Últimas indefectivações

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Leonor & José Nuno... mais um café!

Cronologia dos crimes


Obrigado ao MrKadafi pelo trabalho de compilação de toda esta informação, que foi ajudado por muitos Benfiquistas no Ser Benfiquista. Ainda faltam alguns pormenores, mas já dá para ter uma imagem do que se passou...
Por exemplo, após a entrada da providência cautelar, vários apareceram vários 'sítios' online, ligados aos Corruptos e aos Lagartos, onde foram despejados vários e-mails... e onde foram ampliadas as narrativas mentirosas transmitidas na televisão! Usaram mesmo um sítio' porno, para aumentar o tráfego!!!

Benfiquismo (CMLIV)

É possível...

105x68... pré-Champions...

Fantomas, o Coxo Rei dos Ringues

"Alemão era alto e loiro. Mas tinha um problema que eram dois: não sabia lutar e tinha uma perna mais fina do que a outra

dois ou três dias, ao entrar no carro, encontrei uma louva-a-deus pousada no capô. Pensei que mais valia uma louva-a-deus do que uma pomba. Ou uma gaivota, cujo guano costuma ser decapante. E pensei que ainda bem que as vacas não têm o mau hábito de voar, embora tenha havido um avançado-centro da Académica e do Sporting a quem chamavam A Vaca e voava como o Jardel sobre os centrais. Luís Fernando Veríssimo afirma cientificamente que um ser humano vislumbra uma louva-a-deus de sete em sete anos em média. Sinto que estou em falta com a ciência e com as louva-a-deus. A última que vi foi na televisão: um combate de luta livre. Daqueles que valem pelas máscaras e pela aldrabice. E que, lá pelas primeiras décadas do século passado, serviam para que verdadeiros pugilistas fossem aforrando mais uns tostões para a hora em que as cartilagens e os tendões dessem definitivamente de si. 
Em 1979 não garanto que tenha observado alguma louva-a-deus, mas recordo-me de uma tarde de calor senegalês em Vila Nova de Foz Côa ter, a meias com o meu velho companheiro José Manuel Mesquita, amarrado um exemplar desses insectos ao cabo de uma esferográfica e ficarmos a ver a facilidade de açougueiro com que retalhava as moscas que lhe púnhamos à frente. A experiência foi fascinante. E tão científica como a afirmação de Veríssimo.
Em 1979, no Brasil, a TV Bandeirantes inaugurou um programa chamado Astros do Ringue. Era um ver se te avias: por lá passou gente tão diversa como Ted Boy Marino - o inventor da tesoura de costas -, Tigre Paraguaio, Rasputin, Caipira Dom Afonso, ou Cavaleiro Vermelho. Na apresentação, três astros da luta: Homem Montanha, Gran Caruso e Cangaceiro. Por cá também tivemos um Homem Montanha, o formidável Santa Camarão, de Ovar, que no seu tempo de fragateiro em Lisboa fazia correr pelas ruas de Alfama uma quadra motivada pela paixão:
«Santa Camarão
Foi do boxe campeão
Por ter os pés delicados
Também a Ilda Fernandes
Por ter umas mamas grandes
Foi rainha dos mercados».
Mas eu queria era falar do Fantomas. Não o Fantomas sociopata e sem escrúpulos dos assassinatos macabros dos livros de Marcel Allain e Pierre Souvestre, mas O Justiceiro Mascarado, o Rei Coxo dos Ringues. Isto assim dito parece um bocado como os livros aos quadradinhos de cowboys: «Entre os mortos havia um que respirava - Texas Jack!». Vendo bem, é mesmo muito como os livros aos quadradinhos de cowboys, só que mete O Louva-a-Deus (a Fúria Verde), o inimitável El Condor, o brutal Vulto Negro e a inesquecível Múmia.
Foram os emigrantes italianos e alemães que levaram para o Brasil tanto o boxe como a luta livre. Garantem os especialistas que o primeiro combate se disputou em São Paulo entre um francês que fazia parte de uma companhia de Ópera em digressão pela cidade e Luís Sucupira, o Apolo Brasileiro. Meteu tudo: socos e pontapés e até uma ou outra dentada. O público delirou.
Fantomas, o Justiceiro Mascarado, começou por ser apenas alemão. Inconfundivelmente alemão: alto, loiro, espadaúdo, poderia ter feito parte da guarda de honra do kaiser Guilherme II, lá da Prússia, não se desse o caso de no tempo do kaiser estar pelo Brasil. E com uma vontade indomável de se tornar lutador. O problema de Alemão, como todos o conheciam, eram dois: não sabia lutar e era coxo. Tinha uma perna mais fina do que a outra, sequela de uma poliomielite que lhe marcou a adolescência. Seria o empresário Chico Sangiovanni a resolver o tal problema que eram dois.
Como, no início, os lutadores subiam ao ringue praticamente despidos, geralmente só com certos pormenores anatómicos escondidos por pedacinhos minúsculos de pano barato, era complicado exibir o Alemão em toda a sua exuberância de manquitó. Convenhamos: esteticamente entrava já derrotado.
Para Chico Sangiovanni o assunto nem chegou a ser assunto: inventou Fantomas, O Justiceiro. Vestiu o alemão com uma roupa preta, desenhou-lhe uma máscara e criou um reforço mecânico para a perna bamba que disfarçava o aleijão e a impedia de dobrar. Como não sabia lutar, Fantomas limitava-se a ser inteiriço, ali em pé, sujeito à melhor ou pior disposição dos adversários. Basicamente, só apanhava.
Alemão só participou num combate: preso naquela espécie de armadura, viu-se espancado sem dó nem piedade e não achou grande graça à coisa. No dia seguinte anunciou a retirada para desgosto de Chico. Afinal a simples presença em palco de Fantomas tinha provocado a maior das excitações na plateia. Não teve outro remédio se não arranjar um novo Justiceiro Mascarado. Escolheu o argentino Vicente Pometti, El Toro. E inventou-lhe um inimigo: um tipo enorme chamado Arnaldo, vestido com uma farda de polícia. Nenhum deles teve o charme inconfundível de Alemão, o Rei dos Mancos."

