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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Está o país todo em alerta

"O FC Porto vai perder na secretaria? A acontecer seria qualquer coisa vagamente parecida com aquele filme 'A Queda do Império Romano'

O Benfica está nas meias-finais da Taça de Portugal. Deve-o única e exclusivamente a um golo solitário (outro) do sérvio Sulejmani porque no que diz respeito à exibição foi de uma mediocridade confrangedora. 
A equipa está péssima, arrasta-se pelos relvados há semanas e tudo o que ultimamente tem conseguido amealhar, e tem sido alguma coisa, é por obra e graça da divina providência.
Estou a exagerar? Obviamente que sim.
É política, não façam caso.
Para os espicaçar, entendem?
Ao contrário de muitos, de imensos, que nas vésperas dos grandes jogos se dedicam a fantasiar sobre as qualidades excelsas de todos os nossos jogadores, se entretêm a vaticinar resultados mirabolantes e a cantar loas por antecipação, acredito firmemente que o importante nestes momentos é deitar a equipa toda – um a um, de preferência – abaixo, desfazer os conceitos tácticos do treinador e apontar a dedo, entre todos, os principais culpados do momento de crise que estamos a viver.
Mas qual crise? - perguntarão e com toda a propriedade.
A crise, meus amigos, está à vista de todos. Tivesse a equipa do Benfica competência teria, com certeza, neste momento 10 pontos de avanço sobre o campeão em título. Ou não é incompetência perder 4 pontos na Luz com os recém-primodivisionários e perder 2 pontos em Barcelos com ou sem barbatanas? 
Regressando à política:
O jogo de ontem em Penafiel foi uma vergonha. Durante 80 minutos serviu apenas para dar minutos, os tais 80, precisamente, a Cardozo porque no que diz respeito a futebol a sério, népia. De positivo apenas terem conseguido evitar, à beira do fim, o prolongamento. Que benesse! Com mais 30 minutos de mau futebol e de total ausência de ideias, e outra coisa não seria de esperar, mais se agravaria a noção de que este Benfica é uma porcaria.
O Benfica segue em frente na Taça de Portugal sem saber ler nem escrever.
A única pessoa que pode ter ficado contente com o que ontem se passou em Penafiel foi o tesoureiro do Penafiel. Tinha a casa quase cheia. Já no sábado também o Benfica conseguiu fazer feliz o tesoureiro do Gil Vicente. Nós em tesoureiros somos óptimos, em secretarias é que somos péssimos.

LI na semana passada que o Benfica-Gil Vicente a contar para a Taça da Liga, que se realizou no Restelo por inoperância do relvado da Luz, se deveria ter realizado em Barcelos porque é assim que estipula o regulamento da competição.
E se a competição tem regulamentos são para se cumprir.
A questão é que nunca mais se ouviu falar do assunto, o que se lamenta.
No entanto, se o Benfica incorreu numa ilegalidade devia ter sido punido pela dita Liga que, paradoxalmente, incorreu na mesma ilegalidade visto que aceitou sem rebuço o desvio do jogo da Luz para Belém, certificou-o e homologou-lhe o resultado.
O resultado foi de 1-0 a favor do Benfica. Golo do Sulejmani. Se é verdade isso que dizem de os regulamentos da competição obrigarem a que o jogo se tivesse disputado em Barcelos por indisponibilidade da Luz, nesse caso o Benfica deveria ser punido com uma derrota na secretaria.
O que para o caso tanto faz.
Tendo o Benfica assegurado a qualificação para as meias-finais da Taça da Liga nas duas primeiras jornadas do seu grupo este jogo com o Gil Vicente foi apenas para cumprir com o calendário. E, todos sabemos, como uma derrota na secretaria, nesta altura do campeonato, é coisa que até fica bem, é chique, dá estatuto, para mais quando não faz a mínima mossa em desideratos, enfim, não-prioritários.
Tal como não gostei de ver o presidente do Gil Vicente a lamentar, com toda a razão, que o Benfica mudasse o palco do jogo sem lhe dar cavaco, também me desagrada constatar que o Benfica segue para as meias-finais da Taça da Liga sem pagar pelo mal que fez, se é que fez.
Sou pela justiça, não há nada a fazer.
Na noite de sábado, assistindo pela televisão ao Gil Vicente-Benfica seguinte, este a contar para o campeonato, mais lamentei a decisão tomada de mudar para o Restelo o palco do Benfica-Gil Vicente anterior.
Devíamos ter jogado em Barcelos e não no Restelo. Foi um erro o não termos jogado em Barcelos o tal jogo para cumprir com o calendário da Taça da Liga. Se tivéssemos jogado em Barcelos para a Taça da Liga a nossa equipa, por experiência própria, já sabia que tipo de pantanal a aguardava uma semana depois para o jogo do campeonato e talvez tivesse demorado menos tempo a habituar-se às circunstâncias invernais do terreno.
Em resumo: ganhámos ao Gil Vicente, com a equipa B, um jogo em que podíamos perder e empatámos com o Gil Vicente, com a equipa A, um jogo em que só podíamos ganhar.
Mesmo entre benfiquistas há quem discorde, naturalmente, desta conclusão. Até já ouvi coisas mirabolantes sobre este mesmo assunto. Querem um exemplo? Pois há quem diga que quem ganhou ao Gil no Restelo foi a equipa C, que quem empatou com o Gil em Barcelos foi a equipa B e que quem ganhou ao City em Manchester foi a equipa A, enfim, pelo menos o meio-campo da equipa A. E um bocadinho do treinador também porque por cá passou ainda que, infelizmente, por pouco tempo.
Há gente muito exagerada.

