"Foi também notável o acervo ganhador na mente e espírito dos jogadores, o que, só por si, é meio caminho andado para se ganhar
Supertaça
Finalmente começou a chamada temporada oficial. Como habitualmente, por via da Supertaça Cândido de Oliveira. Nada a dizer quanto ao nome do notável português que a ela está associada, mas lá que embirro com a tão superlativa designação Supertaça é verdade. Pode argumentar-se que a expressão está consagrada pelo mundo fora em provas nacionais e internacionais. Todavia, trata-se do único troféu em que não há verdadeira competição, a não ser os 90 minutos de um jogo. Enquanto nos campeonatos, taça de Portugal e taça da Liga, todos têm acesso de acordo com os regulamentos, A Supertaça é a excepção, onde até nem sempre se defrontam os vencedores das duas competições, podendo calhar jogar um vencido. Foi o caso, este ano, do valoroso Vitória Sport Clube. Por isso, quando se faz uma aritmética simples de troféus conquistados (outra coisa são títulos conquistados), juntar a Supertaça é, no mínimo, fazer uma tropelia à dita aritmética, pois que, ao menos, para a tomar em conta a soma deveria ser ponderada pela importância dos torneios. Mas isso, são contas de outros rosários...
Falemos agora do jogo de Aveiro, o meu distrito. Bom espectáculo, com assistência vibrante e educada e, como habitual, com os vimaranenses a dar lições de apoio inegociável e independente do resultado. Quando ao jogo, foram 90 minutos bem jogados, com nuances de predomínio e um vencedor justíssimo. Arbitragem tranquila, apesar do compulsivo comentário anti-benfiquista do ex-árbitro Marco Ferreira e de certos tribunais de habitual unanimidade também anti-benfiquista. Enquanto sócio, apreciei, sobretudo, o escol de atacantes para todos os gostos e a diferença (para muito melhor) quando se tem Pizzi como chefe de orquestra. Aliás, surpreende-me que o seleccionador nacional o considere apenas no segundo plano das suas opções. Foi também notório o acervo ganhador na mente e espírito dos jogadores, o que, só por si, é meio-caminho andado para se ganhar. Como já escrevi, a questão-chave é o sector recuado, rezando para que Fejsa (que alguns teimam em continuar a pronunciar como Fégesa) não se lesione e Jardel possa retomar a boa forma da época 2015/16. Quanto ao guarda-redes, Bruno Varela esteve bem, mas tem de crescer. E Grimaldo terá voltado à enfermaria? As lesões já atingiram 12 atletas, muitas de natureza muscular. O que se passa, pergunta muita gente como eu, leigo na matéria?
Luisão
Anderson Luís da Silva - mais conhecido pelo aumentativo Luisão, não tivesse ele 1,93de altura - e que vai para a 15.ª época no Benfica, é, depois da Supertaça de sábado, o atleta com mais títulos conquistados ao serviço do SLB. Vinte no total, embora aqui também devamos perceber que os dezanove de Nené são mais valiosos, pois, no seu tempo, a Supertaça estava em processo de parto e a inseminação artificial da Taça da Liga ainda longe de acontecer.
De Luisão não se pode dizer que chegou, viu e venceu. Precisou dessa variável, às vezes tão vezes desprezada e traiçoeira a velocidade com que, num ápice, se transforma um jogador banal num astro e como se reduz a pó uma antes cognominada estrela. Luisão teve de vencer, com profissionalismo, perseverança e determinação, fases de desconfiança da exigente tribuna encarnada. Passo a passo, soube conquistar a consideração e gratidão dos adeptos e construir uma carreira brilhante, enquanto jogador e na qualidade de capitão de equipa (é na história do SLB o jogador com mais jogos como capitão).
Com a precisão de um relógio suíço, tem sabido conjugar eficiência, experiência, autoridade, discernimento, rigor, solidariedade, inteligência, posicionamento. Uma trave-mestra que qualquer treinador gosta de ter. Para isso, um factor contribui decisivamente nas últimas épocas: a serenidade emocional que adveio de não pensar em transferências que, não raro, obnubilam mesmo os espíritos mais estáveis. E, entre muitos momentos marcantes da sua carreira, elejo o seu golo, em Maio de 2005, que derrotou o SCP e permitiu acabar com um penoso jejum de títulos no campeonato.
«Sinto-me como um adolescente a desfrutar da profissão», disse Luisão há algum tempo. A confissão do jogador foi sobretudo a confissão de homem que sonha e busca. Quase com o sorriso da criança que, por certo, continuará a existir dentro do homem. Porque já Miguel Torga escrevera: «Não desisto de ser criança. É o que me vale».
Particularmente comoventes foram a vénia e o emotivo amplexo que, no final do jogo de Aveiro, um outro grande jogador da história do Benfica, Minervino Pietra deu a um Luisão feliz, honrado e grato.
Benfiquistas sempre gratos, Luisão!
Campeonato sem o 'à condição'
Que me desculpem os puristas das designações. Para mim a agora chamada Liga (com obrigatório aditivo comercial) continua a ser sempre o campeonato. Aliás, dizemos campeão, mesmo se falamos da Liga. Não deveria ser ligão?
Começou aos soluços a primeira de 34 jornadas, curiosamente marcada para hoje, quarta-feira, e que, no entanto, se limita a 2 dos 9 jogos! Adiante..
Esta noite, vai jogar-se o encontro mais significativo, o Benfica-Braga, num entusiástico e repleto Estádio da Luz. Como não tenho por hábito fazer uma antecipação do que vai acontecer, prefiro escrever sobre o que já aconteceu.
Sobretudo centrado no campeonato à condição. O campeonato começou e ela (a condição) voltou. Não desisto aqui em A Bola de lutar pela supressão daquela indigente expressão. Primeiro, porque não se deve dizer à condição, mas sob condição. Segundo, porque quando se diz ou escreve condição deve dizer-se qual é.
E o que é que li na segunda-feira, depois da empolgante exibição e notável vitória leonina em Aves? Logo na capa rezava assim: «Bis na Vila das Aves garante liderança». Surpreendido com tão arrebatador título, fui ler o desenvolvimento da notícia. Lá encontrei a condição da tal liderança: a de ser à condição («O Sporting... assumiu a liderança da prova à condição»). E perguntei para com os meus botões: que condição logo no primeiro jogo da primeira jornada? Aliás, mesmo que tivesse empatado, o Sporting era líder à condição por ter jogado fora. Faz sentido impingir o à condição logo no primeiro prélio quando faltam jogar 305 partidas? E porque não ir um pouco mais além e dizer que o Sporting naquele fia era o campeão à condição? Evidentemente, à condição de ninguém mais jogar!
Não largo a minha contenda contra esta mendicante e exasperante expressão que, aliás, levou nas duas últimas épocas o Sporting e o Porto a serem verdadeiros campeões à condição. Depois da liga real de Rui Santos, temos a liga à condição. O Benfica, coitado, limitou-se a ser campeão, sem querer transportar essa auréola de campeão condicionado. Imagine-se se a moda pega no ciclismo. Por exemplo, num contra-relógio ouvir-se dizer que o ciclista A é o vencedor à condição, enquanto os corredores que partem depois dele ainda não iniciaram a prova...
Contraluz
- Palavra:
VAR (não confundir foneticamente com BAR). Acrónimo que designa o videárbitro, mas que, ao contrário de que muita gente pensa, resulta das iniciais em inglês de Video Assistant Referee.
- Desilusão:
Com surpresa, constatei que a RTP não está a transmitir os campeonatos do Mundo de Atletismo (Londres). Vá lá, temos a Eurosport que nos permite ver o imperdível torneio. Mas tenho pena.
- Símbolo:
Usain Bolt. Quase imbatível no hectómetro (e não só), com a coragem dos verdadeiros campeões, resolveu terminar a carreira aos 31 anos (que faz este mês), ainda no auge, mas consciente que depois da subida vem a descida.
- Pensamento:
«Estou consciente das minhas próprias limitações. E esta convicção é a minha força»
(Mahama Gandhi)"
Bagão Félix, in A Bola