Tenham respeito, senhoras e senhores! Tenham respeito

"Não há ninguém que chegue tão perto de Messi e Ronaldo como ele chega.

Vamos lá a isto de forma directa e clara: Neymar é o maior desequilibrador do futebol Mundial (Hazard não anda longe) e é o jogador que mais perto chega do nível de Messi e Ronaldo. Não dizendo que é absurda – ups, já está dito –, digo apenas que é bizarra a desvalorização que Neymar tem sofrido nos últimos meses. Parece que a malta do futebol já se esqueceu do que vale o jogador brasileiro em várias cambiantes.
Os exageros teatrais de Neymar, quando tenta sacar faltas, têm criado no brasileiro uma profunda desvalorização. É justo que condenemos as simulações deste craque, mas não é justo que nos esqueçamos do que ele vale. E reforço: não há ninguém que chegue tão perto de Messi e Ronaldo como ele chega.
Por dois grandes motivos:

O melhor do Mundo nisto
No primeiro motivo, a parte evidente: nenhum jogador tem o um contra um de Neymar. Sim, ele exagera. Mas caramba: que desequilibrador nato não o faz? Se não exagerar, estará a fazer alguma coisa mal. "O Neymar gosta é de cuecas e cabritos". E quem não gosta? Provavelmente, quem não gosta de bola. Ronaldinho, que era este tipo de jogador, é idolatrado (e bem). Neymar, por outro lado, é odiado. Neymar não segue o guião e fazem falta mais jogadores que não sigam o guião.
Para além da qualidade na recepção de bola - melhor do Mundo? - e no último passe, o brasileiro consegue, em drible, tudo e mais alguma coisa: sair para fora, vir para dentro, driblar em velocidade, driblar depois de receber de costas para a baliza, driblar com arranque parado. O repertório técnico do internacional brasileiro é inacreditável e é ele – e mais uns poucos – que nos faz, ao ver a bola, esperar as tais coisas fora do guião.
Os jogadores de corredor são, actualmente, na grande maioria, de três tipos: jogadores de explosão no espaço – Mbappé à cabeça –, jogadores de movimentos interiores e associação colectiva com os apoios dos jogadores das zonas centrais – Bernardo é um bom exemplo – ou jogadores que partem do corredor para fazer a diferença em zonas de finalização – Salah, és tu.
Artistas como Neymar estão em extinção e é tão fácil fazê-lo funcionar… basta o ponta de lança “prender” o central do lado direito – impedindo-o de ir fazer dobras – e a equipa apostar em isolamentos do brasileiro, arrastando os adversários para o lado contrário do campo. Aí, com Neymar em situações de um contra um e sem dobras por perto, é uma festa.

