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domingo, 20 de julho de 2025

Dia 6...

Aula de alemão com Professor Barreiro 📚

Bernardo Silva: 'the Captain' e o futuro


"Em 2019, Vincent Kompany, lenda do Manchester City e uma das vozes mais respeitadas no balneário do clube, dizia com humor e lucidez: «O Bernardo é 50% palhaço e 50% líder. Quando for 25% palhaço e 75% líder, será o capitão desta equipa.» Pois bem, o futuro chegou. Pep Guardiola decidiu que Bernardo Silva é o novo capitão do Manchester City.

É uma decisão inédita. Pela primeira vez na sua carreira, Guardiola não colocou a escolha da braçadeira nas mãos dos jogadores e do staff técnico. Após uma temporada em que, nas suas palavras, viu coisas de que não gostou, o treinador decidiu intervir diretamente. Escolheu Bernardo para liderar. Com ele, como vice-capitães, estarão Rúben Dias, Rodri e Erling Haaland. Mas é ao médio português que cabe agora o símbolo da liderança, o peso da herança, a responsabilidade de guiar um dos melhores plantéis do mundo.
Ser capitão de uma equipa como o City não é um prémio - é uma missão. E não se resume a entrar em campo com a braçadeira no braço ou a representar o grupo no sorteio do pontapé de saída. Ser capitão é ser exemplo - em campo e fora dele. É ser equilíbrio nos momentos de tensão, voz nos momentos de dúvida, abraço nos momentos de dor. É saber quando falar… e quando escutar.
Bernardo sempre teve essa sensibilidade. Chegou a Manchester em 2017, vindo do Mónaco, e rapidamente se impôs com a sua inteligência, humildade e capacidade de trabalho. Ganhou o respeito dos colegas, o carinho dos adeptos e a admiração dos treinadores. Não grita, não impõe. Mas todos o seguem. Porque Bernardo lidera de forma invisível, como só os grandes o sabem fazer.
Kevin De Bruyne, um dos maiores génios da última década, disse-o sem hesitar: Bernardo é o jogador mais subvalorizado da Premier League. Só quem joga com ele percebe tudo o que ele dá.
João Cancelo foi ainda mais longe: É dos jogadores mais inteligentes com quem joguei. Sabe sempre o que fazer.
E Guardiola, que já treinou alguns dos maiores de sempre, vê em Bernardo um perfil raro: completo, fiável, generoso com o jogo e com os colegas.
A escolha de Bernardo também simboliza uma era. Ele é um dos sobreviventes da geração que construiu o City campeão da Premier League, da FA Cup e da tão desejada Liga dos Campeões. É parte do ADN vencedor do clube. É memória viva de um futebol que se joga com cabeça, criatividade e compromisso.
A nomeação como capitão coincide, no entanto, com um momento de viragem na sua carreira. Aos 30 anos, com contrato até 2026, Bernardo já admitiu que esta poderá ser a sua última temporada em Inglaterra. Sei o que vou fazer, mas não é tempo de falar sobre isso. Estou focado em jogar bem pelo City, afirmou recentemente.
Há rumores de um possível regresso à casa-mãe, o Benfica. Eu acredito que Bernardo Silva será jogador do Benfica na próxima época caso não renove contrato com o City. Não por uma transferência milionária. Mas porque é o único cenário possível para um jogador deste calibre regressar a um clube português: de forma livre, por vontade própria e com o coração como bússola.
Bernardo virá não para terminar a carreira, mas para ser uma mais-valia clara para o Benfica. Recusará clubes de dimensão planetária, que o desejam. Recusará os milhões das Arábias, que o encantariam financeiramente, mas não espiritualmente. Porque o que move Bernardo não são apenas títulos ou dinheiro - é pertença, é identidade, é paixão.
Ao longo da sua carreira, provou ser um profissional de excelência, mas também um homem de valores. E é isso que o torna especial. Tal como a sua liderança no City não assenta em gritos, o seu eventual regresso à Luz não será um gesto mediático. Será, isso sim, um gesto de amor.
No futebol de hoje, onde as lealdades são frágeis e os compromissos voláteis, Bernardo Silva representa algo raro: uma coerência entre o que se joga, o que se sente e o que se acredita. Foi assim no Mónaco. É assim em Manchester e na nossa seleção. E poderá ser assim, muito em breve, em Lisboa.
Bernardo Silva é agora o capitão dos citizens. Não por gritar mais alto. Mas por saber escutar. Não por impor autoridade. Mas por inspirar confiança. Não por ter chegado ao topo. Mas por nunca ter deixado de ser fiel à sua forma de estar: com humildade, trabalho, talento, lealdade e um toque de irreverência."

