"Cerrando-se o pano sobre mais uma época do Futebol português, reina a ordem em todo o País. Estamos habituados a esta ordem desde que os Senhores do Sistema ganhem. Quando não ganham, reina a desordem, voam pedras, afiam-se facas, lançam-se boatos, levantam-se falsos testemunhos, espalham-se suspeições. Assim funciona a lei dos Salazaritos. Obscuros e infames. Antigamente, havia uma voz que gritava: «Quem manda?» E, obedientes, as outras respondiam: «Salazar! Salazar! Salazar!»
Agora não faz falta nem a voz nem a obediência. Todos sabemos quem manda. Todos sabemos a quem eles obedecem.
Ainda há alguns que falam, que lutam, que recusam o silêncio. Ah! O silêncio... Lembram-se: «A uns convinha que falasse. A outros haveria de convir mais o silêncio que só a morte poderia com segurança guardar». A voz, tremida e metálica, ainda fere os ouvidos da gente de bem. E a ameaça velada, sobretudo a ameaça. Reina a ordem em todo o País e o silêncio também. prepara-se a festa canalha na Assembleia Prostituinte e tudo parece estar bem quando acaba bem. Isto é, ganhando aqueles que é suposto ganharem, perdendo aqueles que é suposto perderem. Já ninguém pergunta: «Quem manda?» Todos sabemos quem manda e todos sabemos os nomes dos seus lacaios. Reina a ordem em todo o País...
P.S. - José apresenta-se e diz: «Sou como os descobridores portugueses...» Não sei se Vasco da Gama ganhava 16 milhões por ano, mas tenho a certeza do que o ridículo não mata."
Afonso de Melo, in O Benfica