Últimas indefectivações

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

10 anos



Cresci na antiga Catedral, não tenho nada contra o novo local de peregrinação - bem pelo contrário -, mas a primeira 'casa' tem sempre mais encanto...!!!
A vida da nova Catedral não tem sido fácil, o sofrimento hoje é maior, as vitórias acontecem com menor regularidade, a militância treme, o contexto social não ajuda, o comodismo das televisões é assustador...
Mas o Benfiquismo é imortal, e tenho a convicção absoluta que nos próximos 10 anos, vamos ter ainda mais motivos de alegria na nossa Catedral !!!

Sem medo de jogar bem

"Num jogo de muita chuva, foram vários os intervenientes a meter água. Naquele campo era impossível jogar bem, podia ser pedido muita alma, luta e entrega e isso houve por parte dos jogadores. Nos primeiros cinco minutos falhámos três golos, por outro lado, os gregos na primeira oportunidade não desperdiçaram.
Meteu água o árbitro que nos prejudicou várias vezes para nos oferecer um canto para golo, meteu água o Roberto mas meteu golo o Cardozo para evitar uma banhada. Isto dito, temos de exigir mais dos nossos.
Sabemos que podemos jogar melhor, marcar mais golos, e não permitir aos sucessivos adversários tantas oportunidades.
Não farei como a avestruz, em onze jogos oficiais não ganhámos cinco, e isso é preocupante porque sentimos que temos condições para voar mais alto. Jorge Jesus deu-nos algum do melhor futebol dos últimos anos, o plantel tem soluções de qualidade, venham agora as exibições e as vitórias.
Estamos mais perto de ganhar quando se joga bem e por isso clamo pelas boas exibições. Não se pode acabar um jogo com o Cinfães com medo de não ganhar.
Acredito que podemos conseguir na Grécia um bom resultado, mas acredito ainda mais que podemos iniciar no Campeonato e Taça uma série de vitórias rumo aos principais objectivos. Há talento, há vontade e há obrigação.
Já domingo contra o Nacional uma vitória é obrigatória, um exibição convincente era muito recomendável. Mais do que ganhar por muitos, era importante o Benfica ganhar e jogar muito bem.
O sorteio da taça dá um hiper interessante Benfica-Sporting. Quem, como o Benfica, quer chegar e vencer no Jamor, não se pode queixar de nada. Primeiro o Cinfães, depois o Sporting, e assim sucessivamente como as bolinhas quiserem."

