"'Rivales', em latim, era o colectivo que se referia a pessoas ou povos que dependiam de um mesmo rio ('rivus', também em latim) para beber
Liberdade
1. Em latim libertas, que deu origem à nossa palavra liberdade, referia-se à «vigilância sobre os que ocupam cargos públicos»; liberdade individual, ou liberdade privada, seria assim a possibilidade de não atirar para o Estado central a liberdade absoluta. O governo não pode fazer tudo; por isso sou livre. O governo não é totalmente livre, por isso eu sou livre.
Sou livre, no fundo, apenas num país onde o poder do Estado está vigiado pelos cidadãos.
São os cidadãos que vigiam o Estado e não o contrário. Pensar, pois, num Big Brother de Orwell invertido. São os Presidentes, os Ministros etc. que estão a ser filmados, com esse olho livre, pelos indivíduos.
E o que é o olho livre do cidadão que vigia os chefes? Nas democracias é a lei e Constituição.
Rivais
2. Rivales, em latim, «era o colectivo que se referia a pessoas que se referia a pessoas ou povos que dependiam de um mesmo rio (rivus, também em latim) para beber». A água no centro, pois, da primeira das batalhas, do primeiro dos conflitos. Quem perdia o acesso ao rio morria ou, pelo menos, perdia condições de existência.
Em termos jurídicos, rival era ainda »quem possui, as águas de um rio». Dois vizinhos com um rio ou riacho no meio são rivais. E assim se faz o caminho de uma palavra. Nasce num ambiente e vai para outro. No caso da palavra rival - ela nasceu perto do rio. Como muitas vezes era tumultuosa essa vizinhança, com a partilha da mesma água e do mesmo rio, a palavra passou das duas margens para terreno seco. E em todo o lado é agora usada: por causa de uma mulher ou de um homem, de um negócio, de uma luta qualquer em solo firme. Os rivais de hoje não necessitam de ter um rio no meio.
No sentido primeiro da palavra, Benfica e Sporting são verdadeiros rivais, lutam em redor do Tejo, lutam, pelo menos metaforicamente, pelo mesmo rio e pelas mesmas águas. Já o Porto e o Boavista seriam os dois rivais em luta pelo Douro. Podemos falar, então, em verdadeiros rivais - e falsos rivais: os que lutam por outros assuntos que não o acesso à água. Assuntos menores, dirão uns. Assuntos ainda mais transcendentais, dirão outros.
Imagem
3. A palavra imago para os romanos designava a «imagem de cera ou máscara funerária de um antepassado» que tivesse chegado «a um lugar relevante na política». Imago que deu origem à palavra Imagem é, portanto, se atentarmos à sua origem, uma matéria que duplica a face de alguém que já não está presente - de alguém que já morreu ou que, pelo menos, está ausente dali (em viagem, escondido, etc.). A imagem deveria substituir a presença.
Nos funerais romanos, muitas vezes - lembra Peter Jones, um estudioso deste período - havia actores que seguravam as máscaras de cera dos antepassados ilustres dessa família e avançavam com essa máscara a tapar o seu rosto no cortejo fúnebre. De repente, tínhamos ali todos os grandes antepassados de uma família, as suas caras de novo vivas e na rua.
A imagem apareceu, pois, para fingir que o morto afinal está vivo. Apareceu, no fundo, para não nos esquecermos dos defuntos.
Pensar em imago, a máscara romana dos antepassados mortos, e pensar na nossa fotografia ou filme onde vemos quem já morreu.
Se fossemos imortais, não existiriam imagens poderíamos pensar.
E claro que a imagem não refere apenas às pessoas mortas, é também sobre os acontecimentos mortos, o passado, aquilo que já não está presente.
A imagem continua a mostrar-nos o rosto dos momentos passados, aqueles que já não podem ser repetidos, pelo menos na mesma exacta forma.
As imagens são, portanto, máscaras, não são o rosto verdadeiro, são uma falsidade. O rosto verdadeiro (da vida e dos vivos) é o presente.
Provérbio
4. Mais vale um que bem mande do que dois que bem façam. Alternativa (para quem quer que realmente alguma coisa seja feita):
Mais vale um que bem faça do que dois que bem mandem."
Gonçalo M. Tavares, in A Bola