FOI bom para o Benfica o Cardozo ter falhado o pontapé de grande penalidade nos instantes finais do jogo de Barcelos.
Por duas razões:
1) Vem aí o jogo com o Sporting e é certo e sabido que Cardozo nos jogos com o Sporting quanto mais desmoralizado e em menor forma física está mais rende;
2) O lance que originou o citado penalty é de interpretação muito discutível portanto foi bom Cardozo ter falhado o pontapé de modo a impedir que o Benfica por ter sido alegadamente beneficiado no jogo com o Gil Vicente venha a ser alegadamente prejudicado no jogo seguinte, tal como vem sendo norma de acordo com a lei das compensações em vigor.
O jogo seguinte, ao contrário do que possam estar a pensar, não é o jogo de domingo com o Sporting. Foi o jogo de ontem com o Penafiel a contar para os quartos-de-final da Taça de Portugal.
Ora sabemos que, em comparação com a Taça da Liga, a Taça de Portugal é outra louça. De qualquer maneira ontem, em Penafiel, não houve casos de arbitragem, o que muito nos apraz. O árbitro foi o senhor Capela que não deu nas vistas. Muito bem.
Há amigos sportinguistas plenamente convencidos de que aquela grande penalidade que os favoreceu no jogo de Alvalade com o Belenenses – sancionando um lance ocorrido… fora das quatro linhas… - tenha sido decretada malevolamente com o intuito de os fazer pagar por isso até ao final da temporada.
Cada um pensa o que quer e o que pode.
Eu quero pensar que foi bom para o Benfica o Cardozo ter falhado aquele penalty de sábado passado embora o lance, ainda que discutível, tenha ocorrido dentro das quatro linhas o que, ainda assim, faz alguma diferença.

AO contrário do resultado do jogo do Benfica B com o Gil Vicente, o resultado do jogo do FC Porto com o Marítimo ainda não foi homologado porque a Liga, organizadora da competição, entendeu abrir um processo de inquérito ao atraso de minutos – coisa pouca – com que o jogo no Porto se iniciou. E, agora, diz-se até que os campeões nacionais podem vir a perder o jogo e a qualificação na secretaria.
A acontecer seria qualquer coisa vagamente parecida com aquele filme A Queda do Império Romano. E, com toda a franqueza, parece-me ainda muito cedo para um fenómeno histórico dessa envergadura.
Mas só a eventualidade dá que pensar.
Na última época, e mais uma vez para a mesma malfadada competição, teve o FC Porto de superar escolhos legais que lhe foram lançados pelo Vitória de Setúbal à boleia de uma alegadamente indevida utilização de jogadores por parte dos azuis e brancos.
Quis o Vitória de Setúbal ganhar o acesso às meias-finais na secretaria mas não teve sorte nenhuma. O clube sadino viu os seus argumentos serem refutados pelos órgãos competentes e o FC Porto seguiu em frente.
Agora é o Sporting que faz o papel de reclamante que coube fazer ao Vitória de Setúbal no ano passado. Felizmente vivemos num país em que todos somos iguais perante a lei mas também é um bocadinho verdade que as leis são, às vezes, mais iguais para uns do que para outros. Por isso o presente caso ganhou enorme notoriedade ontem nos jornais e na televisão. É grande contra grande na secretaria. Está o país todo em alerta.
Importante é relevar que o Sporting, o Sporting Clube de Portugal presidido por Bruno Carvalho, está na liça por uma proeza técnico-jurídica que muito ufanaria o seu presidente: substituir-se ao FC Porto numa competição depois de uma fabulosa vitória na secretaria.
O Vitória tentou no ano passado e falhou.
O Benfica nunca sequer tentou uma coisa desta dimensão. Frouxos…
O Sporting tenta este ano.
Vamos ver o que acontece – é esta a posição confortável do Benfica."