O melhor do Mundo nisto
Atenção ao segundo motivo: Neymar é, dos desequilibradores actuais, aquele que, provavelmente, mais voluntarismo defensivo tem. É fácil dizer, olhando para o brasileiro em contexto de selecção, que “esse Neymar é uma vedeta que só quer fazer coisas de brinca na areia”. É muito fácil dizer isto, mas é, também, profundamente injusto. Vão aos arquivos ver quem era o Neymar do Barcelona. Esse Neymar – consciente de que Messi era o homem a quem era permitido não defender (e Messi até dos jogadores mais competentes na pressão à saída de bola adversária) – sempre foi um jogador extremamente voluntarioso. Não foram raras as vezes em que pudemos ver Neymar “morder” os adversários e, por vezes, chegar-se a Jordi Alba, para evitar o dois contra um em cima do lateral.
Se isto dito por um mero jornalistazeco poderá ter pouco valor, olhemos para o que já chegou a dizer Diego Simeone, treinador que todos sabemos ser muito exigente do ponto de vista do comprometimento defensivo dos jogadores. “Neymar ou Mbappé? Escolho o Neymar, sem dúvida. Lembro-me do Barcelona de Luis Enrique e nos jogos em que tinha de trabalhar, trabalhava. Mbappé é muito mais individualista. Neymar tem uma posição de jogador de equipa”.
Se Simeone diz, está dito."

«Desafios e rumos para vencer»

