"Por princípio, não assisto a transmissões televisivas que cobrem festejos de títulos conquistados pelo FC Porto. Como se depreende, não tenho visto ultimamente muita televisão. Mas, quando vejo, certifico-me de que, por exemplo no dia a seguir à conquista da Liga Europa, começo a ver o telejornal a partir das oito e um quarto, oito e vinte da noite. Às vezes, não me apetece estar assim tão bem informado.
Acontece que, quando a azia acalma, não resisto a espreitar a festa portista, só com o fito de testemunhar o esforço que alguns jornalistas fazem para tentar dar credibilidade e prestígio a uns festejos que se fazem ao som de “SLB, SLB, filhos da p…”. Os meus preferidos são aqueles repórteres que alteram cirurgicamente o ritmo sincopado das suas frases até à altura mais politicamente incorreta do cântico, a partir da qual desatam a falar freneticamente, sem pausas para a respiração. É, assim, com alguma dificuldade que se percebe de que profissão se está ali a falar. E é uma pena, porque, quer-se queira quer não, esse é hoje o cântico mais representativo do FC Porto. E não escrevo isto só pelo facto de o seu hino oficial falar em nobreza e lealdade, algo que me parece manifestamente anacrónico.
Seja como for, escutar milhares de adeptos portistas a entoarem esse cântico durante os festejos é, por mais estranho que pareça, emocionante. É que eles cantam sem se aperceberem de que na esmagadora maior parte do tempo estão só a cantar “SLB! SLB!”. Em rigor, aproximadamente 75% desse cântico é profundamente benfiquista. Convenhamos que se trata de uma percentagem anormalmente alta. Sendo assim, lanço uma questão incómoda mas cada vez mais premente: numa altura em que milhares de adeptos portistas frequentam os mais altos palcos do futebol internacional, não será já da mais elementar justiça nomeá-los a todos embaixadores do Benfica?"