Sílvio Cervan, in A Bola

Voar à chuva

"O tal jogo que Jorge Jesus considerou "importante mas não decisivo" terminou empatado. Em Atenas, logo se verá quem lucrou com a maior importância e a menor decisão, no conceito do treinador. Por ora, fica a ideia consensual nas fileiras do Benfica : a igualdade frente ao Olympiacos é um bom resultado. Mas, reconhecem os próprios, mais pela forma como as coisas decorreram do que por outra razão. No entanto, a questão que verdadeiramente deve colocar-se prende-se com um princípio : não era suposto, na Luz, serem os gregos a tentarem não perder o desafio em vez do inverso?
Diga-se desde já que, numa visão global, o resultado está certo. O Olympiacos venceu a primeira parte porque tacticamente foi melhor, o Benfica ganhou a segunda porque soube ser suficientemente combativo, num terreno com mais água que relva. Quanto às consequências que daqui derivam, já lá iremos. Primeiro, as duas componentes da partida.
Embora não entenda muito bem o que Jesus quis dizer com o "ADN ofensivo" mostrado pelos encarnados na primeira metade, fica o registo de uma entrada prometedora. Em cinco minutos, Cardozo já tinha obrigado Roberto a uma defesa difícil e Luisão cabeceado ao lado, num lance na pequena área. Simplesmente, a promessa ficou-se por aqui. Mitroglou respondeu de imediato com três (!) jogadas em que o golo rondou a baliza de Artur, o que deveria ter constituído um sinal sério para o Benfica.
A explicação residia no meio campo, porque a zona central das águias começou a ser "engolida" por um número superior de elementos gregos, deixando Matic e Enzo contra três e, ás vezes, quatro. O papel de Dominguez foi vital ao "barrar" o sérvio, notando-se ainda que os homens da casa se baralhavam com as diagonais de Weiss e, principalmente, de Fuster. Quem aproveitava - e bem - era Mitroglou. Convenhamos, o lance do golo grego até pareceu uma inevitabilidade.
Além do mais, Ola John e Gaitan (este numa noite definitivamente não) são pouco de defender, levantando outra vez a dúvida sobre se o argentino não será mais útil ao meio (o que até poderia levar a outro tipo de aproveitamento para Lima). Mais : só lá muito tarde - quase no final - é que Rúben Amorim e Rodrigo entraram. Enfim , Michel ganhou a Jesus num período do desafio em que, esperava-se, os encarnados conquistassem embalagem suficiente para controlar o resto da partida.
Acontece que "o resto" foi altamente problemático. Jesus lançou Ivan Cavaleiro na segunda metade, mas a chuva torrencial que marcou a meia hora seguinte não se compadeceu com quaisquer boas intenções do treinador encarnado. O jogo tornou-se uma autêntica bizarria (repare-se que houve dois momentos, um para cada lado, que seriam sempre golo, caso a bola não ficasse parada numa poça), com tudo dependente de lances de bola parada ou de algum erro individual, porque a tal "construção de jogo" passou a ser uma ficção. Dito e feito : Roberto falha num lance aéreo (o que nele nem é surpresa) e Cardozo não perdoa. 
Fica, contudo, o facto da equipa da Luz ter-se batido até aos limites para evitar uma derrota que, garantidamente, colocaria o Benfica numa situação de saída muito limitada.
Isto não significa que o cenário seja animador. Já sabíamos que Benfica e Olympiacos estavam a lutar pela única vaga disponível, porque a outra já era do PSG (parênteses : fiquei arrepiado com o "poker" de Ibrahimovic em Bruxelas, atenção Paulo Bento). Com este empate, Atenas vai tornar-se num inferno ainda maior do que sempre é. Os gregos sabem que um triunfo em casa lhes estende a passadeira, é só não estragarem na recepção ao Anderlecht. Portanto, calculo, desta vez Jesus vai mesmo assumir que o próximo encontro não se limita a ser importante. Se não é decisivo, é o quê?"

A lição

"Gosto muito da Taça de Portugal, quando é jogada mano-a-mano, os grandes contra os pequenos, com os futebolistas dos pequenos a terem a humildade que, por vezes, os fazem, durante 90 minutos, serem gigantes; e os futebolistas dos gigantes, por vezes, durante 90 minutos, a sofrerem de um nanismo pouco compatível com o estatuto, o ordenado e os privilégios com que se pavoneiam.
Como adepto ferrenho do Benfica (o maior dos Gigantes), espero sempre que os nossos futebolistas saibam que só serão gigantes se souberem, sempre, partir para o jogo com a humildade de um David. Recordo o primeiro jogo que vi, ao vivo, para a Taça de Portugal: foi em Castelo Branco, no “mítico” pelado do Vale do Romeiro, no dia 04 de Janeiro de 1981. O Benfica de Castelo Branco recebia o Benfica. Lajos Baroti apresentou praticamente todos os titulares (trocou o Bento pelo Botelho) e lá se apresentaram gigantes como Chalana, Humberto, Alhinho, Bastos Lopes, Carlos Manuel, João Alves, Néné, Shéu… Enfim, uma constelação que teve como oponente um Benfica de Castelo Branco que tinha em Balacó (que faria carreira na primeira divisão, no Espinho e no Portimonense) a grande figura.
O Benfica ganhou, naturalmente, com três golos (um de Reinaldo, um de Carlos Manuel e outro do inevitável Néné). Eu, do alto dos meus dez anos, saí do campo maravilhado por ter visto, ao vivo, os meus heróis, naquele simples e honrado pelado. O meu único lamento era não ter visto em campo o maior dos meus ídolos, o Bento.
Não entendia o chorrilho de críticas com que os mais velhos se despediam de uma equipa que acabara de ganhar 3-0. Diziam esses mais velhos que ao Benfica se exigia muito mais do que um mero jogo para entreter; outros acusavam os jogadores de terem lá ido brincar… e eu, puto em aprendizagem, apenas me queixava de não ter visto o Bento. Aprendi, nesse dia, a lição de que os profissionais do Benfica não se podiam satisfazer com essa coisa parca e diminutiva de “fazer os mínimos contra adversários que dão o máximo”. Nesse dia, Baroti não se vangloriou de nada, não se gabou de nada e certamente percebeu que, apesar da vitória, se exigia muito mais do que o que a sua equipa mostrara.
Há lições que nunca se esquecem."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica