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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Uma tarde, em Toronto...

"O último título de Eusébio como jogador foi o de campeão dos Estados Unidos por uma equipa canadiana - o Toronto Metros-Croatia. Na final marcou um golo: único como eram os seus golos de livre directo.

Houve um tempo em que Eusébio jogou no Canadá. Em Toronto. Ontário. A maior cidade do país. Fazia parte da equipa do Toronto Metros-Croatia. Depois passou a Toronto Blizzard. Pouco importa. No tempo de Eusébio era Metros-Croatia. Como se calcula, fundado pela comunidade croata emigrada no Canadá.
No primeiro jogo oficial pelo Toronto Metros-Croatia, Eusébio encheu o campo. Jogava mais recuado porque o tempo e o joelho não perdoavam. Mas surgia no ataque. E rematava, rematava e rematava. Estávamos no dia 7 de Maio de 1976: já passaram quarenta anos. No Lamport Stadium, o Toronto Metros-Croatia venceu o Hartford Bicentennials por 4-1: dois golos de Eusébio.
A meio da primeira parte, tem um remate de muito longe, de violência inaudita, e a bola bate com estrondo na barra da baliza contrária.
O público do Lamport Stadium levantou-se repentinamente como se tivesse sofrido um choque eléctrico de uns quatrocentos volts.
Ao intervalo, o resultado ainda estava em zero-zero: depois, Eusébio marcou e primeiro golo; deu o segundo ao brasileiro Ivair; marcou o terceiro com um remate em arco, perfeito e colocado.
Eusébio era o número 10, está claro. As equipas norte-americanas tinham os números estampados no lado esquerdo do peito, quase no ombro, o emblema no centro da camisola. Eusébio recebe uma taça enorme com uma sabe a condizer. Data 28 de Agosot de 1976. Local: Seahawks Stadium, em Seattle. «CAMPEÃO USA!»
Eternamente campeão
Em Seattle, a final da NASL de 1976 disputou-se entre o Toronto Metros-Croatia e o Minnesota Kicks.
Nas meias-finais, o Toronto Metros-Croatia tinha eliminado o Miami Tampa Bay, carrasco do Cosmos de Nova Iorque.
26 000 pessoas estiveram nessa tarde no Seahawks Stadium de Seattle. A CBS transmitiu o jogo em directo.
A meio da primeira parte, há um livre directo contra o Minnesota Kicks: para aí a uns 30 metros da baliza. Eusébio toma balanço. O balanço de Eusébio na marcação dos livres era inimitável: curvava-se muito, esticava o rabo para trás, começava por dar uns passinhos curtos no início da corrida e, depois, ia ao encontro da bola como um touro enfurecido investe de encontro à capa vermelha do matador.
O resto do filme já todos sabemos de cor: a bola sai como uma bala, entra no ângulo, é golo. Eusébio corre para dar o seu soco no ar. Tem uma camisola encarnada e parece que o destino fez questão de lhe envergar uma camisola encarnada na conquista deste título que será o último da sua carreira.
A segunda parte é difícil: Eusébio lesiona-se, joga a custo, retrai-se, ainda assim colabora no golo de Ivair Ferreira, o terceiro do Toronto Metros-Croatia; o segundo seria marcado por Lukadevic.
Toronto Metros-Croatia, 3 - Minnesota Kicks, 0: em dezasseis edições da NASL, seria o único título do Toronto Metros-Croatia; em 1983 e 1984 voltaria a atingir a final, mas já com o nome de Toronto Blizzards.
Eusébio teimosamente campeão: 25 jogos; 21 golos marcados.
Eusébio «capitão», abraçado à taça, lágrimas nos cantos dos olhos.
- É uma alegria enorme!, rejubila Eusébio.
-Tão grande como outras que vivi ao serviço do Benfica!, sublinha Eusébio.
- Havia por cá, e por Portugal também, muita gente que não acreditava em mim, que insistia que eu estava acabado, mas este triunfo vem dar-me a certeza de que, afinal, ainda estou longe do termo da minha carreira, vinga-se Eusébio.
- Rejuvenesci! Palavra que rejuvenesci! No corpo e no espírito. Em 25 jogos marquei 21 golos. Mas não foram só os golos. Sinto que voltei a jogar como o fazia há uns anos.
É bom recordar Eusébio..."

Afonso de Melo, in O Benfica


Uma 'peladinha' entre o 'Rei' e um príncipe

"Os ciúmes de Diamantino, a contas com uma garganta inflamada, e o dia em que Eusébio jogou à bola com um pequeno príncipe.

Com 67 anos acabados de fazer, mas com uma jovialidade ímpar, o Benfica aproveitou uma paragem no Campeonato Nacional de 1979/71 para fazer a terceira digressão daquela época. Depois do Extremo Oriente e América do Sul, Teerão, no Irão. O prestígio e popularidade internacional do Clube, aliada à insaciável 'fome de Benfica', não deixavam que fosse de outra maneira. A convite do Pas, um importante clube iraniano, a comitiva 'encarnada' fez as malas e rumou à terra d'As Mil e Uma Noites.
Quando saíram do avião foram engolidos por uma multidão que gritava pelo Benfica e por... Eusébio, que naquelas paragens tinha o seu quê de lendário. Diamantino, ainda a recuperar de um ataque de anginas, ao deparar-se com tamanha euforia pelo colega exclamou, realista e pouco ciumento: 'Apenas ele existe, nós somos apenas paisagens!'.
Nos dias que ali estiveram houve tempo para vestirem a pelo de turistas, deixando-se encantar pelas avenidas modernas que contrastavam com as mesquitas, cujos minaretes iluminavam as casinhas modestas que as rodeavam, e para defrontarem as melhores equipas do país, o Pas e o Persepolis. Porém, desta vez, a história aconteceu fora das quatro linhas.
No dia do último jogo foram convidados para visitar o Palácio de Niavaran, onde ofereceram ao jovem príncipe, na altura com 12 anos e apaixonado por futebol, uma bola autografada por todos e uma camisola do Eusébio. Depois de um convívio formal com os imperadores, e quando se preparavam para abandonar o palácio, a imperatriz perguntou a Eusébio se podia dispensar uns breves minutos para jogar à bola com sua alteza o príncipe. O rosto do 'Pantera Negra' iluminou-se com um sorriso rasgado. Durante meia hora jogou com o príncipe com um entusiasmo que comoveu todos os que tiveram a sorte de testemunhar aquele momento. Era o 'King' a ser criança novamente.
Entretanto, no estádio, já com os 40 mil lugares preenchidos, um incomum aviso soou nos altifalantes: o jogo iria começar com 15 minutos de atraso porque Eusébio estava a jogar futebol com o príncipe nos jardins do palácio. Contam os jornais da época que das bancadas soou 'uma explosão de júbilo'. Foi, sem dúvida, o ponto alto da viagem!
Pode saber mais sobre as curiosas digressões do Benfica na área 26. Benfica Universal, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

Benfiquismo (CCLXVIII)

... para sempre !!!