onze” cheio de novidades e depois da derrota nem sequer destacou o facto de não ter contado, nesta convocatória, com várias primeiras escolhas: Pepe, William Carvalho ou Danilo Pereira, mas também Rúben Dias ou Fábio Coentrão. E é bom lembrar que Rui Patrício não chegou a sair do banco de suplentes.
Estando esclarecido este ponto, não vale a pena esconder o óbvio: o jogo com a Holanda teve demasiados erros e equívocos. Foi apenas um teste (por muito que o “engenheiro do Euro” embirre com essa definição dos jogos de preparação), mas uma derrota por três golos coloca um deslustre sério num percurso recente quase imaculado do Campeão da Europa.
Será 1 + 10 ou 1 + 22. Seja qual for a formulação, Cristiano Ronaldo será sempre o ponto de partida e de chegada do seleccionador nacional no Campeonato do Mundo deste ano. Ninguém estranha que o capitão seja o primaz e que esse estatuto diferenciado acabe por ser recordado quase quotidianamente, até no discurso de Fernando Santos. No entanto, o relvado também fala e demonstra que Cristiano Ronaldo nem sempre está no centro das decisões. Ou da construção das decisões, pelo menos.
Esta é talvez a grande “divergência” táctica entre os dois melhores jogadores do mundo. Lionel Messi constrói, transporta a bola desde trás e também marca golos (e de que maneira). Cristiano Ronaldo é, provavelmente, o melhor finalizador do mundo, mas mudou. Deixou praticamente de ser um construtor de jogo ofensivo. Nem lhe seria fácil continuar a ter esse papel e, ao mesmo tempo, acomodar cada vez mais golos numa lista muito extensa de recordes. Actualmente é ali, na zona das decisões, que o capitão se torna verdadeiramente fora de série.
Por tudo isso, mais do que a própria lista dos 23 convocados (também não resisto a esse exercício e farei a minha brevemente, como qualquer outro português), torna-se impositivo perceber o modelo de funcionamento do meio-campo, do coração da organização ofensiva de Portugal. Os mais brilhantes alinhamentos da zona intermediária apareceram no Euro 2004 (Costinha, Maniche e Deco) e no Euro 2016 (William Carvalho, Adrien Silva e João Mário, com papéis relevantíssimos de João Moutinho, Renato Sanches e André Gomes), mas o elenco-base do torneio francês dificilmente poderá ser replicado na íntegra no mais extenso país do mundo. Sejam quais forem os nomes, parece mais ou menos claro que Cristiano Ronaldo continua a ser (ainda) mais letal quando tem um companheiro no centro do ataque. A fase de apuramento para o Mundial e a parceria de sucesso com André Silva tornam-se num comprovativo quase indesmentível.
Os dois jogos da Selecção Nacional na Suíça estarão muito longe de caber numa lista de ouro do futebol português, mas também não devem acicatar exageradas reservas em relação ao desempenho do campeão europeu em título no Mundial. Da mesma forma, poderá não ser absolutamente decisivo para Fernando Santos aquilo que os jogadores fazem (ou não fazem) nestes jogos, porque o seleccionador, ao contrário dos (cada vez mais) exigentes adeptos, conhece muito bem todos os “trinta e tal” jogadores que esperam (ou sonham, nalguns casos) ouvir o nome na convocatória para o Mundial, lá para o mês de maio.

P.S. – Há pouco mais de uma semana, Bruno de Carvalho pedia a intervenção governamental para acabar com dois flagelos do futebol nacional: a corrupção e a violência. Tem toda a razão, mas passaram apenas alguns dias e o presidente do Sporting tornou-se num potencial alvo da possível intervenção que reclama, ao desferir um violentíssimo ataque (através de palavras) ao homólogo do Sporting de Braga. O insulto praticamente gratuito é um potenciador de violência. Como tal, deveria ser punido de forma exemplar. Infelizmente, em Portugal, o futebol continua a ser um Estado dentro do Estado, com a inacção cúmplice dos responsáveis governamentais pela área do desporto. Só isso explica que seja possível recorrer a práticas pouco dignas para dirimir uma transferência, aproveitando o espaço mediático que é dado aos principais clubes nacionais."

O valor económico do desporto

"A Quantificação e o efeito multiplicador da organização de eventos de natação em Portugal.