"Estou a terminar um espaço de tempo mais disponível para “amolecer” o corpo e cultivar a mente na descoberta de novos horizontes e também colocar alguma leitura já com uns bons tempos numa lista de espera e a ser colocada na ordem do dia.
Li e reli e tenho ainda muito para reflectir num livro escrito por uma pessoa muito especial na minha vida académica, já que está a concluir o seu mestrado em treino desportivo e que muito me honrou ao me convidar para ser seu orientador institucional. Mas o autor do livro “Desafios e Rumos para Vencer”, Dr Gerry Silva, conceituado jurista na advocacia e na pedagogia do desporto, é daquele tipo de alunos que tanto nos ajuda a aprender de forma necessariamente atenta e continuada.
Neste livro o autor levanta algumas questões muito pertinentes e que nos permite redefinir à priori o conceito as bases do conhecimento que, também no Futebol “nasce da dúvida e se alimenta da incerteza” como nos refere de forma repetida e tão eloquente o nosso querido Professor Manuel Sérgio.
Mas, e voltando à reflexão do autor citado, “em toda a teoria também pode haver erro e ilusão”, deixa-nos a abertura para uma reflexão continuadamente abrangente.
Sendo esta publicação objecto de estudo e investigação, apoiado no diálogo, na observação e na experiência, o autor remete-nos de imediato para uma grande questão: o treinador treina como joga? … Jogará como treina?... e de imediato nos apresenta outra reflexão: é possível controlar o acaso e a imprevisibilidade?...
Uma outra nota de particular interesse reflexivo, e que tem passado de forma muito discreta nos comentários, é a relação das tendências evolutivas do jogo de Futebol e a sua relação com o mercado de valores: no futebol em Portugal é inútil o que não é rentável, questionando se será possível dissociar a evolução das tendências do jogo dos modelos económico financeiros que presidem nas estratégias dos clubes?!...
Perfeitamente real esta visão economicista do jogo de Futebol, como espectáculo promotor do mercado publicitário e rentabilidade substituída à lei da eficácia financeira em que muitas vezes o ideal é a prática e o produto é o sujeito que o pratica. Uma nota que associa a este campo reflexivo é a alteração constante dos horários de competição em função dos interesses dos meios de comunicação, isto é, a submissão da regra desportiva perante a regra económica. Daí esta ameaça de assistirmos à consolidação de um verdadeiro império económico e mediático desportivo em que a definição dos modelos de calendário desportivo, o número de competições a realizar, etc, faz-nos remeter a ideia de que os critérios de rentabilidade desportiva estão sempre submetidos à qualificação duma eficácia financeira.
Tudo isto condiciona o treinador na tentativa de ver consolidadas as tendências evolutivas do jogo, subjacentes ao seu modelo de treino, ao seu projecto de jogo, à sua forma específica de planificar o treino, potenciando os recursos humanos e materiais para a obtenção do êxito.
No âmbito da formação de jogadores também nos remete para a importância na criação de talentos, sendo uma luta pela desigualdade de oportunidades conforme os recursos disponíveis, para além da demasiada tecnocracia do ensino do jogo. Para além disso (acrescento), assiste-se nos dias de hoje a uma tipificação de clonagem de jogadores com expectativas elevadas a curto prazo, excessivamente previsíveis a longo prazo, retirando-se ao génio o seu espaço para crescer.
Também ainda se assiste a uma demasiada tipificação do ensino do jogo e que pode entravar a evolução inteligente do jogador, orientando-o para práticas descontextualizadas que uma repetição constante aborrece e constrange.
De muito interesse reflexivo é ainda o estudo para um melhor enquadramento dos quadros competitivos, devendo a iniciação desportiva obedecer ao plano estratégico com a coincidência da iniciação escolar. Nessa perspectiva de aprendizagem global poderia resultar uma antecipada maturidade futebolística com o propósito de prolongar a longevidade profissional, jogando ao mais alto nível. Nesse ponto de vista pedagógico e situacional pela envolvente do enquadramento social e familiar do praticante, a aprendizagem do jogo poderá resultar um maior potencial criativo, estruturalmente solidificado.