O peso do nome e da camisola do Benfica


"Dois anos e meio depois, o Benfica procura reformular um meio-campo que viu partir Kokçu, ainda não sabe o que sucede com Florentino Luís, gostava de ter Renato Sanches outra vez, mas a cem por cento, e que, estava já à vista na época passada, necessitava de futebolistas diferentes na sua composição

Diz-se que a camisola do Benfica pesa. É uma daquelas frases ligada à História do clube da Luz, de que só os grandes prevalecem ao vestirem de encarnado. E por grande não se entenda apenas no talento. É preciso força mental, não sucumbir à pressão, pois jogar no Benfica não é o mesmo que jogar noutros: pela obrigação de vencer, pelo estilo, pelo mediatismo que o clube provoca.
O Benfica não é caso único, ou, melhor dizendo, aquela frase podia aplicar-se a outro clube com as mesmas características dos encarnados. Mas Enzo Barrenechea, reforço para o meio-campo, carrega ainda o ‘peso’ do nome.
Não será por aí que se define o argentino contratado ao Aston Villa, ou mesmo pela nacionalidade que tem no passaporte, mas Barrenechea, para além do peso da camisola, ainda vai ter de gerir a expectativa de um terceiro Enzo na Luz.
O nome e o país de nascimento podem ser vistos como uma coincidência, porque o que se espera na realidade é que o rapaz vindo do Aston Villa tenha o sucesso que os homónimos tiveram. Ainda que Pérez tenha tido mais tempo que Fernández, Enzo I e Enzo II deixaram marca indisfarçável no clube.
O primeiro porque foi, provavelmente, o médio mais completo do século XXI na Luz e que preencheu todos os requisitos que o Terceiro Anel impõe: qualidade técnica e tomada de decisão bem acima da média, atitude e lealdade.
Já Fernandez foi um fenómeno relâmpago, um jogador que mal chegou se impôs pela sua qualidade mundial e que, quando partiu, abanou tanto as coisas que até hoje se pensa que uma dinastia de sucesso foi interrompida naquele janeiro de 2023.
Dois anos e meio depois, o Benfica procura reformular um meio-campo que viu partir Kokçu, ainda não sabe o que sucede com Florentino Luís, gostava de ter Renato Sanches outra vez, mas a cem por cento, e que, estava já à vista na época passada, necessitava de futebolistas diferentes na sua composição. Com Barrenechea, o Benfica procura melhorar um setor que não está fechado.
Há outra parte, porém, que merece atenção: o modo do negócio. Os objetivos podem ou não ser alcançados, mas comprar um jogador se ele (e a equipa?) atingir certas metas, pode ser um bom plano, visto do lado avesso: se Enzo não fizer jus ao nome e não atingir certos números, o Benfica não precisará de comprar. No fundo, o risco foi minimizado e o investimento menor, evitando-se um possível erro, se Barrenechea não aguentar o peso da camisola. A não ser, claro, que os tais objetivos sejam tão fáceis como encontrar um argentino chamado Enzo e que é jogador de futebol…"