A relevância axiológica do desporto deve ser compatível com a sua relativa importância e valorização sociais, num contexto onde as pessoas do século XXI são protótipos de uma exclusão real, nativos digitais, e vivem num mundo cujas estruturas sociais e económicas não conseguimos hoje vislumbrar completamente.
Este facto justifica a investigação em áreas cujas implicações não se resumem só e somente ao desporto enquanto prática sistemática. O estudo do impacto económico do desporto é relevante não só para quantificar a sua real dimensão, que se desconhece em pormenor, mas também para avaliar o efeito multiplicador para o sistema desportivo e catalisador de externalidades positivas para outras áreas e sectores de actividade.
Quando abordamos a questão do orçamento público e/ou semipúblico do estado no desporto, várias vezes é assumido o sofisma mistificador de que os resultados ficam aquém do esforço financeiro assumido pelo estado central. Desde logo duas questões são prementes: qual é afinal o esforço financeiro do estado, em sede de orçamento para o desporto? (1); de que retorno financeiro falamos quando discutimos os impactos? (2).
Em 2017, o orçamento para o desporto foi de 36 milhões de euros. Quando reportamos a origem deste financiamento verificamos que a grande maioria é resultante das verbas com os jogos sociais que com base no enquadramento legal (DL n.º 56/2006, de 15 de Março, alterado pelos DL n.º 44/2011, de 24 de Março e DL n.º 106/2011, de 21 de Outubro) atribui ao IPDJ (órgão que tutela o desporto em Portugal) cerca de 9.85% deste montante o que representou uma verba de cerca de 60 Milhões de Euros, da verba total arrecadada pelo Estado de arrecadou cerca de 650 milhões euros.
A questão que se levanta é saber se o desporto, com a importância social que tem em todos os domínios e para além dos retornos (não económicos e económicos), não justificaria um investimento, em sede de orçamento público, maior do que este verificado actualmente remetendo-o para o domínio do casuístico e dependente das adições decorrentes dos jogos sociais. Os resultados, estritamente económicos, são significativos, não só os relativos ao sistema desportivo, mas também os que decorrem das externalidades positivas para outras áreas de actividade, quer no contexto internacional quer nacional.
Na União Europeia (UE), o desporto constitui um sector económico de importância significativa, representando 1.76% do valor acrescentado bruto da EU, com uma quota parte nas economias nacionais comparável à dos sectores da agricultura, da silvicultura e das pescas combinados. No que diz respeito ao mercado de trabalho, o emprego relacionado com o desporto representa 2.12% do emprego total na UE. Na Inglaterra, o último estudo realizado pela “Sport England” publicado em 2013, concluiu que o valor económico do desporto, relativo a 2010 gerou um valor acrescentado bruto (VAB) de 20.3 biliões de libras, representando 1.9% do valor total, o que posicionava o desporto como uma das 15 indústrias de topo. Por outro lado o desporto e a actividade relacionada suportavam cerca de 440.000 empregos a tempo completo (ETC), representando 2.3% de todo o emprego em Inglaterra, sendo 65% derivados da participação no desporto e os demais 35% do consumo afecto ao desporto.
E em Portugal?
O Instituto Nacional de Estatística divulgou os resultados da CSD para o triénio 2010-2012, com três grandes conclusões: (1) o desporto representou em média 1.2 % do VAB; (2) representou 1.4% dos ETC da economia portuguesa; (3) a remuneração média na CSD excedeu em cerca de 5% a remuneração média nacional, com dimensão económica semelhante ao ramo da metalomecânica, informática, vestuário, arquitectura e engenharias e técnicas afins.
Para além destes indicadores directos, à escala nacional e europeia, há que quantificar o retorno que decorre da diminuição dos custos directos e indirectos com a morbilidade e/ou mortalidade decorrente de doenças hipocinéticas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 80% dos casos de doenças coronárias, 90% de diabetes tipo 2 e um terço das doenças de cancro poderiam ser evitadas pela alteração de hábitos alimentares, prática de desporto e actividade física e consumo de tabaco.
Considerando o Orçamento de Estado para 2016 e a distribuição percentual média das despesas de saúde por doença, a poupança efectiva nas despesas de saúde que resultaria de um incremento cientificamente sustentado das actividades desportivas seria de 1.349.930.075,00€. Indicadores idênticos são publicados pela Lancet, nas edições que revisitam as edições olímpicas (2012; 2014; 2016).
Os dados analíticos dos impactos decorrentes da organização de eventos desportivos são pouco conhecidos, porque existem poucos estudos, no contexto nacional. A propósito da etapa mundial de surf em Peniche, o estudo do Instituto Politécnico de Leiria de 2016 refere que os portugueses gastaram em média 38.48 euros por dia e os visitantes estrangeiros fizeram uma despesa diária de 148,70 euros com este evento que gerou 10.6 milhões de euros.
Outro exemplo é Ponte de Lima, que recebeu o campeonato nacional de maratona e tem vindo a apostar cada vez mais na canoagem. Estima-se que os eventos relacionados com a prática da canoagem dinamizam a economia local de forma muito significativa, especialmente nas áreas da restauração, alojamento e comércio, num valor aproximado anual na ordem dos 3 milhões de euros. O Golfe atrai estrangeiros, cerca de 300 mil turistas anualmente. Portugal recebe 120 milhões de euros em receitas directas.
E na natação?
Os dados eram desconhecidos. Foi nesta óptica que surgiu a necessidade de representar e quantificar o valor económico dos eventos organizados pela FPN dando resposta a duas necessidades: i) conhecer o que vale a marca FPN em termos de impacto para poder definir estratégicas de crescimento futuro ao nível do ajustamento dos cadernos de encargo da organização de competições nacionais; ii) ter a noção exacta da nossa dimensão para negociar a exploração comercial das nossas competições no mercado da sponsorização, merchandising e naming das competições.
Quando analisamos o último trabalho de investigação solicitado pela FPN à Universidade da Beira Interior, da autoria de Pedro Guedes de Carvalho, sobre esta temática verificamos que no conjunto do calendário competitivo nacional na natação com cerca de 30 provas (natação Pura, natação adaptada; natação artística, águas abertas, masters e polo aquático) a FPN:
1. Despendeu cerca de 353.000,00€ com aquisição de materiais de consumo diverso, serviços especializados de apoio, disponibilização de colaboradores, arbitragem, atletas e diversos;
2. O volume de despesa realizado pelos atletas, dirigentes e treinadores foi no global de 534.080,00€; 
3. O impacto directo que o público teve foi de cerca de 701.725,00€.
Considerando estes valores conclui-se que houve um efeito multiplicador cujo impacto global, das provas organizadas pela FPN em 2017, se cifrou na casa dos 3,5 M€, cujo efeito directo é fundamentalmente verificado na hotelaria, restauração e comércios locais.
Estes dados não incluem os resultados financeiros decorrentes da exposição mediática (media e redes sociais) que fariam multiplicar estas externalidades positivas. Está, por isso, mais do que justificado o investimento regional/local na organização de eventos pelo efeito multiplicador nas externalidades positivas que possui."