Leonor Pinhão, in A Bola

Simetrias

"Já aqui escrevi que, no futebol, os comentários são invariavelmente função do resultado. Exemplifiquemos com a última jornada. Se Cardozo tivesse marcado o penalty, o comentário seria 'Benfica estoico supera no batatal com fato-macaco e capacidade de sofrimento'. Mas como o paraguaio foi incompetente, o comentário é 'um grande Gil mereceu o empate e o Benfica não teve arte nem engenho para superar o galo'. Se em Alvalade o Sporting tivesse convertido uma das várias oportunidades, lá iríamos ter 'futebol alegre de um Sporting maduro'. Mas como Ricardo defendeu tudo, 'o Sporting não geriu com competência a pressão de poder passar para o primeiro lugar'.
Outro traço presente na idiossincrasia futebolística é o enviesamento com que se observam e comentam as incidências dos jogos. E se isso até é divertido entre adeptos como um quase novo jogo (se não ultrapassar os limites do bom senso), não é de todo recomendável entre dirigentes, treinadores e jogadores. Como diz o povo, pela boca morre o peixe. Se hoje se verbera contra um erro do árbitro, amanhã se silencia um erro a nossa favor. Se hoje se identifica uma agressão no campo, amanhã se vê a mesmíssima coisa como um leve encosto. Se hoje a nossa equipa só defende, amanhã critica-se quem faz o mesmo contra nós. Se hoje se queimou tempo por parte do adversário, amanhã somos nós que fazemos tal e qual.
Com a excepção que advém da patologia batoteira (dourada ou não), esta simetria é um regra. A única variável é o tempo para a sua consumação. Por isso, começa a ser nauseante querer transformar esta simetria numa assimetria de sentido único."

Bagão Félix, in A Bola

Silêncio de ouro

" «Não estamos a negociar ninguém. Quando dizemos que os nossos jogadores saem pela cláusula eles só saem pela cláusula. Aqui não saem a metade do preço.»
Pinto da Costa, presidente do FC Porto, 16 Janeiro, depois do Benfica vender Matic

A 15 de Janeiro o Benfica oficializou a venda de Matic ao Chelsea por 25 milhões de euros. A cláusula de rescisão era de 45 milhões. A 16 de Janeiro Pinto da Costa, presidente do FC Porto, deu uma entrevista ao Porto Canal em que deixava (ou tentava deixar) uma farpas ao Benfica, garantindo que no seu clube os jogadores não saem por metade do preço. Na mesma entrevista, deixava ainda outras duas pérolas (cito o site do próprio Porto Canal): «Ninguém tem que estar preocupado com o Fernando. As coisas estão tratadas com ele e com o seu empresário», e: «Quanto ao Lucho, queremos renovar pois ele é património do FC Porto mas ele pediu-nos para esperar até ao final da época. Ele quer ver como estará em termos físicos». Ontem, confirmando a notícia de A BOLA, o FC Porto formalizou, em comunicado à CMVM, a venda de Otamendi ao Valência por 12 milhões de euros (mais três por objectivos). A cláusula de rescisão era de 30 milhões.
Este é um espaço de opinião, por isso ela aqui fica: Otamendi foi bem vendido. Apesar de ser titular do FC Porto (um central que joga 20 dos 30 encontros oficiais da época não pode ser considerado outra coisa), estava a acumular erros e perdera espaço para Maicon. Terminava contrato em 2015 e havia o risco de não renovar, a margem negocial seria provavelmente pior no verão do que agora.
O problema não está na venda, está na entrevista de Pinto da Costa. Matic deu lucro de 400 por cento e foi vendido por 55 por cento do valor da cláusula; Otamendi deu lucro de 50 por cento e foi vendido por 40 por cento do valor da cláusula. Lucho já se foi embora. Fernando está a caminho. Paulo Fonseca há de ir primeiro que Pinto da Costa, mas quanto mais o presidente portista fala mais se aproxima, também ele, do adeus."

Hugo Vasconcelos, in A Bola