Di María vale 100 mil sócios


"Eis a lista tradicional dos cinco grandes da Argentina, os dois primeiros acima dos demais: River, Boca, Independiente, Racing e San Lorenzo. Eis agora a lista, atualizada nos últimos dias, dos quatro clubes com mais sócios no país: River, Boca, Independiente e… Rosario Central.
Qual a razão para termos um intruso? Ángel Fideo Di María, claro. Com o ex-Benfica, o Central ultrapassou 100 mil sócios, atrás apenas de River, com 351 mil, Boca Juniors, 323, e Independiente, 160. O argentino foi ponto de partida para A BOLA falar com dirigentes e especialistas sobre sócios no Brasil. O Palmeiras é líder. Para Henrique Guidi, diretor de negócios do Grupo End to End, que faz a gestão do programa de sócios do verdão, «o clube foi o primeiro a entender que existe um ecossistema de produtos que se podem potencializar».
O Inter, primeiro clube brasileiro a atingir 100 mil sócios no país, tem faturado perto de 14 milhões de euros por mês. «De 2022 para cá, tivemos um aumento de 40 mil sócios», diz Victor Grunberg, vice do clube. Já o Santos saltou de 45 mil sócios para aproximadamente 67 mil, impulsionado pelo regresso de Neymar. «Mas a ampliação de sócios é uma meta estratégica desde 2024, trabalhamos para tornar o programa mais atrativo e eficiente», afirma o presidente Marcelo Teixeira.
«Quanto mais conexão o departamento de marketing tem com o futebol, com mais antecedência saberá coisas e poderá transformar toda a audiência em negócios», diz Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing desportivo.
Para Henrique Borges, executivo de novos negócios na Somos Young, empresa que utiliza tecnologia de ponta no atendimento a sócios, a evolução dos programas mudou a forma como os clubes veem o mercado. «Eles já perceberam que oferecer apenas acesso aos jogos não é suficiente, até porque essa vantagem é limitada pela capacidade do estádio, é necessário o torcedor ser o foco e, para isso, é fundamental conhecê-lo bem.»
Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, diz que«na prática o número de sócios é pouco relevante». «O que interessa é a relação entre o quanto se arrecada com eles e o número de lugares para venda avulsa do qual o clube abdica para atendê-los», acresdcenta. Por falar em estádios, a biometria e outros requisitos hoje usados no Brasil são essenciais. «Com sistemas de controle de acesso biométrico e facial e gestão em programas de sócio, temos contribuído para segurança, conforto e interatividade», explica Tironi Paz Ortiz, CEO da Imply, empresa dedicada à modernização dos estádios.
Entretanto, contratar craques como Fideo ajuda."