Outra temática bem vincada na obra, o autor Dr Jerry Silva, remete-nos para preparação e condução do jogo e à qualificação da observação e análise, conduzindo-nos para uma reflexão que também está gravada no tesouro da minha memória. Refere o Sr José Maria Pedroto e a frase célebre: “diz-me como jogas e te direi como deves treinar”, fazendo-me recordar Abril de 1981 e a uma questão por mim colocada no final dum colóquio, me convidou a visitar a sua sala de aulas Vitória de Guimarães e depois de alguns ensaios de observação e análise do jogo, tendo presente diversos parâmetros do jogo e sua descodificação e imediata descoberta guiada para a planificação do treino semanal. No final dum dia, abeirou-se de mim e lançou-me uma frase que me varreu a alma e eu jamais poderei esquecer: pr’ó ano vai comigo p’ro Porto!... o restante está também publicado e a história não mente!...
Por intermédio de um treinador sempre adiantado no tempo, a observação e análise do jogo tornou-se em Portugal um instrumento na avaliação e conhecimento do futebol, tendo-se constituído como um dos aspectos mais importantes na maximização do rendimento, na procura dum saber mais sustentado para uma intervenção técnico-pedagógica mais adequada por parte do treinador.
No concernente à elaboração do jogo colectivo, apela para o estudo e desenvolvimento dos seus momentos, com uma reformulação pedagógica de excelente recorte, anotando algumas qualificações evolutivas dos processos de treino, parecendo-me como notável referência e que deveria estar presente em todos os manuais de estudo do Futebol.
A concluir esta temática que seduz e cativa o leitor, anota uma reflexão para a aplicação do modelo de periodização táctica, o qual, segundo o autor, possui uma metodologia diferente das demais periodizações porque o treino é estruturado conforme o modelo de jogo da equipa em presença e em que as qualidades físicas, técnicas, tácticas e mentais, estão sempre dependentes do modelo de jogo adoptado. Esta tendência evolutiva nos conceitos e metodologias do treino, ou forma de organização e estruturação do processo de treino, segundo o seu autor, está directamente relacionado com o modelo de jogo do treinador.
Remete-nos esta questão para o processo da globalização ou o treino como um todo…como desde 1973 o Professor Manuel Sérgio no estudo do homem em movimento integral com o conceito de “periodização antropológica e táctica”, referindo “não há jogos, há pessoas que jogam”, em que ao mesmo tempo que se trabalha a táctica, se deve trabalhar o jogador que concretiza a táctica em campo. Considero por isso a tese do doutoramento de Manuel Sérgio, “para uma epistomologia da motricidade humana” (1986), a primeira grande teorização dos novos princípios para a fundamentação do treino e da competição.
Aproveito a oportunidade para referir o que desde há uns tempos a esta parte tenho explorado “numa nova visão global do treino desportivo”, e porque o método da complexidade exige que tudo esteja em tudo e portanto os aspectos físicos, técnicos, tácticos e psicológicos estejam presentes os objectivos últimos da competição. Tenho procurado evidenciar numa planificação de treino, para além do respeito integral dos princípios biológicos que o regem, assim como as verdadeiras fontes que condicionam a aplicação das cargas, as condições infraestruturais da prática e sua operacionalidade, dossiers individuais dos atletas (passado desportivo, histórias clínicas, rankings de sucesso, etc), uma avaliação geral de competências no sentido de poder equacionar metodologias, comparar evoluções e perspectivar rendimentos futuros. A título de exemplo registe-se uma avaliação de competências psicológicas e mentais (motivação, atenção e concentração, autoconfiança, stress e ansiedade, locus de controle, coesão, formulação de objectivos de conquista, etc) que no decorrer do microciclo semanal deverão ser inseridos na dinâmica do treino por aplicação estruturada e de acordo com a individualidade do atleta.
Por último, uma abordagem pertinente para a necessidade de articular a política desportiva com a escola, no sentido de que o jovem se possa inserir nos clubes com uma base de conhecimentos fundamentais da prática desportiva. Para tanto, também é referida a necessidade da qualificação dos treinadores que deve ultrapassar a vertente unicamente técnica, já que os instrumentos de diagnóstico da prática desportiva não se limitam nem à técnica nem à tecnologia, mas o apelo para a formação integral do indivíduo num crescer harmonioso e devidamente sustentado.
No livro “Desafios e Rumos Para Vencer” o autor associa a qualidade literária à competência dum saber sustentado e por isso reflecte um instrumento fundamental de consulta em especial nos dias que passam e em outros que estão para nascer."

