"E lá temos visto desfilar o Jankauskas, o Quaresma, o Kelvin, o Álvaro Pereira e um que se chama Paulo Machado, todos a malhar no Glorioso. É cultural. A profilaxia neste caso é idêntica às profilaxias correntes, distância social, distância social, distância social.
O campeonato d.C. volta no fim do mês e vai entrar pelo Verão dentro, ocupando o espaço que era, normalmente, pertença do defeso a.C.. Como terão depreendido, logo à primeira, d.C. quer dizer depois do Coronavírus e a.C. significa antes do Coronavírus. E com esta nova datação d.C. que teremos todos de conviver no que ao futebol diz respeito e ao resto também. Por causa do vírus que não é o único vírus. Não terá sido absurdamente virulenta aquela excursão do presidente da FPF à residência oficial do primeiro-ministro com o seu pequeno séquito de presidentes? Tratar os demais clubes e os respectivos presidentes como meros figurantes da grande competição nacional não foi bonito, não. Ou iam todos ou não ia ninguém. E, assim, seria emprestada a categoria devida à presença do presidente da Liga que, ao que se diz, se fez convidado.
Os presidentes dos três maiores clubes portugueses entraram mudos e saíram calados de São Bento - não houve declarações à imprensa - e não há muito a acrescentar às suas presenças tutelares. O presidente do Sporting distinguiu-se pelo novo corte de cabelo, um corte militarizado, o presidente do Benfica fez inveja pelo bronzeado e o presidente do FC Porto foi o primeiro a transpor a soleira da porta, o que se aceita como norma de boa educação visto que é o mais velho. Para além se ter adivinhado que o campeonato ia regressar não se registaram declarações presidenciais de qualquer tipo, capazes de incendiar as plateias da rivalidade e de entreter multidões. Nestes tempos conturbados pela falta de assunto, muita falta faz à indústria do espectáculo futebolístico o ex-presidente do Sporting a quem agora ninguém passa cartão.
E é pena porque Bruno de Carvalho segue em alta nas redes sociais e agora com um pendor classicista e bíblico, comparando-se quer a Júlio César, o herói de Roma assassinado em 44 a.C., quer a Jesus Cristo, o filho de Deus, também ele assassinado em 33 a.C., e reconhecendo, um a um, nos traidores destas duas figuras de há 2 mil anos os mesmos que o traíram vai fazer agora 2 anos. E isto, sim, poderia ser um extraordinário entretenimento para as massas de Carvalho ainda tivesse relevância social, o que já não é o caso.
Sem futebol e sem dinheiro - há lá coisas mais tristes? - neste período de unidade nacional contra uma doença, o gabinete de comunicação do FC Porto tem apostado tudo em promover entrevistas a antigos atletas obedecendo a um primado civilizacional que lhe é muito caro que é o do ódio ao Benfica. e por lá temos visto desfilar o Jankauskas, o Quaresma, o Kelvin, o Álvaro Pereira e um que se chama Paulo Machado, todos a malhar no Glorioso por imperativo da relevância folclórica de grupo. É cultural. A profilaxia neste caso é idêntica às profilaxias correntes. Distância social, distância social, distância social."