"Invariavelmente, por esta altura do ano, as máquinas calculadoras saem do bolso e clubes e seus treinadores começam a fazer cálculos matemáticos para aferir a manutenção ou, por oposição, a possibilidade de ser campeão.
É uma fase profícua de emoções pois, quem não está no grande palco a protagonizar jogos de verdadeiro 'mata-mata' (expressão tão bem utilizada por Scolari), assumindo a titularidade pelas suas equipas, está também em grande "reboliço" para tentar garantir ainda os minutos de jogo necessários para "cair nas graças" de algum empresário ou clube, para a época que se avizinha.
Também neste período, muitos atletas e treinadores vêem a sua disponibilidade mental muito (às vezes, demasiadamente) ocupada com cenários em que os contratos se encontram à beira do fim.
Esta é, por essa mesma razão, a fase em que, possivelmente, as competências de liderança de um treinador mais impacto poderão ter na performance da sua equipa, atendendo a que, por lógica, tudo o que tenha a ver com o seu modelo de jogo e cultura táctica, estará já (desejavelmente) assegurada.
Trata-se, por isso, de uma fase onde serão necessárias competências superiores de gestão emocional e gestão motivacional, sendo que, dada a pouca experiência que os atletas em Portugal têm nesta área (contrariamente ao que se assiste na Premier League, por exemplo), a "responsabilidade" desta gestão e optimização recai, quase sempre, sobre o treinador (muitas vezes, ele próprio em "alvoroço emocional").
Como pode, então, um treinador actuar, no sentido de optimizar ou dinamizar uma "atitude vencedora"?
De uma forma um pouco simplista, mas com algumas orientações importantes, a literatura científica aponta para uma actuação focada em:
1 - Fomentar uma atitude de superação, através do seu próprio comportamento.
Ter plena consciência do seu próprio comportamento verbal e não verbal, procurando criar mensagens claras (de acção) e ser profundamente coerente em termos de comportamento não verbal. Os atletas são extraordinariamente atentos às flutuações emocionais dos seus treinadores e, por essa razão, detectam muito facilmente quando um treinador não acredita num dado resultado (ex: ganhar um jogo, garantir manutenção, assegurar a subida, etc.).
2 - Transformar envolvimento em compromisso e missão.
Este é, possivelmente, um dos maiores desafios, atendendo a que, com o avançar da época, temos já níveis de saturação emocional acumulados, seja por parte de titulares ou suplentes que, nesta fase, começam "naturalmente" a desligar do processo.
Um conhecimento aprofundado dos atletas que se gere, ajuda, neste caso, a criar cenários e propósitos de superação que, dada a fase da época, devem ser focados a curto prazo (semana a semana, jogo a jogo).
3 - Gerir o medo, a descrença e a desilusão.
Esta é uma fase onde, muitas vezes, assistimos a atletas, às vezes equipas, "congelados" em termos de acção, com uma enorme dificuldade em assumir o risco.
De facto, frequentemente, temos os atletas demasiado sobrecarregados com o "fardo" de ganhar (ou não perder), e isso resulta, invariavelmente, numa sobrecarga de ansiedade e inibição em termos do comportamento, pelo que, os atletas que exibem uma taxa de esforço e de entrega superiores devem ser destacados no grupo, bem como aqueles que assumem o papel de "motor da equipa" em campo: é importante que aqueles que "teimam" em resistir não se sintam "sozinhos" em campo.
Igualmente importante será saber manter, dentro da equipa, um espírito em que se reforça e comemora as "pequenas" coisas que correm bem.
4 - Níveis de concentração elevados = níveis de performance elevados.
Se considerarmos que a investigação nos refere que, por hora, temos mais de 2000 pensamentos... e, se juntarmos a isto, uma sensação de "iminente" derrota, fracasso ou erro... podemos facilmente imaginar que, neste tipo de cenário, a predominância de pensamentos disruptivos pode ser enorme, pelo que, uma das melhores estratégias será investir na optimização do processo de concentração dos atletas (e equipa).
Torna-se, por isso, de extraordinária importância, Focar os atletas em acções que controlem (que dependam só de si), Focados no processo(ex: acção táctica definida) e a curto prazo, reforçando sempre os atletas que se mantém neste tipo de registo (independentemente do resultado).
Indiscutivelmente, esta é "aquela" etapa em que um treinador deve "transpirar" uma "máxima" que se traduz em:
"Crer e querer" - ou seja, acreditar genuinamente na capacidade de superação dos seus atletas, para que se comprometa emocionalmente, ele próprio, com a activação da motivação (= querer) da sua equipa.
Agora, o "campeonato" dos Treinadores está, de fato, ao rubro."