Apertado...

Boa Hora 23 - 26 Benfica
(10-12)

Voltámos a vencer, num jogo que deveria ter sido muito mais fácil... Destaque para o regresso do Xico Pereira à ficha do jogo!
Coincidência ou não, os golos do Boa Hora foram na sua maioria marcados por jogadores com ligação ao Benfica!!!


Sabe quem é? Ele e o Terceiro Anel - Fernando Caiado

"Pegou num terço do dinheiro da festa de despedida e deu-o ao clube; Futebol começou com pés em lástima

1. O futebol começou de trapeira. Muitas meias a mãe viu desaparecer, levadas à sorrelfa pelos cinco filhos - para, com elas, fazerem bolas. Sim, eram cinco os irmãos - e todos eles com o fascínio do futebol no corpo. Chegaram até a fazer um clube a que chamaram Monte de Santana FC. Os jogos faziam-nos quase sempre às escondidas do pai: «...que não nos queria naquele vício, incontrolável!»

2. Quando foi de Leça da Palmeira estudar para o Porto, alojou-se na casa da avó. O campo mais próximo era o do Boavista - e foi ao Bessa que ele foi à procura do seu futuro. O treinador que acolhia rapazotes ao magote, olhou para ele, mediu-o dos pés à cabeça e deu-lhe em resmungo: «Tu não tens pinta de jogador, podes ir embora!» De lágrimas nos olhos, mas seguro da sua fé, suplicou-lhe: «Por favor, deixe-me mostrar-lhe o que eu valho, senhor!» Repelido voltou a ser, mas não largou o estádio - e, quando, contando os candidatos ao teste, o treinador percebeu que lhe faltava um para fazer duas equipas, gritou-lhe, displicente: «Bem, vai lá equipar-te, então!».

3. Precipitou-se em sofreguidão para a cabina, as únicas botas que lá havia para ele eram 41, calçava 38: «Acabei com os pés numa lástima, mas provado». Tornou-se, de pronto, estrela dos juniores do Boavista - a jogar como avançado centro. A Académica desafiou-o para Coimbra, dizendo-lhe que assim poderia tirar o curso que quisesse, o FC Porto e o Sporting também o tentaram - e escolheu continuar no Boavista.

4. Pelo Boavista ainda jogou andebol e hóquei em campo - e, antes sequer de ir para o Benfica, fez do Benfica campeão de hóquei: «Marquei o golo da nossa vitória contra o Ramaldense - e, por causa desse resultado, o Ramaldense perdeu o título».

5. A tropa fê-la em Évora. Treinava-se no Campo Estrela, com a equipa do Lusitano - e depois, ao domingo ia jogar pelo Boavista (nunca deixou que não fosse assim). Não, não recebia ordenado do clube, tinha apenas direito a prémios por vitórias (e nem sempre) - trabalhando, como trabalhava: como desenhador de máquinas de fundição.

6. Duma incrível polivalência, não foi ainda como médio, médio de refinada técnica e arguta visão de jogo que aos 21 anos se tornou internacional, num jogo com a Irlanda, algures por 1946 - foi como interior esquerdo. Mesmo quando, depois, o Boavista caiu na II divisão não deixou de ser chamado à equipa de Portugal - e por essa razão acabaram por dar-lhe um «privilégio» para no Bessa se ir mantendo: 700 escudos por mês (60 escudos era o que então ganhava fiel de armazém).

7. Chegou-se a 1952 - o FC Porto também o desejara em ardor, decidiu-o: «agora é de vez: se não me deixarem ir para o Benfica, nunca mais jogo à bola». Percebeu-se-lhe, firme, a ameaça - e tiveram de fazer-se no Boavista duas acaloradas assembleias gerais que permitiram a transferência a troco de 150 contos (que hoje seriam pouco menos de 58500 euros). Logo se tornou substituto de um ícone: o Francisco Ferreira. (Tinha 27 anos - e foi ainda a tempo de ganhar quatro Taças de dois campeonatos).

8. Tão impressionante era o seu carisma (sobretudo como líder em campo) que Otto Glória e transformou no seu capitão de equipa. O Benfica deu-lhe festa de despedida em Junho de 1957, num jogo com o Boavista e ele teve gesto que tocou no coração dos seus adeptos (e não só...): pegou num terço da receita e ofereceu-a ao clube que andava em angariação de fundos para construção do Terceiro Anel.

9. Após a festa de despedida ainda esteve mais duas épocas em campo (mas já fugaz no jogo...). Mudou de lado e mais história fez: no Benfica foi adjunto de Otto Glória, Bela Guttmann, Fernando Riera, Lajos Czeizer, Elek Schwatz - e sempre que era preciso treinador em emergência era ele que lá ficava (e assim ganhou, pelo Benfica, a Taça de Portugal de 1961/1962).

10. Adjunto de Otto Glória foi também no Mundial de 1966. De lá saltou para treinador do SC Braga. O Sporting foi buscá-lo. Andou depois (por mais duma vez) pelo Boavista e pelo V. Guimarães (onde perdeu a Taça para o Boavista de Pedroto). Levou a CUF à Taça UEFA, passou pelo Espinho, voltou a Braga, pôs o Viseu na I divisão - e regressou ao Benfica, a adjunto de Lajos Baroti e de Sven-Goran Eriksson."

António Simões, in A Bola