"Num encontro muito difícil para as águias, um golo do brasileiro aos 75' deu o triunfo (1-0) aos campeões nacionais. Com Kökçü, na sequência da polémica entrevista, de fora da convocatória, a equipa de Schmidt realizou uma exibição algo apática, mas um excelente lance de Cabral quebrou a resistência dos gansos
A vida benfiquista de Arthur Cabral é uma montanha-russa. Reforço milionário contratado para substituir Gonçalo Ramos, foi imediatamente aposta a titular mas, entre a falta de golos e dúvidas sobre o seu estado físico, foi, inicialmente, mais motivo de piadas do que ameaça para as defesas rivais.
Em dezembro, depois do empate contra o Farense, um gesto obsceno dirigido a um adepto marcou essa entrada em falso na Luz, mas a montanha-russa elevou-o para, dias depois, ser o herói de Salzburgo.
Pois bem, depois do calcanhar na Áustria, Schmidt relegou-o para o banco em Braga. Eis a montanha-russa, manifesta novamente entre janeiro e fevereiro: marcou em quatro jogos seguidos e, depois, esteve cinco partidas seguidas de fora do onze inicial.
Regressou aos titulares na receção ao Rangers, mas contra o Estoril foi suplente e, em Glasgow, nem saiu do banco. Do melhor momento em Portugal passou, subitamente, para opção secundária, parecendo atrás de Marcos Leonardo e Tengstedt, além do recurso ao ataque móvel.
Assim, na parte baixa da montanha-russa, entrou Cabral em Rio Maior. E, numa partida tensa e fechada, daquelas em que se perdem pontos que custam campeonatos, o brasileiro saiu do banco para se voltar a colocar no topo. Aos 74', pegou na bola para evidenciar tudo o que vinha faltando aos campeões nacionais: convicção para avançar, técnica para fintar, poder de fogo para rematar, capacidade de finalização para decidir. 1-0 e mais um problema superado, mais um ponto alto que se segue a um ponto baixo que sucedera um momento alto na vida montanhosa de Arthur Cabral no Benfica.
A antevisão da partida foi escrita em neerlandês, língua da polémica entrevista de Kökçü. Schmidt disse que ainda não a lera, mas, depois de o fazer, não terá gostado do conteúdo. O turco foi excluído da convocatória.
A terceira vez, na história da I Liga, que o Casa Pia recebeu o Benfica foi disputada no terceiro palco diferente. Em 1938/39, na primeira presença dos gansos na principal divisão, o duelo deu-se no Restelo; muitas décadas depois, em 2022/23, o embate foi em Leiria; agora, e enquanto o clube continua nómada face à demora das obras do estádio de Pina Manique, o jogo foi em Rio Maior.
Alheio a este andar com a casa às costas, o Casa Pia entrou apostado em incomodar os campeões nacionais. Gonçalo Santos abraçou os três centrais que marcaram a era Filipe Martins e, com solidez defensiva e capacidade para progredir de forma apoiada, os gansos criaram duas oportunidades nos primeiros 15’. No entanto, nem Larrazabal, após bom contra-ataque, nem Felippe Cardoso, na sequência de cruzamento de Lelo, tiveram a melhor pontaria.
O melhor lance do Benfica no primeiro tempo deu-se aos 20’, quando Di María serviu Marcos Leonardo, que viu Ricardo Batista defender o seu remate. O brasileiro pareceu sempre incómodo e desconfortável no desafio, desparecido no jogo e distante da baliza. Foi substituído, aos 59’, após tocar apenas 11 vezes na bola, o valor mais baixo entre todos os futebolistas que atuaram na hora inicial da partida.
Perante a ausência de lances claros de perigo das águias, era o Casa Pia quem aproveitava para ameaçar. Pablo Roberto, um brasileiro com elasticidade na condução de bola e criatividade nas botas, arranjou espaço para rematar aos 38’, mas Trubin defendeu a bomba.
Perto do intervalo, António Silva cabeceou para defesa de Batista, mas a imagem dos visitantes foi, em boa parte da contenda, pobre, escassa em ideias e deficitária em energia, deixando passar os minutos, permitindo que as coisas entrassem num panorama mais do agrado do Casa Pia. Perante esta letargia, as águias agarraram-se à sua dupla letal: no recomeço, Di María serviu a corrida de Rafa e, subitamente, um cenário tantas vezes repetido deu-se em Rio Maior. Rafa a correr com espaço, remate… ao lado. Desta feita, o supersónico desperdiçou.
Schmidt lançou, aos 59', Arthur e Neres, dando a dupla brasileira outra continuidade ofensiva ao Benfica. Aos 74', o ex-Shakhtar tocou em João Mário, que abriu para Cabral. O atacante empreendeu uma fuga para a vitória, expressa num tiro em arco de pé esquerdo que quebrou a resistência do Casa Pia, dono da casa emprestada de Rio Maior, o estádio que menos golos viu nesta edição da I Liga (20).
Logo a seguir ao 1-0, Batista evitou o ampliar da vantagem por parte de Arthur Cabral. O Casa Pia, que durante a primeira parte fora capaz de criar perigo, não mais incomodou verdadeiramente Trubin. O momento do Benfica não está para exibições de gala nem triunfos folgados, pelo que o surgimento de heróis que se cheguem à frente é fundamental. Arthur Cabral foi ao topo da sua montanha-russa encarnada para salvar as águias em Rio Maior."