"PINTO DA COSTA, naturalmente, não se poupa a cautelas e, antecipando, preocupa-se com a sucessão de André Villas Boas. E já escolheu o próximo treinador do FC Porto: Jorge Jesus.
É uma escolha acertada, sem qualquer espécie de dúvida. Jesus é muito competente no que fez e até poderia ser o actual treinador do FC Porto se tivesse dito que sim ao desafio que lhe foi lançado no final da época passada. Mas Jesus optou por ficar no Benfica, renegociando o seu contrato, como lhe era legítimo, e o FC Porto foi buscar André Villas Boas a Coimbra desviando-o do seu caminho para Alvalade.
O futebol arrasta multidões porque tem destas pérolas especulativas que fazem as delícias de todos os adeptos. Tivesse Jesus tido para o FC Porto e, para comemorar os 50 anos do desvio de Eusébio do Sporting para o Benfica, lá teria sido o Benfica que acabava por ficar com Villas Boas com quem chegaria a acordo em menos tempo do que o Costinha leva para abotoar um fato completo.
O futebol, como se sabe, sempre foi um assunto de botões.
Para Pinto da Costa, Jesus tem dois botões muito apetecíveis de descoser: é um bom treinador e é um treinador cuja deserção seria sentida pelos adeptos do Benfica com mágoa.
Neste sentido, o presidente do FC Porto tem vindo a trabalhar com muito propósito. Nunca, desde que Jesus chegou à Luz, falou do técnico em causa com desrespeito ou hostilidade e, fica a aposta feita, será isso mesmo que dirá a Judite Sousa quando for entrevistado na RTP num futuro, vá lá saber-se, mais ou menos próximo.
Ainda esta semana, numa entrevista concedida à Rádio Renascença, Emissora Católica Portuguesa, Pinto da Costa voltou a elogiar o treinador do Benfica e isentou-o de culpas do mau arranque do campeão nesta temporada. Estão a ver, não estão?
Aliás, o presidente do FC Porto demorou-se dez vezes mais a falar do Benfica do que do FC Porto. Praticamente só não falou sobre o problema da águia Vitória e não deixa de ser incrível como é que o jornalista entrevistador não se lembrou de lhe perguntar a sua opinião sobre o referido caso zoológico.
E mais lhe valia ter falado sobre a águia Vitória - ...se o Benfica fosse o Sporting até já lhe chamaríamos de águia «podre»... - do que ter enveredado pela aritmética especulativa, como se uma coisa destas fosse possível. Disse Pinto da Costa à antena católica que se há coisa que lhe agrade «é jogar em último lugar» porque assim dá «a felicidade de, durante 24 horas, estarem a 5 pontos».
Ora fez mal as contas e contra si próprio.
Pois se o FC Porto ainda não jogou é porque o jogo ainda não começou e, que se saiba, os jogos quando começam estão sempre empatados, 0-0, o que vale desde logo 1 ponto para cada equipa. Portanto, se o Benfica, jornada a jornada, conseguir ganhar na véspera do jogo do FC Porto fica a 6 e não a 5 pontos do seu adversário. Ou não é assim?
O mundo do futebol tem dois novos grandes temas para seguir com fervor mediático. O evoluir das relações entre José Mourinho e Jorge Valdano, no Real Madrid, e o evoluir das relações entre Costinha e José Couceiro, no Sporting. Mourinho, à partida, parece o mais seguro de todos até porque já tem uns bons meses de casa.
Couceiro, por exemplo, ainda nem entrou ao serviço e já Carlos Janela, com quem trabalhou na SAD do Sporting em 1998, veio recordar que o evoluir das relações entre os dois no século passado não foi nada agradável. Janela, que aparentemente tem boa memória, disse mais: que o facto de Couceiro ter imposto as contratações de Renato, Leão e Damas não ajudou muito a alegrar o ambiente em Alvalade.
Ninguém sabe como vão evoluir as relações entre Mourinho e Valdano nem, muito menos, que trocas de acusações poderão vir a fazer entre si.
No caso de Costinha-Couceiro torna-se mais fácil todos especularmos com os nossos botões. Imaginem-se as trocas de acusações entre o homem que contratou Leão, Damas e Renato contra o homem que contratou Tales, Zapater e Hildebrand. E vice-versa.
NO fim-de-semana passado o Benfica venceu Rio Ave por 5-2 e jogou bem. Ou seja, ao longo dos 90 minutos jogou mais tempo bem do que o tempo em que jogou assim-assim. É um progresso. Aliás, excepção feita ao desastre na Liga dos Campeões, o Benfica tem vindo a progredir. Anteontem, nas páginas deste jornal, o Fernando Guerra explicava que se o campeonato «tivesse começado à 5.ª jornada, O Benfica seria primeiro com 27 pontos, e o FC Porto segundo, com 26 pontos».
O Rio Ave também jogou bem. O João Tomás jogou ainda melhor e até marcou dois golos. Trata-se de um excelente ponta-de-lança e já tem 35 anos. Marcou o seu segundo golo de grande penalidade. Mandou o guarda-redes para um lado e a bola para o mesmo lado, só que Roberto chegou tarde.
Ainda ficámos todos à espera que o árbitro o mandasse repetir o pontapé. Teria a sua graça. Mas os árbitros portugueses não têm sentido de humor.
AGORA que acabou a época de futebol nos EUA, David Beckham, em férias dos L.A. Galaxy, mostrou desejo de jogar até à Primavera na Europa para não ganhar peso nem perder a forma. Beckham, que tem a mesma idade de João Tomás, ainda sonha com a selecção do seu país o que só lhe fica bem.
Segundo a imprensa britânica, o jogador chegou ao ponto de mostrar publicamente desejo em alinhar pelo Bayern de Munique, não descartando também o interesse em fazer uma perninha ou no Benfica ou no Olympique de Marselha.
Que venha Beckham para o Benfica! E imediatamente teremos resolvido o problema da sucessão da Vitória. Com uma Vitória Beckham na Estádio da Luz quem se lembraria mais de uma simples ave espanhola?
E nem seria preciso pôr a Vitória Inglesa a fazer rappel desde o topo da bancada até à relva.
Fica, no entanto, a sugestão.
O espectáculo resolve-se facilmente com roldanas. E com botões de aço.
NA segunda-feira, foi-se embora o Aurélio Márcio. Tinha 91 anos. Foi um homem com um sentido de humor pragmático. Nunca deixava escapar uma oportunidade de explicar aos poetas líricos do futebol como é que as coisas, na realidade, se passam.
Era um prazer vê-lo, contido, very british a ouvir os outros a falar de um jogo de futebol.
Alguém, por exemplo, entusiasmava-se com a descrição plena de metáforas de uma jogada de um extremo, que fintou o adversário, foi à linha e centrou... uma coisa bestial. E o Aurélio Márcio, sem descruzar os braços, ouvia, ouvia e depois perguntava: «Então mas não é para isso mesmo que lhe pagam?» E acabava-se ali a conversa. Desligava-se o botão, compreendem?"
Leonor Pinhão, in A Bola