Exigir com inteligência


"Fui — e continuo a ser — um crítico feroz do silêncio que esta direção manteve durante demasiado tempo. A perda de respeito institucional, a subjugação do Benfica aos interesses do status quo do futebol português, a defesa de lugares comuns em vez da defesa intransigente do clube… tudo isso não passou despercebido nem para mim, nem para milhares de benfiquistas que, como eu, exigem mais do que palavras vazias.
Durante anos, assisti frustrado a uma postura que, em vez de proteger o Benfica, pareceu deixá-lo refém de uma lógica de acomodação e silêncio estratégico. Essa passividade alimentou um sentimento de abandono, uma sensação crescente de que o nosso clube estava a perder a voz — não apenas nos palcos desportivos, mas sobretudo no cenário político e institucional onde se jogam muitos dos destinos que o Benfica precisa de conquistar.
Por isso, nunca hesitei em denunciar esta falta de coragem, esta subalternidade à corrente dominante, esta incapacidade de afirmar o Benfica com a firmeza que ele merece. O silêncio foi para mim uma ferida difícil de aceitar. E esta minha crítica é pública, honesta e fundamentada.
Mas hoje, perante o comunicado do clube depois da final da Taça de Portugal, não posso ficar indiferente. É impossível passar ao lado desta tomada de posição que, sendo tardia, é genuína na sua essência e necessária no seu tom. É a primeira vez em muito tempo que vejo o Benfica erguer-se com clareza e firmeza para denunciar o que de errado se passou, sem rodeios, sem ambiguidades.
Isso não significa que tenha deixado de exigir ou que me tenha tornado um adepto acrítico da direção atual. O meu voto no próximo ato eleitoral será pensado, crítico e consciente, porque a mudança que o Benfica precisa é profunda e estrutural. Também continuarei atento e pronto a denunciar eventuais falhas, incoerências ou recuos.
No entanto, não quero — e não posso — deixar que a legítima vontade de mudança se perca num ruído constante de desconfiança, numa lógica de rejeição automática que acaba por ser contraproducente. O benfiquista que só sabe dizer “não” a tudo o que vem da direção, mesmo quando o que vem é finalmente uma reação forte e clara, transforma-se numa espécie de criança que faz birra, que grita, que bate o pé, mas que já ninguém leva a sério.
Essa postura não serve o Benfica. Ela dispersa energias, fragmenta vozes e afasta os que podem ser aliados numa verdadeira transformação do clube. Porque para mudar o Benfica não basta querer. É preciso saber construir. Saber reconhecer os primeiros passos, ainda que imperfeitos. Saber criar pontes em vez de levantar muros.
A exigência deve ser um instrumento inteligente — que não abdica de exigir o melhor, mas que não rejeita o que é positivo só porque não veio no momento perfeito ou da forma ideal. Só assim poderemos ser mais do que um coro de reclamações inconsequentes. Só assim poderemos ser agentes de mudança real.
Por isso, lanço um apelo: sejamos exigentes, sim, mas com inteligência e responsabilidade. Que a nossa voz seja firme, mas construtiva. Que a nossa crítica seja um passo para a mudança, e não uma barreira que a impeça. 
A exigência sem direção é apenas barulho. A crítica sem propósito é apenas desgaste. O que o Benfica precisa — e o que todos nós, benfiquistas, precisamos — é de uma exigência que saiba quando pressionar, mas também quando reconhecer avanços, mesmo que pequenos. Que saiba diferenciar a crítica que derruba da crítica que ergue, a dúvida que paralisa da dúvida que instiga o debate e a melhoria.
Mais do que nunca, o clube precisa de união na diversidade, de vozes plurais que se respeitem, de uma base sólida onde possam crescer ideias e projetos. Precisamos de transformar a nossa indignação em força construtiva, em contributos práticos, em mobilização inteligente.
Se continuarmos a agir como aquela criança que faz birra e já ninguém liga, corremos o risco de perder a oportunidade histórica de sermos protagonistas da mudança que todos desejamos. Corremos o risco de ficar presos num ciclo de desilusão que paralisa e afasta quem quer avançar.
O Benfica não merece isso. O Benfica merece um movimento vivo, dinâmico, que sabe ser exigente sem ser destrutivo, que sabe criticar sem perder a esperança, que sabe lutar sem se fragmentar.
É nessa exigência consciente e coletiva que reside a nossa maior força. É na capacidade de unir, mesmo com diferenças, que construímos o verdadeiro futuro do clube.
Por isso, não basta querer mudança — é preciso agir com inteligência para que essa mudança aconteça. E isso começa em cada um de nós: na forma como debatemos, na forma como pressionamos, na forma como apoiamos.
Se formos capazes de canalizar a nossa paixão benfiquista para uma exigência madura, equilibrada e inclusiva, teremos uma voz que não poderá ser ignorada. Uma voz que poderá, finalmente, mudar o Benfica para melhor.
Este é o desafio — e a responsabilidade — que hoje nos cabe a todos."

Máximo empenho


"A chegada de Barrenechea e os trabalhos de pré-temporada são os destaques desta edição da BNews.

1. Reforço
O argentino Barrenechea chega do Aston Villa e já está às ordens de Bruno Lage. "Lutar por tudo, como a própria história do Benfica assim o dita", salienta o novo n.º 5 encarnado.

2. Alta intensidade
Os trabalhos de pré-época continuam a elevado ritmo.

3. Informação clínica
Nuno Félix sofreu uma entorse do joelho direito com rotura completa do ligamento cruzado anterior.

4. Sessão fotográfica
Está realizada a sessão fotográfica oficial para a temporada 2025/26.

5. Supertaça
Os ingressos para a Supertaça, agendada para 31 de julho no Estádio Algarve, são colocados à venda na próxima segunda-feira, dia 21.

6. Renovações de contratos
A futsalista Janice Silva continua de águia ao peito até 2028. E o andebolista Alexis Borges também fica ligado ao Clube por mais 3 anos.

7. Sorteio EHF European League
O Benfica integra o Grupo E desta competição europeia de andebol.

8. Inscrições abertas
As inscrições para a nova época decorrem entre 18 e 31 de julho, na secretaria do Complexo de Piscinas do Estádio da Luz, e retomam no dia 1 de setembro.

9. História
Veja a rubrica habitual das manhãs de quinta-feira na BTV.

10. Casa Benfica Vila Nova de Cerveira
Esta embaixada do benfiquismo celebrou 20 anos de vida."

Zero: Mercado - Benfica no Brasil para trazer reforço

5 Minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Observador: E o Campeão é... - Vieira quer ou não quer? E Richard Ríos pode ser outro Thiago Almada?

História Agora


Pior que perder é ganhar e não ser amado — o exemplo do Belenenses


"O desporto pode ser equiparado a uma arena, onde o ser humano revela o melhor e, às vezes, o pior de si. A linha entre a glória e a derrota é muitas vezes ténue. É por isso mesmo que o desporto emociona tanto. Lembro-me de há uns dias me terem dito que não iam ver a final do Mundial de clubes, por estar já decidido.
As expetativas para o Paris Saint-Germain (PSG) na final do Mundial de Clubes 2025 eram altíssimas, tanto por parte dos adeptos como da imprensa europeia e internacional. O PSG chegou ao Mundial como campeão europeu, após vencer a Champions League 2024–25, um marco histórico para o clube que há anos perseguia esse título. Na meia-final, derrotou (aliás, goleou) o Real Madrid, aumentando ainda mais a confiança dos parisienses. O treinador principal, Luís Enrique, campeão da Europa também com o Barcelona em 2015, era visto como o líder ideal para levar o PSG ao seu primeiro Mundial de Clubes. Pois bem, foram três secos.
Por outro lado, mesmo perdendo e com um treinador a ter um comportamento extra-jogo condenável, não me lembro de ver o PSG tão respeitado e amado como agora. O tão esperado sucesso do PSG, especialmente nos últimos anos, com investimentos milionários, tentou impactar positivamente os fãs de futebol e eventos ligados ao clube. Mas será que Messi, Neymar ou Mbappé conseguiram isso? O emblema da cidade de Paris, para mim, elevou-se com a humildade, conexão forte e multifacetada do seu treinador, extensível a um plantel trabalhador e presente. Neste momento não há uma super-estrela na equipa, mas existe uma super-equipa. Noutros tempos, a falta de tradição histórica comparada a outros clubes mundiais, bem como o ambiente desconectado dos adeptos locais à cultura futebolística francesa, influenciou este distanciamento emocional, principalmente para quem valoriza clubes com uma identidade bem definida.
Tal como Mourinho conseguiu no Chelsea de outrora. Acredito que esse Chelsea foi mais amado nos anos 2000 do que atualmente. Mourinho criou um Chelsea forte, competitivo e com uma mentalidade vencedora, o que mudou o patamar do clube em Inglaterra e a nível mundial. Também há casos em que apesar de o clube pouco ter ganho, tem a admiração de tudo e todos.
O Leicester City durante décadas oscilou entre a primeira e a segunda divisão, sem grandes títulos nacionais. Na altura já era conhecido pelos seus adeptos apaixonados, mas não era considerado um gigante do futebol inglês. Sob o comando do treinador Claudio Ranieri, com jogadores como Jamie Vardy, Riyad Mahrez e N’Golo Kanté, o Leicester surpreendeu o mundo com uma equipa compacta e um estilo de jogo eficiente. Durante toda a temporada de 2015/16, praticamente todos duvidavam dos foxes. Mas o tempo foi passando e continuavam no topo da tabela. O Leicester foi campeão com 81 pontos, mais 10 que o segundo classificado desse ano, o Arsenal.
Contrariamente ao que se possa pensar, não era uma obsessão esta conquista. Foi apenas uma boa consequência do trabalho realizado. Até porque no dia em que foi campeão, Claudio Ranieri foi almoçar com a mãe a Itália. Os festejos ficaram para depois.
Se esta é uma história bonita para se contar futuramente a filhos e netos, houve outras que os meus avós me contaram. A memória que me foi passada vezes sem conta e que mais me marcou, chama-se Clube de Futebol Os Belenenses.
No futebol, a paixão dos adeptos é um fator que ajuda a definir a identidade de um clube, mas nem todos os clubes grandes conseguem manter uma base de adeptos altamente apaixonada ou envolvida. Descreviam o clube como uma grande família de pessoas que adoravam jogar e torcer pelo seu clube de futebol. Era um clube que ganhava muitas vezes, mas perdia ainda mais. Não era isso que importava, era mesmo a identidade única de um clube com adeptos fiéis e apaixonados, mesmo em momentos difíceis. Os azuis do Restelo apoiam o clube com intensidade, mantendo viva a chama do futebol e a esperança de dias melhores. Para ajudar o clube a crescer e ficar mais forte, foi criada uma empresa para cuidar da equipa profissional, chamada SAD, como se fosse um grupo que cuidava do futebol de forma mais séria. Só que, com o tempo, essa empresa e o clube começaram a perceber que afinal não falavam a mesma língua. Foi como se uma parte da família fosse morar longe e não quisesse mais dividir a mesma casa. Então, o clube original, juntamente com os seus amigos, sócios (e apaixonados de sempre) decidiu começar de novo. Do zero. Mesmo na liga mais baixa portuguesa, como se fosse uma escola para aprender a jogar bem de novo. E sabem o que aconteceu? Outra história bonita. A ascensão meteórica azul começou na distrital de Lisboa em 2018 e seguiram-se subidas consecutivas até ao Campeonato de Portugal e, posteriormente, às ligas profissionais. Participaram na segunda Liga na época 2023/24 com estrutura de barro, acabando por descer nesse mesmo ano. A Liga 3 é o seu presente habitat e o grande desafio está aí. Fazer do Belenenses o clube sonhado em 1919 ou continuar na senda das últimas décadas. Interessa fazer parcerias acertadas, conseguir alavancar investimento desportivo e dar o salto para lugares de destaque no desporto nacional novamente. Imaginem um clube com 77 presenças na 1ª Liga, que até ao ano 1982 nunca tinha descido de divisão. O Belenenses, clube campeão nacional por 4 vezes, vencedor de 3 taças de Portugal, com 19 pódios na 1ª divisão. Escolheram renascer. Porque, às vezes, pior que perder é ganhar e não ser amado."

Feminino: que passe a chamar-se Futebola, que ela aqui é mais bem tratada...


"Nos últimos dias, regressei, por imposições de agenda profissional, à cobertura de uma grande competição internacional de futebol no feminino.
Uma espécie de déja vu em relação a duas viagens à Nova Zelândia, em 2023, para acompanhar os dois momentos mais marcantes da modalidade e do género, em Portugal: o apuramento — pela primeira vez — para a fase final de um Mundial e, seis meses depois, a participação em pleno na competição, com os sonhos, os desafios, as promessas e, sobretudo, a verdadeira assunção internacional do futebol feminino das quinas, mostrando a evolução, aprendendo com os erros, aguentando a pressão e, do outro lado do Mundo, deixando um perfume que garantia o crescimento e a melhoria gradual, em termos competitivos, quando confrontado com as grandes potências mundiais.
O Euro 2025 (que, para Portugal, é o terceiro consecutivo, depois dos Países Baixos, em 2017, e de Inglaterra, há três anos), é apenas mais uma peça na construção de um espírito, de uma ideia, de uma demonstração de capacidade que, degrau a degrau, vai nivelando a seleção portuguesa por parâmetros internacionais, vai concedendo palco às melhores jogadoras e abre portas à massificação da modalidade dentro das fronteiras do país.
Relembro e sublinho, aliás, que esse foi um dos objetivos fundamentais da criação do Canal 11, em agosto de 2019, e da gestão programada e estratégica de Fernando Gomes, primeiro com Tiago Craveiro, depois com Luís Sobral, tentando aumentar o número de praticantes federadas e a dimensão das competições disponíveis.
Muitos foram, como devem calcular, os entraves encontrados. Desde as componentes puramente logísticas ao grau de pouco desenvolvimento ideológico que, há uns anos, ainda grassava em Portugal relativamente à expansão do futebol no feminino. Nunca o projeto tinha sido estruturado no espaço e no tempo, nunca todas as vias apontavam para a prossecução do mesmo objetivo.
Há um nome, vindo das Índias, a quem, pé ante pé, com racionalidade, conhecimento e abertura, o futebol no feminino e a sua explosão competitiva muito devem. Francisco Neto não é apenas um excelente gestor de balneário e de mentalidades. É um conhecedor profundo da realidade do futebol no feminino por todo o mundo. É respeitado e faz-se respeitar, mas é tolerante com os imponderáveis e sabe que Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Nos últimos anos, a seleção portuguesa esteve em três fases finais de Europeus e, pela primeira vez, na fase derradeira de um Mundial. Numa lógica de consolidação e crescimento, o que se pede às Navegadoras é que consigam carimbar a viagem ao Brasil, para o Mundial de 2027. Mas aqui é essencial ter os pés na relva e perceber o quão difícil será alcançar esse objetivo, porque as soluções não são lineares, a bola é redonda, a concorrência é muito forte.
Tanto quanto a que tenho visto na Suíça, numa fase final de Europeu esplendorosa. A qualidade individual das jogadoras, a capacidade tática, física e coletiva são exponenciais, e têm proporcionado espetáculos fantásticos para quem enche os oito estádios helvéticos ou observa, com todo o detalhe, nas transmissões televisivas.
Mas também no empenho, na garra, no desportivismo, no fair play, na capacidade de entender o jogo como um conjunto de momentos em que «o máximo» tem de ser palavra de ordem.
Passados à fase de eliminação direta (com os quartos-de-final), o degrau superior é atingido à velocidade da luz e da crença de grupos muito coesos e selecionadores que têm tempo e lastro para efetuar o seu trabalho. É justamente isso que Francisco Neto tem tido (e, salvo inflexão de última hora, continuará a ter), na Cidade do Futebol com as Navegadoras.
Os principais nomes presentes na Suíça dispõem, exatamente, de estruturas altamente profissionais para apresentar resultados. E a elas ligam-se jogadoras de topo, muitas delas a partilharem balneário num clube durante a temporada e, agora, em terras helvéticas, adversárias de ocasião.
Podia escolher várias, que os exemplos são imensos e em cada jogo, mas é impossível ficar indiferente a Lucy Bronze. A defesa lateral da seleção inglesa, campeã europeia em título e vice-campeã mundial, é o exemplo acabado de determinação e empenho, de uma osmose cativante com as suas companheiras de seleção, com adversárias e com o público, cuja interação é notória.
Tem 33 anos e corre como uma miúda, joga como uma veterana e representa todos os valores que o futebol no feminino pode aportar. Se estamos fartos de perdas de tempo, manhas, pequenas faltas e sorrisos marotos nos jogos da vertente masculina (mesmo ao mais alto nível), atenhamo-nos nesta imagem renovada, de estádios cheios, jogos imprevisíveis e disputados até ao apito final, excelentes arbitragens, variantes táticas surpreendentes e uma capacidade de inovar, com margem ampla de progressão, que o futebol no masculino talvez já não tenha.
Não sei quem sucederá à Inglaterra como campeã europeia. Mas sei que a UEFA tem, nos Europeus femininos, tal como a FIFA a nível global, um filão a explorar que retorna ao jornalista e ao adepto o prazer de ver e sentir o futebol
Que passe a chamar-se Futebola, porque ela, a bola, é muito mais bem tratada.

Cartão branco
Foram 15 anos de Rui Jorge e a ele a FPF e o futebol português devem um prolongado e merecido agradecimento. O Selecionador Nacional de sub-21 passou por várias fases do desenvolvimento desportivo, institucional e estrutural da Federação Portuguesa de Futebol, aguentou o barco em imensas ocasiões e conseguiu, gradualmente, dignificar Portugal e as suas grassroots, numa perspetiva de aproveitamento e filtragem de jogadores e de talentos para a seleção AA.
Chega Luís Freire, e com ele (não o conheço pessoalmente, sublinho), a garantia, pelo que tem demonstrado, de um trabalho de fundo e de ligação intersetorial, como se exige a quem seja titular do cargo. Boa escolha de Pedro Proença. Que tenha a pontinha de sorte que é, também, essencial.

Cartão amarelo
Todos já percebemos que, mais cedo ou mais tarde, Viktor Gyökeres vai passar a tomar o pequeno-almoco à beira do Tamisa e a vestir de encarnado e branco.
Mas toda a mise em scène, o triste espetáculo mediático (com o patrocínio e a colaboração do jogador, do seu agente e de vários dirigentes, faz-nos descredibilizar os processos e perceber que, afinal, o circo é muito mais importante do que o essencial.
Falamos de milhões com a mesma facilidade com que, provavelmente, não conseguimos ser solidários com quem está perto de nós…"